Reescrito e revisado por: poisontequila

A razão vos é dada para discernir o bem do mal.
- Dante Alighieri

♰

" A milênios atrás. Quando a humanidade começou a se desenvolver, observei cada avanço, cada nova descoberta. Era incrível como uma criatura tão vulnerável pudesse ter inteligência para coisas simples, mas que poderiam tornar-se grandiosas.

Com grandes conhecimentos, a ganância tomou partido na evolução, a destruição do planeta vinha com base em estudos e máquinas de alta geração; o Criador sente orgulho na mesma proporção que sente mágoa, sente que todos estão se perdendo.

A ânsia em descobrir sobre quem criou tudo levava a mortes, a ameaças e principalmente omissões - Ele previa isso muito antes de tudo.

E eu, acompanhei absolutamente tudo, tomei decisões que hoje, o ser humano trata como se nós fôssemos o vilão e Lúcifer o anjo injustiçado.

Meu poder pode restaurar e multiplicar o planeta Terra, trazer tudo como era muito antes do primeiro ser humano pisar, antes de tudo caminhar para uma destruição em massa.

No momento que optei em abdicar do meu eu real para viver igualmente, para conhecer e entender, previ cada passo, conquanto, ser acometido a emoções e sentimentos me tornaram fraco.

Não foi ruim, pelo contrário.

Foi sublime.

Não estou aqui para que acreditem em mim, para que creem em Deus, que percebam que Ele existe.

Estou aqui para trazer a palavra, para salvar aqueles que querem ser salvos.

E nessa trajetória que dura séculos e séculos.

Me apaixonei.

E esse amor, me condenou.

E eu não me arrependo de nada. "

- Jimin. Precisamos encontrar um meio de proteger você. - Jin estava encostado no batente da porta, mantendo distância de Namjoon que estava na sacada, encarando-o.

- Podemos salvá-lo sem que vá.

- Tenho que ir. Ele está sofrendo. - lamentou.

- Como sabe?

- Eu sinto. - chorou. - A cada minuto que perdemos ele sofre ainda mais Jin. Precisamos tirá-lo de lá. Eu preciso.

Namjoon saiu da sacada, olhando-o intensamente, o olhar de dragão atento e desconfiado.

- O que foi?

- Lúcifer esteve aqui, não é?

Jimin franziu o cenho. - O que?

- O cheiro dele está em você. O que ele te fez?

- Ele me beijou, tentando se passar por Jungkook, mas percebi e o afastei. - limpou a lágrima que escorreu por sua face. - ele quer meu poder, um que nem eu sei bem. Tentou barganhar comigo.

Jin arregalou os olhos e Namjoon estalou a língua.

- Temos de matá-lo. - pronúncia.

- Não há como matar o Diabo. - Jin intervém.

- Claro que há. - frisou. - Lúcifer precisa sair de cena, ainda que eu goste de guerra e caos, para tirar Jeon de lá, temos de matar o pai dele.

- Você nem se importa com Jeon, Namjoon. - Jin o encara com desdém.

- Não mesmo, porém, há algo que quero. Então isso vai me ajudar. Todos saem ganhando. - cruzou os braços, os músculos se contraindo pela camisa escura.

- Você quer se tornar o rei. - Jimin diz baixinho, chamando a atenção de ambos.

O celestial abre asas e o segura pelo pescoço antes do demônio avançar contra Jimin.

- NÃO SE ATREVA. - grunhiu.

A tensão se findou, Jin não ousou soltar o demônio, Jimin encarava o livro aberto, a frase ali foi o gatilho para sua decisão se concretizar.

" A fonte de poder surge conforme a necessidade, não importando qual seja, o extermínio é iminente. "

- Quero ir. Vou conseguir. - olhou para o anjo. - Me ajude a entrar no inferno, ou ao menos chegar perto em um dos portais.

