Compromisso
Precisei apresentar o Alex para cada pessoa da minha família. Vi minhas tias segurarem o rosto dele e comentarem o quanto ele parecia um ator famoso de tão bonito, minhas primas perguntarem onde achei e quantos anos ele tinha, vi meus tios falarem o quanto ele tinha cara de pessoa bem de vida e além disso tudo, vi ele claramente parecer feliz em ser tão mimado.
Antes de qualquer pessoa ser servida, minhas tias perguntavam pra ele o que ele gostava de comer e começaram e encher meu homem de comidinhas. Elas passavam suas mãos pelos ombros dele e assistiam suas reações quando ele ia experimentar alguma comida nova.
– Arthur, você realmente acertou muito trazendo esse menino. – minha tia comenta, quando chego na cozinha. Tinha ido buscar refrigerantes pra levar pros freezers da área de churrasqueira principal.
– Gostou dele, tia?
– Bonito, inteligente e simpático, a família toda tá apaixonada. Até seus tios gostaram dele, porque ele joga futebol, não é? – ela pergunta.
– Joga, quer se tornar profissional. – respondo.
– Pois é. É bom até assistir ele fazendo nada, de tão bonito que é. – sorrio. – Sorte danada a sua.
– Vou levar isso pra lá. – respondo e ela concorda com a cabeça.
Quando chego na área de trás da casa, vejo uma roda formada perto de Alex, onde as pessoas o mimavam e perguntavam sobre ele. Eu nunca tinha o visto sorrir tanto para outras pessoas, era como se já fosse parte da família antes mesmo que eu apresentasse. Ele mostrava suas fotos de jogos e treinos, contava sobre sua vida e minha família cada vez mais estava interessada em tudo que ele tinha pra falar.
Assim que me sentei ao seu lado novamente e lhe entreguei seu copo de refri, ele segurou com o objeto com uma mão e a outra entrelaçou nossos dedos, enquanto continuava dando o máximo de atenção para todos.
Na mesa, quando o almoço saiu, estavam todos meus tios e tias, todos meus sobrinhos e alguns amigos e namorados de primos. Não só na mesa como em todo o quintal espalhados por todos os cantos. Mesas pequenas infantis também estavam espalhadas pelo quintal o que dava uma dimensão ainda maior para minha família. Acabou que minha avó arrastou Alex e eu para nos sentarmos nos primeiros lugares depois da ponta da mesa, porque eu precisava apresentar ele pra todos de uma vez só.
– Aí, galera! – grito, assustando todo mundo que estava conversando entre si.
– Sai daí, muriçoca. – fala Júnior, meu outro primo.
– Cala a boca que eu tenho um negócio massa pra falar. – subo em uma cadeira vazia chamando atenção de todos e Alex segura ela, para se certificar que eu não ia cair.
– Fala, querido! – minha avó grita.
– Família, para todos que não acreditaram que isso seria possível, estou namorando... – digo, fazendo gesto cortês.
– Finalmente desencalhou, pensei que ia vir morar com a mamãe! – meu tio Ricardo fala.
– E é com esse belíssimo rapaz que vocês conheceram hoje, o Binho. Como podem ver, ao contrário de todos vocês, demorei desencalhar, pra namorar um rapaz que parece um modelo de tão bonito. Sentir inveja é normal, obrigado. – termino e eles começam a rir. – Queria apresentar ele de uma vez, porque se tem uma coisa que eu amo mais que dinheiro, é humilhar fofoqueiro.
– Tá vendo, Helena, sua nojenta? – minha mãe provoca e tia Helena mostra o dedo do meio pra ela. Desde que eram crianças as duas brigavam recorrentemente.
– Seja bem-vindo. A família é assim mesmo, só tem maluco, mas ninguém aqui quer seu mal. —meu tio Alexandre fala e Alex concorda com a cabeça.
– Pergunta! Você tem algum problema na cabeça pra namorar o Arthur? –Ivan, meu primo que encontrei na cozinha pergunta.
– Ivan! – diz o pai dele, dando um tapa em sua cabeça.
– Qual é... pelo menos ele, assim como o João, tem coragem de assumir que tá namorando uma pessoa do mesmo sexo né, Ivan, e você e o Will quando vão assumir de uma vez isso aí? – minha prima Sabrina pergunta.
