A Notícia

Eu não fazia ideia do quanto que as semanas seguintes seriam estranhas – se soubesse, provavelmente teria aproveitado mais as anteriores. O que importa, no momento, no entanto, é justamente o fato de que durante um tempo fiquei indo ajudar Alex a montar e organizar seu novo apartamento. 

Ele comprou todos os móveis e eletrodomésticos na mesma semana que se mudou e acabou não demorando muito para que tudo ficasse pronto rápido. É claro que para ter tanta urgência ele precisou desembolsar um dinheiro a mais para que as entregas ocorressem rapidamente, mas nada que fosse o prejudicar de qualquer forma.

Percebi que mesmo com o pouco tempo longe de casa, Alex parecia mais tranquilo. Ele vinha falando de forma mansa, ia para as sessões de fisioterapia e conversava com seus seguranças como se não tivesse mais fardos para carregar e por diversos momentos me flagrei feliz por assistir essas mudanças sutis vindas dele. 

Sexta feira, duas semanas depois de todo o começo de sua mudança de vida, tivemos o primeiro jogo de Júlia, um jogo de apresentação do time feminino da escola, sem adversários reais. O lado do time da escola que ela estava acabou ganhando e comemoramos muito com ela. Era muito bom vê-la feliz daquela forma. 

– O que acharam do jogo? – ela pergunta.

– Achei bem legal. Vocês treinaram bastante, né? – pergunto e ela concorda com a cabeça.

– Nossa treinadora disse que era pra levarmos como um jogo real, mesmo que sejamos do mesmo time. Disse que o lado que ganhasse ia levar, cada jogadora, uma caixa de bombom pra casa. – ela comenta.

– Assim até eu quero jogar. – Alex brinca e ela sorri. 

Depois do jogo, fomos direto pra minha casa depois de deixarmos Júlia na dela. Por ser sexta, ele não queria dormir sozinho e eu aceitei ficar com ele. No geral, naquele momento de sua vida, era como se ele tivesse largado de vez os sentimentos ruins que sua antiga casa trazia e eu pudesse assistir um renascimento magnífico – além de gostar de fazer parte disso. Fora que ele também mudou bastante comigo. Tinha o costume de ir me buscar em casa pra dormir com ele e sempre descia para conversar com meus pais, enquanto me esperava, mesmo que isso às vezes acontecesse depois da nossa aula, por exemplo. 

– Sua mãe costuma te visitar? – minha mãe pergunta, enquanto eu termino de arrumar minhas coisas na mochila pra sair.

– Ela tem tido outros afazeres. – ele diz. – Recentemente meu pai pediu o divórcio e renunciou minha guarda, eles estão assíduos nessa questão. Inclusive agradeço que tenha deixado o Arthur dormir lá em casa nesse período. Morar sozinho é um pouco assustador pra mim.

– Que isso, quando você não vem o Arthur parece que falece e só volta a viver no momento que escuta sua voz. – ela brinca e eu corro para a cozinha. 

– Vamos. – digo, assustado. 

– É mesmo? Ele diz que nem sente minha falta. – Alex dá trela, me observando com aquela cara de cínico dele.

– O que? Se pudesse ele já teria ido morar com você faz tempo. "Ah, que na casa do Alex ele faz isso pra mim", "Ah que na casa do Alex ele compra aquilo pra mim"... – ela fala e eu fico encarando-a por algum tempo.

– Ele sabe que pode morar comigo o quanto quiser, mas acho que a gente só tem dado certo, porque ficamos separados por um tempo todos os dias. Se morássemos sozinhos iríamos nos matar. – ele diz e eu fico observando-o, sem dizer nada. 

– Inclusive, vou viajar nessas férias e o Arthur não vai, porque não gosta de praia. Ele pode ficar com você ou vai ser muito problema? – minha mãe pergunta.

– Pode.

– Pensei que se ficassem juntos muito tempo iriam se matar...

– Era piada, ele pode sim. Vão quando? – Alex pergunta e minha mãe sorri.

– Semana que vem e vamos ficar por uma semana. O pai do Arthur não pode passar muito tempo fora, mas queríamos aproveitar uma das folgas prolongadas dele pra relaxar um pouco. – explica.

– Podem ir, sem problemas, vou cuidar bem dele. – ele me observa, olhando até meus pés e voltando até meus olhos. 

– Ótimo, como é final de semana, se o Arthur quiser, pode ficar voltando direto pra sua casa, não tem problema. Quando chegarmos, avisamos vocês. – Alex concorda com a cabeça, ficando de pé ela vai até ele. Eles se abraçam e depois disso eu abraço minha mãe, me despedindo dela. 

Entramos no carro em silêncio e acenamos pra ela. Alguns segundos depois, Alex segura meu queixo e o puxa, fazendo com que eu o observe.

