6 • Chantilly Gun

É engraçado como um simples evento social movimenta tantas coisas, por exemplo minha time line do twitter: ela não fala de outra coisa que não seja a festa de Jader Hunter, tudo bem que estávamos todos animados, mas há outras coisas no mundo para se comentar, como por exemplo o fato de que pessoas morrem por causa de chupões no pescoço. Eu sinceramente acho que isso deveria ser algo a se debater.

A festa será em duas semanas e há pelo menos cinco eu não ouço falar de outra coisa que não seja sobre o quão foda essa festa vai ser. As esperanças estão afogando meus colegas de escola, alguém socorre esses coitados, por favor.

Cinquenta porcento são as chances de que ela será boa e foda para caralho, mas também há essa mesma porcentagem de chances de a festa ser só mais uma perda de tempo e que seja só mais um evento cheio de pessoas bêbadas achando que estão se divertindo, quando na verdade só estão bêbadas mesmo e sem senso crítico.

Reviro os olhos ao passar por uma mood board que exibe quatro fotos que exibem justamente o que acabei de falar. Alguém sensato.

Eu estava apoiado no balcão de atendimento da cafeteria onde trabalhava por meio período três vezes por semana, era um lugar adorável. As paredes pintadas em branco e um verde clarinho com detalhes em azul de mesma intensidade. Mesas brancas quadradas encostadas as paredes, alguns sofás no centro que formava uma pequena salinha, geralmente as pessoas sentavam ali para conversar ou ler. Eu gostava de observar as pessoas que passavam por lá. Já tinha um ano que eu trabalhava aqui e era como se eu estivesse em casa, tirando que em casa eu não trabalho nem fico servindo cafés para viagem à mamãe, Robin e Gemma.

O sino pendurado a porta soa e arranca minha atenção da time line, finalmente alguma ação para o dia, e quem passa pela porta são Eleanor e sua fiel escudeira Gigi (eu realmente acho que de vez em quando elas transam, não tenho provas, mas tenho convicção.)

As duas me dão um aceninho e um beijo no ar, Eleanor me manda uma piscadinha divertida e eu rio para elas, já me preparando para fazer seus pedidos, passando um pano sobre o balcão onde estava apoiado e indo pegar as coisas.

- Oi bebê. - Eleanor se apoia ao balcão para me dar um beijo na bochecha. - Quase não te vi na escola hoje. Estava fugindo?

- De você? Corro como o diabo foge da cruz. - Respondi cínico.

- Cuidado que eu te bato. - Falou rindo.

- Oi Hazz. - Gigi disse amigável, me dando um sorrisinho.

- Olá, meu amor. - Retribuí seu sorriso e a mandei uma piscadinha. Rimos.

- Não faz assim que você me deixa nervosa, com esses olhinhos. - Ela fingiu constrangimento.

- E assim? - Olhei para ela com meus olhos completamente abertos.

- Assim que quero enfiar uma estaca no teu peito. - Rimos.

Preparei os dois copos para começar a de fato preparar as bebidas, mas eu estava distraído demais conversando com as meninas, então ia demorar um pouco.

- Cara, eu não aguento mais tanto treino. Essa porra. - Eleanor falou irritada, bufando.

- Miga, calma que tá ficando vermelha. - Alertei.

- Vontade de jogar aqueles pompons no chão e fugir sem rumo para a casa do caralho. - Reclamou e eu ri.

- Tô sabendo que você adora.

- O que? - Me olhou confusa, eu ergui uma sobrancelha para ela e Gigi começou a rir. - Nossa como você é ridículo. - Riu revirando os olhos.

Acho que revirar os olhos é o nosso Always.

- Mas é verdade, aquela criatura tá acabando com a gente. - Gigi concorda com a amiga. - Mais dois dias de treino daquele jeito que ela fez hoje e metade do time não levanta da cama.

Ficamos alguns minutos conversando, a maior parte da conversa foi eu rindo sobre as reclamações delas sobre os treinamentos. Eu nunca procrastinei tanto para fazer cafés assim, mas já que não tinha mais ninguém esperando na fila eu não liguei. E Anna (a garota do caixa) estava focada demais em seu namorado lhe enviando mensagens para reclamar de mim.

- E a Cassy parece que não se liga no que tem que fazer! - Gigi reclamou. - Por causa dela que a gente teve que repetir tudo aquilo. Deu vontade de pegar ela pelos braços e falar "amor, se não vai fazer direito então nem tenta e para de foder nossas vidas. Beijo. " - Eu ri muito alto. Eu já tinha ouvido falar dessa Cassy antes, e não era a primeira vez que escutava reclamarem de sua lerdeza nas coreografias. Coitada, mas pelo menos ela tentava.