- Você não pode entrar no inferno. Vai morrer assim que estiver perto dele. - Namjoon grunhi, se soltando do aperto em seu pescoço. - Posso ajudar, contando que dêem a mim o que quero.

- Não.

- Vão se foder. Se virem.

Sem a mínima chance de impedi-lo de sumir envolto nas sombras conjuradas, Jimin voltou a se sentar na cama, um pouco trêmulo, o desespero o fazia tomar decisões drásticas que podem muito bem causar algum efeito ruim em seu corpo.

- Não sei como entrar. Mas Hoseok pode nos ajudar. - Jin murmura. - Não podemos nos teletransportar e eles não podem fazê-lo para nos levar. Uma das entradas fica em Darvaza - Turcomenistão. Localizada no norte, uma ex-república soviética, na Ásia Central.

- Como vamos chegar lá? Vai demorar muito.

- Jimin precisa manter a calma, Jungkook é forte. Ele vai aguentar. - tocou-lhe a mão miúda, repelido pelo calor absurdo da pele. - Nossa. Sabe ao menos o básico para que não seja afetado pelo inferno?

- Não sei. - suspirou. - Sinto que consigo Jin, posso não lembrar bem, mas meu corpo sim. Vou seguir meus instintos, consigo tirá-lo de lá.

- Acredito em você. - sorriu. - Chame Asmodeus, ele pode dar alguma dica de como chegar mais rápido ao Portal do Diabo.

- Portal do diabo?

- É cratera de Darvaza, também chamada de Porta para o Inferno, é um campo de gás natural, na província de Ahal, no Turcomenistão. A cratera é conhecida por suas chamas, que vem queimando continuamente desde 1971, alimentada pelos ricos depósitos de gás natural na área. - explicou.

- Ótimo. Melhor ir, tento conversar com Hoseok ainda hoje, prometo.

- Tudo bem. Fique com Deus, criança.

- Amém, você também.

- Amém. - despediu-se.

A chuva torrencial depressiava tudo ainda mais, os dias eram longos demais e a ansiedade é agonia o mantinham desperto durante as noites, estava exausto, todavia, era impossível dormir quando sabia, sentia em seu corpo que Jungkook sofria, apenas não sabia ao certo como, a dor não podia ser medida e era isso que o desesperava.

Depois do banho tratou de descer para comer alguma coisa, como de praxe, seus pais não estavam, os trabalhos da faculdade acumulava e o ânimo de continuar inexistente. Havia um pouco do jantar anterior, então colocou no prato e aqueceu no micro-ondas, servindo de suco natural e algumas frutas frescas - na mesa, observava a chuva e o ruído das gotas se chocando contra o vidro. Não havia notado que chorava até ver a lágrima pingar na comida.

- Jungkook-ah. Me perdoe. - não era sua culpa, ainda sim pedia perdão, tanto quanto pedia a Deus para proteger a criatura que amava.

Precisava dele, a abstinência tomava-o, queria-o ali, beijando-o, ouvindo sua voz e sentindo o cheiro gostoso de patchouli que fazia-o dormir.

Odiava Lúcifer com tudo que é, prometendo a si que o mataria ou faria o que pudesse para Jeon fazê-lo - ele era o único que podia assumir o trono e ser o novo rei do Inferno.

Minutos depois estava desprovido apenas da camisa, manteve a calça de moletom, e de frente ao espelho que pegava o corpo inteiro, encarou seu reflexo, procurando reunir ou ao menos acender qualquer resquício de poder.

Por longas meia hora nada aconteceu, sentando no tapete felpudo, cruzando as pernas, continuou a se olhar, os cabelos tão brancos quanto a lua, a pele continuava macia, porém delicada, como se fosse extremamente fina e frágil.

- Vamos lá. - pediu ansioso. - apareça, qualquer coisa.

Pegando um isqueiro, deixou a chama alaranjada percorrer sua palma esquerda, no começo começou a queimar, ao se concentrar e tentar de novo apenas sentiu calor, a queimadura não vinha, sua pele parecia absorver o calor - piscou algumas vezes e voltou a ver a si, sorrindo pela coloração lilás nos olhos.

