CAPÍTULO 13: Filhote abandonado

SOPHIA

     VAI LÁ, BOA AULA. minha mãe acenou e eu sorri, entrando dentro do grande prédio do Colégio Massey Star para mais um dia de aula.

De início, tive duas aulas de geografia seguidas de mais duas de história. Os horários passaram rápido e então eu estava no refeitório, terminando de ler um dos livros que eu tinha alugado semana passada.

─ Sabe... eu acho que você gosta de mim. Só não sabe como se expressar.

Eu abaixei o livro e encarei o rosto da pessoa que sempre fazia questão de acabar com a minha paz.

─ O quê? ─ franzi a testa.

─ É, isso mesmo. ─ William sorriu e balançou a cabeça, jogando suas mechas loiras para trás. ─ Você tem sorte, porque, vou te dizer... também estou apaixonado por você.

─ Você nem me conhece.

─ Foi do tipo amor à primeira vista, sabe?

Não me contive e soltei uma risada.

─ Bem, boa sorte com isso. ─ disse, tirando a atenção do garoto e voltando ao meu livro.

─ Não consigo comer, nem dormir. ─ ele continuou, falando como se estivesse em uma peça de Shakespeare. ─ E acordo no meio da noite chamando por você, Sophia. Oh, Sophia! Sophia!

Encarei ele com meus olhos arregalados e implorando para que parasse com aquela cena.

─ Da pra calar a boca?

─ Tudo bem. ─ parou e sorriu, como se nada estivesse acontecido. ─ Com uma condição.

Revirei os olhos e fechei definitivamente o meu livro, cruzando os braços logo depois.

─ Você será o meu par no baile de inverno.

─ Ah. ─ suspirei. ─ Ainda não parei para pensar sobre isso. Nem sei se eu vou.

─ Ah, qual é. ─ ele se encostou. ─ O quê você faz pra se divertir? Só fica aí quieta, lendo e lendo.

─ Eu... ─ fui interrompida.

─ Esse livros pelo menos têm imagens?

Arqueei as sobrancelhas sem acreditar. Ele tinha o quê, sete anos?

─ Tchau, William. ─ forcei um sorriso e abri o meu livro novamente, ignorando o garoto na minha frente.

Antes de ele sair, o escutei soltando uma gargalhada e então pude, finalmente, voltar a ler o meu livro.

O resto das aulas passaram voando - oque era incrível porque os horários de português demoravam um século.

Hoje meu dia estava todo programado. Minha mãe não viria me buscar porque eu iria direto para a casa do Daniel, onde estudaríamos as matérias que estávamos atrasados devido a tarde constrangedora do outro dia. E estava tudo bem. Depois daquele dia, eu pensei muito e me coloquei no lugar dele.

Imagina ser uma pessoa que sofreu bullying na escola, perdeu o melhor amigo e não tem contato com ninguém além da sua família...? Isso era muito triste. Talvez ele tenha sido grosseiro porque não sabia como agir. Eu não sei direito, mas, eu o perdoo.

E talvez eu consiga ajudá-lo. Ser uma amiga, talvez. Alguém que ele possa conversar. Porque ele parece ser bem solitário. E ninguém merece viver assim.

─ Ei... Sophia!

No ponto de ônibus, me viro assim que escuto meu nome ser chamado e observo Amber vindo na minha direção.

─ Amber. ─ a encaro sem pretenção.

Ela vem até mim sem jeito.

─ Hm... Carlos, o professor de história passou um trabalho em grupo sobre a revolução francesa.

─ É, eu sei. ─ franzi a testa. ─ Eu estava lá na hora.

─ Olha, eu vou ser rápida. ─ entortou os lábios e começou a falar de uma vez. ─ O meu grupo é composto pela Marie, Gabriela, Ana Luiza e Hanna. Só que a Hanna e Gabriela brigaram sobre alguma coisa relacionada a espinhas e ela decidiu sair do grupo. Então nós precisamos que você entre no lugar da Hanna porque se não a nossa apresentação vai ser estragada e meu futuro arruinado.

─ Uau. ─ suspiro assim que ela termina. Como consegue falar tanta coisa tão rápido e não fica sem ar?

─ Uau, o quê? ─ me olhou. ─ Você está dentro ou não?

─ Tá, mas por que você me chamou? Achei que não gostasse de mim.

─ E não gosto. ─ concordou. ─ Mas era você ou Tyler. E eu prefiro não pegar aquela alergia terrível que ele tem.

Balancei a cabeça.

─ Tudo bem, eu estou dentro. ─ já precisava de um grupo mesmo.

─ Ótimo. ─ ela cruzou os braços. ─ Amanhã eu te atualizo sobre a sua parte da apresentação.

─ Ok. ─ cumprimi os lábios.

─ Ok. ─ ela continuou me encarando sem dizer mais nada por um bom tempo. ─ Posso te fazer uma pergunta?

─ Pode.

─ O que você estava fazendo com o William lá no refeitório?

─ Conversando... por quê? ─ olhei sua expressão e então depois de entender a situação, sorri, me divertindo. ─ Ahh... você gosta dele!

─ Eu... não! ─ fez uma careta e eu ri. ─ Pare de rir, eu não gosto dele. ─ resmungou e então virou de costas. ─ Quer saber, tchau.

Continuei rindo por alguns minutos e então sentei no banco para esperar o ônibus. Foi aí que ao meu lado, observei a presença de um filhote de gato preto. Era tão pequenininho e tão fofinho que eu não resisti e me ajoelhei, para alisar o animal.

Ele começou a se enroscar nos meus dedos e a brincar com os pingentes da minha pulseira.

Logo, o ônibus chegou e eu até tentei me despedir daquele gatinho, mas juro, o olhar que ele me deu foi tão triste que eu não aguentei e o peguei. Ele era tão pequenininho que cabia na minha mão.

Não demorou muito e eu cheguei na casa da professora Eduarda. Agora eu tinha que ver como eu iria explicar a ela o motivo de eu ter trazido um filhote de gato para a casa dela.

Deus, o que eu tinha na cabeça? Apesar de que deixar o filhotinho lá sozinho seria muita crueldade.

Me surpreendo quando quem abre a porta não é a professora Eduarda e sim, o próprio Daniel.

─ Você trouxe um gato..? ─ ele pergunta, encarando o filhote no meu colo.

─ Eu imaginei a sua mãe abrindo a porta. ─ fiz uma careta, nervosa. ─ Será que você pode fechar e chamar ela?

Ele me olhou de cima a baixo e arqueou uma das sobrancelhas. Logo depois, seus lábios se curvam. Eu estava maluca ou tinha visto um meio sorriso?

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