CAPÍTULO 11: Tarde embaraçosa
SOPHIA
DANIEL DEFINITIVAMENTE não era nada do que eu estava esperando. Bem alto, com cabelos cacheados - como os de um anjinho - olhos azuis que se destacavam com a camiseta que ele usava - também azul - e um óculos redondo.
Até que era bonitinho.
Mas eu não estava com muito tempo para pensar em sua aparência porque o nosso tempo estava acabando. Mais de uma hora se passaram e ele praticamente não falava nada. E ficava cada vez mais difícil puxar assunto ou ensiná-lo alguma matéria.
─ Os brownies estão bons. Sua mãe que fez? ─ perguntei.
─ Foi.
─ É engraçado porque, semana passada, a minha mãe tentou fazer e acabou quase colocando fogo na casa. ─ disse, tentando provocar alguma reação humana no garoto. Ele parecia um robô, que só balançava a cabeça e pronunciava palavras com até duas sílabas.
Eu estava esperando uma gargalhada mas nem uma risadinha ele deu. Apenas balançou a cabeça novamente, franzindo as sobrancelhas.
Suspirei.
─ Você não é de falar muito, né? ─ perguntei.
─ Não. ─ resmungou, desinteressado.
─ Então... o que você gosta de fazer? Sua mãe me disse que você passa o dia todo na internet. Quais coisas lhe interessam?
Para a minha surpresa, ele desviou o assunto e respondeu com uma pergunta totalmente aleatória:
─ Por que você está aqui?
─ Eu... bom, vim te dar aulas.
Ele concordou com a cabeça e logo, cruzou os braços.
─ E por que você veio me dar aulas?
─ Porque você precisa de ajuda em algumas matérias e eu preciso de dinheiro..? ─ franzi as sobrancelhas. Eu não estava entendendo nada.
─ Só isso? Simples assim?
─ É. Por que mais eu estaria aqui?
─ Eu não sei, diga você. ─ o rumo em que aquela conversa estava sendo levada era bem suspeita, parecia um interrogatório. ─ Qual é, eu posso ser alejado mas não sou idiota.
─ O quê? ─ e então eu ri, nervosa. ─ Olha, ninguém me pagou para estar aqui além da sua mãe.
─ Uhum. ─ levantou as sobrancelhas e desviou o olhar.
─ Estou falando sério, por quê está duvidando?
Ele não respondeu e continuou calado. Suspirei e olhei o meu relógio de pulso. Mais de uma hora e meia desperdiçada com esse bate-papo suspeito.
Eu geralmente tinha uma paciência muito grande, mas, ultimamente, ela estava escassa.
─ Seu sotaque é diferente. Você não é daqui, né? ─ ele perguntou e eu suspirei.
Tudo bem. A minha energia para ensinar já tinha desaparecido mesmo. Não vai fazer mal se eu entrar nesse jogo de perguntas e respostas que ele estava fazendo.
─ Não. Sou de Albuquerque. ─ respondi, e me veio uma saudade repentina da cidade que eu morei - e que eu nem gostava.
─ E porque se mudou pra cá?
─ Por causa do trabalho da minha mãe.
─ E o quê ela faz?
─ É corretora de imóveis.
Quando eu comecei a achar que ele estava interessado, as perguntas pararam. E então, decidi virar o jogo.
─ E você? ─ perguntei.
─ Eu? ─ me olhou surpreso e eu abri um sorriso discreto. Ponto para mim. ─ Eu o quê?
─ Por que é tão desconfiado?
─ Eu não sou desconfiado.
─ É sim. Por que então está fazendo todas essas perguntas? ─ arqueei as sobrancelhas.
─ Porque eu não te conheço. ─ inclinou a cabeça. ─ É a minha obrigação ficar desconfiado.
─ Achei que a sua mãe tivesse comentado sobre mim.
─ Aparentemente ela ficou tão feliz quando encontrou alguém para socializar comigo obrigatoriamente, que acabou esquecendo dessa parte. ─ deu um sorriso forçado e cruzou os braços. Não sei porquê mas, senti um pouquinho de pena.
─ Então, o que mais quer saber sobre mim? ─ mudei de assunto.
─ Não sei. ─ deu de ombros. ─ Caso não tenha percebido, eu não sou muito bom com esse negócio de conversa.
Tentei ignorar a rispidão da sua voz e continuei:
─ Você está se saindo bem.
─ Tanto faz.
Depois disso, permanecemos um tempo calados. Não sei oque ele estava pensando e sinceramente, tinha até medo de descobrir. Essa situação estava muito desconfortável. Eu estava na casa de um estranho, que era filho da minha professora de matemática e que - sem querer ofender - tinha um transtorno estranho que dificultava tudo.
Eu devia desistir? Não quero ser covarde e chegar até esse ponto, afinal, eu acabei de começar e a professora Eduarda já me pagou a primeira parte do dinheiro adiantado... Mas só ficava difícil porque ele também não estava sendo muito gentil comigo.
─ Posso te fazer uma pergunta bem pessoal? ─ eu encarei o garoto, torcendo para que ele não respondesse nada grosseiro.
─ Pode perguntar. Talvez eu não responda.
─ Você não tem vontade de sair?
Ele suspirou e soltou uma risada seca, como se já estivesse escutado essa pergunta milhões de vezes e nem tivesse fôlego para respondê-la novamente.
─ Você tem alergia a alguma coisa? ─ me encarou. Franzi a testa sem entender.
─ Hum, tenho... kiwi. ─ lembrei do alimento que deixava a minha língua dormente, inchada, formigando e vermelha.─ Por quê?
─ Vamos supor que você vai em um lugar que está cheio dessa fruta e que apesar de ser alérgica, você gosta muito. Alguém te oferece, você aceita e vai comer?
─ Não.
─ E por quê não?
─ Porque eu provavelmente ficaria sem ar e precisaria de um hospital depois. ─ respondo com apreensão.
─ E aí está a sua resposta. ─ bingo.
Balanço a cabeça e me encosto na cadeira, desistindo oficialmente de tentar me dar bem com esse garoto. Ele claramente também não se esforça o mínimo para tentar criar algum vínculo comigo.
Depois de um tempo, recebo uma mensagem da minha mãe, avisando que está na porta me esperando. Estranho, porque ela não buzinou.
─ Eu tenho que ir. ─ me virei para o garoto, que mantinha a sua expressão de desinteresse desde o começo.
─ Tchau. ─ ele levantou e foi em direção à saída, abrindo a porta.
Pego minhas coisas e antes de sair, me viro para ele, suspirando fundo e dizendo:
─ Daniel... olha, eu sou nova aqui e realmente preciso do dinheiro. ─ quase supliquei. ─ E sei que você precisa das aulas, então, será que a gente não pode simplesmente se ajudar?
Ele continuou calado, me analisando. Dessa vez, tinha uma expressão diferente no seu rosto que eu não consegui identificar.
─ Porque eu não vou desistir, e quinta-feira eu volto.
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