[ 18 ] Descobertas e sensações
Reescrito e revisado por: poisontequila
Tempo ou oportunidade não determinam a intimidade, apenas a disposição.
- Jane Austen.
(Razão é Sensibilidade.)
♰
Nada existia. Era um imenso branco, sem formas, sem tamanhos - apenas uma imensidão infinita de um imenso nada. Deus tinha planos, contou-me sobre todos, enquanto criava cada coisa com perfeição e maestria. Fiquei apaixonado por tantas cores, milhares de tons e por tudo que Ele criou, minha paixão maior foi o universo; as estrelas infinitas, planetas, o sol, uma grande bola de fogo queimando em meio a imensidão escura - era lindo.
Tudo era lindo demais, perfeito como meu Criador.
A Terra foi feita para os seres que me manteve a par ao criar os arcanjos, os anjos e a cidade prateada - Eu o louvava com amor imensurável.
Ele é perfeito, único e digno de adoração.
Todos os arcanjos, meus irmãos tiveram suas funções delegadas, cada um com uma tarefa única, todos os anjos também tinham - e eu me mantinha ao lado do Senhor, e quando possível visitava o mundo dos humanos, os únicos que possuíam alma e livre arbítrio, pois Deus jamais iria impor que os seguissem, então permitiu que cada um trilhe seus próprios caminhos.
Ainda que seu descanso tenha se estabelecido, seus pedidos vinham a mim e eu executava, adorando-o e deixando evidente todo meu amor.
A queda aconteceu.
E a partir disso, o ser humano conheceu a ambição, a maldade, e tudo que aquele sentimento provém - Lúcifer fez questão de mostrar que aquelas criaturas não eram dignas de amor.
Ainda que se auto destruam, Deus continua amando-os, perdoando-os. Setenta vezes sete.
Ele sempre iria perdoar.
Eram seus filhos.
E ainda que muitos o neguem, Ele jamais faria o mesmo.
Mas para mim, toda aquela destruição e temor cresceu angústia, e por não suportar tamanha sensação, se sentir que Ele não merecia aquele desgosto que o mundo tem lhe dado - optei por apagar toda minha existência dos ceus, dos anjos e arcanjos e daqueles que foram condenados ao Inferno.
O meu poder me favoreceu para que antes de me lançar no mundo, fiz com que tudo que eu sou, fosse contido dentro de mim para que nem eu tivesse acesso - Deus compreendeu os meus pensares e fazeres.
Tudo acontecia por um motivo.
E a minha queda, foi um deles.
Diferente de qualquer outro celestial.
Eu caí por minha própria vontade e para dar continuidade aos planos do meu Pai.
Pois eu, fazia parte dele.
Jimin fechou o livro, absorvendo tudo o que leu até então, a sensação de reconhecimento aquecia sua pele, enchia seu coração de uma euphoria sublime e pela primeira vez em semanas, se sentia bem, estava um pouco acelerado devido a ansiedade - mal se importou com os cabelos totalmente brancos, combinou consigo, o fez parecer quase etéreo. Taehyung ainda não respondeu suas mensagens, então, optou por dar espaço e cuidar de ler tudo o que estava ali, para que o esforço de Jungkook e Seokjin valesse a pena.
De banho tomado, escolheu roupas escuras, cuidou-se como sempre fazia, o dia havia começado com os raios solares alaranjados iluminando seu quarto, a brisa fresca o recebendo quase numa carícia. Ajeitando o que podia pegou a bolsa, colocando o livro ali e desceu para o café da manhã que já estava posta na mesa - seus pais já prontos para mais um dia de trabalho desejou-lhe bom dia.
- Quando pintou o cabelo? - Sora quem pergunta, colocando um pouco de leite no chá de frutas vermelhas e entregando a xícara a ele.
- Ontem. - omitiu. - Ficou bom?
- Está lindo. Parece um anjo. - elogiou sincera, seu pai confirmou num menear de cabeça, segurando a xícara de café com uma mão e na outra lendo o jornal da manhã.
- O que vai fazer depois da aula?
- Pensei em dar uma volta, comprar alguns livros, roupas.
- Divirta-se então. Pode usar seu carro, está livre do castigo, apenas não cometa nenhuma imprudência. - o aviso foi severo.
- Obrigado mãe.
O café foi encerrado em instantes, cada um despediu-se do mais novo e se foram, cada um para seu respectivo emprego. Jimin terminou o chá e saiu também, entrando no carro, verificando o horário e logo ajeitou-se para ir.
No estacionamento avistou Taehyung com Yoongi, visto que ele não quis conversar, deixou o carro em outra vaga, colocando a alça da bolsa sobre o ombro e seguindo para entrar no prédio, ficaria tudo bem, era só uns dias para ele aceitar ou que ao menos venha para que o platinado pudesse explicar o que ele também não sabia muito. A primeira aula e a segunda demoraram para acabar, as restantes foram mais rápidas, no corredor um pouco caótico, seguiu o fluxo para a saída, engolindo o nó na garganta por ver Taehyung e sentir o medo em suas ações e na forma como olhava em sua direção.
