35| Eu Quero Você
As luzes do palco dançavam graciosamente junto com a melodia calma que se iniciou assim que Chan subiu ao palco. E eu, que já tinha o coração batendo numa velocidade absurda, praticamente entrei em colapso somente por ouvir aquelas três palavras:
Pra você, Maya.
Tento me recompor e fixo os meus olhos em Christopher. Cada letrinha que sair de sua boca a partir de agora será para mim. Só de pensar nisso a minha barriga gela como se eu tivesse engolido um iceberg inteiro.
Ali, minha atenção era toda dele. E quem me dera se apenas isso fosse. A verdade é que Chan conquistou cada pedacinho meu, e cada pequena parte de mim agora pertence à ele.
Sua voz surge e, logo no primeiro verso, eu sinto o arrepio corriqueiro de todas as vezes que o ouvi cantar. Era como estar num sonho lindo onde apenas sentimentos felizes existiam.
Eu sorri sem perceber, escutando cada palavra da primeira estrofe.
Ser feliz pra mim não custa caro, se você tá do lado eu me sinto tão bem
Eu nem conhecia a música, mas ela pareceu tão familiar e acolhedora vinda de Chan... saber que ele quer dizer isso pra mim através dela é a melhor sensação do mundo.
Arrumei a mala há mais de uma semana, só falta você me chamar pra eu fugir com você
Meu rosto se iluminou em um sorriso ainda maior. Me lembrei de uma conversa que tivemos no jardim do hotel. Naquele dia, nós prometemos fugir juntos pra um lugar bem afastado, onde nenhuma preocupação pudesse encontrar a gente. Seríamos só nós dois, sendo felizes juntos.
Minha expressão sorridente, entretanto, não durou muito tempo. Uma mistura de surpresa e confusão era o que eu sentia ouvindo o garoto cantar exatamente as seguintes palavras:
Mudei meu status, já tô namorando, antes de você aceitar já te assumi pro Brasil
Eu entrei em estado de choque. Talvez por sentir que aquilo resultaria em muito mais do que simplesmente Chan dedicar uma música a mim, ou, quem sabe, pelo medo de que sua intenção fosse somente essa mesmo.
Meu coração apenas pedia socorro, gritando para que eu parasse aquelas batidas completamente descompassadas, mas isso não estava sob meu controle. Na verdade, nada mais estava. Se tem algo que eu não tenho mais é controle sobre as minhas emoções.
Pensei que fossem as luzes do set que batiam em mim vez ou outra que estavam me fazendo piscar diversas vezes, mas com certeza não era isso.
E quando Chan cantou: "porquê te amo eu não sei, mas quero te amar cada vez mais, o que na vida ninguém fez, você fez em menos de um mês" olhando diretamente em meus olhos, eu quase não acreditei. O encarei confusa demais enquanto o garoto sorria incessantemente para mim.
Ele pendeu a cabeça para o lado de forma fofa me analisando enquanto cantava os últimos versos e aquilo foi o máximo que consegui aguentar. Meu coração já não suportava mais bater tão rápido e eu levei minha mão ao peito tentando diminuir os batimentos manualmente.
Christopher terminou sua performance e, ainda de cima do palanque, li em seus lábios um "você tá bem?" preocupado. Balancei a cabeça positivamente em resposta. Meu coração teria que aguentar mais um pouquinho, pelo nosso bem.
Esperei que Chan viesse até mim novamente depois de sua apresentação, mas eu não vi mais sinal nenhum do garoto. Fiquei apenas parada, estaticamente, pensando, sem saber o que de fato aquilo significou.
Entre as milhares de coisas que passavam pela minha cabeça, todas as minhas suposições me levavam a uma só resposta: Christopher enlouqueceu. E, provavelmente, eu também.
Todos os momentos que passei ao lado de Chan surgiram em minha mente sem minha permissão. A minha ida ao quarto dele ontem, quando ele me ligou por não conseguir dormir era o mais recente deles. Pegar em sua mão e acariciar seu cabelo até o garoto pegar no sono me levou a um lugar até então desconhecido por mim. Só que agora que conheci, eu não quero sair nunca mais.
O tempo passou mais rápido do que eu esperava e logo os finalistas foram chamados ao palco para a decisão do ganhador. Christopher estava enfileirado na ponta mais próxima à Tiago Leitfer com as mãos unidas na frente do corpo. Notei seus polegares se movendo em círculos e pensei que eu deveria enviar vibrações positivas para ajudá-lo com o nervosismo, mas acho que me comunicar por telepatia ainda não está dentro das coisas que sou capaz de fazer. Apenas foquei em torcer muito por ele e o mostrar um sorriso encorajador quando, vez ou outra, seu olhar passava por mim.
Os técnicos já haviam feito os seus comentários e o programa tinha acabado de voltar do último intervalo. Era a hora de saber quem seria o vencedor.
Como de costume, Leitfer recebeu das mãos da assistente o envelope contendo o resultado. Ele o abriu e espiou rapidamente, guardando-o de volta em seguida.
— O campeão do The Voice Brasil é...