– Cala a boca, Sabrina! – grita Ivan, se levantando para tacar comida em Sabrina e eu desço da cadeira, porque sabia que viria uma grande confusão.
– Vocês dois podem parar! Precisamos dar uma boa impressão no primeiro contato do rapaz! Sinta-se em casa, Binho. Se faz meu neto feliz, é bem-vindo. – minha avó comenta e Alex concorda com a cabeça.
– Então vamos comer? – minha mãe pergunta.
A tarde correu bem, eu às vezes tentava pegar na mão do Fabrício para tentar fazer ele esquecer a timidez e mostrar que estava tudo bem mas ele sempre tirava e me olhava todo vermelho o que me fazia rir, porque agora todas as atenções estavam direcionadas pra ele por um motivo específico e não apenas pelo interesse em conhecer alguém diferente do que minha família já era acostumada.
Com meus tios ele se esforçou ao máximo para conseguir trazer assuntos que fizessem eles se engajarem em conhecê-lo ainda mais e por causa disso não demorou muito para que ele se tornasse o novo primo favorito. Fora isso, minha avó amou tanto ele, que empurrou toda a comida que pôde no rapaz. Ele era sempre o primeiro a receber os pedaços de bolo, pudim e outros doces que ela tinha preparado para aquela tarde.
– Ele é um menino muito bom, Arthur. – meu tio comenta, parando do meu lado. Eu estava de longe com ele e meu pai, assistindo Alex tentar dar conta de toda atenção que vinha recebendo.
– Quando o Arthur e ele se aproximaram não pude acreditar que a vida tinha reservado alguém tão bom pra ele. – meu pai comenta. – Desde que o Alex chegou ele se tornou alguém muito melhor.
– Como assim? – pergunto.
– Hoje você parece gostar de viver, antes apenas sobrevivia. – explica.
– E o Antônio, como está? Eu sou o responsável pelo acompanhamento do caso do Andrey e cara... o pai dele tem tentado se aproximar desde que tudo aconteceu e ele mostra que se tornou uma pessoa muito difícil de lidar. – meu tio comenta.
– Ele é mesmo. No começo não queria que o Binho se aproximasse de mim, mas depois meio que consegui colocar limites nisso tudo. – explico. – E como estão as investigações?
– Descobrimos que o carro que atropelou ele era uma Mercedes GT 63, mas não conseguimos encontrá-lo em nenhum lugar. O carro tinha placa inexistente, a gente acredita que a pessoa que atropelou o Andrey alterou a placa com fita isolante. – comenta.
– É muito suspeito que alguém com um carro de mais de um milhão de reais simplesmente altere uma placa. – meu pai diz e meu tio concorda com a cabeça.
– A polícia vem tentando rastrear a rota do carro, mas depois do atropelamento o carro simplesmente desapareceu. Já foi procurado em vários desmanches, informantes espalhados por toda a cidade e estado, mas nada. Parece que virou pólvora e mais uma vez vem justamente aquela questão que você acabou de dizer: um carro tão caro vai desaparecer? – ele diz e eu fico observando-o por alguns segundos, voltando a prestar atenção em Alex, que agora conversava com a minha avó.
No geral, passamos a tarde conversando com a família. No final do dia fomos embora, estava frio e a despedida dele com a minha família realmente foi emocionante. Minha avó fez ele prometer que voltaria para tirar fotos dela e Alex até disse que ela sempre seria a vovó favorita dele pro resto da vida. Durante o caminho de volta inteiro eu vim abraçado com ele, ele conseguia me esquentar bem e isso era muito bom – até fiquei agradecido por ter esquecido meu casaco.
– Quer dormir lá em casa? – pergunto e ele me encara.
– Você conversou com seus pais antes de me chamar? – ele pergunta, preocupado.
– Não precisa ficar assim, Fabrício, nossa casa é sua também e nós dois vamos passar a noite fora. – meu pai comenta e ele acena positivamente com a cabeça.
– Aceito então. – ele diz e meus pais sorriem pra ele.
