31 • Chorando Se Foi Quem Um Dia Só Me Fez Chorar
A pilha de roupas de marcas caras aumentava e se multiplicava, era como se quanto mais roupas nós dobrávamos mais roupas apareciam, era como se estivessem dando cria!
O silencio na quarto era sepulcral enquanto eu dobrava e enrolava mais um par de meias três quartos e jogava a bola dentro de uma bolsinha, encostado na cama de Eleanor enquanto a mesma tinha os deixado aqui em seu quarto, trabalhando para ela. Gigi estava sentada ao lado do travesseiro, apoiada na parede e dobrava uma camisa grande que parecia ser um tipo de suéter mais fino. Eles inventam de tudo esses dias...
Eleanor viajaria em poucas horas e tinha deixado suas malas para serem montadas nos últimos minutos livre que tinha como uma desculpa pra trazer eu e Gigi para sua casa e nos levar junto ao aeroporto para nos despedirmos. Ela era um tipo de gênia do mal do bem.
Sua mãe estava beirando um surto e por pouco não arrancou os próprios cabelos da cabeça quando se deu conta de que nenhuma das malas estava prontas, salvo a nécessaire que estava cheia de todos os tipos de produtos possíveis. O pai dela já era quase careca, então ele não arrancou o resto de cabelos que ainda tinha, mas roeu todas as unhas quando Tyler disse que não conseguia encontrar seu RG.
Pouco mais de vinte minutos depois Eleanor voltou ao quarto, em suas mãos uma bandeja retangular de madeira que carregava sobre si três xicaras brancas sobre três pires, acompanhados de um bule azul piscina, ou será que era verde piscina suja? Não sei. Ela apoiou a bandeja na cama, numa parte onde já não tinha mais roupas largadas e desdobradas.
- Eu não faço a menor ideia do que seria de mim sem vocês dois. - Ela falou enquanto levantava a tampa do bule para ver como estava o chá.
- Provavelmente você seria um corpo sem couro, já que com certeza depois de arrancar os próprios cabelos, a tua mãe ia arrancar tua pele com uma faca cega. - Respondi e ela gargalhou alto.
Terminei de dobrar um par de calças moletom e me sentei no chão, me apoiando sobre meus braços enquanto Gigi vinha para o meu lado, deitar no chão e apoiar a cabeça no meu colo, passando sobre braço por cima de minhas pernas como se eu fosse um travesseiro, ela até deu um gemidinho quando se aconchegou! Eu nunca me senti tão objetificado em minha vida!
Eleanor olhou o chá mais uma vez e viu que já estava pronto, tapou o bule mais uma vez e o pegou pela asa depois de ter desvirado todas as xicaras, servindo o chá quente igualmente em todas elas.
- Creme, creme, açúcar. - Ela fala enquanto colocava os temperos? Eu acho que pode chamar assim...? Em cada uma das xicaras, ela já sabia como gostávamos, pois sempre tomávamos litros e mais litros de chá todas as vezes em que nos reuníamos. - Toma. - Me entregou as duas xicaras onde tinha colocado creme, para mim e para Gigi.
- Sabe Eleanor... Desde a primeira vez que eu vi você adoçar o chá com açúcar eu soube que você não era tão perfeita quanto seu perfil no instagram faz parecer. - Ela gargalhou alto e Gigi riu baixinho, engolindo seu chá.
Depois disso ninguém falou muito mais, apenas ficamos tomando nossos chás com pequenas bicadas, quase como os passarinhos delicados que éramos.
Quando estava dando seu ultimo gole, Gigi se engasgou e cuspiu o chá de volta na xicara, o que fez com que eu e Eleanor começássemos a rir descontroladamente enquanto a pobre Gigi mal se recuperava da tosse e já se juntava a nós e minutos depois ainda estávamos rindo nossos pulmões para fora.
- Ainda bem que alguém fez algum barulho, isso aqui já tava parecendo a reunião depois do funeral da vovó. - Eleanor falou assim que controlamos as risadas, mas seu comentário foi gasolina para mais cinco minutos de gargalhadas e gritaria.
Terminamos de tomar o chá e eu, junto com Eleanor, voltamos a dobrar as roupas enquanto Gigi tomava o resto do chá do bule e encaixava as roupas prontas nas malas enormes que estavam abertas no chão quando a mãe de Els abre a porta, olhando a gente trabalhar.
- Falta muito pra terminar tudo? Seu irmão já tá levando as malas pra sala.
- Só falta terminar de colocar na mala e a gente já desce.
- Certo. - E fecha a porta, seu rosto mostrando uma seriedade que era aterrorizante para Gigi e eu.
