Prólogo
ANY GABRIELLY
Sábado
Garçonete de um bar, às vezes me pergunto se valeu a pena estudar por 17 anos da minha vida. Bom, eu tinha o sonho de ser cantora, mas esse sonho já foi por água abaixo igual minha dignidade.
Eu não vou ser uma filha da puta e dizer que é horrível trabalhar aqui, José, que é o meu adorável chefe, sempre me tratou super bem. Já cheguei a cogitar que ele dava em cima de mim, mas um tempo depois descobri que dá fruta que eu gosto, ele chupa até o caroço... Brincadeiras a parte, nos damos muito bem.
Também tenho minha companheira de turno, Sabina. A gente já se divertiu muito quando era hora do fechamento, segundo ela, se não fosse eu em sua vida, ela já teria enlouquecido. Eu não discordo, sou o tipo de pessoa que melhora o dia que qualquer um.
Trabalho aqui desde os meus dezessete, que era quando eu ainda estudava, daqui uns dias irei completar os tão sonhados dezoito. Não que eu mereça uma festa ou algo do tipo, mas já fiz tantos amigos nesse lugar que José fez questão de programar algo. Eu só espero ganhar um presente bom, caso contrário coloco laxante na bebida de todo mundo... É brincadeira, sou incapaz de fazer mal a uma mosca... a menos que ela me irrite muito, aí não tem quem aguente.
Soltei uma risada sozinha e vi o pessoal da última mesa se levantar para pagar. Sabina saiu rapidamente para recolher as coisas e eu fiquei para acertar.
— Quanto deu, querida Gabrielly? — perguntou Bill me fazendo rir. Esse sem dúvida é o cara que mais vejo aqui, ainda acho um milagre ele ter um fígado...
— Quer mesmo saber? — pergunto em um tom divertido e seus amigos dão risada com ele.
— Não, só passa o cartão. — assenti ele me entregou.
O cartão era acionado por aproximação, então só digitei o valor e passei imprimindo a via.
— Seu aniversário é na... — prolongou a frase esperando uma resposta.
— Quinta. — entreguei seu cartão de volta. — Um belo dia pra beber e comprar um presente. — digo com um sorriso e ele dá risada.
— Tá pra nascer uma menina como você Any. — sorri. — Costumamos ir no outro bar, mas as moças de lá não eram tão simpáticas, e olha que só bebíamos.
— É o meu trabalho Biil. — digo me escorando no balcão. — E vocês nunca me faltaram com respeito, pelo contrário, sempre me ajudaram quando tinha um babaca ou outro ali. — sorri.
— Ninguém mexe com nossa Gabrielly. — ele bateu o dedo no meu nariz e eu ri. — Tenha uma boa noite Any.
— Vocês também. — acenei vendo eles saírem do bar.
Sabina apareceu na minha frente segundos depois e deixou o pano sobre o balcão.
— Deixa que eu fecho Bina. — digo ao notar o cansaço em seus olhos.
— Não amiga, falta pouco. — neguei.
— Amanhã é minha folga. — sorri. — Pode deixar que eu encerro. — Sabina apenas parou de discutir e se despediu me abraçando.
Sabina trabalha em dois empregos para ajudar sua mãe. De manhã ela é recepcionista em um pequeno estúdio de tatuagem, e quando seu turno lá acaba ela vem direto pra cá. Eu já canso em apenas um, imagine ela...
...
Terminei de tirar o lixo e olhei em volta para ver se não esquecia nada.
— Tudo certo. — digo pegando a chave na minha bolsa e saio do bar.
Coloquei o saco de lixo no chão e tranquei a porta. Dei um pequeno empurrão com o pé para ver se estava realmente trancada e peguei o lixo novamente.
Devolvi a chave para a minha bolsa e atravessei aquela rua vazia correndo.
José já me disse que não preciso tirar o lixo, já que as caçambas ficam um pouco longe do bar. Porém amanhã é minha folga e não vejo problema em adiantar o serviço que ele faria de manhã.
