10| Par de Vasos
— Você podia vir mais tarde, não precisava ter vindo junto comigo — digo, chegando nos Estúdios Globo acompanhada por Maria.
— Tudo bem, vou aproveitar pra caminhar um pouco enquanto a gravação não começa. Além disso, não tinha muito o que fazer hoje no trabalho.
— É um milagre você não estar trancafiada no quarto com aquele notebook — rio, admirada pela garota não ter trabalho a fazer.
— Te vejo no palco! — ela pisca, se afastando de mim.
Assinto com a cabeça e mando um beijo voador ao me despedir da garota. Entro no núcleo do The Voice e vou até um dos espaços de convivência, onde combinei de me encontrar com Chan.
— Hum, acho que ele deve gostar de capuccino... — digo a mim mesma, indo até a máquina de café e pegando bebidas iguais para nós dois.
Me sento no banco alto da pequena mesa redonda, deixando o copo destinado ao loiro em cima da mesma, enquanto provo meu café.
Só espero que ele não demore muito.
Me apoio sobre os cotovelos à medida que a bebida ia sumindo de meu copo. Percebo alguém se aproximando e levanto o olhar para a entrada. Assim que bato os olhos no garoto minha garganta se fecha e me engasgo com o café, tendo uma crise de tosse fulminante. Christopher corre até mim, dando tapinhas em minhas costas na tentativa de me desengasgar.
Me recomponho antes de olhar para ele novamente. Chan estava moreno. O cabelo agora tingido de preto o deixou ainda mais bonito, se é que isso era possível. Sua pele branca reluzia e seus traços pareciam mais charmosos e bem delineados do que antes. Mas não foi isso que me fez engasgar.
Olho mais uma vez para Chan, e em seguida para mim mesma. Eu vestia uma camiseta branca e um vestido jeans de alcinhas por cima.
Até aí tudo bem.
Camiseta branca e uma calça jeans exatamente da mesma cor que o meu vestido. Era isso que Christopher estava usando. Nós estávamos praticamente idênticos.
Um par de vasos.
Iguais àqueles casais bregas das fotos do Pinterest.
— Não acrediro que você veio com a roupa igual a minha — reclamo, ainda sendo amparada pelo garoto devido à crise de tosse.
— Eita... — ele examina nossas roupas, dando a entender que não tinha percebido nada até eu falar — Nós estamos iguais.
— Jura?! Sabe que se você não dissesse eu nem teria reparado? — ironizo e ele ri.
— Por que tá brava, hum? — ele toca o meu nariz, me deixando ainda mais zangada — Todos vão adorar nossas roupas combinando.
— Claro que vão. Eu é que detestei.
— Posso saber por quê?
— É brega. Muito brega! — faço uma careta.
— Esse café é pra mim? — ele olha para a bebida, ignorando completamente a minha fala.
— Sim.
— Muito gentil da sua parte — diz, tomando um grande gole. — Mas sabe o que não foi nada gentil?
— O que?
— Você não ter reparado no meu novo visual — ele passa as mãos pelos fios pretos, se exibindo descaradamente.
— Eu reparei. Tava melhor loiro — minto, só para devolver sua provocação.
— Vamos ensaiar — Chan me dá as costas e sai andando sem olhar para trás. Rio da cena. Com certeza ele ficou bravo.
[...]
Lavo as mãos com um sabonete líquido que cheirava melhor que meu perfume e saio do banheiro. Pedi uma pausa de dez minutos a Chan, pois minha bexiga estava prestes a explodir e, milagrosamente, ele permitiu que eu descansasse alguns instantes.
Vou até a pequena lanchonete do térreo e compro um pacote de batatas Ruffles. Penso em levá-lo para comer junto com Christopher, já que ele podia estar com um pouco de fome, então me seguro para não abrir e comer tudo ali mesmo.
Guardo o troco em minha bolsa e me afasto do balcão da lanchonete, quando vejo um rosto conhecido se aproximar. Ele vem em minha direção com um sorriso simpático no rosto e para em minha frente.
— Só na batata, né? — ele ri nervoso, olhando para a embalagem em minha mão.
Que?
Franzo as sobrancelhas pela fala esquisita do garoto.
