08| A Nova Etapa

Saio correndo do prédio em direção aos estúdios. Péssimo dia para me atrasar, eu diria. A essa hora a reunião entre Teló e os membros do Time que sobreviveram às Batalhas já deve ter começado, muito provavelmente. 

Bom, agora já foi. 

Me conformo com a situação e caminho o mais rápido que consigo até meu destino. Entro na sala envergonhada, me desculpando pelo atraso e me sento na primeira cadeira que vejo vazia, evitando olhar para as pessoas ali presentes. 

— Não se preocupe, Maya. Você não perdeu nada importante — Michel diz, aliviando um pouco a minha tensão. 

Solto o ar que estava preso em meus pulmões e assinto com a cabeça.

— Turma, quero dar os parabéns mais uma vez pra vocês que continuam no Time Teló e dizer que todos fizeram batalhas espetaculares — o técnico diz entusiasmado. — Tô muito orgulhoso, de verdade. 

Me alegro ao ouvir aquelas palavras e, pelo visto, todos os outros ali também. As vozes agradecendo começam a ecoar pela sala e uma salva de palmas é iniciada. Me divirto junto dos outros onze competidores que restaram na equipe e me sinto extremamente feliz por estar entre eles. 

— Hoje eu vim contar uma novidade pra vocês sobre a nossa próxima fase — Michel diz, fazendo as palmas cessarem e todos olharem atentos. — Teremos uma etapa inédita esse ano. Alguém imagina o que é? 

Os burburinhos começam a aumentar e sinto como se estivesse de volta ao ensino fundamental, quando ninguém deixava o professor falar. Olho para os lados sem entender o motivo de tanta baderna e encontro Chan, que me olha com a mesma expressão desentendida que eu tinha no rosto. 

— Serão duetos! — o técnico finalmente revela — Vocês doze serão separados em seis duplas e as duplas vão competir entre si. 

Arregalo os olhos surpresa, isso nunca aconteceu em nenhuma outra edição do programa. É basicamente o mesmo esquema das batalhas, mas ao invés de ser um contra um, serão dois contra dois. 

Para mim não vai ser um problema. Gosto de cantar em dueto.

Depois de dar mais alguns detalhes sobre a nova etapa, Teló começou a apresentar as duplas escolhidas. Tento não ficar nervosa enquanto ele revela os nomes, mas não consigo evitar os batimentos cardíacos acelerados a cada pessoa que ele chama, o que só piora conforme o tempo passa e eu não sou chamada. 

Observo ao meu redor, apenas eu e mais três participantes não haviam sido atribuídos à suas duplas. Duas garotas que são muito conhecidas por cantarem sertanejo, e Chan, que batia os pés no chão parecendo bem inquieto. 

Respiro fundo e fecho os olhos esperando o veredito. 

Teló pigarreia antes de falar e nos encara com um sorrisinho sapeca nos lábios. E finalmente ele as chama: as duas garotas do sertanejo. 

Então... Chan e eu? 

Viro meu rosto de encontro ao do loiro, que demonstrava estar completamente satisfeito com a escolha do técnico. Levanto as sobrancelhas e sorrio para ele, que me devolve um sorriso ainda maior e mais radiante. Permaneço imersa no êxtase até ser tirada dos meus pensamentos por Michel, que nos chama. 

Caminho até ele, seguida por Christopher. O líder do Time diz algo sobre nosso ensaio e nos entrega um papel contendo a data e o horário do mesmo. Pego a folha e o agradeço, não pelo papel, e sim pelo fato dele ter escolhido Chan para cantar comigo. 

Não existiria escolha melhor. 

— Tô feliz que vamos cantar juntos — o garoto diz enquanto caminhamos de volta ao hotel. 

— Eu também — sorrio. — Nada contra as garotas sertanejas, mas eu não combinaria com elas. 

— Algum palpite sobre a música que ele vai escolher? 

— Não faço ideia.

— Tenho certeza que vai ser uma música bem romântica — ele assegura convencido. 

— Não sei, não — rio de sua segurança excessiva. — Não dá pra prever as escolhas dele. 

— Confia! Sei do que tô falando! — ele se espreguiça enquanto caminhamos e eu não consigo deixar de notar como seu corpo é lindo. 

Ok, nós somos amigos e, teoricamente, eu não deveria estar reparando no corpo incrivelmente belo e proporcional que Christopher tem, mas qual é?! Eu não sou cega! 

Balanço a cabeça afastando o pensamento profano de minha mente. A amizade que temos é muito mais importante do que essa micro - quase nula - atração que eu senti sem querer ao olhá-lo. 

— Tem planos pra hoje? — ele pergunta enquanto passamos pela portaria do prédio. 

— Se dormir for considerado um plano... então sim, eu tenho —brinco, arrancando uma risada do loiro. 

