07| Batalhas

Dessa vez, a apresentação de Chan foi antes da minha. Fiquei o observando dos bastidores e torcendo por ele enquanto ajeitava meu cabelo para subir no palco logo mais.

- Ele é mesmo incrível - digo para mim mesma, ouvindo Chan acertar precisamente cada nota de Who.

É uma canção super difícil, mas ele canta com tanta naturalidade que a faz parecer extremamente fácil.

O momento mais tenso havia chegado e, por mais que eu considerasse Christopher muito melhor que o seu oponente, não dava mesmo para saber quem Teló escolheria.

Fecho os olhos e junto as mãos, rezando e torcendo enquanto o apresentador do programa exige que o técnico tome sua decisão.

- Hoje, quem segue representando o Time Teló é você... Christopher!

Solto a respiração que nem sabia que estava prendendo e sorrio animada, comemorando. Sabia que ele conseguiria.

- Você gosta dele, né? - Letícia, que estava assistindo ao meu lado no sofá, pergunta.

- Claro - respondo como se fosse óbvio. - Nós somos amigos.

- Sabe que não é sobre amizade que eu tô falando - ela ri nasal.

Desconverso da maneira que posso e fujo do assunto. Definitivamente não quero pensar agora em possíveis sentimentos amorosos por Chan.

[...]

Ouço Letícia ser anunciada por Tiago e se dirigir imediatamente ao palanque. Ela irradiava carisma e confiança, mesmo quando apenas caminhava.

Sou apresentada em seguida; minhas mãos suavam, deixando o microfone escorregadio e minhas pernas tremiam levemente. Ando até o palco e subo os degraus. Dou uma olhadinha para a plateia e vejo Maria me lançar um olhar cúmplice, me dando algo em que me apoiar. Logo, o som das baquetas faz a contagem regressiva e a música começa.

Eu só quero mostrar o meu melhor.

A primeira parte foi cantada por Letícia, o que significava que a minha vez havia chegado. O primeiro refrão.

Solto a voz, me animando com a chegada da parte principal da música. Danço junto com a ruiva a coreografia que planejamos para Some Que Ele Vem Atrás ficar ainda mais divertida. Nós sorríamos enquanto cantávamos, vendo o público interagir conosco e os técnicos levantarem das cadeiras, dançando em duplas enquanto aproveitavam a performance.

Letícia me olha, indicando ter certeza de que tínhamos nos saído muito bem, assim que a música acabou e todos aplaudiam demasiadamente alto.

Recebemos os elogios e considerações dos técnicos. Todos muito positivos, por sinal. Respiro aliviada, aquilo era tudo que eu precisava ouvir.

- Telózinho, eu não queria estar na sua pele - Ivete diz brincalhona, quando a hora de escolher uma de nós duas estava chegando.

- Nem eu! - Brown e Lulu falam sem querer ao mesmo tempo, arrancando risadas nossas e do público.

- Teló, eu preciso da sua decisão agora - Tiago cobra o nosso técnico.

- É muito difícil, vocês duas são grandes cantoras e com talento de sobra... - ele passa as mãos no rosto - Mas quem fica hoje é você...

Senti como se minha cabeça estivesse tomada por um grande "que rufem os tambores". A tensão era tão grande quanto o meu nervosismo e eu maltratava meus lábios, os mordendo forte para me manter firme ali.

- Maya!

Explodo por dentro, deixando minhas emoções virem para fora em forma de lágrimas de alegria. O público me aplaudia juntamente com os técnicos, fazendo meu coração romper de felicidade.

- Obrigada! - levo uma das mãos ao rosto, enxugando as lágrimas - Quero muito agradecer ao Teló, por acreditar em mim e me ajudar a chegar até aqui; à Lê, por dividir o palco e essa apresentação linda comigo; à minha família que tem me incentivado mesmo em meio à todas as minhas decisões malucas... - rio nasal, pausando - E a você, Chan, que eu tenho certeza que tá assistindo. Obrigada por ser alguém em quem eu posso me apoiar.

Ouço mais gritos e aplausos. Me despeço do público e desço as escadas do palco, indo de volta aos bastidores. Paro para ser entrevistada por Jeniffer Nascimento rapidamente, tiro algumas fotos e faço os takes solicitados pela produção do programa e logo depois sou liberada.

Corro na direção da grande sala de convivência onde alguns dos participantes se reuniam antes e depois das apresentações.

O que estou fazendo? Eu devia estar indo encontrar Maria, mas por que eu estou correndo para o lugar em que Chan está?

Paro ofegante na metade do corredor, abrindo um sorriso enorme quando o vejo também correndo em minha direção. Ele fica imóvel assim que me vê, mas logo dispara novamente, vindo até mim.