Caminhei em silêncio e assim que ia virar para ter a visão da caçamba de lixo, escuto um som alto que me obriga a parar. Tive apenas a visão de uma pessoa caindo no chão e junto dela foi meu saco de lixo.
Sabe, eu poderia jurar que estava sendo gravado um novo filme, até porque esse lugar me parece bem sombrio. Mas do meu pouco conhecimento, aqui deveria ter uma grande equipe e vários carros em volta, ou seja, isso só pode significar uma coisa.
— Chefe. — escuto uma voz mais distante e logo os três caras que estavam ali se viram me olhando.
Altos, vestidos de preto e pela pequena sombra, todos amados.
Eu poderia gritar? Claro que eu poderia, mas no momento não conseguia fazer isso. Parecia que tinha algo na minha garganta que me impossibilitava de reproduzir qualquer som de desespero.
Dei um passo para trás na tentativa de sair correndo para escapar com vida, mas parei no mesmo instante quando escutei uma voz um tanto ameaçadora.
— Mais um passo e eu atiro. — sua voz me atingiu em cheio e por algum motivo estranho meu corpo arrepiou. Eu acharia bem sexy na verdade, se eu não estivesse apavorada.
Sua silhueta se aproximou de mim e eu levantei as mãos ao ver sua arma apontada na minha direção. Seu rosto estava descoberto, e olhando mais de perto consegui notar seus cabelos loiros e seu maxilar bem desenhado.
— E-eu não vi nada. — digo controlando meu nervosismo e ele se aproxima mais.
— Você viu muita coisa menina. — engoli seco.
— Juro que não vi. — tentei parecer normal. — Nem estava com os olhos abertos. — tapei meus olhos com as mãos e naquele silêncio consegui escutar uma movimentação atrás de mim. — Por favor não me mata, prometo não contar nada. — implorei ainda de olhos fechados. — Eu só estava no lugar errado e na hora errada.
— E quem me garante que você não vai direto para a polícia? — sua voz parecia ainda mais próxima e eu tirei minhas mãos do rosto.
Já ouviram aquele ditado brasileiro onde diz "Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come"? O quão errada eu seria se cogitasse a segunda opção?
Poderia jurar que morri e fui direto ao céu ao dar de cara com dois lindos olhos azuis. Estava escuro pra porra, mas ele estava tão perto que aquela iluminação merda do poste me permitiu notar isso.
Pisquei para sair do transe e lembrei de sua pergunta.
— Amor a vida. — digo séria encarando seus olhos. — Se você o matou, pouco custa me matar também. — ele se afastou e eu prendi minha respiração quando ele apontou a arma na minha direção novamente.
— Uma pena garota. — vi seu dedo parar no gatilho.
— Olha, se você me matar irei assombrar suas noites de sono. — comecei a falar nervosa. — E outra, você não vai querer conviver com a culpa de ter matado uma mera adolescente de 17 anos que só queria viver a vida e não dar de cara com 4 assassinos. — digo rapidamente e escuto um riso abafado atrás de mim.
Eu realmente não quero morrer, minha vida não é das melhores, mas tenho muito o que viver ainda. Quero conhecer a muralha da China, tomar café olhando a torre Eiffel, ficar bêbada em uma festa até dar pt e não me lembrar de nada no dia seguinte. Eu ainda sou virgem porra, não quero morrer virgem!
— Remorso é a última coisa que vou sentir na vida. — disse calmo.
Por que eu não estou com vontade de chorar? Por que o meu desespero não está mil vezes maior sendo que tem um cara apontando uma arma bem na minha cabeça? Eu não quero morrer, ainda mais se o motivo for a merda de um lixo.
— Escuta, a gente não pode chegar em um acordo? Sei lá, eu sei fazer estrelinha. — vi seu olhar mudar e novamente uma risada atrás de mim, só que dessa vez mais alta.
— Me dê um motivo convincente. — deu ênfase na palavra. — Para eu não puxar esse gatilho?
Poderia citar mil, mas neste momento estou achando minha vida tão insignificante... Eu poderia dizer que tenho muitos amigos que vão sentir minha falta, uma família que me espera para o almoço de domingo, até mesmo que tenho um cachorro que está esperando por mim neste momento para ser alimentado, mas algo me diz que ele vai cagar pra tudo isso, então...