- Mas a Cassy ainda é de boa, o problema mermo é a Marjorie. Aquela nem se dá ao trabalho de mostrar a cara. - Eleanor comentou, mexendo nas próprias unhas. - Dá até raiva.

- Olha, eu não sei vocês, mas eu estou com muito mais Regina George feels desde que viramos amigos, Els. - Rimos. - Nossos venenos juntos no mesmo lugar vão matar alguém qualquer dia desses. - Me afastei do balcão, esticando as costas e bocejando quando o sino da porta soa novamente e dessa vez quem entra é Nick.

Merda.

Ele olha em meus olhos de desespero, dá um sorrisinho olhando para as meninas que estão de costas para ele e vai sentar, se engasgando um pouco por ter prendido os risos subitamente. Revirei os olhos (sim, de novo. Me respeita.) e sorri para aquilo.

Nick foi sentar em uma das mesas que ficam na parte maior do salão, mas que dava uma vista perfeita do balcão e ele poderia me ver daqui, mas as meninas não o enxergariam por estarem de costas.

- Vocês viram eu saiu um filme novo no cinema? - Eleanor comentou do nada depois de alguns segundos calada. Ela mexia nas pontas de seu longo cabelo, era um costume que ela tinha, mas parece que nunca se deu conta disso, pois numa hora estávamos todos conversando e do nada ela começava a olhar para as pontas dos fios de cabelo dela e arrancar as pontas duplas. Pelo menos ela era gente como a gente e tinha pontas duplas. Ponto para a Grifinória dos reles mortais e tocáveis (só que no meu caso eu sou a Drew Barrymore e nunca fui tocada. Referencias...)

- Eu topo. - Gigi respondeu. - Estou louca para ir ao cinema, tem era que eu não vou lá.

- Pois é, eu nem sei mais como que é uma sala de cinema, colega. - Resmunguei.

- A gente poderia ir qualquer dia desses, sabe? - Els disse, me olhando nos olhos. - Ah, deixa, você não vai querer ir com a gente. - Disse num tom de brincadeira.

- Ué, como assim? - Eu estava claramente confuso. - Está fazendo um joguinho comigo, garota? Claro que eu vou gostar de ir com vocês.

- Ah, melhor não. Sabe, você gosta mais das coisas que o Louis assiste. Vocês dois deveriam ir junto, assim eu não fico perdida no meio da conversa chata de Sherlock de vocês - Ela revirou os olhos, mas tinha um sorriso nos lábios. Eu estava vermelho de um jeito que nem o semáforo conseguia competir. - Quem sabe se vocês dois forem sozinhos eu não fico boiando no meio de vocês, seus ridículos.

E como se já não bastasse a minha cara de bosta encarando Eleanor e Gigi rindo baixinho da gente, a anta do Nick resolveu se fazer presente com seus berros e risadas, todos da cafeteria (que não eram mais que outras dez pessoas) o encaravam sem entender nada do que acontecia, mas eu sabia muito bem o que estava se passando por aqui enquanto o olhava com minha cara vermelha de raiva e vergonha (raigonha? Não sei, penso nisso depois) e tudo que se passava na minha cabeça eram modos de sumir com o corpo daqueles dois de um jeito que ninguém se daria conta de que eles sumiram.

Mesmo com meu olhar assassino sobre si Nick não se inibiu de pegar o celular da mesa e começar a digitar algo como um maníaco, dividindo seu olhar entre mim e a tela. O desgraçado digitava sem olhar para a tela. Deveria estar mandando uma mensagem para Niall, é claro que estava, Nick era os olhos e boca de Niall quando ele não podia se fazer presente.

Fiquei ainda mais vermelho e agora as meninas riam de mim.

- Aí que lindo, ele ficou constrangido. Deveria mesmo quando fica tomando a atenção do meu próprio namorado para você, seu ridículo. - Eleanor apertou minha bochecha.

- Hahaha, palhaça. - Afastei sua mão de meu rosto com um tapa e ela riu mais. - Como se eu não tivesse coisa melhor da minha vida para fazer além de ficar tentando roubar o pouco de atenção que vocês têm. - Ela revirou os olhos sorrindo e me mostrou a língua. - Bem adulta você, hum.

- Mexe esse chantilly, Styles. Mexe com vontade. - Gigi comentou num tom sexual.

- Socorro, parece uma pornô. - Comentei quando peguei o spray de chantilly e o coloquei sobre o balcão.

