Capítulo 13

A tempestade de fogo e gelo – Parte I


Assim como na noite passada, o vento soprava tão ou tá mais forte que ontem. A fogueira já havia se apagado a um bom tempo. Eu estava deitado perto da parede da caverna, enrolado com um cobertor de pele de algum animal. Porém infelizmente, eu tinha que dividi-lo.

Um corpo estava deitado atrás de mim e sua mão estava passando por cima de minha cintura. Sua respiração quente batia na minha nuca me causando arrepios. Essa, sem sombra de dúvida, foi a pior noite de todas! — Ei, dá para tirar esse braço de cima de mim? — resmunguei.

— Ahn...? ah, sim. Você dormiu comigo... se me permite dizer, você é bem quentinho para um vampiro.

— Que nojo... anda logo e saia de cima de mim Theldham!

— Certo, certo. Estou saindo. Você é tão tsudere, Keiji...

Tanta gente aqui e eu acabei logo com ele...!

— Oh, vejo que dormiram bem... — disse Rayla sentada em frente a fogueira. — Você são tão fofos juntos...

— Até tu Rayla? — suspirei.

— Deixa ele, Rayla. Você também não é uma boa companhia para dormir — disse Valerie sentada ao lado dela. — Acho que você ronca mais que o Theldham.

— Ei! Agora você pegou pesado!

— Não, ela está certa — disse Theldham se levantando. — Você ronca bem mais que eu!

— Que absurdo!

— Coitada da Elizabeth... — disse Valerie.

Algum tempo depois disso, durante o café nós discutimos sobre qual rota iriamos. Havia uma cadeia de montanhas ao leste que se estendia até o norte chegando até Arudyn. Outro caminho era uma ravina funda que ficava bem próxima de onde estamos. Ela cruzava as Planícies de Sempre inverno até perto do outro lado das planícies, então a maioria estava querendo ir por ali. Eu sinceramente também estou inclinado a ir por este caminho. No final todos concordaram em ir pela ravina.

Não levamos muito tempo para nos preparar, apenas terminando de organizar os equipamentos duas horas depois da reunião.

Eu estava amolando a espada quando reparei Don checando algumas coisas em sua prótese. Eu então guardei a espada na bainha e fui até ele.

— Vendo se está tudo ok? — perguntei. Ele estava sentado próximo a entrada da caverna.

— Ah, sim. Acho que vou conseguir fazer quatro ou cinco disparos com isso antes de ficar sem energia — ele respondeu. — Ei Keiji, você acha que ela vai recuperar a memória? — ele perguntou encarando Clarys, que estava no fundo da caverna junto de Valerie e Rayla.

— Eu não sei. Mas talvez em um momento crítico ela a recupere — respondi.

— Assim espero...

— Sei que não é da minha conta, mas qual é sua relação com ela? — perguntei.

— Nós fomos criados juntos. Nós lutamos juntos... eu achei que ela tinha morrido.

— Entendi...

— Ei! — disse Theldham perto da entrada. — Estamos indo, chamem os outros!

— Certo! — falei. — Pessoal, nós estamos indo!

— Certo! — gritou Valerie do fundo da caverna.

Nós então saímos tempestade a fora rumando para a ravina.

Depois de andar com muita dificuldade no meio da tempestade, nós finalmente chegamos à entrada da ravina. Duas montanhas se erguiam imponentes até onde se podia ver – que não era muito devido à tempestade – era muito estreito, tendo no mínimo uns três metros de espaço – isso se continuar assim lá dentro.

— Agora não há volta. Vamos entrar! — disse Theldham. Em fila todos entraram na passagem estreita.

Continuamos andando ali por um bom tempo. Olhando para cima era possível ver a tempestade acima. Não era fácil andar ali já que a trilha era muito acidentada, sem contar que o vento balançava levemente as paredes.

Anoiteceu rápido. Fizemos algumas fogueiras e logo o lugar ficou quentinho, um grande contraste já que cima estava uma tempestade extremamente forte.

Eu estava sentado próximo de uma fogueira lendo um livro e tomando o sangue que estava no meu cantil. — Posso sentar com você? — disse Valerie. Eu assenti. Ela sentou ao meu lado; em uma de suas mãos estava um cantil com sangue e na outra um livro — Onde conseguiu esse livro?

