Ajuda E Briga

As semanas seguintes começaram a ser cada vez mais difíceis, começando pelo enterro de Andrey. Antônio não chorou, ou esboçou qualquer reação, enquanto aquilo acontecia, mas eu sabia o que ele estava sentindo. Eu sabia, porque quem teve que dar a ele os remédios que permitiram com que ele dormisse naquele e em todos os dias que vieram depois daquele, fui eu.

No enterro, Rômulo teve a coragem de ir e abraçar a mãe de Antônio, como se tivesse esse direito. Desejou condolências e quando me viu de mãos dadas com ele – já que eu estava ali para apoiá-lo –, sorriu um sorriso sínico e podre, como se quisesse me dizer alguma coisa sem falar, de fato, uma palavra. 

– Eu tenho tanto nojo dele. – Antônio comenta, observando Rômulo, que agora conversava com alguns familiares de sua mãe. 

– Sua mãe o convidou? – pergunto e ele me observa por alguns segundos. 

– Não, mas ele é poderoso, alguém deve ter descoberto e falado pra ele. – é tudo o que ele diz. 

O silêncio de Antônio continuou por toda a cerimônia e depois disso, quando chegamos na casa dele, o ajudei com as coisas básicas que ele precisava fazer. Ele acabou faltando alguns dias na escola, porque começou a vegetar um pouco. Como a morte de Andrey tinha sido repentina – aparentemente ele foi atropelado e o motorista fugiu – ninguém estava esperando – muito menos Antônio, que via em Andrey um herói, mesmo que não dissesse isso recorrentemente.

Acontece que mesmo que não fosse de sangue, Andrey tinha sido um pai pra ele, pai que ele não teria se dependesse de Rômulo, por exemplo. Andrey trabalhou muito para tornar realidade os sonhos de Antônio e ele era muito grato a ele por isso, além de vê-lo como uma inspiração – porque mesmo com todas as piadas que recebia sobre ele adotar o filho de um outro cara e tratá-lo como seu, Andrey jamais faltou em nada como pai ou tratou Antônio diferente por isso. 

Consequentemente, após a morte dele, Antônio passou a ficar cada vez mais irreconhecível. De uma pessoa alegre, que conversava com todos, ele começou a se transformar naquela pessoa que não prestava atenção em nada que ninguém dizia e eu tive que me esforçar muito para me aproximar dele e me manter próximo nesse período. Por outro lado, a polícia continuava investigando o acidente e paralelamente a isso, Antônio desconfiava até da sua própria sombra, era como se pra ele não descesse aquela morte – ele, inclusive, considerava como assassinato.  

– A impressão constante que eu tenho é que vou ser o próximo. – ele diz, enquanto estamos deitados em sua cama.

– Ele não iria querer te ver dessa forma. – digo e ele me encara por alguns segundos. 

– Eu sei. Mas eu não era assim antes, porque ele me dava motivo pra sorrir. Agora que não está mais aqui e eu dito minhas regras, as coisas mudaram um pouco. – é o que ele responde. 

– Ainda não acredito que o Rômulo foi no enterro dele.

– Foi, desejou solidariedade pra minha mãe e veio me convidar pra sair aquela hora que ele pediu pra você deixar a gente conversar. – ele comenta, claramente incomodado e eu o observo. 

– É sério? 

– Sim, ele acha que eu sou idiota. 

– Como assim? 

– O único que impedia a minha mãe de aceitar migalhas de atenção daquele otário era o meu pai. Agora que ele tá morto, o Rômulo tem total espaço pra invadir nossa vida e controlar a minha mãe mais uma vez e ela, por estar nessa situação difícil e se sentindo desamparada, vai cair nesse papinho de merda dele. – explica.

– E o que você vai fazer? 

– Matar ele, antes que ele transforme minha mãe em um amante e me trate como se pudesse se intitular de "pai" depois de tantos anos. 

– Credo, Antônio, para de brincar com essas coisas. – digo e ele me observa, confirmando com a cabeça e se aproximando de mim, pra me abraçar. 

Ficamos dessa forma por um tempo e o que ele disse não saía da minha cabeça, mas não era como se ele realmente fosse fazer alguma coisa. Eu conseguia entender que ele estava chateado pelo o que tinha acontecido e provavelmente externar esses pensamentos negativos aliviava um pouco sua dor. 

O que importa é que nesse meio tempo nós dois nos reaproximamos muito, o que me afastou um pouco dos meus amigos. Como Alex e Antônio não se davam muito bem, Alex quase não vinha na minha casa – porque Antônio sempre estava nela – e isso fez com que a gente se visse apenas na escola. 