- Eu não sei como que eu vou arrumar tudo isso na volta, um de vocês vai ter que ir lá pra me ajudar a arrumar tudo de novo. Não tô brincando. - Ela falou enquanto colocava uma ultima blusa dentro da mala e puxava a tampa e sentava sobre a mesma para só então procurar o zíper e o puxar ao redor da mala e a fechar, terminando aquela parte do nosso trabalho.
Quando eu e Gigi terminamos com a outra ela sentou na mala e eu puxei o zíper;
- Eleanor, é um voo domestico e vocês vão pagar uma fortuna de peso excedente. - Eu falei quando tirei a mala da cama e a coloquei de pé no chão.
- O dinheiro não tá saindo do meu bolço, então eu tô pouco me fodendo. - Ela falou antes de abrir a porta e puxar sua mala roxa atrás de si.
Ela não era a pessoa mais contente do mundo por estar sendo forçada a ir numa viagem de família onde ficaria presa em uma casa com seus pais que lambiam o chão em que Tyler pisava enquanto a deixavam de escanteio.
Puxamos as malas ate a beirada das escadas, eu no meio e as duas segurando as malas pelos puxadores, me abaixei e as peguei pela base, as erguendo para descermos juntos sem ter que arrastas as malas pelo carpete que cobria os degraus.
Ao chegar à sala as abaixamos e as colocamos junto com as outras malas que estavam agrupadas na entrada do cômodo.
Os pais dela estavam na garagem, olhando seus celulares e Tyler ao lado deles, fazendo o mesmo. Dois minutos dois carros estacionaram na frente da casa e um minuto depois um terceiro carro apareceu. Os três motoristas desceram de seus carros quando Sr. Calder explicou que estavam indo ao aeroporto e quando Tyler e eu aparecemos com duas malas enormes cada.
Eu e Tyler ainda não tínhamos coragem de nos cumprimentar com algo além de um aceno de cabeça e um sorrisinho amaçado de minha parte. Eu realmente não consigo falar com ele, eu simplesmente travo. Não sei da parte dele, mas eu ainda me sinto muito constrangido, mesmo depois de tantos meses. Eu nunca falei daquele momento para ninguém e por isso Eleanor ainda acha um enorme mistério o motivo de eu e Tyler evitarmos contatos como se tivéssemos alergia um ao outro.
Enquanto eles colocavam as malas nos carros eu voltei para pegas as duas que faltavam, perguntei se alguém ia buscar mais alguma coisa ou se eu já podia fechar a porta, Sra. Calder disse que podia fechar tudo, então apertei os interruptores e bati a porta atrás de mim.
Depois que os carros estão carregados, nós nos dividimos nos carros. Eu, Els e Gigi em um, Sr. Calder no segundo e Tyler com sua mãe no terceiro.
A ida ao aeroporto nos tomaria uma hora, então mais duas horas de espera até que eles tivessem de embarcar.
- E então, Els. Quais os planos de fugir dos seus pais nessa viagem? - Eu pergunto, ela estava deitada em meu peito, meu braço sobre seus ombros e Gigi estava apoiada na porta, assim como eu.
- Sei lá, vou comprar alguma garrafa de vinho e me enfiar em alguma festa clandestina. - Eu ri e ela também, seus olhos pesados. - Na verdade eu nem tô tão empolgada em fugir deles, talvez eu fique aturando os passeios em família. Melhor do que aturar os chiliques que meu pai é capaz de dar até se eu for ao banheiro sem aviar eles.
Vinte minutos foram o suficiente para as duas apagarem e me deixarem sozinho, olhando o mundo passar pela janela. O céu estava escuro, nem uma estrela sequer para iluminá-lo.
- Ela é sua namorada? - Ouvi a voz estranha soa do banco do motorista.
- Hum, não. Elas são minhas amigas da escola. - respondo depois de rir levemente com memorias da época em que brevemente achei que estava a fim de Eleanor passando por minha mente.
- Vocês parecem se dar muito bem. Se conhecem há muito tempo?
- Tecnicamente sim, a gente sempre estudou junto, mas só esse ano nos aproximamos. Essas coisas loucas de destino sabe? - O ouvi dar uma risadinha com minha resposta.
- Entendo, foi assim comigo e minha esposa. Na época da faculdade, ela já estava no ultimo ano e eu no penúltimo, cursos diferentes, mas o mesmo prédio. Sempre se encontrando em festas e eventos de amigos em comum, mas só nos últimos meses que a gente se esbarrou e começamos a conversar de verdade e já estamos conversando há quase quinze anos e dois filhos. - Ele riu.