— N-na sua casa...

— Você roubou!?

— N-não... eu...

— Há! há! há! É brincadeira, não ligo — eu a encarei um pouco meio bravo, mas logo passou e dei um suspiro. — Então, qual pegou?

— Ahn... "Através da Lua"... — respondi.

— Esse era o favorito da minha mãe, boa escolha. Você está em qual capítulo?

— No capítulo oito. Não estou entendendo nada! — falei rindo.

— Nem eu entendo muito bem esse livro. É uma mistura de filosofia com ficção cientifica e fantasia... espere! Pensando bem, acho que nem ela entendia esse livro...

— Entendo.

— Parando para pensar, eu não sei muito sobre seu passado. Esse seria um bom momento para me contar.

— Não tem muito o que contar. Minha mãe era pianista, meu pai trabalhava com alguma coisa haver com engenharia... não lembro agora...

— E você?

— Não tive tempo para gostar de muita coisa, e seu eu gostava eu não lembro. Minha infância se resume a sobreviver na neve e no frio. As boas lembranças sumiram com o passar do tempo... eu tinha dez anos quando aconteceu. Eu nunca consegui dizer adeus...

— Keiji...

— Esqueça o que eu disse — falei mudando de assunto. — Eu acho que vou dormir, estou meio cansado.

— Ah, claro! Eu vou dormir aqui com você, tudo bem?

— C-claro! Sem duvida vai ser melhor que dormir com um certo lobo...

— Eu ouvi! — ele gritou. Estamos separados por uns quinze metros e eu nem falei alto, não dá para subestimar a audição desses lobos!

— Ah, não enche! — retruquei.

— Boa noite — disse Valerie.

— B-boa noite.

***

Todos estavam tranquilamente perto de suas respectivas fogueiras. Theldham olhava o mapa com cuidado enquanto discutia alguma coisa com Ellen, Rayla estava com eles. Alguns outros lobos conversavam e riam, outros dormiam. Keiji dormia ao lado de Valerie.

— Como será que está lá?... — sussurrei.

— Como está o que? — Clarys parou à minha frente. — Desculpe incomodá-lo.

— N-não, tudo bem.

— Olha, desculpe como falei com você ontem. Não foi minha intenção ser tão...

— Fria? — falei.

— Sim, tão fria.

— Está tudo bem, você sempre foi assim. Tirando seu cabelo, sua personalidade não mudou nada! — falei rindo.

— Sabia que meu cabelo era curto! — falou rindo. — Tudo bem se você me contar mais?

— Claro! Senta aí — ela então se sentou ao meu lado e ficou me encarando como uma criança que pede por algo. — Ahn... por onde eu começo?...

— Do inicio. Comece do inicio.

— Certo. Ahn... bem, nós crescemos juntos num orfanato até sermos adotados por uma mulher, Wanda. Ela era comandante do exercito de Acácia. Você é igual a ela.

— E essa Acácia... é de lá que eu vim?

— Sim. Se tudo der certo aqui, e se você quiser, pode voltar para Zesthirya comigo.

— Se eu puder levar o Steve, eu vou!

— Ele é seu irmão adotivo? Eu soube o que ouve com o vilarejo que você estava. Sinto muito.

— É por isso que estou nesta caçada. Para matar aquele demônio.

— Bem, com seus poderes será fácil! — falei.

— P-poderes!? Eu tenho poderes!

— Sim, você é uma maga de fogo — falei. — A melhor.

— Nossa que incrível! Espera. Se sou uma maga de fogo e o demônio é de fogo, como posso mata-lo?

— O fogo que for mais forte irá sobrepujar o outro. Ou pelo menos é isso que eu acho...

— Como eu faço!? Como posso usar meus poderes?

— Ahn... bem, pelo que lembro você usava palavras mágicas... palavras chave. Mas isso não vai ser possível já que perdeu a memória.

— E se eu me concentrar bastante?

— Talvez seja possível. Conheço alguns magos que usam magia sem a necessidade de palavras mágicas.

— Entendo.

— Mas me surpreende você não ter usado sua magia quando o Faltren apareceu no seu vilarejo. Um momento como aquele poderia ser facilmente usado como catarse.

