21. Insônia
Insônia. Maldita insônia.
Já não lembrava o quão desesperador é querer descansar e não conseguir. De se sentir tão exausta e esgotada e nem assim o sono aparecer.
Minha mente simplesmente não para de funcionar. Não consigo deixar de pensar um minuto em tudo que está acontecendo na minha vida e em tudo que preciso fazer para tomar suas rédeas novamente.
O que eu precisava mesmo era tomar uma dose dupla de Bloody Mary lá do End's Pub. Deu até água na boca... Mas, enfim...Como não é permitido sair do alojamento após a meia noite, resolvi descer até o refeitório e comprar um chá daquela máquina horrível. Toda vez que passava por um nível alto de estresse, a insônia surgia agressiva. Jeni sempre tentou me curar com seus chazinhos, mas nunca funcionou exatamente. No entanto, procurar um chá em meio a essa crise é quase automático. E lembrar de Jeni quando não se está com um pingo de sono e já passa das três da madrugada não é algo que me faça muito bem.
Embora eu esteja mesmo preocupada com o sumiço de Jeni - e levemente desconfiada - , destroçada com a rejeição de Jack, assustada com a minha barriga que começa a apontar e encurralada com a divida que tenho com Kevin, o que mais está tirando meu sono é aquele beijo.
Um beijo que tinha o único e exclusivo objetivo de ser registrado no celular para uma possível chantagem.
Um beijo que só de lembrar me deixa em brasas.
A porra de um beijo que não consigo tirar da cabeça.
Tudo é tão contraditório naquele cara! Meu Deus! Durante meses me tratou feito lixo. Raro os momentos que me olhou nos olhos e falou sem demonstrar desprezo. Quanto mais forte eu me fazia, com mais desdém me tratava.
Até ontem, jamais notara qualquer indício de satisfação e prazer em me ter por perto. Pelo contrário. Yuri sempre fizera questão de esfregar na minha cara o quão fraca eu era e o quanto me abominava.
Mas ontem, quando me encurralou no palco, me pressionando na parede e olhando com excitação para minha boca... sei que sentiu tanto tesão quanto eu!
Quando eu estava chorando freneticamente nos braços de Kevin, Yuri me analisou com tanta curiosidade e preocupação que me impulsionou a iniciar meu plano. Naquele momento, tive certeza que, se eu o manipulasse da maneira certa, ele não resistiria. Sei que isso pode parecer covarde ou até mesmo imoral, no entanto, a única coisa que me importa neste momento é proteger meu bebê.
Ao sair no hall abraçada a Kevin, atraí minha presa com um olhar sugestivo. Em poucos minutos, conseguira o que queria.
A única coisa que estava fora dos meus planos era envolver qualquer tipo de sentimento bom nessa história. A doçura que envolvia suas palavras e seu olhar, me pegaram de surpresa. Aquela empatia não combinava com Yuri.
Durante pouco mais de dez minutos, conheci um lado dele que jamais imaginaria existir. Não haviam máscaras, nem escudos. Foi como se eu tivesse conhecido sua alma, sua essência. Mas porque ele se escondia por traz de tanto rancor e agressividade?
Aí é que entra a moça parecida comigo - mas muito parecida mesmo, vocês não fazem ideia. Minha amiga havia feito o dever de casa direitinho e me informou tudo que minha curiosidade estava quase surtando em saber.
A moça chamada Elizabeth era namorada de Yuri há 9 anos. 9 anos! Puta que pariu! Isso é metade da minha vida!
Moravam juntos, eram super fofinhos, todos amavam os dois e eram super populares. A garota era veterinária (ou seja, devia ser super fofa), pintora nas horas vagas e pretendiam se casar no ano seguinte. Mas o destino foi um grande filho da puta e resolveu fuder com a vida super perfeita do meu Sherek (mais um super pra coleção deles). Durante as férias de verão, há 3 anos, uma fatalidade levou a vida da doce Beth (já me sinto íntima da coitada). E o pior de tudo; Yuri foi o causador. Um grupo de amigos, uma noitada, uma estrada vazia, muita bebida. Direção e álcool nunca combinaram, né?
Yuri sumiu do mapa por alguns meses e quando voltou, sua vida jamais seria a mesma. Virou aquele ser sem coração, amargurado e desumano que eu convivo há três meses. Não tiro sua razão. Ele vive num tormento. No seu inferno particular. Fazer a vida dos outros um inferno está fora de seu controle. Ok. Bateu uma compaixão aqui.
E meu chá esfriou.
- Problemas pra dormir?