- Por favor! Traga-me quem sou. Preciso salvá-lo.

No silêncio ininterrupto, uma voz que não era voz soprou em seu ouvido, não tinha timbre nada, era como o vento, suave, fresco - seu corpo pareceu responder e prontamente o platinado sorriu.

- Obrigado. - agradeceu.

A mesma sensação quando tinha conexão com Deus, sentiu naquele instante, o corpo ficar mais leve e o calor em seu coração, a felicidade e euforia que parecia abraço. Iria conseguir.

Iria salvar o amor da sua vida.

De tantas vidas que ele ainda não sabia, pelo simples fato de não recordar-se, mas, aquele demônio era dele a milênios antes de ambos terem conhecimento.

Eram predestinados. E logo saberiam disso.

Entre erros e acertos tudo ficaria bem.

O cheiro gostoso emanava da vela aromática, o fragrância de cacau e canela era apaziguador, a chuva havia parado no início da noite, o cômodo estava fresco, aproveitando estar só, fechou os olhos e chamou Asmodeus.

Invocou-o.

- Acho bom ter um bom motivo de ter-me chamado coisinha. - a luxúria sorria, o cigarro entre os dedos e a postura relaxada, as vestes negras o deixavam ainda mais belo.

- Ajude-me a entrar no inferno.

- E porque?

- Você sabe. - retrucou.

- Ah! Deseja tanto assim salvar o seu demônio de estimação ?

- Sabe como ele está? - a esperança o instigou a perguntar.

- Para sua infelicidade, não sei. Lúcifer proibiu qualquer um de se aproximar das cavernas que levam até um antigo fosso. - estalou a língua. - Não que eu fosse salvá-lo. Não me interessa o que acontece com ele.

- Cretino.

- Obrigado.

Revirando os olhos, prosseguiu. - Pode me ajudar?

- Claro. - soltou a fumaça que havia tragado, ao menos o restante dela. - O que ganho em troca?

- Meu agradecimento.

- Não é o suficiente.

- O que quer?

- Um pouco do seu sangue. - sorriu.

- Não mesmo.

- Convença seu melhor amigo e o namoradinho dele a vir comigo para o inferno quando o apocalipse vier. - sua expressão era séria, coisa que não era de seu feitio. - Sabe que esse mundo pode deixar de existir, então quero garantir que eles serão meus.

- Não posso fazer isso Hoseok. Eles não querem estar com você. - lembrou.

- Sou insistente coisinha. Deixe que com isso eu resolvo. Apenas diga a eles que irei buscá-los para ficarem são e salvos de tudo que vai vir.

- Okay! Como vai me ajudar?

- Posso te levar comigo até a entrada. E de lá, você se vira. - apagou o cigarro num copo d'água que estava sobre a mesinha próximo às portas de vidro da sacada.

- Jin me disse onde está uma das entradas. Leve-me até a cratera de Darvaza.

- Você é uma criatura insuportável e mandona, não sei como Jungkook aguenta. - semicerrou os olhos. - aliás eu sei, pena que não cheguei primeiro.

- Cala a boca.

- Ótimo. Vista-se direito para irmos, não podemos perder tempo. - o apressou.

Correndo pelo quarto, Jimin vestiu rápido o jeans preto, camisa da mesma cor e uma jaqueta, calçou os coturnos e respirou fundo.

- Estou pronto.

Hoseok o puxou pela cintura, o corpo menor colado ao seu.

- Isso é necessário?

- Sim. A não ser que queira ser puxado por algum demônio ou almas atormentadas.

Tremendo pela informação, agarrou-se ao pecado, levando-o a sorrir amargo e envolvê-lo em escuridão.