Curiosamente, nessa mesma época, ele começou a se negar ficar no time sem camisa de treino e discutia todos os dias com o treinador, para que não tirasse sua camisa em treino. Ele também passou a entrar mais tarde para tomar banho, depois que todos já tinham feito isso e eu, por mais que tentasse conversar com ele sobre o que estava acontecendo, sempre acabava sendo arrastado por Antônio pra longe.

Aos poucos, aparentemente tudo o que tínhamos construído foi sendo destruído, porque de pouco em pouco ele começou a se afastar até mesmo de Júlia. Estávamos caindo e eu não sabia o que fazer, até que certo dia entrei no banheiro, antes de descer pro campo pra assistir o treino de Antônio e ouvi um choro tímido em uma das repartições. 

Era um choro que eu já tinha escutado algumas vezes e foi por esse motivo que bati na porta um pouco, ouvindo a pessoa aparentemente engolir o choro para dizer:

– Tem gente. 

– Eu sei. Abre pra mim, sou eu. – digo e ouço a tranca da porta abrindo em seguida. 

Ali estava Binho, sentado em cima da tampa do vaso, com a cara inchada de tanto chorar. Ele tinha treino naquele momento, então eu não entendia o motivo de estar ali, naquela situação, mas pelo menos teria a chance de conversar com ele sem ser interrompido ou afastado por Antônio ou qualquer outra pessoa. 

– O que está fazendo aqui? Tem treino agora. – digo e ele nega com a cabeça. 

– Não vou conseguir treinar. – responde e eu fico relativamente confuso. 

– Por quê? – pergunto e ele fica de pé, se preparando para tirar sua camisa e eu fico confuso, mas quando ele tira eu consigo entender bem o motivo. 

Binho estava todo roxo, mas não aquele roxo leve de quem bate a perna em uma quina ou algo do tipo. Ele tinha roxos com bordas amarelas, quase um preto de alguém que tinha sido espancado por outra pessoa. Ele também levantou a bermuda e mostrou que na perna tinha alguns ferimentos, ferimentos esses que me deixaram abalado apenas de olhar. 

– O que aconteceu com você? – pergunto e ele nega com a cabeça, passando a mão no cabelo, como se estivesse se sentindo confuso.

– Depois que nos afastamos pelo o que aconteceu com o pai do Antônio, muitas coisas ruins aconteceram e minha casa não está nas melhores condições, se é que me entende. 

– Você precisa denunciar quem está fazendo isso contigo. Vamos, eu te ajudo. – me preparo para sair e ele segura meu braço. 

 – Não podemos. 

– O que? 

– Arthur, eu estou te mostrando isso, porque confio em você, mas preciso que confie em mim também. Não se mete nisso, é o melhor que faz. Apenas me dê uma ajuda e diga ao treinador que não vou jogar, porque estou com dor de barriga ou algo assim. – ele pede e eu fico olhando-o.

– Mas...

– Por favor. A pessoa que faz essas coisas comigo não tem pudor. Ele pode te machucar ou machucar a sua família se você tentar fazer alguma coisa. Apenas diga isso, tudo bem? Minhas pernas doem muito, não tenho sustentação para ficar de pé, quem dirá correr. – ele diz e eu continuo olhando em seus olhos, incrédulo. 

Ele, então, segura meu rosto por alguns segundos, mas depois disso aparentemente sente uma dor na perna e se senta novamente. Quando me olha mais uma vez, eu concordo com a cabeça, mas antes de sair digo:

– Hoje você vai dormir lá em casa. 

– Tudo bem. – é tudo que ele me responde.

Saio do banheiro e vou correndo para o campo. Chegando lá, vejo o treinador dele perguntando para os outros onde Binho estava. Um dos meus maiores traumas de infância vinha daquele homem e eu tive que me preparar, em pouco tempo, para falar com ele mais uma vez – e já sabia que seria uma péssima experiência.

– O Alex Fabrício está passando mal. – digo a ele, que se vira  e me encara. 

– Arthur? Não cresceu em nada. Sempre te vejo olhando o treino pela arquibancada, de longe, como o covarde que eu disse que se tornaria. Desistiu do futebol, porque ficou frustrado pelas verdades que ouviu de mim e agora tá se metendo em um assunto que ninguém aqui te perguntou? – ele diz e me encara. Era impressionante como aquele homem era grosseiro por absolutamente nada.