Nos poucos lances de escadas descidos, Jimin encontrou Jungkook, encostado no capô de seu carro, os braços cruzados e o olhar apenas em si, as vestes no mesmo tom escuro, os cabelos amarrados num coque baixo, ignorando os olhares predatórios e pensamentos lascivos que com certeza ele sabia e não se importava.
- O que faz aqui?
- Protegendo você.
- Achei que faria isso de longe. - constou, destravando as portas e abrindo a do motorista para colocar a bolsa no banco do passageiro.
- Mudança de planos.
- Okay! - entrou batendo a porta.
Observando-o seguir até a moto, olhou na direção de Kim que por incrível que pareça olhava em sua direção e fez um sinal que ele de pronto entendeu e assentiu, sorrindo aliviado enquanto colocava a chave na ignição, girava e ouvia o ronronar do motor.
Dirigir até o mirante naquele horário não foi tão ruim, passou em um drive thru, pegando um combo generoso - amava a vista, conseguia ver toda Seul dali, o céu parecia tão baixo, como se fosse possível tocá-lo, estacionando perto da barra de proteção, desceu com a sacola de papel em mãos e o copo de refrigerante na outra, sentou no capô, admirando a vista e o silêncio, sabendo que Jungkook estava protegendo-o; foi uma espera de quase quinze minutos até Taehyung aparecer, deixar a maserati ao lado e descendo com a sacola semelhante a sua, sentando no capô também, mantendo certa distância, Jimin não o julgou por isso, compreendeu e respeitou perfeitamente.
- Ainda estou assustado. - começou a falar, mergulhando a batata frita no potinho de sorvete. - Mas também admirado e muito agradecido. - seus olhos castanhos finalmente o encararam. - Então, obrigado por me salvar Jiminie.
- De nada. - tomou um pouco do refrigerante pelo canuco biodegradável. - Apesar de não lembrar do que fiz.
- Como?
- Não me recordo. Jungkook não quis me contar e acho que é melhor assim. - admitiu. - Acho que minhas emoções afetam o que há dentro de mim e faz surgir como uma ameaça. Um ato de defesa, assim suponho.
Passou horas lendo o livro, intrigado e lendo cada vez mais e sentir conforto em tudo ali, e pela primeira vez em muito tempo, sentiu conforto em sua própria pele.
- Pode ser. - Taehyung afirma, comendo outra batatinha com sorvete. - Isso faz de você quase um dos vingadores. - brincou, tirando risos sinceros do platinado. - Gostei do cabelo, combinou muito. Está lindo.
- Obrigado.
- Desculpe por ignorar suas ligações e mensagens.
- Não se preocupe. Estava no direito, no seu lugar eu faria a mesma coisa, Tae. - realmente ele faria.
- Sei disso. - suspirou, colocando a embalagem vazia dentro da sacola e pegando o hambúrguer. - O que acontecerá agora? Vai aprender a lidar com essa versão dois ponto zero sua?
Jimin sorriu. - Talvez.
- Ji?
- Hum?
- Nós, humanos. Vamos morrer nessa guerra, não é? - toda aquela suavidade se dissipou, a aflição que tomava o garoto, o tomou também.
- Farei o possível para que não, Tae. - prometeu.
- O juízo final não é isso? Tipo, seremos julgados, ou seremos salvos e levados para os céus ou condenados a sofrer no inferno.
- Sim, mas esse acordo que os demônios e anjos vem falando, não parece ter muito a ver com o apocalipse. - mordeu um pedaço do lanche, sentindo o gosto da carne junto a salada, picles e molhos maravilhosos, uma explosão de sabor. - Estive pensando e parece muito estranho e também totalmente injusto.
- Explique.
- Talvez, só talvez isso tudo seja apenas um teste. - comentou, mordendo outro pedaço. - Tudo o que Jungkook informou eu sinto que é vago. Mas também não posso deixar de levar em consideração.
- Nisso eu concordo. Um passo de cada vez, Ji. Se esses seus poderes ativam conforme suas emoções, é bom que tente filtrar e controlar cada um. Caso tudo aconteça sem que esperemos, você sabe se defender.
- E defender todo mundo. - completou.
Os minutos seguintes apreciaram a vista enquanto comiam, Jimin parou de mastigar, encarando o lanche enquanto sentia um pouco de enjôo.
- Tudo bem?
- Sim, acho que isso não me fez muito bem. - pulou do capô.
- Vomita. - Taehyung apressou-se. - Está pálido. Meu deus!
- Tá doendo. - geniu curvando o corpo para frente.
Em alta velocidade a moto se aproximou, derrapando nos pedregulhos, Jungkook saltou da moto e em segundos estava segurando o menor.
- O que foi?
- Estávamos comendo e ele começou a sentir dor. - Kim explica já entrando em desespero.
Jeon olhou as embalagens e voltou a olhar para Jimin, o pegando no colo.
- Você comeu carne?
- Sim. - respondeu fraco.
- Porra! - colocou-o no banco de trás do carro.
- O que houve com ele?
- Só me segue. - avisou tomando o assento do motorista.
- E sua moto?
- Deixa ai. Vamos logo.