— Bem, primeiro que você não vai querer sujar sua blusa da Armani com os meus miolos. — escutei mais risadas atrás. — Segundo, tenho 17 anos cara, me deixa viver. Quero beber, subir em cima de uma mesa de sinuca e rebolar ao som de Anitta. — parei de falar ao me lembrar de algo. — Coisa que eu nem sei fazer direito, aí já entra outro motivo pra viver, preciso aprender a rebolar. — ressaltei como se isso fosse realmente a coisa mais importante do mundo. — Também tem o fato que ainda não sei andar de bicicleta, meu pai foi péssimo nisso. — sua arma encostou na minha testa e o desespero bateu mais forte. — Não quero morrer virgem! — fechei os olhos com força quando me toquei da merda que disse.
Dessa vez tudo ficou em completo silêncio e eu senti sua arma desencostar da minha testa.
Abri meus olhos lentamente e vi que ele me encarava.
É isso? Eu consegui? Não vou morrer porque por algum motivo consegui convencer esse louco de que amo minha vida desandada?
— Não vai me matar mais? — pergunto e ele parecia apenas me analisar. — Suponho que eu possa ir embora agora? — digo com um fio de esperança.
— Nem pensar. — disse levantando um dedo e logo senti alguém me agarrar por trás.
— Não... — tentei me soltar, mas algo tapou minha boca e eu inalei algo muito forte que fez tudo escurecer aos poucos.
NOAH URREA
A garota desmaiou nos braços de Bailey e ele a pegou no colo.
— O que vamos fazer? — perguntou Krys.
— Coloquem ela no carro, atiro e jogo seu corpo no mar. — disse Josh guardando sua pistola.
— Ficou maluco? — digo vendo a menina nos braços de Bay. — Josh ela tem 17 anos, seguimos uma regra e...
— Essa regra não se aplica se a pessoa vê a gente cometendo um crime. — disse grosso me interrompendo. — Coloquem ela no carro, eu mesmo finalizo isso.
— Não posso deixar você fazer isso cara. — disse Bay fazendo Josh encarar ele.
— Como é? Está mesmo indo contra uma ordem minha? — perguntou em tom de ameaça.
— Josh, qual é? — disse Krys. — A garota não fez nada, temos uma honra.
— Eu quero que a honra se foda! — gritou. — Vocês tem noção do que pode acontecer se ela abre a boca?
— A gente cuida disso. — digo indo ao lado de Bay. — A menina tem 17 anos.
— O que eu tenho a ver com isso? — revirei os olhos.
— Que tal a gente levar ela pra algum lugar? Sei lá, damos um jeito de ganhar a confiança dela ou ameaçamos. — disse Krys e Josh negou virando as costas.
— Depois ela fica sabendo de tudo, nossos nomes, moradias, o que fazemos, como agimos, quando agimos, soltamos ela e fingimos que nada aconteceu? — disse nervoso voltando a nos olhar. — Não me peçam para confiar em uma adolescente de 17 anos!
— Não estamos te pedindo para confiar nela, estamos pedindo para confiar na gente. — disse Bay. — Joshua estamos juntos nessa cara, se você cair, caímos juntos. — ele olhou todos.
— Que saber? Foda-se! — disse irritado passando ao nosso lado.
Josh apenas entrou no carro e saiu cantando pneu.
Escutamos um toque de celular e eu peguei a bolsa dela. Vi que era sua mãe e desliguei o celular colocando em meu bolso.
— Vamos. — digo e seguimos para o carro.
Atravessamos a rua e eu abri a porta de trás ajudando Bay a colocar ela ali. Me sentei no banco da frente e Krys foi dirigindo.
— Acha que isso vai dar certo? — perguntou Krys ligando o carro e saindo em seguida.
— Errado não pode dar. — disse Bay no banco de trás.
— Ao menos ela é engraçada. — digo e eles dão risada. — Não quero morrer virgem. — murmurei rindo e coloquei o cinto.
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