– Estou aqui apenas fazendo um favor pra ele, não desconte suas frustrações em mim. 

– Vai fazer o que? Chorar, como fez da última vez? – todos os caras do time começam a rir. Parece que eles nunca cansavam daquele comportamento de merda daquele cara de merda. 

Eu, então, olhei pra Antônio, esperando que ele dissesse alguma coisa, mas percebi que ele estava ainda mais omisso do que sempre tinha sido, o que não me espantava, porque nunca esperei nada de prestativo vindo dele. 

– O recado tá dado. – digo, dando as costas. 

– Vai embora mesmo, no meu campo viado não pisa. – o treinador diz. 

– Vai ter que expulsar metade do seu time então. – rebato, saindo do lugar em seguida, acompanhado por um silêncio mortal. 

– Arthur... – Antônio vem atrás de mim e eu me viro, olhando em seus olhos. 

– Volta pro seu time, se não disse nada quando precisei, agora não quero ouvir sua voz. E hoje o Alex vai dormir lá em casa, então não é pra tentar acabar com isso. Tome seus remédios na hora e tente dormir, tudo bem? Se precisar de mim, me liga, mas sei que não vai. – finalizo, dando as costas e saio do campo em seguida.

Quando volto ao banheiro, percebo que tinham alguns caras nele, então entro na outra repartição, até que eles saiam e assim que isso acontece, saio e espero que ele abra pra mim. O olhar dele quando abriu a porta era de alguém totalmente devastado, por isso me aproximei, fechei a porta e o abracei.

O toque de mãos cheias dele tomou conta do meu corpo, me apertando contra seu com muito vigor, enquanto ele chorava sem parar. Alex estava totalmente destruído e mais uma vez confiou em mim para se entregar aos seus sentimentos, mesmo que por muito tempo eu tenha ficado relativamente afastado. Era como se ele me dissesse que ainda confiava em mim. 

Como a escola só estava aberta para o treino – e quem não pertencia ao time ou não ia treinar podia ir embora – depois de um tempo no banheiro, fomos embora juntos e durante todo o caminho ele parecia tentar engolir o choro ou fingir que nada daquilo tinha acontecido. Acontece que assim que entramos na minha casa, as lágrimas voltaram a descer e eu tentei não constrangê-lo, por isso vim com ele para o meu quarto, sem comentar com os meus pais que ele estava ali. 

Assim que entramos, joguei a mochila em um canto e me sentei na cama, chamando Alex para que ele se deitasse no meu colo e foi o que ele fez, se agarrando mais uma vez em mim, pedindo acalento – e foi exatamente o que eu fiz. Precisava urgentemente afagar aquele coração.

– Não vai nem me dizer quem fez isso? – pergunto, enquanto estamos deitados juntos e ele estava sem blusa, enquanto eu analisava aqueles roxos.

– Não. – ele responde, olhando nos meus olhos com aqueles olhos pequenos de tão inchados. – Saber de alguma coisa só vai te dar problemas. 

– Pode ficar aqui quanto tempo precisar. – digo, acariciando aquele rosto lindo. 

– Me desculpa. 

– Pelo o que? 

– Eu sei bem que você está passando por uma barra com o Antônio e não estou fazendo isso pra chamar a sua atenção. – os olhos dele começam a se encher de lágrimas e como uma criança desesperada, suas palavras se embolam com respiração, como se ele estivesse tentando não desabar mais uma vez ali mesmo. – Eu tentei de verdade me isolar, porque esperava que assim você não fosse ver isso, sabe? Eu de verdade não queria que você me visse nessa situação...

– Hey, calma... – peço, mas ele não consegue e acalmar e começa a chorar. 

– A culpa é toda minha, eu assumo toda a responsabilidade por bagunçar a sua vida inteira e te deixar confuso, te machucar... – antes que ele termine, eu o abraço forte. 

– Para... o único culpado dessa história é a pessoa que está te deixando atordoado dessa forma. – respondo, soltando-o e olhando em seus olhos em seguida, enquanto seguro seu rosto.

– Arthur, filho... – minha mãe entra no meu quarto de uma vez e eu solto Alex, que puxa sua blusa pra si, para tampar os seus hematomas. 

– Mãe! Precisa bater na porta! 

– Me desculpe, eu não sabia que o Fabrício estava aqui. – ela diz. 

– Mesmo assim, e se eu estivesse pelado? – pergunto e ela levanta as mãos em tom de rendição. 

– Tudo bem, claro... Venham almoçar. Me desculpe. – é tudo o que ela diz, saindo do quarto em seguida. 