Era como estar dentro de um quarto escuro, sem portas e janelas, o ar era quase rarefeito, sentia sua energia ser sugada e o medo de perder as forças o fez quase se fundir ao demônio - antes da vertigem bater com força, tudo foi clareando e finalmente conseguiu ver a cratera com mais de 60 metros de diâmetro e 20 metros de profundidade, está em chamas há cinquenta e dois anos.

- Chegamos. Me solte.

- Desculpe.

- Sabe como entrar? Cálculos humanos você deve ter conhecimento, mas o infernal não. - comentou. - Terá de passar pelos vinte metros, ou seja, precisa ter força e resistência para quebrar as camadas de rocha, depois dela você cairá direto no corredor de frente a porta que dá para o primeiro círculo. - explicou.

- Não sei como fazer.

Asmodeus pensou em negar-lhe ajuda, porém, a curiosidade em saber do que o garoto era capaz, o fez soltar um palavrão.

- Tente conjurar suas asas.

- Não dá.

- Já tentou?

- Sim.

- Okay! Qual poder você conhece até agora?

- Fogo.

- Use isso ao seu favor, e se for o que todo mundo chama, pode usar todos e canalizar num só para chegar rápido. - puxando-o mais para a beirada da cratera, o segurou. - toque a lava.

- QUE?

- Pare de choramingar, se concentre e mergulhe suas mãos na lava.

Jimin encarou o fogo, aproximou-se um pouco mais, até sentir ser chutado para dentro da cratera, seu corpo mergulhou na lava, o grito desesperado se fez ouvir, sua pele que a altura era para ter derretido junto ao seus ossos, matando-o, não aconteceu, pelo contrário, pareceu deixá-lo mais forte - os luzeiros mudaram de cor e sua força o fez saltar para fora totalmente intacto, causando leves rachaduras entre a terra e pedregulhos.

- FICOU LOUCO? EU PODIA TER MORRIDO. - gritou.

- Mas não morreu. Parabéns. - manteve-se a seriedade.

- MALDITO!

- Terminou de surtar? - não tendo resposta devido a cara emburrada, Hoseok prossegue. - Visto que consegue, tente sugar tudo isso e use para fazer um canal para atravessar sem toda a lava atrapalhando.

- Como faço isso?

- Se vira.

- Otário.

De frente ao fogo, Jimin respirou fundo, chamando por aquela fagulha acesa dentro de si, como se tudo, todos os elementos respondesse ao seu comando, o platinado abriu os olhos, fazendo movimentos com as mãos quase formando um círculo, a lava começou a se dispersas até abrir uma passagem a vinte metros de profundidade, sua pele brilhava e Asmodeus o olhou chocado.

- Fagulha. Conseguiu. Viu?

- Não enche.

- Primeiro você, vou em seguida, acabei de lembrar que preciso envolver você com minhas asas para que não morra.

Juntos desceram as rochas duras e quentes, Hoseok impaciente o pegou no colo e pulou, até quebrar a rocha e passarem dela, o sentir da camada trouxe sensações estranhas ao platinado, era um anjo, e a camada do inferno lhe era tóxico.

Ambos chegaram a um túnel extremamente escuro, Jimin sentia os braços do demônio apertá-lo - quieto deixou-se ser levado, a respiração profunda de Hoseok era um bálsamo em meio às sombras sufocantes.

Duas tochas pediam de cada lado de um arco de pedra, o fogo permitiu o vislumbre, acima havia uma placa, a escrita meio apagada ainda pode ser lida.

Deixai toda a esperança, vós que entrais! ¹

Aquilo desencadeou desespero.

Hoseok sorriu ao seu lado.

- Bem vindo ao inferno coisinha.

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¹ Dante Alighieri | A Divina Comédia.

Obs: Alguns capítulos anteriores Taehyung menciona que Yoongi saiu com Namjoon. Para que não fiquem confusas.
O pecado da Ira, vulgo Namjoon tem um irmão gêmeo. Ou seja, o pecado da Inveja é o que saiu com Namjoon e que foi mencionado apenas uma vez.