13| Perdão
Deixo meu chocolate quente pela metade e alguns pãezinhos intocados em cima da mesa. Caminho em direção ao jardim e vejo a figura alta de Chan em pé, mesmo havendo diversos bancos ali.
Me aproximo um pouco do garoto, me certificando de deixar um espaço seguro entre nós dois, já que não queria cair em nenhuma tentação estando perto demais.
Seu rosto estava completamente pálido, assim como seus lábios e ele não parecia nada bem e, pela jaqueta pesada que vestia no calor escaldante do Rio, eu tive certeza de que Chan estava doente.
— O que queria me dizer? — dou um tom indiferente à minha voz, mas por dentro estava tomada por preocupação.
— Maya, por favor... me perdoa — sua voz era baixa e soava um pouco rouca. — Me perdoa por ter sido tão idiota. Me perdoa por te decepcionar e te fazer passar por tudo isso.
Me mantenho apática, apenas analisando o garoto ali parado.
— Não é pra mim que você tem que pedir perdão. Viu a situação em que deixou o seu melhor amigo?
— Sei disso... — ele abaixa a cabeça e vejo uma lágrima pesada pingar diretamente no chão — Eu me arrependo tanto, Maya... me arrependo todo segundo pelo que fiz. Peço perdão ao Seung todos os dias, mas sei que nunca vai ser o suficiente.
— Você tem falado com o Seungyoun todos os dias? — franzo as sobrancelhas sem encontrar nenhum sentido naquilo — Ele não parou de falar com você?
— Ele foi me procurar assim que saiu do seu quarto — Chan limpava as lágrimas na manga de sua jaqueta. — Quando pedi perdão, ele só me abraçou e disse que me entendia.
— Ele é realmente uma ótima pessoa... — digo baixo, mas o moreno escuta e concorda com minha fala.
— Acha que vai conseguir me perdoar um dia? — ele se esforça para perguntar, parecendo exausto.
Respiro fundo sem tirar os olhos dele, ainda sem saber o que responder. Dentro do meu coração eu já perdoei Chan, só não queria dar a ele o gostinho de saber disso. Talvez eu devesse dizer isso a ele logo. Ele parece realmente esgotado.
Me preparo para contar ao garoto que já havia o perdoado por tudo quando noto suas pernas vacilarem de fraqueza. Ele levou a mão à cabeça, demonstrando estar com dor e eu corri até ele, passando seu braço sobre meu corpo para dá-lo algum apoio.
— Chan, você precisa se deitar, está queimando em febre! — coloco a mão em seu rosto, confirmando o que eu já sabia — Acha que consegue ir até o elevador?
Ele confirma com um ruído e eu ajeito melhor seu braço sobre meus ombros, segurando o máximo de seu peso que conseguia. Caminhamos devagar até o elevador e com um pouco de dificuldade chegamos ao quarto do moreno. Abro a porta com o cartão que estava no bolso da jaqueta do garoto e o direciono até a cama, deitando-o.
Ele estava acordado, mas seus olhos estavam pesados, quase se fechando. Tiro seus sapatos e o cubro com o edredom. Vou até o banheiro do quarto, umedeço uma toalha de rosto e coloco em sua testa, torcendo para isso abaixar pelo menos um pouco a sua febre.
— Descansa um pouco, Chan. Eu tô aqui, não se preocupa — sussurro e sento no chão, ao lado da cama.
Ele tinha um semblante triste e preocupado em seu rosto, mas assim que peguei em sua mão ele se tranquilizou e adormeceu instantaneamente. Fico ali o observando por algum tempo; eu disse tantas coisas duras para Chan antes de me afastar dele. Acho que ele não é o único arrependido nessa história.
Passo a mão livre em seu cabelo e acaricio os fios que estavam molhados pelo suor que a febre causou. Ergo a cabeça e uma ideia surge em minha mente quando vejo a pequena cozinha do lugar.
Vou cozinhar algo para Chan.
Abro os armários e a geladeira, procurando por ingredientes para fazer uma canja de galinha. Eu particularmente detesto o sabor e o cheiro que aquilo tem, mas dizem que é bom para quem está doente. Me empenho procurando, mas sem o frango se torna impossível fazer a canja.
Parto para o plano B e reúno alguns ingredientes para fazer um mingau. É simples e tem um gosto bom, pelo menos para mim. Acho que, depois da canja, o mingau é a refeição mais oferecida aos doentes.
Me esforço para não fazer muito barulho e acabar acordando Chan. Graças à faculdade tenho prática cozinhando, mas fazer isso em um lugar desconhecido é sempre difícil. Mexo a panela e me viro de vez em quando para olhar se o garoto ainda dormia.
Imagino que não vá acordar tão cedo.
Termino de preparar o mingau e o coloco em um prato, deixando-o sobre a mesa. Pego um analgésico e antitérmico que tenho na bolsa e deixo ao lado do prato.
"Tome tudo, até a última gota. E sim, isso é uma ordem."
Colo o post-it com o recado na mesa, dou um beijo na mão de Chan antes de ir embora na ponta dos pés.