O carro acelerou para fora da estrada de terra, Jeon pisou fundo no acelerador sem se preocupar com as curvas estreitas, em instantes estavam na cidade, avançando o sinal vermelho - Jimin parou de resmungar, tocando em seu rosto o demônio notou que havia desmaiado.
- Caralho! - xingou, cortando os carros e motos até chegar à residência do menor.
Tirando-o com cuidado o segurou firme nos braços seguindo até o quarto onde o deitou na cama. Taehyung veio logo atrás.
- Ele precisa de um hospital. - ofegou.
- Não. Ele precisa vomitar. - avisou.
- O que tá fazendo? Vai machucar ele. - quase gritou, o demônio o segurava sem cuidado algum.
- Busque algo que ajude a desintoxicar.
Taehyung saiu correndo do quarto e Jeon soltou um palavrão antes de dar uma descarga de dor para que colocasse tudo o que comeu para fora - Jimin acordou em pânico, vomitando no chão, respirando com dificuldade.
- Calma, vai passar.
Kim havia retornado com um copo grande contendo leite.
- A cozinheira disse que ajuda a quebrar o efeito de seja lá o que ele tenha comido.
Jimin foi sustentado para conseguir beber o máximo que conseguia, Jeon procurava uma forma de ajudar e não conseguiu e isso o frustrou drasticamente.
- O que h-houve?
- Jimin você não pode comer carne, nenhum tipo, ou qualquer outro alimento de animais.
- Mas porque?
- Anjos que possuem poderes ligados a elementos naturais, tendem a ter relutância. É um veneno para você, entende? - a preocupação era notaria, Jimin suspirou,deixando o copo de lado.
- Seu corpo está mudando, então vai resistir a qualquer alimento não natural.
- Entendi. - respirou fundo.
- Ji. Tá bem?
- Vou ficar, Tae.
- Graças a Deus. - agradeceu, recebendo um olhar severo do demônio. - Vou chamar alguém para limpar essa bagunça, volto já.
Park em passos lentos foi até o banheiro, molhando um pouco o rosto e escovando os dentes para tirar o gosto amargo do vômito, Jeon já estava na sacada, o cigarro entre os dedos e o olhar pouco vago.
- Obrigado, por me ajudar.
Ele não respondeu, levou o filtro até os lábios, dando uma longa tragada e soprando o restante da fumaça branca com cheiro horrível.
- Não sabia que era venenoso, Jeon.
- Sei disso.
- Porque está com essa cara?
- Nada. - apagou a brasa no punho, o chiado causou calafrios no garoto, mas não ficou a marca da queimadura.
- Estou lendo o livro. - contou animado.
- Bom para você. Preciso ir. - passou por ele.
Jimin não fez mais perguntas, o deixou ir embora mesmo que sua maior vontade fosse pedir que ficasse - Taehyung o ajudou a sair do quarto e ficar na sala principal enquanto seu quarto estava sendo limpo e higienizado.
- Ji. Você precisa descansar.
- Farei isso depois. - encostou a cabeça no sofá, fechando os olhos, filtrando os acontecimentos.
- Se sente melhor?
- Uhum!
- Tenho que ir para casa. Yoongi e eu vamos visitar os pais dele. Passar o fim de semana por lá. - suspirou. - os pais dele me odeiam, e também não estamos em um bom momento por conta daquele maldito demônio.
Jimin abriu os olhos, todo o enjoo e mal estar não foi capaz de impedir sua preocupação.
- O que aconteceu?
- Fui sincero, ainda que magoasse. Expliquei o que houve aquele dia que Hoseok apareceu ferido e incumbiu de deixá-lo beber meu sangue. - os dedos longos mexiam na barra da camisa branca. - Ele não sabe o que Hoseok é, ou não acredita. Levou aquele ato como uma traição e tudo tem parecido estar fadado ao fracasso.
- Pedi a Hoseok para deixá-los em paz.
- Aquele vindo segue os próprios anseios,Jimin. Não vai parar. Ele aparecer na Blackout foi uma humilhação pro Yoon, e eu sei, eu sinto que essa atração que sinto por aquele maldito demônio, ele também sente, mas se nega e tem me afastado.
Era uma situação difícil, uma que Jimin entende e conhece, no entanto, não possuía relacionamentos, então nessa parte não pode dizer que passou pelo mesmo - conhece seu melhor amigo e sabe o quão arraso estava com tudo aquilo.
- Vocês vão ficar bem, Tae. Use esse fim de semana para conversar, para ficar com ele.
- Farei isso. - sorriu de forma triste. - me ligue caso precise.
- Pode deixar. Obrigado por me ajudar.
- Imagina. Eu te amo.
- Amo você também.
Ao voltar para o quarto totalmente limpo e cheirando a lavanda, Jimin banhou-se rápido, vestiu-se e deitou na cama, fechando as cortinas ao pressionar do pequeno botão no controle no móvel ao lado da cama - a sonolência o levou a adormecer rápido, para repor energia.
Quando acordasse estaria disposto a continuar a descobrir-se no livro que ele determinou ser a chave primordial para acessar quem um dia foi.
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