O grande "rufem os tambores" tomou conta do set e a atmosfera do lugar se tornou tensa de repente. Chan esperava o veredito com os olhos fechados e um semblante sereno, como se nervosismo algum sequer passasse pelos seus pensamentos, mas eu pude ler em sua expressão que ele estava pelo menos um pouco ansioso quando o garoto deixou uma mordida em seu lábio inferior.
Eu precisava desesperadamente saber o resultado. Minhas cutículas já não existiam mais depois de eu ter estraçalhado cada uma delas e minha vontade de voar no pescoço de Tiago Leitfer e tomar aquele envelope das mãos dele era cada vez mais forte dentro de mim. Suspirei pesado na esperança de que aquilo fosse ajudar a me acalmar, mas a ação só me fez ficar ainda mais inquieta. Acho que nem se fosse eu mesma ali em cima como uma das finalistas estaria tão ansiosa quanto estou vendo Chan naquele lugar. E, entre batidas de pés no chão e respirações profundas, aconteceu o início do fim da minha angústia. Minha atenção foi presa pelo apresentador:
— Christopher! Você é o campeão do The Voice Brasil!
Uma explosão ensurdecedora rompeu da plateia imediatamente e eu me juntei à ela, aplaudindo e comemorando a vitória do garoto enquanto meu peito transbordava de felicidade.
Uma chuva de papéis picados caía em cima de Chan, que se encontrava ajoelhado no chão, derramando as lágrimas mais felizes de sua vida. Me enchi ainda mais de orgulho quando Christopher se levantou e abraçou cada um de seus concorrentes, agradecendo e parabenizando um a um.
— Sabe... muitas vezes eu me peguei pensando: quanto é que vale um sonho? — o estúdio ficou em silêncio para ouvir Chan falar — Quem me vê nesse lugar hoje não imagina de quantas coisas tive que abrir mão pra chegar até aqui.
A voz do garoto me arrepiava mesmo de longe, saindo pelos alto-falantes. Eu refletia enquanto ele falava, e só conseguia pensar em como aquilo era a mais pura e completa verdade. Chan teve que desistir de muitas coisas pra estar aqui, e com certeza a maior delas foi o relacionamento com os seus pais. Ele abandonou um futuro brilhante e seguro que foi traçado para ele desde que nasceu por um sonho incerto e cheio de adversidades. O caminho foi longo e cheio de pedras, mas ele conseguiu.
— Mas eu faria tudo de novo se fosse preciso. Enfrentaria cada uma das dificuldades só pra estar aqui, exatamente onde estou agora — Chan chorava em meio ao seu discurso e eu me segurei muito para não correr até lá e abraçá-lo. — Muito obrigado a cada um que me apoiou e me ajudou a chegar no lugar que eu tanto sonhei.
O tamanho da minha admiração por Christopher só aumentava a cada palavra que ele dizia. Eu o aplaudia cada vez mais forte enquanto o apresentador o entregava o seu troféu, bagunçando de leve o cabelo do loiro ao cumprimentá-lo. Os outros finalistas tiveram a sua vez de agradecer e saíram pela parte de trás do palanque, se despedindo de todos.
Franzi as sobrancelhas, confusa. Não foi assim que o programa acabou nas outras temporadas. Geralmente todos os finalistas e técnicos se reúnem e festejam enquanto os créditos sobem. Não é desse jeito que acontece.
— O palco é todo seu, Chris — Tiago diz, saindo do lado do garoto e ele agradece, mandando uma piscadela para o apresentador.
— Diretor? Você vai me desculpar se eu atrasar um pouquinho o fim do programa, né? — o loiro ri soprado ao perguntar — É que tem uma coisa que eu preciso muito fazer hoje.
— O diretor tá dizendo aqui no meu ouvido que você pode ficar à vontade — ouço apenas a voz de Leitfer respondendo de um canto afastado do palco.
Não estava entendendo nada, a única coisa que eu podia ter certeza é de que aquele teatrinho ali foi totalmente combinado entre eles.
— Tem uma pessoa aqui que salvou a minha vida hoje... — Chan correu os olhos pelo set me procurando e eu abaixei a cabeça involuntariamente ouvindo os burburinhos surpresos da plateia — Maya... sei que você tá com vergonha, mas será que pode vir aqui pra eu te agradecer do jeito certo? Eu faço tudo que você quiser em troca!
Mordo o lábio inferior pensando se deveria ou não ir. Eu realmente estava envergonhada, e presenciar Chan dizendo lindas palavras de agradecimento pra mim ao vivo para o Brasil inteiro me deixava ainda mais tímida. Eu podia sentir o meu rosto esquentar só de imaginar a cena.
Respiro fundo e caminho relutantemente em direção ao palco. O holofote branco me seguiu, fazendo minha vista doer até se acostumar com a luz forte. Minhas pernas não queriam obedecer aos meus comandos, mas eu as forcei, passo a passo, até chegar lá.
Subo os degraus e meu coração aquece vendo Christopher com a mão estendida para mim. A pego, ficando de frente para ele e tendo novamente a mesma sensação que tive ao conhecê-lo.
— Você é louco, sabia? — sibilo, rindo fraco. Ele ri também, me mostrando o sorriso mais lindo do mundo.