– Seu pai tá em casa? – Alex me pergunta e eu nego com a cabeça. – Acho melhor eu ir embora, antes que ele chegue então. 

– Espera. 

– O que foi? 

– Minha mãe não é assim. 

– Assim como? 

– Do tipo que arranca as pessoas do armário e faz com que essa experiência seja totalmente traumática. 

– E o que a gente faz? 

– Eu falo com ela. – respondo. – E você me espera aqui, entendeu? – ele concorda com a cabeça e eu me mantenho firme, dando um beijo nele e saindo do quarto em seguida.

– Vocês dois estão juntos? – minha mãe pergunta, me olhando, assim que eu saio do quarto.

– Mãe... – as lágrimas escapam dos meus olhos, enquanto eu ando em sua direção. – Eu... – tentava falar baixo, porque não queria que Alex me escutasse. – Mãe... não queria decepcionar. 

– Decepcionar quem? – ela diz, calma como sempre. Minha mãe me observava, enquanto eu tentava manter minha aparência firme, mas falhava miseravelmente nisso.

– A senhora... eu não escolhi a minha sexualidade, mãe. E sei o quanto a senhora sempre quis muitos netos, mas não sei se serei capaz de dá-los a você. – digo, gesticulando, engasgado com o choro. Parecia que eu ia explodir naquele momento.

– Arthur, fico feliz de ver você tentando manter essa postura de homem que lida com as questões necessárias pra sua vida, mas precisa se acalmar. – ela rebate. – Sobre netos, existe adoção e eu realmente espero que se for gay, considere. De resto, não me importa. Você jamais deixará de ser meu filho e eu não sei se ainda está em período de descobertas ou se já tem certeza sobre a sua orientação, mas saiba que seu pai e eu vamos sempre apoiar você, ainda mais se estiver com alguém tão gentil e prestativo como o Fabrício. Por que não me contou antes? 

– Eu tinha medo de decepcionar a senhora e o meu pai... – ela abre um sorriso de compaixão, segurando meu rosto.

– Você me decepcionaria se não fosse feliz, honesto consigo mesmo e com os outros e mais do que isso, você me decepcionaria se não conseguisse impor quem é, acima do que as pessoas vão dizer. E eu sei que está tentando fazer isso aqui agora pela primeira vez, por isso está tão nervoso... também sei que o histórico negativo de reações dos pais ao descobrirem que seus filhos não foram feitos para seguirem sua imagem e semelhança ou alcançar suas expectativas deve ter pesado para que escolhesse manter consigo essas informações, mas espero de verdade que fique mais fácil com o tempo realmente conseguir se manter firme diante desses momentos delicados. De qualquer forma, vejo que criei um homem íntegro e eu teria falhado na missão de criar um filho bem criado caso isso não acontecesse. Ser gay não é nada anormal, você só gosta de alguém do mesmo sexo e eu amo você e irei te apoiar em todos os caminhos que siga durante a sua vida. – ela diz, me olhando nos olhos.

– Eu nem sei se vou conseguir aguentar essa barra. E se eu mudar de ideia? 

– Vocês terminam, você sofre, mas depois supera e ama novamente. Esse é o ciclo da vida, meu amor. Se não deu certo uma vez, tenta novamente. Mas seja lá com quem esteja, só quero que esteja feliz. – ela diz, limpando meu rosto das lágrimas.

– Obrigado, mãe... – falo baixinho.

– Vem aqui... – ela fala, me puxando para um abraço. – Próxima vez que estiver enfrentando um conflito interno tão grande me avisa e vamos superar juntos. Tudo bem? – concordo com a cabeça. – Você também, vem aqui. – quando olho para trás, vejo Alex parado, observando a gente. Ele, então, vem em nossa direção e minha mãe abraça nós dois, tentando nos confortar e apoiar, sem dizer nada. Acaba que Alex chora um pouco mais, o que chama atenção da minha mãe. – Não precisa se preocupar, ninguém aqui de casa vai dizer nada aos seus pais. 

– Ele pode dormir aqui hoje? – pergunto e ela me observa. 

– Claro, pode deixar que eu mesma falo com seus pais, tudo bem? – ela responde, olhando para Alex e ele concorda com a cabeça. – Agora vão almoçar, nessa casa ninguém fica sem comer. 

– Atendeu alguém que tá lidando com transtorno alimentar de novo? 

– Com certeza e é agoniante presenciar alguém definhar. – ela responde e a gente continua andando para a cozinha.