[...]
Desligo o despertador, me espreguiço ainda na cama e a primeira coisa que me vem à mente é se Chan vai estar recuperado para o programa hoje. Sua voz estava bem rouca quando o vi ontem e aquela febre parecia muito alta.
Espero que ele esteja melhor.
Penso em mandar uma mensagem, mas lembro que ele ainda não sabe que o desculpei pelas coisas que aconteceram. Pelo que conheço dele, deve achar que ainda estou brava.
Passo a mão pelos cabelos e os prendo em um coque, levantando em seguida. Depois de escovar os dentes e lavar o rosto, desço até o refeitório e tomo meu café da manhã. Olho no relógio e vejo que já estava quase atrasada para o horário que agendei no salão. Termino de tomar meu capuccino e saio pela portaria do prédio. Marquei de arrumar o cabelo hoje para a apresentação, já que, ao contrário do que muitos pensam, os cabeleireiros e maquiadores da Globo não nos arrumam antes das transmissões.
Em menos de duas horas já estava de volta ao hotel. Apenas escovei e cacheei as pontas com um babyliss, nunca tive coragem de fazer nenhuma mudança radical em meu cabelo. Eles são compridos e castanhos desde que me lembro, apesar de constantemente ter vontade de tingi-los de várias cores.
Mais um sinal sutil da minha personalidade covarde.
Me arrumo para ir ao estúdio enquanto treino a minha música. Faço uma maquiagem e coloco meu vestido longo preto. Já devo ter usado ele milhares de vezes, mas é porque o adoro. Ele é justo até a cintura e a saia solta, além de ter um decote lindo nas costas.
Me olho no espelho satisfeita com o resultado. Até que fiquei bonitinha.
Ligo para Maria e a aviso que estou saindo para o estúdio. Ela assente e diz que assim que terminar de resolver o que precisa na rua, vai direto para lá. Desligo o telefone e chamo um carro de aplicativo, sem a menor coragem de andar até lá.
Entro no prédio do programa e vou direto para a sala de ensaios. A verdade é que, sem Chan para me incentivar, eu acabei negligenciando muito os treinos dessa semana.
Se eu for eliminada hoje, a culpa será inteiramente minha.
Aqueço e repasso a canção por um tempo até sentir que minha voz estava um pouco cansada e resolvo dar uma pausa. Caminho pelos corredores em direção à cafeteria quando vejo Chan passando junto de um dos membros do nosso Time. Viro o rosto tentando me esconder mas percebo ter sido vista por ele, que faz menção de vir até mim.
Droga.
Olho para o lado e vejo que estou em frente ao banheiro feminino.
Salva pelo gongo!
Entro depressa no cômodo e me apoio na pia, vendo meu reflexo assustado no espelho. Eu estou ofegante apenas por tê-lo visto de longe? E por que não consigo controlar esses sentimentos idiotas?
Lavo as mãos e espirro algumas gotas de água no rosto, acordando do "transe".
Fico ali por um tempo, até achar que a área estava segura. Saio do banheiro devagarinho, colocando apenas a cabeça para fora da porta e olho para os dois lados, me certificando de que Christopher não estava mais ali. Depois de constatar que a pessoa parada de costas era apenas um funcionário do programa, saio dali finalmente enquanto resmungo baixo, brava com a situação em que me meti.
Me assusto quando ele aparece do nada em minha frente. Levo a mão à boca abafando um grito e bato as costas na parede com o susto causado pela aparição repentina do garoto.
Como foi que ele surgiu aqui? Eu tenho certeza de ter olhado muito bem o corredor antes de sair.
— Surgir do nada é seu superpoder? — reclamo emburrada.
— Desculpa, não queria te assustar — ele me olha curioso, como se analisar minha expressão o divertisse.
— Tá sorrindo muito pra quem quer se desculpar — o afasto para o lado e passo por ele, indo embora. — Pelo visto já está bem melhor.
— Espera! — ele pega em minha mão e eu me viro de volta — Obrigado.
— Pelo que?
— Você sabe, por ontem... — ele balbucia timidamente, e eu finjo não saber do que ele estava falando — Obrigado por ter cuidado de mim.
Agora era eu quem me divertia analisando seu rosto tímido.
— Não tem de que — rio pelo nariz e saio andando. — E, aliás, não precisa mais me pedir perdão. Tá tudo bem.
— Sério? — ele corre, me alcançando.
— Uhum. Mas se fizer de novo eu nunca mais olho na sua cara — ameaço.
— Entendido! — sorri — Ah, agora que tá tudo bem, queria te perguntar uma coisa.
— Hum? O que?
— Como fez um mingau tão bom? Sério, o gosto era inacreditável! — diz, gesticulando animado com as mãos.
Rio de sua empolgação.
— Se conseguir mesmo me ensinar a tocar teclado, eu te ensino a fazer mingau.
— Então ainda quer que eu te dê aulas? — ele questiona alegre e eu assinto — Perfeito! Quando quer começar?
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