– Parece que alguém é meu por uma semana em tempo integral agora. – ele diz, quase sussurrando e se aproxima, me dando um selinho. – É melhor se preparar. 

– Senhor, vamos direto pra casa? – um dos seguranças dele pergunta. 

– Não, vamos no outback, tô com fome de comida. 

– E existe outro tipo de fome? – pergunto e ele me observa com um sorrisinho cínico, desviando o olhar em seguida.

Acabamos indo no shopping e por lá andamos bastante. Alex e eu brincamos e ele até comprou algumas coisas pra me dar de presente, até que em certo momento acabou por entrar em uma joalheria. 

– Vamos embora. – digo pra ele, que sorri. 

– Posso ajudá-los? – a atendente pergunta.

– Posso dar uma olhada nas alianças de namoro que vocês tem? – ele pede.

– E qual o tamanho do dedo dela? 

– É ele, é esse ranzinza aqui que está puxando a barra da minha blusa. – ele me encara por alguns segundos e a moça parece ficar envergonhada.

– Ah, perdão. – ela pede e ele faz sinal de desdém com a mão. 

– Alex... – ele me encara seriamente. 

– O que? Se sente realmente desconfortável em usar alianças? Acha cedo demais que as pessoas saibam que eu sou seu? – permaneço observando-o. Pela forma como me olhava, eu sabia que alguma coisa tinha acontecido. 

– O que te disseram? – pergunto.

– Só não aguento mais dizer que namoro e ver as pessoas rindo. Não quero meninas me tocando e caras me alisando, eu quero que eles saibam que eu realmente tenho alguém. Se não quiser usar comigo, tudo bem, deixa a sua guardada, mas eu vou comprar esse anel pra mim. – o abraço com força e ele encaixa seu rosto no meu pescoço. 

Acabamos ficando na loja por bastante tempo, enquanto os seguranças dele esperavam do lado de fora. Ele praticamente mobilizou todos os atendentes da joalheria que conforme o tempo passavam iam percebendo que Alex provavelmente era bem rico – até porque ele foi de uma aliança de 100 reais pra uma de 5 mil em menos de 30 minutos. 

Tive que começar a tomar o controle da situação e voltar para os preços comuns quando finalmente achamos uma que gostamos e que por mais que não fosse tão barata, não era 5 mil reais. Quando saímos da loja fomos comer e confesso que foi divertido. Por muitas vezes me peguei observando nossas mãos com as alianças novas, sem acreditar que aquilo estava acontecendo. 

– Fabrício? – uma mulher o chama e assim que ouve essa voz, ele me encara com os olhos arregalados, olhando para a direção de onde veio aquele chamado e se levantando em seguida.

– Oi, vó. – ele diz e eu sinto uma pancada no estômago. – Oi, tia. 

– O que está fazendo aqui sozinho? Você sabe que com a importância que tem, não pode ficar sem segurança. – a mais velha diz.

– Meus seguranças estão em pontos estratégicos e não estou sozinho. Esse é o Arthur, meu namorado. – ele diz e elas me fuzilam com o olhar.

– Namorado? Sabe quanto ai herdar? – a mais nova começa a falar, se sentando de frente pra mim. – Precisa de herdeiros, não de um namorado. Quando tinha sua idade seu pai já pensava nisso e falava abertamente sobre. Precisa ter consciência das coisas, Fabrício. 

– Vocês podem nos dar licença? Estávamos jantando. – ele diz e a mulher se levanta. 

– Jantando com esse ninguém? – ela pergunta e ele engole a seco essas palavras. – Olha pra você. É bonito, novo, tem toda uma vida pela frente e cai entre nós, quando envelhecer e começar a levar seu sobrenome a sério, quer mesmo que as pessoas comentem que já foi visto com outro homem? Ainda mais com um garoto que claramente não tem nada pra oferecer? – ele me observa e vê meus olhos se enchendo de lágrimas. – Ele não está a sua altura, não importa se carrega qualquer sobrenome. Não é como se ele valesse alguma coisa perto de você, meu neto, precisa...

– A senhora que precisa calar a boca. – ele rebate e ela o observa, aparentemente não acreditando naquilo. – E nos dar licença. Meu namorado, que com a sua aprovação ou não será meu noivo e após isso o meu marido, e eu, estávamos jantando em paz e não quero saber da opinião da senhora neste momento de paz. 

– Sua mãe saberá desse comportamento. – ela diz.

– Acho que a mulher que a senhora tanto chama de "porca gorda imunda" não vai se incomodar de saber que eu decidi, para o meu bem, conter seus ataques sobre a pessoa que amo. – ele rebate e ela me encara por alguns segundos.

A senhora mais velha, então, se inclina sobre a mesa que estava diante de mim e se aproxima do meu rosto, olhando nos meus olhos. 