— Vamos na sala de jogos mais tarde? Meu irmão chegou hoje e quer conhecer o hotel. 

— Claro! — cruzo os braços com o vento frio vindo do ar condicionado — Mas pensei que achasse ele chato. 

— E acho. Mas é meu irmão caçula, fazer o que? — rio do comentário. Irmão é mesmo tudo igual, só muda de endereço — Ah, e diz pra Maria que ela também tá convidada. 

— Hum... acho difícil ela largar os estudos sobre inteligência artificial pra ir jogar com a gente, mas vou dar o recado. Nos vemos mais tarde então, certo?!

— Uhum — se despede me dando um beijo na bochecha. 

Saio de perto dele rapidamente, sentindo meu rosto mais quente que o normal. Espero que eu tenha ficado com febre de um segundo para o outro, caso contrário... não quero nem imaginar o que isso significa. 

Vou até meu quarto e interrompo Maria, que estava com seus headphones, imersa na tela de seu notebook e a aviso sobre o convite de Christopher para nos juntarmos a ele no salão de jogos. 

— Sabe que ele tá a fim de você, né? — ela diz, com o mesmo tom desinteressado de sempre. 

— O que?! Claro que não! — me assusto com sua insinuação — Nós somos só amigos. 

— Já sei — revira os olhos e responde sarcástica. — Melhores amigos inseparáveis, nada mais. 

— Exatamente — confirmo. — Mas e então, vai querer ir ou não? 

— Vou. Mas é bom que seja divertido, porque vou deixar metade da minha aula pra assistir depois. 

Dou de ombros e a deixo no quarto com seu mau-humor. Entro no banheiro e coloco minha playlist para tocar enquanto tomo banho. Saio do box já querendo voltar para debaixo do chuveiro, porque o calor do Rio realmente não é brincadeira. Coloco um short jeans e uma blusa preta de alcinha, calço meus tênis e saio do banheiro praticamente pronta. 

Aconselho Maria a ir se arrumar e aproveito o tempo livre para reunir algumas roupas que estavam espalhadas pelo chão. Cantarolo enquanto limpo o quarto e me pego pensando em Christopher. 

Outra vez. 

Talvez eu deva tentar parar com isso. Mas por que sinto que não quero? 

Lembro de todos os momentos que tive com Chan desde que ele derrubou meu celular no dia das audições e todos eles se parecem com um grande compilado de cenas de romance clichê passando pela minha cabeça. 

E o próximo capítulo está prestes a acontecer: nós dois nos apresentando juntos na fase dos duetos. 

Não, não, não, não. 

Isso não pode acontecer de jeito nenhum, Maya. Ele é seu amigo, e é isso que vai continuar sendo. 

Embolo todas as roupas que tentava dobrar e jogo dentro da mala com toda força, bufando de raiva. 

Deixo o resto da bagunça espalhada pelo cômodo e me jogo na cama. Passo as mãos pelo rosto tentando voltar ao mundo real, onde minhas ilusões não existem. Inspiro o máximo de ar que consigo e o solto devagar, normalizando meus batimentos cardíacos aos poucos. Me assusto com o celular vibrando próximo ao meu corpo e desbloqueio a tela para olhar. 

"Maya, cheguei aqui. Tô te esperando ❤"

Fecho os olhos com força e os abro em seguida. Devo estar surtando. Saio do aplicativo de mensagens depois de responder apenas com um emoji de rostinho feliz e levanto da cama. Sinto minha cabeça latejar e vou até minha bolsa, procurando por um remédio, mas não encontro nada além de notas fiscais velhas e um frasco de balas de menta. Me dou por vencida e coloco algumas na boca, deixando de lado a dor chata que me acompanhava. 

Ouço Maria sair do banheiro e a chamo para irmos. Passamos pelo corredor do nosso quarto e entramos no elevador, parando no andar da grande sala de jogos. Entro no local com os olhos focados em encontrar Chan, o que não foi nem um pouco necessário, já que ele me encontrou primeiro e acenou assim que me viu. Vou até o balcão do bar, onde o garoto estava. 

— Você chegou! — Chan diz alegre, me cumprimentando — Maria, que bom que veio também! — se direciona à minha irmã, com o mesmo entusiasmo de antes. 

— Eu não perderia isso por nada, Chan — ela responde, parecendo simpática, mas percebo um leve tom debochado em sua voz. 

Tiro o olhar de Christopher e o direciono ao garoto ao seu lado. Ele tem os cabelos platinados com um cinza brilhante que eu tenho quase certeza de que poderia iluminar até a noite mais escura de todas. Seus olhinhos eram tão puxados quanto os de Chan e os lábios extremamente bem desenhados. Seu rosto é pequeno e repleto de sardas que combinam perfeitamente com a expressão angelical que faz parte dele. 

Uau. 

A genética dessa família é invejável. 

— Então... esse é seu irmão? — pergunto, sem conseguir evitar a boca entreaberta. 