George era um cara muito engraçado e aberto, acho que se a viagem nos tomasse mais vinte minutos eu era capaz de começar a próxima frase com um "tudo começou em um verão como esse, era noite e estava quente..." e terminaria contando tudo de minha vida para ele.
Felizmente eu não cheguei a este ponto, pois cinco minutos mais e chegamos A área de embarque do enorme aeroporto internacional de Londres.
Assim que o carro parou e as malas foram descarregadas, cumprimentei George com um aperto de mãos e ele entrou novamente em seu carro, ligando o carro e indo embora.
- Não credito que você ficou amigo do motorista do Uber. - Gigi comentou rindo. - Você é muito borboletinha social, sabia? - Ela falou enquanto apertava minha bochecha e falava com uma voz tipo aquelas tias que só te encontram no natal e perguntam das namoradinhas.
Eu e Gigi ficamos sentados nas cadeiras perto das filhas do check-in enquanto os Calders esperavam na fila quando Tyler se aproximou de nós, dizendo que seus pais tinha pedido que fossemos procurar alguma cafeteria que não fosse starbucks no aeroporto escolher uma boa mesa para ficarmos, então eu e minha fiel escudeira saímos andando pelo aeroporto, sem fazermos a menor ideia de para qual lado seguir, mas depois de perguntar ao segurança achamos a praça.
Minha família sempre viaja de trem, mamãe adora o processo da viagem, então sempre pegamos o caminho mais longo, então eu não sou muito conhecedor deste aeroporto.
Ao chegar lá, nos sentamos na primeira mesa vazia que tinha seis cadeiras, ela ficava ao lado de um fast food e de um restaurante que parecia ser mais caro que minha casa e carro juntos. A cafeteria que escolhemos não era de nenhuma grade marca e parecia ser muito melhor que todas elas.
Não levou mais que vinte minutos até que todos nós estivéssemos reunidos novamente, os pais de Eleanor olhando o cardápio enquanto nós três conversávamos e Tyler lia um livro que tinha comprado para ler durante a viagem.
- Vocês já escolheram o que vão pedir? O pai de Eleanor perguntou, tirando os óculos do rosto e os pendurando no colarinho, nos olhando.
- Ainda não. - Eu e Gigi respondemos juntos.
- Eu quero um fraputtino grande e uma quiche de espinafre.
- Eu vou querer também. - Gigi diz.
- Então um pra mim também. - Eu falo.
O pai dela chama o garçom e diz nossos pedidos e então vinte minutos depois todos já tinham comido algo e a hora seguinte se passou num piscar de olhos enquanto eu e as meninas andávamos pelo aeroporto, Eleanor nos mostrando o lugar, pois ela vinha ao aeroporto até quando não precisava, simplesmente pegava o metrô e ficava batendo perna para passar o tempo.
Mais meia hora e já estávamos de frente ao portão d embarque, que na verdade era só o scanner que leria o código de barras das passagens e aí eles subiriam pela escada rolante e, ai sim, chegariam à área de embarque, mas enfim.
Eleanor abraça Gigi e então vem até mim, me envolvendo em seus braços, me apertando.
- Compra presente pra gente, okay? - Falo em seu ouvido e ela assente sobre meu ombro. - Traz uns chocolates gostosos também. - Ela assente e ri.
- Eu quero perfume.
- Vocês são dois aproveitadores, vou trazer chaveiro pra todo mundo. Aquele da torre Eiffel que todo mundo tem já que dá pra comprar em loja de um e noventa e nove. - Nós rimos. - Vou sentir falta de vocês.
- Ta falando como se tivesse de mudança. - Zombo e nós três rimos.
- Harry, Gigi, acabei de pedir o Uber pra vocês, corram logo para a entrada. - Tyler fala, e Gigi troca olhares nervosos comigo.
-Meu deus, qual a placa? - Ela pergunta e assim que Tyler nos diz, nós damos um abraço rápido em todos, sim, todos. Eu abracei Tyler. Foi um momento histórico.
Gigi e eu entrelaçamos nossas mãos e saímos correndo até a entrada enquanto ela repetia a placa inúmeras vezes.
Quando avistamos a placa, acenamos para o motorista, que olhava para a calçada procurando por seus passageiros. Ele nos viu e se aproximou.
- Tyler Calder?
- Ele pediu pra gente.
- Certo. - O rapaz destravou as portas e nós entramos.
- Boa noite. - Nós dois falamos juntos, ao que o motorista respondeu e pediu instruções do caminho.
Desta vez nós dois fomos dormindo o caminho inteiro.
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