— Aquilo é passado. Tudo que posso fazer agora, é mata-lo aqui!

— Você realmente é igual a Wanda!

***

Ainda era noite quando acordei sentindo calafrios descendo da minha nuca se espalharem como fogo em palha por todo meu corpo. Uma sensação de que algo ruim iria acontecer... – meu sentido aranha me alertando mais uma vez? – uma mescla de medo, dúvida, ansiedade se espalhava rapidamente enquanto os calafrios aumentavam. Olhei para Valerie ao meu lado e ela parecia bem. Talvez eu tenha tido um pesadelo?

Ouvi vozes exaltadas. Alguns soldados do vilarejo e alguns lobos olhavam para cima da ravina falando algo sobre "alguma coisa lá fora". Me pergunto o que eles acham terem visto.

Me peguei olhando para cima da ravina – mas apenas por curiosidade – na tentativa de entender o tumulto. Encarei o céu tempestuoso por um tempo e por um momento achei que não era nada, foi então que o eu vi. Sobrevoando a superfície da ravina, uma sombra estranha envolvida em fogo lançou um disparo de fogo que ao pegar na parede oposta a que eu estava, porém alguns metros para direita, fez todos acordarem assustados.

— Levantem... levantem-se! — gritou Theldham desesperado. Eu nunca o tinha visto daquele jeito.

Valerie acordou assustada com o barulho causado pelo disparo feito pela criatura voadora que sobrevoava a superfície da ravina. Logo um frenesi se espalhou contagiado todos.

— Vamos! Temos que sair da ravina! — Don gritou.

Eu segurei a mão de Valerie que ainda estava meio sonolenta e confusa. Nós corremos até Don e Theldham; ambos estavam próximos ao local onde o disparo de fogo atingira.

— Theldham! Don! O que está acontecendo!?

— Faltren — Theldham respondeu. — Eu não esperava que ele nos encontraria aqui. temos que sair daq- aaah! — outro disparo vindo da superfície da ravina — Vai! Corram! — ele gritou mais uma vez se jogando ao chão levando eu, Valerie e Don com ele. Mais um disparo.

— Se continuar assim, vai desmoronar tudo! — falei levantando.

Levantei Valerie, que agora estava ainda mais confusa. Enquanto corríamos eu expliquei para ela o que estava acontecendo.

Continuamos correndo, e enquanto corríamos nos encontramos em Ellen, Rayla e Clarys.

Mais e mais disparos eram lançados. As paredes da ravina começaram a ceder e cair atrás de nós prendendo lobos e humanos e esmagando alguns deles. Quanto tempo se passou desde que essa confusão começou? Vinte... talvez trinta minutos? Depois de um tempo correndo, nós finalmente saímos da ravina. a tempestade de neve não estava tão forte quanto antes, estava mais para uma grande nevasca que uma tempestade de ventos assustadoramente fortes.

— Conseguimos?

— Sim, estamos salvos!

— Ainda é cedo para comemorar! — advertiu Theldham. De repente com uma descida rasante, algo parecido com um meteoro caiu à uns cinquenta metros de nós. E se erguendo da cratera que ficou por causa do impacto, uma criatura de sombra envolvida em fogo com asas que se estendiam longas e poderosas para fora de seu corpo assustador; olhos vermelho-alaranjado, chifres enormes saiam de sua cabeça. Então aquilo é o Faltren!? Me arrependo profundamente de ter chamado o Theldham de balrog quando nos vimos pela primeira vez à cinco meses. — Preparem-se! — gritou Theldham mais uma vez.

A criatura demoníaca andou para fora da cratera fez surgir em sua mão direita um chicote e na esquerda uma espada. Enquanto ela nos encarava um sorriso sinistro se formou em seu rosto assustador.

— Willian leve seus soldados para o flanco esquerdo! Eu e os lycans atacaremos pelo direito. Don você vem conosco. Keiji vá com Willian e espere pelo disparo de Don; quando a criatura for atingida ataque rápido! O resto de vocês dividam-se em dois grupos e ataquem por trás! Quando ele estiver atordoado suas chamas ficaram mais fracas.

— Entendido! — falamos ao mesmo tempo.

— Vamos! — ele gritou.

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