— Seungyoun! — finjo não ter ouvido a idiotice — Quanto tempo.
— É bom te ver de novo, Maya. Quer dizer, fora da tela do meu Globoplay.
— O que? Você me assistiu? — o olho confusa.
— Uhum. Sua voz é linda.
— Sério? — pergunto, e vejo o mesmo assentir — Obrigada, Seung. A sua também é.
Ele me encara por um bom tempo sorrindo, o que me deixa envergonhada e um pouco incomodada, pra ser sincera.
— Bom, eu preciso ir. Chan está me esperando.
— Ah, eu te acompanho! Também tenho que voltar pro ensaio.
Droga. Por que ele parece tão esquisito hoje?
— Tudo bem, não precisa! — saio andando, mas o garoto dá uma corridinha para me alcançar.
— Estou te incomodando, né? — ele pergunta como se já soubesse a resposta, mas eu nego veementemente.
— Você tá estranho hoje, Seung — rio, vendo sua expressão engraçada. — Acho que a Ivete tá te fazendo ensaiar demais.
— Por falar nisso, Chan me disse que você adora ela. Vou te arranjar um autógrafo.
Minhas pernas vacilam por um instante ao ouvir aquilo e Seungyoun me segura pelo braço, rindo da minha reação. Sinto meu coração palpitar de euforia e um sorriso involuntário surgir em meus lábios.
— É sério?! — ajeito meu vestido que amassou um pouco pela quase queda — Isso seria incrível, Seung. Não! Seria muito mais que incrível!
Ele sorri e alisa meu cabelo com a mão, como se eu fosse um cachorrinho fofo.
— Vou trazer pra você da próxima vez.
— Fica com isso, então — estendo o pacote de batatas como um presente por ele estar sendo tão legal. — Sei que não vale muita coisa, mas é de coração.
— Pra mim isso é o mais valioso.
[...]
Sento um pouco, depois de ter ficado muito tempo em pé, passando a música com Chan pelo menos umas dez mil vezes. O programa já estava sendo gravado e logo seria a nossa vez de subir no palco. Pego meu pó compacto na bolsa e dou uma olhada rápida no espelho, a maquiagem ainda está inteira, por incrível que pareça.
— Tá perfeita — o garoto diz, ainda sentado em frente ao piano da sala, me tirando de meus pensamentos.
— Você não tá dizendo isso só porque estamos vestidos iguais, né? — rio soprado, tentando fingir que seu elogio não atingiu em cheio o meu coração, e ele ri de volta, negando a minha insinuação.
Às vezes sinto como se Chan fosse meu melhor amigo de infância, desses que crescem juntos e sabem tudo um sobre o outro. O problema é que outras vezes penso nele como algo muito maior que um melhor amigo.
Quero parar de sentir isso, mas os comentários de Christopher soam cada vez mais encantadores aos meus ouvidos, por mais que eu tente fingir que não.
Abro a garrafa que estava ao meu lado no sofá e tomo um grande gole de água. Isso tudo já passou pela minha cabeça mil vezes.
Amigos não devem se relacionar amorosamente. Está fadado ao fracasso. E quando fracassa, não é só o relacionamento que acaba, a amizade também se desfaz em milhões de pedacinhos que são impossíveis de se consertar.
Não estou disposta a correr esse risco.
— A próxima dupla a se apresentar vem do Time Ivete... — minha atenção é tomada pela voz vinda da TV.
— É a vez do Seung! — Chan corre, se sentando ao meu lado para ver a apresentação.
Prendo os olhos na tela, acompanhando o garoto alto e esguio que caminhava até o palanque. Espero que se saia bem, ele merece.
Enquanto Christopher se mantinha completamente focado na televisão torcendo por seu amigo, eu só conseguia lembrar de meu encontro com Seungyoun mais cedo. Talvez seja coisa da minha cabeça, mas ele parecia diferente da primeira vez que nos vimos.
De qualquer forma, ele continua sendo uma pessoa boa, é isso que importa.
— Tenho certeza que eles vão passar — o moreno diz, se referindo à Seung e sua dupla, que agradeciam e se despediam da plateia.
— É claro que vão.
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