– Meu neto pode parecer simples e fácil, mocinho. Talvez por ele não usar roupas com estampas de marcas famosas, você pode até acreditar que estão no mesmo patamar, mas olhos precisos conseguem ver com clareza a diferença entre vocês. Uma camisa do meu neto, mesmo que lisa, paga toda a sua casa, enquanto você continuará sendo esse pobre fedorento que é, não importa o que faça para tentar mudar isso. Seu cheiro de imundice nunca vai te abandonar. – ela diz.

– Por que me odeia tanto, se sequer me conhece? – pergunto, olhando nos olhos dela. – Tem razão sobre eu não ser como seu neto, mas prefiro isso do que falar em nome da avareza. 

– Olha aqui... – ela começa. 

– Mãe, chega. Todos estão olhando. – a mais nova diz. – Bom jantar pra vocês. – elas saem em seguida e eu coloco a mão na boca, olhando para baixo, tentando controlar minha tremedeira. Olho para minhas mãos, que não paravam e Alex as segura, quando eu o olho, ele sorri. 

– Se saiu muito bem. – é o que ele diz e eu concordo com a cabeça, sentindo um beijo na testa em seguida, enquanto fico de olhos fechados. Ele se senta do meu lado e nossos pratos chegam, mas eu já não tinha fome.

– O que foi isso? – pergunto. 

– Não se preocupe, minha avó fala assim com você, mas a família da minha mãe sempre foi pobre. Eles melhoraram de vida, quando minha mãe se casou com meu pai e ele deu cargo de importância para todos os familiares dela que estavam desempregados. Agora que estão se separando, ele está causando demissão em massa, porque obviamente ninguém ali era qualificado o suficiente para o cargo, minha avó só está com raiva. – ele explica. 

– Ninguém nunca me olhou com tanto ódio antes. 

– É claro, ela não consegue entender como podemos estar aqui tranquilos, enquanto o lado da família dela está desmoronando. Ela esperava que eu fizesse algo sobre, os defendesse, mas não vou fazer. A única pessoa que ajudei foi a minha mãe. – ele explica. 

– Ela não vai sair prejudicada com isso? – pergunto.

– Não, ajudei ela a esconder e reinvestir o dinheiro que veio ganhando nos últimos anos, transformando tudo em criptomoeda pro meu pai não rastrear. Minha mãe tem um patrimônio multimilionário pelas costas dele e isso não vai mudar. – explica e eu concordo com a cabeça, abaixando-a um pouco. Ainda estava envergonhado pela forma como aquela mulher falou comigo. – Me desculpa pela minha avó.

– Não é culpa sua. 

– Eu sei. E nem sua. E ela não é assim só com você, ela trata minha mãe como lixo, xinga ela desde que me entendo por gente, vivia na cola dela dizendo pra minha mãe fazer outro filho, pra garantir outro herdeiro e esse tipo de coisa. Sempre disse coisas horrendas e inimagináveis, que te causariam repulsa se soubesse. Durante minha vida, precisei consolar bastante a minha mãe e fazer com que ela engolisse isso tudo a seco, mas nunca esperei que você fosse enfrentar isso também, principalmente porque sua família é tão boa pra mim que... – seguro as mãos dele. 

– Tá tudo bem. E olha, eu sei que não posso te oferecer nem 1% de tudo que você me dá, mas eu juro... – ele sorri. – O que foi? 

– Sei lá, cara, meu pai é bilionário e nem é só em reais e você tá mesmo deixando que o que ela disse entre na sua cabeça? Acha que me importo com dinheiro? Sempre tive dinheiro, Arthur e você me deu as coisas que o dinheiro nunca deu e jamais poderia: que é amor e paz. Ela tá puta, porque tá saindo com uma mão na frente e outra atrás, não é sobre você. Ela só não vai ter mais uma "cachorra sarnenta" pra explorar, como ela mesma falava sobre minha mãe. Esquece isso, por favor. – ele pede e eu concordo com a cabeça.

Depois de um tempo pensando, acabei me rendendo para o cheiro daquela comida e jantei também. Fomos embora e no carro Alex não se segurou e disse:

– O que minha avó disse pra vocês? – os seguranças dele se entreolham, pensando um pouco. 

– Ela me reconheceu, senhor. Disse que como sua avó tinha direito de conversar com o neto, não pudemos impedir. – um deles responde. 

– Não quero que ela saiba onde moro, muito menos que tenha permissão para entrar no meu condomínio. – é tudo que ele diz. – Ela também não tem permissão de chegar perto da minha pessoa, considero alguém que oferece risco à minha saúde física e psicológica. 

– Sim, senhor. – os dois seguranças dizem, juntos.

– Que demora, porra. – a prima de Alex, que nos ajudou com a decoração do apartamento fala, assim que o carro para na entrada da garagem. 