Chan balança a cabeça confirmando e põe o braço ao redor do corpo do mais novo, o aproximando um pouco mais de nós. 

— Meninas, esse é o Felix — o garoto nos cumprimenta simpático. 

— Maya e Maria, certo?! Mas... quem é quem? — ele brinca, parando em nossa frente. 

Rio de sua pergunta. Se viesse de qualquer outra pessoa, eu teria revirado os olhos e achado ridículo, mas vindo dele soou tão fofo e engraçado. Talvez ele não seja tão chato quanto Chan mencionou. 

— Eu sou a Maya — digo, um pouco envergonhada. 

Felix vem até mim e deposita um beijo em meu rosto, fazendo o mesmo com Maria em seguida. Sinto um cutucão em minha cintura que percebo vir de minha irmã. 

— Nós vamos ao banheiro rapidinho. Por que não pedem algo pra bebermos enquanto isso? — Maria diz, já me puxando dali. 

Passo pelo lugar quase tropeçando em meus próprios pés devido à velocidade com que estava sendo puxada. 

— O que foi, doida? — puxo meu braço, me soltando dela. 

— Tô indo embora. Invente uma desculpa qualquer pra eles. 

— O que? Por quê?!

— Não vou conseguir aturar aquele almofadinha a noite toda — ela revira os olhos. 

— O Felix? Mas a gente nem conhece o garoto ainda! Dê uma chance a ele, Ma. 

A garota suspira derrotada. 

— Uma hora — impõe. — Se ele fizer qualquer gracinha ou comentário idiota de hétero top nesse tempo, eu vou embora sem pensar duas vezes. 

— Fechado! — entrelaço meu braço no dela. — Vamos!

Volto com Maria para o bar onde os rapazes haviam pedido algumas bebidas e petiscos. Comemos enquanto conversávamos e descobríamos coisas uns sobre os outros - quer dizer, enquanto eu descobria coisas sobre Felix -. Minha irmã respondia apenas a mim e a Chan, ignorando completamente a existência do novato. 

Não vou mentir, talvez Maria tenha uma certa razão em ignorá-lo, já que estamos aqui há apenas uma hora e já tive o desprazer de escutar pelo menos uns oito comentários típicos de playboyzinhos ricos de Alphaville. 

Estou certa de que foi isso que Chan quis dizer quando mencionou que Felix é chato. 

— Então, Lix — uso o apelido que o mesmo me sugeriu —, veio pra ficar até a final do programa ou vai assistir só essa fase? 

— Se o Chris for capaz de ir até a final, vou estar aqui para ver — ele zomba, e percebo a expressão enojada de Maria ao ouvi-lo. 

"Dê uma chance a ele, Ma" 

Se eu soubesse que ele era assim, nunca teria dito isso. 

Olho para Chan, tentando perceber se ele havia se ofendido com a fala de seu irmão, mas seu rosto estava apático e não demonstrava sentimento algum. 

— Tenho certeza de que ele vai estar na final — defendo. — Já ouviu seu irmão cantar? 

O platinado confirma com um ruído, abrindo a boca em seguida para dizer algo. 

— Então acho que sua audição não é das melhores — interrompo a sua quase fala. — Se fosse, você saberia que ele tem total capacidade e talento pra ganhar esse programa. 

— Maya... — Chan finalmente esboça uma reação, os olhos surpresos fixos em mim. 

Não entendo qual a surpresa dele, eu nunca ouviria ninguém falar esse tipo de coisa e ficaria quieta. 

Espero a resposta de Felix, mas ele desconversa e gagueja, trocando o assunto rapidamente enquanto levanta a mão chamando o garçom para trazer a conta. Cruzo os braços e olho para Maria, que faz um joinha com as mãos discretamente, me dando sua aprovação. 

Me ofereço para ajudar com a conta, mas os garotos não permitem. Bom, deixa o playboy pagar. É o mínimo que eu mereço depois dele ter feito meu ouvido de penico a noite toda. 

Desistimos dos jogos, já que o clima não estava nada bom e saímos do lugar em silêncio. Felix foi o primeiro a se despedir, pedindo que o desculpássemos "por qualquer coisa", como se isso fosse apagar as babaquices que ele falou. Dei o meu melhor em responder educadamente e me despedir dele, mas não posso dizer o mesmo de Maria, que recuou quando o garoto tentou cumprimentá-la com um beijo no rosto. 

— Chan, se precisar que eu hackeie o computador de alguém, sabe onde me encontrar — minha gêmea diz, fuzilando Felix com o olhar. 

— Obrigado, Maria — o loiro ri sem graça. — É muito gentil da sua parte. 

— Vamos, então? — a garota fala, estendendo a mão para mim. 

— Vocês se importam de ir na frente? — Chan se apressa em dizer — Quero falar com a Maya. A sós.

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