Aquela voz fez um nó na minha cabeça tão grande que me fez questionar por milésimos de segundos se o pouco chá do capeta que eu havia tomado estava com alguma droga. Até eu olhar para a escadaria ao meu lado e meus olhos se acostumarem com a escuridão que ali estava, eu já começava a rezar para todos os santos que me lembrava. Puta que pariu. Que medo da porra!
Yuri se aproxima na penumbra e eu, com a mão no coração, tive os sintomas de um enfarto.
- Meu Deus! Você parece um fantasma com essa roupa branca! - bronqueio com a voz baixa admirando sua figura tão... tão... provocante.
Ele dá uma risadinha (como que é? ele dá o que? uma risadinha? Isso mesmo, girls :/) e se apoia na cadeira à minha frente.
- Era o único pijama que eu tinha aqui - responde com suavidade.
- Ninguém usa pijamas hoje em dia.
- Você está de pijama - seu olha percorre meu decote e sinto uma leve "má intenção" por ali.
- Eu sou mulher. Mulheres usam pijamas.
- Isso é feminismo. Ou preconceito - diz brincalhão (eu disse brincalhão? Meu Deus, esse é o gêmeo bom do Yuri, só pode)
- Feminista de carteirinha - respondo fazendo - o arregalar seus olhos com minha honestidade.
- 1 a 0 pra mim.
Whaaaaat?
- Você está bem, Yuri?
Definitivamente ele não estava bem. Bateu a cabeça na pia do banheiro ou tomou uma dose cavalada de LSD. Era muita simpatia para um ogro só.
- Estou...
Pensa numa voz gostosa de ouvir ao pé do ouvido, num olhar que te deixa molhada na mesma hora e num sorrisinho que dá uma vontade louca de morder aquela boca e os pensamentos mais obscenos invadem sua cabeça? Yuri era tudo isso naquela hora.
- Eu tô...
- Você não dorme? - ele me corta
- Eu... tenho insônia de vez em quando.
- Eu só sei o que é isso quando durmo aqui. Esses colchões são péssimos!
Nesse momento, eu já desistira de tentar entender o humor distópico daquele ogro.
- E porque você dormiu aqui hoje? Ou tentou dormir, melhor dizendo.
- Tive uma reunião até tarde com o Sr. Luiten e não pego estrada de madrugada.
Essa frase por inteira teve um significado grande pra mim. "Reunião com Sr. Luiten" me lembrou de que o gorducho poderia ter conversado com ele sobre meu afastamento e isso me fez querer sorrir cor de rosa! Já, "não pego estrada de madrugada" me fez pensar no acidente que matou sua namorada. Não sei se foi o fato de saber de toda sua história que me fez enxergar uma certa tristeza em suas palavras. Geralmente, eu nunca consigo diferenciar essas coisas.
- E aí você teve que usar esse pijama todo branco? - pergunto com um leve sorriso.
- Ele foi bem caro, viu?
Rimos por uns... quatro segundos que fez ter esperança em relação a minha vida. Ele deve ter refletido o quanto eu preciso da licença e entendeu que não vale a pena brigar por pouca coisa. Meu humor ficou maravilhoso!
- Se eu fosse você tentaria dormir um pouco. Em menos de - ele olha para o relógio em seu pulso - seis horas você tem treino.
Yuri se vira e vai em direção as escadas. Seu andar despojado, passando as mãos nos cabelos mais bagunçadamente lindos que eu já vi, com direito a viradinha sexy pra trás com sorrisinho sacana.... Embananou tanta coisa na minha cabeça...
- Vou tentar... - mas sei que agora estou pior do que estava. Merda.
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Sabe aqueles dias que você acorda e diz: É hoje! E uma alegria percorre todas as veias do seu corpo e o otimismo vira seu melhor amigo? Acordei assim! Se tudo der certo, não precisarei usar aquele vídeo contra Yuri. Ele está tão de boa comigo que certamente não precisarei usá-lo. Vou conversar com ele pessoalmente e tudo vai dar certo!
Estou usando um blusão mais largo para não chamar a atenção para minha barriguinha que se mostra ainda tímida, mas já proeminente.
Sábado é um dia que ensaiamos só três horas em grupo e depois tem treinamento físico (para maior resistência corporal).
O fato de decidir falar com Yuri sobre o afastamento me deixava ansiosa demais com a expectativa. Paul, nosso treinador físico, nos passou os exercícios do dia e disse que não teríamos ensaio hoje, pois Yuri tivera um contratempo. Mandei o otimismo pra puta que o pariu e uma onda do seu oposto dominou meus pensamentos.
Depois de duas horas exaustivas com Paul, sentei no palco e fiquei por lá uns bons 30 minutos tentando não pensar no pior. Foi então que Yuri entrou no palco deixando algumas caixas, me olhou sério e não disse nada. Sua cara estava fechada, sem ânimo e a velha carranca de sempre.
