Capítulo 1
Gabriela Pv'
Desci o morro correndo, minha respiração estava desregulada, mas não parava de correr.
Eles se aproximavam mais e mais de mim. Pulei um muro baixo e tive a surpresa de dar em uma rua sem saída. Não tinha mais para onde correr. Meu coração acelerado entregava meu medo.
Olhei para trás e os dois já me olhavam, seus olhos entregavam que eles iriam me matar.
- Gabriela?- Escutei alguém me chamar, não sabia de onde vinha aquela voz.- Gabriela caralho!?- Gritou.
- Acorda menina!- Despertei assustada, como minha mãe me chacoalhando. Tudo não passava de um sonho, na verdade um pesadelo.
- Que saco, me deixa dormir.- Rolei para o outro lado.
- Você tava ai gritando igual doida.- Fez silêncio.- Preciso ir trabalhar, não sei quando volto.
- Ta bom mãe, bom trabalho.- Puxei a coberta.
- Faz teu almoço, e não é pra faltar de aula.- Ignorei.- Ta me escutando praga?!- Me puxou.
- Eu to caramba.- Levantei e fui pra sala.
- Tchau.- Ela pegou sua bolsa, me deu um beijo na testa e saiu.
Minha mãe é enfermeira do postinho aqui do morro, que por incrível que pareça é 24 horas, e ela nunca tinha hora pra voltar.
Voltei para o quarto, peguei meu celular, marcava oito e pouco da manhã. Me joguei na cama já sem sono. Fiquei futricando as redes sociais, até Mayra me mandar mensagem.
Chat On
Bitch(Mayra): -Bom dia filhote de cruz credo!
Eu: - Bom dia vagabunda.
Bitch: - Sabe que dia é hoje?
Eu: - Sexta-feira??
Bitch: - Sim, mas sabe o que tem na sexta?
Eu: - Uma maluca acordada antes das 10 hrs??
Bitch: - Para de se fazer de sonsa criatura!
Eu: KKkkkkkk, manda o papo logo então.
Bitch: É dia de BAILE!!
Eu: - Ah não Mayra, hoje eu não to afim de ir não.
Bitch: - Ta brincando com minha cara, só pode.
Eu: - Claro que to né kkkkk, sou nem louca. Cola aqui em casa, minha mãe já saiu.
Bitch: - Marca dez!
Chat Off
Joguei meu celular na cama, e fui pro banheiro fazer minhas higienes matinais, aproveitei para tomar um banho, já que o calor do Rio era insuportável. Voltei pro quarto enrolada na toalha, logo escutei umas batidas na porta.
- Ja vou!- Gritei. A casa de Mayra não era muito longe da minha, e ela sempre vinha pra cá quando minha mãe não estava, já que as duas não se davam muito bem.
Abri a porta e ela entrou com tudo na casa.
- Tava escutando atrás da porta era?- Dei risada.
- Gabriela do céu, vai por uma roupa, imagina se não fosse eu que estivesse ai na porta?- Fala em brincando e cai na risada.
- Já volto, sinta-se em casa.- Sabia que ela ia levar isso muito a sério, se jogou no sofá e ligou a televisão.
Vesti um short, e uma camiseta larga, prendi meu cabelo em um coque e fui pra sala.
- Qual a boa de hoje?- Me sentei ao seu lado.
- A boa é que o gatinho do Vitinho vai estar no baile, e eu não posso perder oportunidade.
- Caraio May, até hoje querendo esse traste, ta de caô comigo só pode.- Cruzei os braços na altura do peito.
- Ta doida, ele é o homem da minja vida pode escrever ai.- Fez gestos com as mãos.
- Primeiro que nem homem ele é. - Brinquei mas ela não gostou nem um pouco.- Que chata você em.- Bati nela com uma almofada e fui pra cozinha.
Mexi em tudo á procura de algo fácil para comer, acabei pegando pão com mortadela e um copo de suco.
- Nem oferece vagabunda.- May pegou meu pão.
- Me dá isso aqui!- Tentei pegar meu pão, mas ela levantou no alto, e o fato de eu ser baixinha não me ajudava nem um pouco.
- Anã de jardim.- Deu risada. Escutei um estrondo.- O que foi isso?- Disse assustada.
- Não sei..- Logo em seguida veio uma rajada.- É tiro caralho, abaixa.- Me joguei no chão e May também, ela me abraçou e começou a chorar.
Os tiros ficaram mais intesos e as vezes eram muito próximo da casa, parecia que a qualquer momento eles estariam aqui dentro.
- Que isso Gabi?- Disse ao cessar o choro.
- O que?
- Tem algum celular tocando, ta vindo da sala.
- Bicha do céu, deve ser minha mãe.- Ia me levantar para ir até a sala, mas May me puxou.
- Ta usando droga, tu vai acabar levando um tiro.
- Mas eu preciso atender.- Ela não disse nada.- Tive uma ideia.- Deitei no chão e fui devagar até a sala que não era tão distante, mas naquele momento parecia ser do outro lado do mundo.
- Gabriela porra, não me deixa aqui sozinha não!- Ela voltou a chorar, só tinha cara de durona.
Peguei o celular que ainda tocava sem parar. Atendi.
Call On
- Filha?
- Mãe, ta tudo bem?
- Ta sim filha, eles estão longe do posto. E você ta bem? Ta tudo fechado ai né?
- Ta sim mãe.
- Não sai daí nem quando tudo terminar, é pra ficar ai, ta me escutando?
- Estou sim. Quando você volta?
- Não sei filha, você sabe que o posto enche depois dessas invasões.
- Ta bom, toma cuidado!
- Você também, se esconde bem. Te amo.
- Também te amo.- Ela desligou.
Call Off
- May?- A chamei, já que não escutava mais o seu choro.
- To aqui ainda, dá pra voltar pra ca?- Dei risada.
- Medrosa pra caralho.- Voltei pra cozinha de gatinho mesmo.
- Que gatinha em.- Ela riu.
- Miau.- Caímos na risada.
- Amiga, será que é a polícia ou os inimigos?
- Polícia também é inimigo para eles May.- Ela revirou os olhos.
- Você me entendeu.- Eu ri.
- Depois a gente descobre isso, as fofoqueiras aqui são de primeira linha.- Demos risada.
....
Foram mais de três horas de tiroteio, com certeza eles pararam por falta de munição, acho que nem o exército tem tanta munição.
- Acho que acabou mesmo.- Olhei pela janela e já tinha gente na rua olhando os estragos.
- Não, não pode ser.- May saiu correndo, quando vi ela já estava no meio da multidão.
Fui atrás dela, ainda era perigoso ficar andando por ai.
- Que foi doida?- Ela apontou para um corpo caído no chão, era do Vitinho, ele estava inconsciente e saia uma boa quantidade de sangue de sua perna.
- Preciso ajudar ele.- Segurei ela.
- Ta doida, tem monte de gente aqui pra ajudar ele, você nem sabe por onde começar.- Ela assentiu com os olhos cheio de lágrimas.
- Acabou o show, todo mundo para suas casas.- Um moreno alto gritou, ele carregava um fuzil, já tinha o visto algumas vezes junto do Vitinho.- Ta olhando o que?- Disse para mim. Sai dos meus pensamentos.
- Nada não.- Balancei a cabeça e sai puxando May de volta para casa.
Ainda estava estática, o olhar daquela cara era muito vazio, não dizia nada, me deixou intrigada, e uma vontade de saber quem ele era surgiu.
...
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