– Já aproveita, Arthur, pra avisar seu namorado aí que sua tia Beatriz vai casar mês que vem e informa o dia pra ele poder ir com a gente. – minha mãe comenta. – Vamos em um dia e voltamos no outro, porque vai ser em uma outra cidade.
– Obrigado pelo convite, com certeza vou sim. – ele diz, me olhando e sorrindo em seguida.
Quando chegamos em casa meus pais apenas vão tomar um banho e saem. Eles ainda aproveitaram para pedir comida pra gente antes de saírem, mas tínhamos que ficar atentos para quando ela chegasse.
– Estou exausto. – falo, tirando meus sapatos. – Não sei como você não está destruído depois de ter que conversar tanto.
– Arthur, antes que eu esqueça... obrigado.
– O que? Pelo o que?
– Por me dar uma família. – ele comenta e meu coração se despedaça naquele momento. – Eu nunca pensei que algum dia as pessoas iriam querer minha presença apenas pra me elogiar ou ficar me enchendo de comida... – ele tira sua blusa e mostra sua barriguinha cheia. – Olha só, sua avó me alimentou bem demais. – sorri e vou até ele, beijando-o.
– Para com isso, que é o mínimo que posso te dar. É o mínimo que posso fazer por alguém que tenho tanto orgulho em ter ao meu lado. Sei que não posso te comprar coisas caras, mas...
– Para. Eu sei que minha família é podre de rica, sempre tive coisas que custam caro, mas na verdade não tem valor nenhum. Hoje fui abraçado, recebi beijos e tirei fotos com pessoas que queriam estar comigo e sorriam pra mim, coisa que nunca aconteceu antes. Isso sim vai ficar marcado na minha mente e quem me proporcionou isso foi você, não o dinheiro. – ele rebate, me segurando pela cintura. – Quando a gente casar, quero toda a sua família lá.
– Você tá realmente na palma da minha mão, todo rendido. – brinco e ele sorri.
– Desde a primeira vez que te vi. – responde.
– Não precisa agradecer por nada. Faço, porque eu te amo. Agora vem, precisamos tomar banho, antes que as coisas cheguem. – o puxo e ele me segue.
No banheiro, tomamos banho juntos. Ele me abraçou muito por trás, lavou minhas costas e me encheu de beijos. Fiz o mesmo por ele e dado certo momento até mesmo começamos uma guerra de água, o que era muito divertido de fazer. Ele sempre me trazia para os melhores momentos e eu era absolutamente grato por isso.
Quando saímos, ele conseguiu se vestir primeiro e foi nesse momento que nossa comida chegou. Acabou que ele desceu primeiro, para pegar tudo e eu fiquei no quarto quando Antônio entrou pela janela.
– Que porra é essa? – falo.
– Preciso conversar contigo. – ele diz.
– Sobre o que?
– Vou morar com meu pai. – fico confuso e vou até a porta, fechando-a.
– O que? Tá maluco? Você odeia seu pai.
– Quero respostas sobre quem matou o Andrey e sei que lá vou achar. Ele tá tentando se aproximar da minha mãe, que nos convencer a morar com ele e ela não quer, mas eu vou aceitar. Vou investigar tudo de perto, Arthur. – explica.
– Não vai fazer nada, né? – ele me encara, mas permanece em silêncio. – Antônio...
– Sei que não quer falar comigo, mas queria que soubesse. – ele dá as costas. – Boa sorte com o seu relacionamento. – sai pela janela e Alex bate na porta. Quando eu abro, ele olha ao redor.
– Ele já foi? – pergunta.
– Como sabe?
– Fechou a porta e teoricamente só estávamos nós dois aqui, então chutei que ele também estivesse. – diz.
– Vamos comer? – pergunto e ele sorri, concordando com a cabeça.
– Amanhã a gente tem alguns apartamentos pra visitar. – diz. – Quero me mudar amanhã mesmo.
– Você vai sair de casa mesmo?
– Sim. E ele vai comprar o apartamento e colocar no meu nome. Ele me mandou mensagem, disse que vai me dar um carro também, além da minha herança por direito que ele já colocou na conta que tinha aberto pra mim. Ele sabe que eu estava falando sério, então não é como se fosse um grande drama. – o abraço. – Você não está sozinho, vamos passar por isso juntos. – cheiro seu pescoço e ele me olha, fazendo bico. Dou, então, um selinho nele, que sorri.
