ANY GABRIELLY
Quinta-feira

Bom dia Any com dezoito!

Me levanto dando pequenos pulos pelo quarto e com um sorriso no rosto. Deveria estar triste por estar longe da minha família, mas ao mesmo tempo não consigo pensar em outra coisa. 18 anos é tão... sei lá!

Me joguei na cama encarando o teto.

Quando completei meus 15 fiquei imaginando todo um futuro, namorar, morar junto, ir para festa, beber até ficar bêbada, dançar em cima de uma mesa de sinuca. — esse eu ainda não desisti.

Os 18 geralmente planejamos muita coisa, mesmo não sabendo o dia de amanhã. Olha só que ironia? Cá estou eu, refém de assassinos e escondendo meu aniversário sabe-se lá porquê.

Mesmo não cantando parabéns em uníssono, me sinto bem. Pelo menos não vou ter que ouvir um "com quem será" e depois ficar morta de vergonha porque não tem de quem depender. Enfim minha vida.

Corri até o banheiro e fiz minhas higienes.

Coloquei um conjuntinho preto e deixei o quarto em seguida.

Ontem eu resolvi me trancar no quarto, não para evitar o Josh, mas para colocar as ideias no lugar. O resultado foi... rufem os tambores..

Nada!

Exatamente NADA!

Minha cabeça foi e voltou, foi e voltou, toda hora no mesmo lugar: nós dois no sofá prestes a se beijar.

A minha consciência ficou gritando, "não Any, você fez certo, ele quer ou queria te matar". A verdade é que já não consigo mais esconder que realmente quero esse cara. Ele, Joshua, o loiro de olhos azuis mais fascinantes que eu já vi em toda a minha vida... E olha que nem é exagero.

Embora tenha tudo isso, não vou ficar dando brecha, na verdade não posso dar brecha. Vou me colocar no meu lugar e se ele estiver querendo — porque eu acho que ele quer, aí a gente vê depois.

Cheguei na mesa do café e os meninos já estavam ali, menos Josh

— Bom dia. — digo me sentando.

— Bom dia. — disseram juntos.

Peguei uma torrada e notei todos no celular novamente. Como eles conseguem? Sério? Meu Deus.

Revirei os olhos e assim que fui pegar a geleia uma pessoa se sentou do meu lado. De canto de olho vi que era Josh e engoli seco. Não esperava ficar tão nervosa ao ver ele de perto novamente...

Fechei os olhos rapidamente e voltei a tomar meu café.

— Josh, temos que ir buscar 8c hoje. — disse Noah me fazendo olhar ele.

— Vou sair agora, Noah, vão sem mim. — os três se olharam.

Pelo o que entendi, 8c significa arma, não sei qual tipo, acho que varia conforme a letra.

— Sem problemas. — Noah disse lentamente.

...

Terminei meu café na velocidade da luz e tirei o guardanapo do meu colo.

— Licença. — digo me levantando e sigo até a sala.

Encarei aquele sofá e foi automático a cena de ontem voltar na minha cabeça. Suspirei me sentando ali e peguei o controle.

...

Passei boa parte do dia ali vendo tv. Josh tinha saído e os meninos estavam se preparando para sair.

Vi que já ia dar sete da noite e desliguei a tv deixando a sala.

— Já vão? — pergunto vendo eles todos de preto.

— Uhum. — murmurou Bay. — Se quiser esperar a gente, vamos pedir pizza. — assenti.

— Mas se passar das 23h e vocês não estiverem aqui, eu mato todos no dia seguinte. — digo com uma voz ameaçadora e eles se olham.

— Achei que a refém aqui fosse você. — disse Krys me fazendo rir.

— Tchau, meninos. — subi para o quarto.

O que raios vou fazer até lá?

Entrei no quarto e me aproximei da varanda. Abri o vidro lentamente e aquele vento gelado bateu de uma vez.

Peguei alguns travesseiros e coloquei ali no chão. Levei a coberta e me sentei para ficar olhando o céu.

Como será que estão meus pais? Será que Sabina escreveu um lindo texto assim como faz todos os anos? Será que seria muito abuso meu pedir um celular? Só queria ver minhas coisas, seria um belo voto de confiança.

...

Senti meus olhos pesarem e me toquei do tempo que passei aqui fora.

Me levantei recolhendo as coisas e segui para dentro. Quando fui jogar na cama parei ao notar uma pequena caixa preta em cima.

Joguei tudo no chão novamente e me sentei na cama pegando.

Abri ela lentamente e minha boca abriu ao ver o que era.

— Meu Deus. — sussurro surpresa. É o colar que eu sempre quis, um morango onde na ponta tem chocolate!

Um sorriso enorme se instalou no meu rosto junto com a vontade de chorar.

Esse colar é caro, mas desde que vi ele me apaixonei. Sabina vivia dizendo que ia me dar de aniversário, mas toda vez que ela ia no shopping gastava seu dinheiro com outra coisa. No fundo eu sempre agradeci, não gosto de ver ela gastando dinheiro comigo.

Olhei a caixinha novamente e havia um pequeno bilhete.