– O que tá fazendo aqui? – Alex pergunta. 

– Vim arrastar vocês pra uma festa. E nem adianta dizer não, eu disse que ia decorar seu apartamento por um preço mais acessível se me desse isso. – ela diz. 

– Logo hoje? Tive que lidar com a vovó mais cedo, não tá fácil. – ele rebate e ela entra no carro.

– Mais um motivo pra gente sair. Agora que seu pai tá passando a régua na nossa família, tem que e acostumar com uns lascados vindo te procurar em pontos mais prováveis, é por isso que eu vim arrastar vocês dois pra uma festa fechada. Amanhã é sábado, vocês não podem negar. Bora, gente, vou mandar a localização pro whats de vocês. – ela diz para os seguranças de Alex, que depois de me olhar e ver que confirmei com a cabeça, confirma pra eles seguirem o que ela disse. 

Fomos parar em uma festa imensa em uma localidade afastada. Antes de entrarmos, os seguranças da festa não queriam deixar que os particulares de Alex entrassem também, por estarem armados, mas depois de recebermos a permissão e compreensão do dono da festa, todos entramos. 

– Todos os rolês da Ana são loucos, então vamos tentar manter o controle. – Alex diz e eu concordo com a cabeça. 

Acontece que como é de se esperar, quem perdeu o controle foi ele. Acredito que pelo passe livre que recebeu da vida, ele aproveitou para curtir bastante. Acabamos dançando muito, nos beijando mais ainda, além de bebermos muito também. Chegamos no lugar por volta das 22h e saímos às 4h da manhã. 

Foi a primeira vez que me vi completamente bêbado por causa de diversão e não frustração. Acredito que nós três chegamos em segurança em casa unicamente por causa dos seguranças de Alex, que nos deixaram no apartamento dele, trancaram tudo e depois desceram para o deles.

Obviamente não consegui dormir, porque estava todo suado e pensei que assim como Ana estava capotada no sofá da sala, ele também estaria em coma naquele momento, mas depois de cerca de 5 minutos de banho ouvi a porta do banheiro abrir e vi Alex vindo em minha direção. 

Ele se encaixou no meu corpo por trás e apoiou a cabeça nas minhas costas, passando suas mãos pelos meus quadris e deslizando-as por eles. Quando me virei para passar shampoo em seu cabelo, ele me beijou e é claro que cedi. 

– Me desculpa pelo o que aquela mulher disse de você. – ele fala, olhando nos meus olhos. 

– Isso já passou. 

– Não. – ele bate a mão no peito várias vezes, enquanto eu cuidadosamente espalho o shampoo pela sua cabeça e vou lavando seu cabelo. – Eu deveria ter dito mais, deveria ter dado um chute nela, não sei... – sorrio.

– É sua avó. – falo.

– E você é o homem da minha vida. – fico sério, olhando-o. – Ninguém pode falar daquele jeito com o homem da minha vida. – engulo suas palavras em silêncio.

Termino de lavar seu cabelo e ele começa a tomar seu banho de vez, lavando cada parte de seu corpo. Quando terminamos, vamos escovar nossos dentes e depois disso percebo que o grau da bebida já tinha passado significativamente, mas ainda estava cansado por ter dançado tanto. Antes de sair dali, no entanto, ele segura meu braço e eu o observo por alguns segundos, sentindo sua mão vir até meu pescoço e me segurar com força.

– Tá muito cansado? – ele pergunta, me olhando nos olhos. 

– O que quer fazer? 

– Preciso mesmo dizer? – nego com a cabeça. – E você quer? 

– Tá me segurando pelo pescoço por quê? Quer ter um pouco mais bruto dessa vez? – pergunto de volta e ele concorda com a cabeça. – Então seja. – é aí que começamos. 

Não paramos até que o sol nascesse e ele realmente foi bem mais violento do que geralmente é comigo. Jamais em toda a minha vida pensei que fosse gostar desse tipo de relação, mas acabei gostando muito – tanto que dessa vez fui até mais difícil de ser saciado. Acho que foi nessa noite que descobrimos nosso verdadeiro tipo de sexo. 

Pegamos no sono tão cansados que no outro dia acordamos apenas porque o celular dele não parava de tocar. Aparentemente alguém tinha uma grande necessidade de falar com Alex.

– O que foi? – ele atende o celular, colocando no viva-voz.

– Onde estava? – a voz da mãe dele toma conta do quarto.

– Dormindo. – ele responde.

– Às 14h? 

– É sábado, mãe, o que aconteceu? – ele pergunta. 

– Levanta dessa cama, seu pai foi assassinado. – instantaneamente Alex se senta na cama, me encarando. 

– O que foi? –  pergunta, como se de repente toda a ressaca tivesse desaparecido de seu corpo.  

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