Comemos e depois disso fomos dormir – e realmente apenas dormir. Tínhamos gasto muita energia naquela tarde, não conseguimos assistir nem mesmo até a metade do filme e capotamos. Nosso sono foi pesado e acabamos acordando cedo e fomos olhar os apartamentos.
Passamos o dia praticamente todo olhando com a minha mãe – que como uma boa e típica fofoqueira decidiu vir também – e cheguei até mesmo a pensar que não encontraríamos, quando o último apartamento surpreendeu:
– Comentei com seu pai ontem que tinha conseguido uma cobertura e perguntei se deveria reservar. – a moça abre a porta e Alex parece se apaixonar instantaneamente. – É pequena, compacta, o antigo dono morava sozinho e não gostava muito de vários quartos, construiu pensando no essencial.
– Pode me dar informações do lugar? – ele pede.
– 3 suítes, essas duas salas integradas, cozinha, área de serviço, cozinha e lavabo na área interna. Fora, temos ali a área da piscina e a área da churrasqueira. O apartamento é novo, foi reformado ano passado, toda o sistema elétrico foi trocado e o dono só está vendendo, porque foi morar em Nova Iorque. – ela explica.
– Uma curiosidade... qual o preço? – ele pergunta.
– Dois milhões e meio de reais. – ela responde e minha mãe me encara por alguns segundos.
– Quero conhecer. – ele diz e começamos a visita.
O apartamento não era muito grande, mas pra um rapaz que iria morar sozinho, provavelmente estava mais que excelente. Não estava mobiliado, mas estava bem reformado. Alex passou seus olhos por todos os cantos e paredes, verificou fiação e contou tomadas. Junto com a minha mãe eles reviraram aquele lugar, procurando qualquer problema futuro, analisaram a posição das janelas em relação ao sol, os locais para ar condicionado e ele até mesmo analisou a fechadura, porque queria colocar digital.
– Vou ficar com esse. – diz.
– Ótimo. – a moça responde, sorrindo e pegando seu celular.
A partir daí a vida de Alex virou uma bagunça. No mesmo dia fomos até a casa de uma prima dela, quer era design de interiores, com a planta e fotos do lugar, para que ela começasse a arquitetar o passo a passo de como ficaria o local. Ele acabou indo pra casa falar com sua mãe sobre o que estava acontecendo, mas voltou para dormir comigo, porque ela também não ficaria na casa deles.
– Quero me mudar essa semana. – diz, me olhando. – Você vai ficar indo pra lá ficar comigo, né? Comprei uma cama Super King, só pra ter muito espaço pra...
– Vou. – corto aquele comentário safado dele e Alex cai na gargalhada. – Quais as outras coisas já comprou?
– O essencial. Uma geladeira, fogão, uma tv de 75 polegadas pra jogar meu PS5, máquina de lavar, um chuveiro que lava até seu passado, filtro, mesa e o resto. Tô escolhendo e mandando pra minha prima qual quero. – encaro ele.
– Tv de 75 polegadas pra jogar? – pergunto e ele sorri.
– Claro. Terça a cama chega e eu vou pra lá. Vou comprar fast food pra dormir lá, quer ir comigo? – ele pergunta e eu sorrio.
– E o banheiro? Não comprou nada pra lá? – pergunto.
– O banheiro e internet são coisas que vão ser resolvidas amanhã já. É a primeira coisa que ela resolve, junto com o filtro de água. – ele explica. – Vem comigo, vem? Quero fazer coisinhas com você.
– Saudade do começo do nosso relacionamento em que você era todo menino fofinho de família tímido que tinha vergonha de falar putaria e ficava tentando fazer a média comigo. Agora fala na minha cara que quer me comer... como as coisas mudam.
– Mudam mesmo, agora eu não preciso ficar fingindo que meu relacionamento com meu pai é ótimo ou que sou imaculado, porque confio em você. – encaro ele. – Se só pudesse contar com uma pessoa na vida, essa pessoa seria você.
– Vou dormir lá com você quando sua cama chegar. – me aproximo do ouvido dele. – Pra você poder estrear sua cama nova. – ele me olha, com aquele sorrisinho cínico no canto da boca.
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