(chegando a conclusão que ele TEM um gêmeo bom - foi o que conversou comigo ontem).
- Yuri! - gritei quando ele saía pela coxia, levantando e correndo em sua direção - Espera!
Yuri parou e permaneceu de costas para mim. Senti um arrepio na espinha. Quando se virou, seu rosto voltava a forma natural de agressividade.
- O Sr. Luiten falou com você?
- Eu não vou autorizar sua licença.
- Eu preciso.
- Não me interessa.
Seu olhar era tão frio! Ele me tratava como se NADA tivesse acontecido. Eu sempre achei que ele tivesse problemas, mas agora tenho certeza. Ele é completamente louco.
O idiota se vira e continua andando.
- Se você me odeia tanto, porque não me libera logo de uma vez? Assim você poupa a nós dois do inferno que é isso aqui!
- Eu já estou no inferno há muito tempo. Isso pra mim não é nada.
- Aí você resolve transformar a MINHA vida num inferno?
Ele para no meio do corredor com um cinismo estampado na cara.
- Achei que você quisesse ser a melhor...
- Neste momento, Yuri, eu estou me fudendo em ser a melhor! Olha... eu não gostaria de ir as últimas consequências, mas você está me obrigando a isso.
Saio a passos largos em direção ao camarim.
- Onde você vai? Se precisa tanto da licença, me convença disso! Vai desistir no primeiro não? Que lixo de dançarina heim...
- Cala a boca seu desgraçado! - me viro e sinto meu rosto pegar fogo de tanto ódio que me toma naquele momento.
Continuo meu caminho chegando a meu armário, colocando minha calça e botas.
- Não me desafie, garota...
Ao terminar a frase, Yuri me pressiona por trás e faz meu corpo todo reagir ao sentir sua ereção. Meu corpo é envolvido pelos seus braços musculosos e sinto sua barba rala passeando pelo meu pescoço deixando sua respiração descompassada. Seus movimentos são selvagens e urgentes. Apoio minhas mãos no armário a minha frente e não tenho forças para impedi-lo. A pressão no meu ventre é desesperadora. Sua mão sobe suave sugerindo ir de encontro ao meu seio esquerdo e me apavoro com o tesão absurdo que sinto pelo desgraçado. Num ímpeto de dignidade, me afasto e nos olhamos ofegantes por alguns segundos. Merda! Estávamos loucos pra trepar. Dava pra sentir o cheio do sexo. Busco em minha memória super recente todas as humilhações que o infeliz me submeteu e lhe dou as costas pegando minha mochila que está sobre o sofá.
- Não vai - diz baixo, suplicante. Quase me deu pena dele. Quase.
- Você não deveria ter brincado com fogo.
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- Como foi no médico?
- Tudo bem. Eu vi meu bebê.
- Você não me parece tão animada. O que foi, Amy?
Me sinto frustrada desde sábado. Eu não queria usar aquele vídeo contra Yuri, mas ele não me deixa alternativa. Eu tentei. Tentei conversar com ele. Tentei ser educada, mas o desgraçado é um ogro sem coração. Então agora é pegar o vídeo com Kevin e efetivar meu plano.
- Encontrei o Yuri hoje.
- Não me fale desse desgraçado.
- Ele mandou um recado pra você... - a loira fala com seu olhar baixo, mexendo no lençol da minha cama.
- Que cara é essa? O que ele falou?
- Quer mesmo saber? - me pergunta erguendo as sobrancelhas.
- Quero.
- "Fala pra sua amiga que três faltas consecutivas é considerado falta grave. Ela certamente sabe o que isso significa" - Sanne imita a voz com sotaque inglês do idiota.
- Expulsão. Ele me ameaçou? Babaca!
- Eu disse que você estava doente, mas ele já tava andando todo furioso. Esse cara é estranho.
- Bota estranho nisso...
- Amiga, eu não gosto de te ver tristinha assim... Esse baixo astral não combina contigo...
Não posso esconder as coisas da única pessoa que se importa realmente comigo. Deito no seu colo enquanto ela passa as mãos nos meus cabelos e decido abrir meu coração.
- Preciso te contar uma coisa...
Uma batida na porta me assusta e me faz pensar em Jeni na mesma hora. Levanto a cabeça e olho meio apavorada pra loira.
- Fica quietinha ai, amiga. Eu abro - diz Sanne com toda sua confiança.
Kevin aparece todo sorrisos atrás da porta e Sanne dá um pulo em seu pescoço. O garoto enlaça sua cintura e pisca pra mim. Me deito na cama virando pra parede e abraçando minha almofada de cupcake.