"Feliz aniversário de 18, embora não tenha sido como os outros"

Fiquei encarando aquilo sem entender nada. Quem me deu isso?

Olhei para a porta e deixei o colar sobre a cama.

Saí do meu quarto e fui até o de Josh. Bati duas vezes mas ninguém respondeu. Por curiosidade abri e o mesmo estava vazio.

Bati no seu escritório e sem obter resposta eu abri também. O local estava escuro então deduzi que também estava vazio. Fiz o mesmo no quarto dos meninos, mas eles ainda não haviam chegado.

— Não é possível. — resmungo descendo as escadas.

Assim que pisei no último degrau a porta principal abriu me dando a visão do Josh com o celular no ouvido.

— Já cheguei, me dá um minuto que vou conferir. — disse grosso no celular e subiu sem ao menos me olhar.

— Oi né. — resmungo.

Se o Josh chegou agora, quem colocou aquilo no meu quarto?

Será que um dos meninos colocou assim que me sentei na varanda? Porque de fato eles saíram bem depois disso... mas se alguém sabia do meu aniversário, por que não falou nada?

Suspirei irritada e joguei a cabeça para trás. Odeio ficar curiosa.

Fiquei andando de um lado para o outro só esperando os meninos chegarem.

Alguns minutos depois a porta abriu e os meninos passaram com algumas bolsas nas mãos.

— Olá. — Krys disse sorridente.

Os meninos subiram e disseram que desciam logo.

Me sentei naquele sofá e fiquei encarando um ponto fixo no chão.

Ninguém vai me falar nada, é isso?

...

O tempo passou e já passava da meia noite também, o que resulta em hoje ser sexta.

Comemos pizza enquanto assistimos filme, o único que não participou foi o Josh, que disse estar com sono.

— Acho que deu. — disse Noah desligando a tv assim que o filme acabou.

Preciso tirar isso a limpo antes que eu enlouqueça.

— Meninos. — me levantei. — Olha, não disse nada porque me senti meio mal. — me olharam.

— Josh te fez alguma coisa? — perguntou Noah se levantando.

— Não. — suspirei. — É que eu... — encarei minhas unhas. — Completei 18 anos ontem.

— O quê? — disseram juntos e isso já foi o suficiente para descobrir que não foi nenhum deles.

— Any, por que não disse? A gente comprava um bolo. — disse Noah e eu neguei.

— Vocês sabiam minha vida toda, achei que soubessem do meu aniversário também, mas pelo visto me enganei. — forcei um sorriso sem graça.

— Eu devo ter visto, mas é muita coisa que acontece pra eu lembrar. — disse Noah e eu cruzei os braços. — Você poderia ter lembrado a gente.

— Não precisa se preocupar, só falei porque me senti mal depois. — encolhi os ombros.

— Posso te dar um abraço? — perguntou Bay e eu assenti.

Os meninos me deram parabéns e disseram que não ia ficar por isso mesmo. Fiquei preocupada com isso, não quero uma festa.

Me despedi deles e subi para o quarto.

Eu ia abrir a porta do meu quarto, mas parei no processo e olhei para o final do corredor. Acelerei meu passo e segui em direção ao quarto do Josh, não vou conseguir dormir até tirar essa dúvida.

Bati na porta duas vezes e não obtive resposta. Rodei a maçaneta e a porta estava destrancada.

Olhei para trás e abri a porta entrando de uma vez ali. A iluminação do quarto estava bem baixa, mas eu conseguia ver ele dormindo.

Me aproximei da cama e mordi o lábio inferior vendo aquele cara sem camisa novamente. O que você está fazendo Gabrielly?

Balancei a cabeça rapidamente e voltei para o meu foco.

— Josh? — chamo ele me aproximando mais. — Joshua? — balancei seu braço e ele se virou na cama.

— Any? — disse com uma voz rouca que fez até meu corpo arrepiar. — O que faz aqui? — cruzei os braços.

— Te dar um beijo de bom dia que não é. — debochei e ele se inclinou pegando um controle.

As luzes do quarto se acenderam e ele me olhou parecendo mais acordado.

— Que porra você está fazendo aqui? — perguntou grosso me fazendo revirar os olhos. — Noah não te disse que é proibido entrar aqui? — neguei.

— Já vou embora, só vim te agradecer pelo presente. — digo simples. — Como soube?

— Do que está falando? — joguei a cabeça para trás sem paciência.

— Não adianta fingir, sei que foi você. — Josh negou lentamente.

— Não sei do que está falando. — se virou na cama me dando a visão de suas costas. 

— Você sabe que ontem foi meu aniversário. — digo dando a volta na cama. — Por que não quer falar? — vi que seus olhos estavam fechados. — Joshua! — subi na cama balançando ele.

— Gabrielly, isso não é hora para querer me irritar. — disse bravo e eu dei de ombros. — Vai dormir!

— Não. — digo autoritária. — Não vou sair daqui até você admitir. — me sentei na cama cruzando os braços.

Josh ficou me olhando e segundos depois bufou irritado se virando para o outro lado. A luz do quarto diminuiu novamente e eu fiquei encarando ele dormir.

É sério que ele não vai falar?