– Mãe, pode por favor não comentar com os pais do...

– Claro. Vocês resolvem isso quando se sentirem preparados para tal. – ela reponde e eu confirmo com a cabeça, indo até a mesa. 

Ele e eu comemos juntos e depois disso fomos para o meu quarto e passamos o dia ali, conversando, jogando e ele me mostrou algumas fotos que tirou no período em que ficamos mais afastados. Quando meu pai chegou, veio direto trazer coisas para que comêssemos e depois de tomarmos banho e nos aprontarmos para o jantar, já de noite, descemos. 

– Fabrício, seus pais sabem sobre o Arthur e você? – meu pai pergunta, em tom de compaixão. 

– Não. – ele responde, me observando em seguida. – Como sempre estou rodeado de seguranças, ele sabe que sou amigo dele, mas não sabem nada mais que isso. Pelo menos eu acho que não. 

– Liguei para os seus pais, avisei que dormiria aqui. – minha mãe diz. – Eles disseram que já sabiam que estava aqui, perguntaram se estava tudo bem...

– E a senhora? 

– Disse que sim, mas que você tinha acompanhado o Arthur, porque ele estava se sentindo mal. Eles disseram que imaginaram que fosse isso, já que vocês vieram juntos da escola. Não sei por qual motivo eu senti que deveria mentir, Fabrício, mas espero de verdade que saiba que esse é um ambiente seguro. Nossa família não deve fidelidade ao seu pai, me entende? – ele concorda com a cabeça. – Tente dormir bem, peça roupas ao Arthur, ele tem muitas. 

– Obrigado. – é tudo o que ele diz. 

– E seja lá qual tempo você precisar ficar, saiba que aqui você tem uma família. – meu pai completa e ele concorda com a cabeça.

– Obrigado. – é tudo o que ele responde, tentando sorrir, mas eu sabia que ele queria chorar. 

Terminamos nosso jantar e ele ficou para ajudar meus pais na cozinha, enquanto eu ia arrumar meu quarto para dormirmos. Acontece que assim que entrei no meu quarto, vi Antônio ali, parado. Ele parecia estar me esperando e eu gelei um pouco quando o vi, porque não imaginei que ele fosse lá naquele momento.

– Me desculpa por não ter te defendido mais cedo. Eu só achei que...

– Não devesse, por ele ser seu treinador. – completo o que ele ia dizer.

– Como sabe? 

– Já me disse a mesma coisa anos atrás, mas em seguida prometeu que isso jamais se repetiria, acontece que repetiu. 

– Eu esqueci... – ele diz e eu sorrio, olhando pro chão.

– Sim, você geralmente esquece as promessas e só se lembra das coisas que diz pra se livrar das consequências das suas escolhas. – rebato. 

Eu não sabia exatamente com quem eu estava mais furioso: se era com Antônio que jamais conseguia demonstrar estar interessado em se tornar uma pessoa melhor, ou se era comigo, que mesmo assim, me desdobrava para ficar ao lado dele. Ele nunca chegava a lugar algum e mesmo assim eu ficava ali, como um cachorro fiel, sempre disponível pra ele – e acabei por não estar ao lado de Alex quando coisas ruins começaram a acontecer com ele. 

– Me desculpa. – Antônio diz. 

– Desculpo, mas sai do meu quarto, eu te falei que estou com visita. – rebato.

– Você e ele estão namorando mesmo? Veio fazer a cama pra dormir de casal? – Antônio pergunta em tom irônico.

– Sim. – respondo e ele me observa, olhando para o chão em seguida. – E ele precisa de mim. Tive que... me afastar um pouco por você precisar da minha presença, mas acho que agora as coisas mudaram um pouco. 

– O que mudou? Eu continuo precisando de você e ele só quer chamar atenção, porque tá carente. – ele se aproxima de mim, mas quando vai encostar a mão no meu rosto, alguém o segura pelo pulso, quando olho, vejo Alex ali, observando Antônio.

– Assim não. – ele pede e Antônio se solta de seu toque. 

– Quem você pensa que é? 

– O namorado dele. – Alex diz. – Se acha que pode manipular os sentimentos dele na minha frente que vou ficar calado, tá bem errado. 

– Amanhã eu volto, Arthur. – é o que Antônio diz, saindo pela janela em seguida. 

Quando me viro para Alex, ele percebe meus olhos marejados e me puxa para um abraço acolhedor. Aparentemente a noite seria longa e eu nem sabia se queria ir para a escola no dia seguinte. 

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