- Gente, na boa, hoje eu não vou sair não. Deem um jeito de trepar em outro lugar.
- Credo Amy! Que horror! - Sanne responde.
- Tá tudo bem, princesa?
- Tá. Mais ou menos - respondo com a voz abafada no travesseiro.
- Sanne, quando eu estava subindo, Sr. Luiten pediu que você fosse até a sala dele.
- Eu? Como assim?
Me viro para o casal e olho desconfiada para os dois.
- Não seria comigo que ele quer conversar? - pergunto.
- Justamente! - reforça Sanne.
- Não, meninas. Ele disse Sanne Polman e eu só conheço uma.
- Então eu vou lá rapidinho.
Kevin senta na cadeira da mesa de estudos e pega seu celular. Sanne olha intrigada para o rapaz e para mim, que já estava virando pra parede novamente.
- Ué! Você não vem comigo?
- Eu te espero aqui, gata. Tô meio cansado hoje. Tive uma aula foda.
- É melhor mesmo. Aí você faz companhia pra princesa que tá super jururu - diz minha amiga enquanto me dá um beijo na cabeça e um selinho no rapaz.
- Vai rapidinho então, gata.
- Comportem-se crianças!
Sanne fecha a porta e sinto uma apreensão estranha. Ainda virada pra parede, sinto alguém se aproximar. Sabe aquela sensação de que alguém está chegando cada vez mais próximo de você? E junto com esse sentimento vem um medo da porra?
Nesse ápice do terror, sinto uma mão encostar nas minhas costas e descer bem devagar até minha bunda. Meu coração está quase saindo do peito.
Me viro de repente e vejo Kevin sentado na minha cama sorrindo com os lábios.
- Que isso? Tá maluco? - pergunto já me sentando e recolhendo as pernas um pouco assustada.
- Tava pensando de você me pagar agora. Só de te ver deitada com esse shortinho fiquei no gás - ele olha pro seu pau que possui um volume notável.
- Cadê o vídeo?
- Primeiro você cumpre sua parte. Se eu te der o vídeo agora, eu não ganho o que mereço. E eu mereço, viu princesa! O vídeo ficou demais. Você edita do jeito que quiser e aquele filho da puta vai pro olho da rua na mesma hora! - Kevin ri nervoso, me fazendo arrepiar cada pêlo do meu corpo.
- Eu fiz um acordo com você. Jamais descumpriria! Você me conhece, Kevin!
Levanto da cama e começo a me sentir sufocada.
- Mas eu prefiro que sua dívida seja paga antecipadamente. Vamos evitar um mal estar entre nós - diz irônico.
- Não, Kevin. Não foi o que combinamos.
- Errado. Foi o que combinamos. Você disse QUE se eu gravasse você beijando aquele cara você faria qualquer coisa que eu quisesse. O acordo não incluía te entregar o tal vídeo.
- Ah Kevin! Qual é! É óbvio que incluía! Não se faça de idiota!
- Ei! Não fala comigo assim não, princesa!
- Eu não tô bem hoje, porra! E eu preciso desse vídeo pra amanhã!
O garoto levanta da cama, me lança uma cara de falsa empatia e me mostra o celular.
- Então quando você estiver melhor a gente conversa.
Kevin abre a porta e sai a passos largos. Me sinto meio perdida, sem saber o que fazer mas percebo que não posso deixá-lo ir.
- Kevin! Espera!
Corro atrás do garoto e , alcançando-o, puxo seu braço a fim de pará-lo. Ele se mantem em frete a escada que dá para o refeitório.
- Melhorou, princesa? - diz cinicamente.
- Kevin, podemos marcar amanhã. Você me passa o vídeo agora e já fica combinado para amanhã. Por favor! Eu posso ser expulsa!
- Então... amanhã eu te envio.
Quando o garoto se vira e começa a descer a escada, vejo que o celular está no seu bolso de trás. Numa decisão arriscada e impulsiva, tento puxar o aparelho. Contudo, ao perceber minha ação, o garoto faz um movimento brusco para o lado colocando sua mão no bolso. Com a força que se atirou para o lado, me desequilibro pisando em falso no degrau e caindo escada a baixo. Coloco a mão na barriga ao sentir minhas costas e pernas baterem repetidas vezes nos degraus até que eu chegasse ao chão. Sentia dor em todos os lugares do meu corpo. O desespero tomou conta de mim ao sentir uma pontada aguda do centro do meu ventre. A última coisa que vi antes de apagar, foi um Yuri desesperado e com olhos arregalados correndo até mim e gritando meu nome.
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PIPER
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