- Você foi fantástica! - ele diz, me abraçando forte, tirando meus pés do chão - A melhor de todas!

- Obrigada, Chan! - aperto meus braços ao redor de seu pescoço.

- Pode se apoiar em mim sempre - o loiro fala, sem me soltar.

- Obrigada, de verdade. Você é um amigo muito especial pra mim, Chan.

- Você também - ele retribui, depois de algum tempo em silêncio. - Tá feliz? Você conseguiu, ganhou a batalha!

- Nós conseguimos! - corrijo, sorrindo - Eu te vi cantando, você foi demais!

- Devíamos sair para comemorar! O que acha?

- Claro! - concordo - Só vou avisar minha irmã antes.

- Chan! - ouço uma voz distinta chamar o loiro - Estava te procurando, bro.

- Seung! E aí?! - Christopher se vira para o garoto de cabelos azuis.

- Lanchão bem top com batata e refri grande pra comemorar nossa vitória, tá dentro? - o rapaz pergunta, batendo de leve no ombro de Chan.

- Foi mal, bro, mas eu tô de saída com a Maya - o loiro gesticula em minha direção. - Aliás, Maya, esse é o Seungyoun, aquele amigo que eu te falei no outro dia.

Murmuro assentindo enquanto balanço a cabeça.

- Então essa é a famosa Maya? - ele pergunta brincalhão, encarando Christopher - Pode me chamar de Luizinho, é assim que me chamam por aqui.

- Famosa? - questiono confusa, chacoalhando a cabeça em seguida - De qualquer forma, é um prazer... Luizinho.

- Maya! - olho para trás, Maria vinha a meu encontro, me gritando. - Você foi incrível!

Minha irmã se aproxima, grudando em meu pescoço ao me abraçar. Agradeço e nos separo depois de um tempo, vendo as expressões surpresas no rosto dos dois garotos.

- Você tem uma irmã gêmea?! Chan arregala os olhos.

- Claro que elas são gêmeas, não tá vendo como são iguais? - Seungyoun responde, como se estivesse dizendo algo muito óbvio.

- Eu não te contei isso? - pergunto ao meu amigo, coçando o queixo - Eu devo ter esquecido... bem, essa é minha irmã, Maria.

- Ei, esse não é o menino que quebrou seu celu...? - ela pergunta, apertando os olhos. Pigarreio, interrompendo-a.

- Isso não importa - digo, um pouco envergonhada. - De qualquer forma, a gente tava indo comemorar. Por que não vamos todos juntos?

Vejo todos concordarem e sorrio satisfeita.

Vamos até uma lanchonete próxima ao hotel. O lugar é bem simpático e eu queria vir nele desde o primeiro dia que vi a fachada.

- Esse lugar não tem nem uma cerveja? - Seungyoun reclama, vendo que no cardápio não tinha nada alcóolico.

- É melhor que não tenha mesmo, você sempre perde a linha quando bebe - Chan retruca, olhando com desprezo para o amigo.

- E você que perde a linha mesmo estando sóbrio? - o outro diz afiado - Pensa que não lembro da sua crise de ciúme daquela garota ruiva com a Maya?!

Levanto as sobrancelhas, surpresa com a informação, enquanto Chan se esforça em negar veementemente a acusação e manda o amigo calar a boca.

Seria mesmo possível que ele estivesse com ciúmes da minha amizade com a Letícia?

- Ele é idiota assim mesmo - Christopher diz, forçando um tom brincalhão na voz. - Não ligue para as bobagens que Seungyoun diz.

- Não me pareceu bobagem -Maria responde, encolhendo os ombros desinteressada, fazendo Chan se mostrar inquieto na cadeira.

- Que tal pedirmos logo? - interrompo, querendo fugir da situação - Tô morrendo de fome.

- Ora, não mude de assunto, Maya - minha irmã me lança um olhar acusador. - Não tá curiosa pra saber se é verdade?

Olho para Christopher sentado em minha frente, com as mãos cruzadas em cima do colo e uma expressão aterrorizada no rosto. Tenho certeza que se ele pudesse se teletransportar dali, já o teria feito a muito tempo.

- Na verdade, não - sorrio fechado e inclino a cabeça, o analisando. - Tenho certeza que Chan não teria ciúmes de uma amiga, certo?!

- C-claro - ele gagueja, desviando o olhar.

Talvez tenha sido impressão minha, mas parece que a partir dali firmamos um contrato social. Chan fingiu ter falado a verdade e nós fingimos acreditar. Acho que essa foi a melhor opção mesmo.

- Certo! - respondo animada - Então, o que vamos comer?

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