— Gente, essa aqui é a pessoa que me salvou hoje — ele olha rapidamente para as câmeras, mas logo volta seus olhos para mim. — E eu queria ter palavras que fossem suficientes pra te agradecer, Maya. Você me entendeu e me acolheu desde o nosso primeiro encontro. Naquele dia, quando nos esbarramos e eu quebrei seu celular, você me disse que estava tudo bem, que acidentes acontecem. Quando eu disse que pagaria o conserto, você recusou imediatamente, sem deixar que eu me responsabilizasse. E você pode pensar que me enganou com aquela historinha de que seu celular tinha seguro contra quedas, mas eu sempre soube a verdade, Maya.
Eu balançava a cabeça negativamente, não por desagrado, mas porque eu nunca esperaria nada em troca de ser gentil com alguém. Meus olhos estavam cheios de lágrimas e eu tentava segurá-las para que não transbordassem. Em vão. Antes mesmo de eu piscar, elas caíram pesadamente pelo meu rosto. Chan soltou a minha mão e deu um passo à frente, limpando minhas lágrimas delicadamente com o polegar.
— Maya, a verdade é que você não salvou a minha vida só hoje. Você salva a minha vida todos os dias desde que nos conhecemos. Eu fui salvo pelo seu sorriso, pelo seu carinho, pela sua amizade e pelo seu amor — eu nunca tinha ouvido nada tão lindo em toda a minha vida. As palavras de Chan tocavam tão profundamente dentro de mim e eu não conseguia conter a emoção que tomava conta do meu peito. — Você me fez sentir tantas coisas boas e me mostrou que a vida pode ser incrível mesmo quando enfrentamos nossas batalhas mais difíceis... e eu quero muito poder retribuir e te fazer sentir cada um dos sentimentos maravilhosos que eu conheci depois que você entrou na minha vida.
Eu não sabia o que falar e nem fazer. Não conseguia tirar os meus olhos de Chan nem por um milésimo de segundo. Estava enfeitiçada pelo garoto. Agora eu tinha a plena certeza de que não o via mais apenas como um amigo, era muito mais que isso. Sempre foi.
Ele suspirou e em seguida sorriu, o auditório ficou em completo silêncio esperando que um de nós dissesse algo.
— Chan, eu... — as palavras ficaram presas no nó formado em minha garganta e eu engoli seco.
— Talvez eu tenha confundido as coisas e você realmente só me veja como um amigo, então... — balanço a cabeça negando freneticamente e ele ri de mim — O que foi? Eu não confundi?
— Claro que não — digo de cabeça baixa, envergonhada demais para olhá-lo.
O garoto levantou meu rosto e me fitou profundamente, e eu podia ver o brilho de milhares de estrelas vindo de dentro de seus olhos.
— Eu quero você, Maya... — ele finalmente diz e sinto meu coração praticamente explodir dentro de mim — E eu queria saber se... — Chan pigarreia envergonhado e eu sorrio, achando sua hesitação fofa — Você quer namorar comigo?
Eu fiquei em silêncio assim como todos no set. Uma atmosfera tensa se instalou e Chan começou a parecer preocupado, me suplicando com os olhos para que eu desse alguma resposta logo. Eu ri de sua feição e ele ergueu as sobrancelhas surpreso quando eu me lancei eu seus braços sem aviso prévio.
— Claro que sim, Chan! Mil vezes sim! — ele me levantou do chão em seu abraço e eu o segurei o mais forte que pude. Aquele era o melhor lugar do mundo.
— É sério?! — eu não estava vendo seu rosto mas podia ter certeza de que ele sorria de uma orelha à outra ao perguntar.
— Uhum! — o garoto me pôs no chão e se afastou para me olhar.
Rimos juntos quando a plateia formou um coro de "beija, beija, beija" e Chan não tardou a obedecê-los. O garoto se aproximou de mim e, com a mão em minha nuca, me trouxe para o beijo mais incrível e cheio de sentimentos de toda a minha vida.
— Eu te amo, Maya — ele disse sorrindo, me olhando como se eu fosse a pessoa mais preciosa do mundo.
— Eu também te amo, Chan — o olhei mais uma vez, me certificando de jamais esquecer aquela cena. — E mais do que qualquer outra coisa na minha vida... eu quero você.
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FIM
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Muito muito muito obrigada por acompanharem I Want You até aqui. Eu realmente espero que tenham gostado de ler ela assim como eu gostei de escrever. Também quero pedir desculpas por não ter dado nenhum aviso antes sobre o fim da fanfic, mas achei que seria mais legal se fosse uma surpresa ❤
Pra me redimir, vou voltar com um epílogo bem legal, contando o que aconteceu com a Maya e o Chan depois de um ano, eu já escrevi ele, só preciso ter um tempinho pra revisar e trago pra vocês.
Também quero dizer que já estou escrevendo fanfic nova e logo logo vocês vão me ver aqui de novo.
Ah, o protagonista?
Dessa vez, vai ser o nosso amante de gatos, Lee Know!
Mais uma vez, obrigada por todo apoio, vocês são incríveis! ❤
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