O sino toca novamente. Eu tinha me virado de costas para a entrada, colocado os grãos de café para moer enquanto buscava as tampinhas dos copos e procurava por mais paletas de misturar no armário para colocar no suporte do balcão. Completamente perdido em meu trabalho.

Agora era só o que me faltava, até mesmo Eleanor fuckin' Calder me zoando e usando Louis para isso. Eu só quero saber onde que esse mundo vai parar. Eu ainda acho que o mundo acabou em dois mil e doze e agora todos nós estamos fadados a viver no purgatório, pois nada além disse pode explicar as desventuras em série que virou minha vida desde que completei treze anos.

- Olá meninas! - Puta que pariu, o que eu fiz para merecer essa punição? Meu corpo enrijeceu ao som daquela voz, eu estava de costas para eles, então eles não poderiam me ver ficando mais vermelho. Ponto para mim! Meus olhos arregalados e a risada histérica de Nick me diziam que aquele dia não ia acabar nada bem.

Louis chegou cumprimentando as meninas, apoiando seus braços nos ombros das duas e eu me virei para pegar o spray de chantilly, começando a chacoalha-lo.

*click* Que porra foi essa? Por favor que Nick não tenha tirado uma foto disso.

Olho para ele pelo canto dos olhos e apenas vejo seu celular preto no ar, apontado para mim e atrás do aparelho está ele mordendo a mão para prender os risos. Eu vou cometer um crime. É crime jogar chantilly na cara de alguém? Mas e se ocasionalmente essa pessoa morrer afogada no chantilly? Eu assisti Chicago muitas vezes e Cell Block Tango é a minha música.

"Ele teve o que merecia, foi um assassinato, mas não um crime. " Foi o que Catherine Zeta Jones me disse enquanto dançava e cantava entre inúmeras outras detentas.

Louis deu um beijo rápido nos lábios de Eleanor, oh maldita sorte, e um abraço ladino em Gigi, perguntando o que as duas estavam fazendo e foi respondido com um "nada, só aqui zoando o Harry mesmo. " Malditas. Ele me deu uma piscadela acompanhada de um sorrisinho de lado. Por acaso ele queria me matar? Só pode. O que eu te fiz, Louis Tomlinson? Eu nunca quis te matar, nada do que eu pensei em fazer a você e ao seu corpo foram com conotação negativa, então para que me matar assim?

Eu ficava mais nervoso a cada segundo que se passava e não parava de sacodir o spray de chantilly, eu apenas o sacodia como se minha vida dependesse daquilo, eu não sabia mais o que fazer além de sacodir aquilo. O ar já não circulava meus pulmões, minha cara ficava cada vez mais vermelha e eu não tinha para onde correr atrás daquele balcão. Nick estava filmando tudo que acontecia ali, eu sabia que ele estava filmando, pois ninguém fica com um celular mirado para ninguém por tanto tempo sem estar filmando algo. Ele iria mandar aquilo para meu amigo (do cão) e minha irmã (do capeta) para que mais tarde eles pudessem se reunir e rir da minha cara juntinhos, numa seção com pipoca e refrigerante.

Acho que meu rosto vai explodir se eu ficar um pouco mais vermelho. Já sentia meu nariz esquentar, eu estava febril.

Como se já não bastasse toda a vergonha que eu estava passando ali, com Louis me olhando estranho enquanto eu balançava aquela maldita arma de chantilly, Nicholas me filmando, Gigi e Eleanor perguntando se eu estava bem, claramente preocupadas, Gemma e Niall chegam juntos na loja, quase derrubando a porta, ela tendo que segurar Niall pelo casaco para que ele não caísse de cara no chão por causa do empurrão que deu na porta.

Meu velório será amanhã, às vinte para as três da tarde. Não se atrase.

Finalmente parei de sacodir aquela lata de chantilly quando a cafeteira fez um barulhinho, coloquei o copo de Eleanor debaixo dele, coloquei o café dentro, enfiei mais um monte de coisas que eu nem sabia mais o que eram, apertei o chantilly de qualquer jeito no copo, quase não consegui fechar a tampa, e o joguei no balcão.

- Seu café. - Falei sem fôlego.

- Hazz, é sério. Você está bem? - Ela parecia genuinamente preocupada.

- Eu? Eu estou ótimo? - Disse ofegante, enxugando as gotas de suor que escorriam por minha testa. - Está quente aqui né? Verão está chegando. Ufa. - Me abanei e segui para fazer o café de Gigi, ou pelo menos tentar.

Socorro.

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