Parte I
Acordo após mais uma noite muito agitada com brigas e confusões, meu espelho me mostra um homem de uns 20 e poucos anos. Na parede, encontro uma frase, com isso, exclamo: "Por que coloquei essa frase aqui, mesmo? Oh é. Para nunca me esquecer de todas as merdas e para que tenha certeza de mim mesmo!"
Quanto mais olho para a parede, mais aquilo começa a perder o sentido e eu fico confuso. Realmente escrevi isso? Não é a primeira vez que acontece... acordar e ter coisas espalhadas pela casa, frases pixadas, relatos de um eu que não sou eu, desta vez quem fora o responsável? Qual das personalidades passou por aqui?
...
Quantas pessoas podem habitar um só corpo? E quantas vezes todas elas podem se sobressair umas sobre as outras em um espaço de tempo tão curto? Talvez essa parte minha que escreveu essa frase seja a mais sensata de todas, e, apesar de eu ser uma inconstância maior do que aparentemente seriam outras pessoas, quem sabe seja essa característica algo próprio da condição humana.
Pela primeira vez na vida, senti a imensa vontade de conhecer a mim mesmo profundamente, quantas faces habitam em mim? Como posso conhecê-las? Visto minha roupa e sigo para mais um dia comum, refletindo sobre aquela frase no espelho, talvez... ali fosse o início.
Eu abro a porta da casa e vejo o mundo se movendo em um ritmo completamente oposto ao do meu eu de hoje. E de repente eu perco a noção de como poderia fazer deste um dia comum. As pessoas passam numa pressa automática e eu me sinto como um nada dentro da imensidão. Quem eu sou hoje e qual é o meu problema?
— Hei, Dante! — ouço uma voz chamar meu nome em meio ao caos.
— Oi, Clarice! — sorri sem sorrir.
Ela atravessa a calçada e vem na minha direção.
— Caminhada a essa hora da manhã? Quem te viu quem te vê, heim. Importa-se se eu te acompanhar nessa?
— Só se você me garantir que o babaca do seu namorado não vai surgir no meio do percurso e apontar uma arma na minha cabeça.
— Deixa de neura, Dante. O Vinny nem tá na cidade. Começamos a caminhar.
— Como não? - indaguei - Ontem à noite eu o vi. Na festa da faculdade.
— Sim, mas hoje de manhã ele precisou sair meio que depressa para resolver um caso de família.
— Ah, massa!
— Hei, Dante, mudando de assunto... você soube mais detalhes do ocorrido de ontem? Digo, daquilo que aconteceu no final da festa.
— Do que você está falando?
— Da Dandara. A ruiva metida do curso de Arquitetura...
— O que houve com a Dandara?
— Dante, acorda, em que mundo você vive? Você por acaso não ficou até no fim da festa, não?
— Uhum, fiquei... Acho que fiquei, sei lá, eu devia tá chapado, não me lembro de nada, na verdade...
— A Dandara foi assassinada, Dante!
— Que? Como que é o negócio?
— O corpo da Dandara foi encontrado sem vida, atrás do prédio principal. É só ligar a TV. Nos noticiários não se fala em outra coisa.
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