5. Adrian e Elora

Alguns dias se passaram desde a reunião de Otto e Adrian com a Assembleia de Dávia. O príncipe se ocupou lendo livros sobre a história do reino e a evolução bélica do mesmo e passou grande parte dos dias ao lado do rei para entender a complexidade da governança. Já Milana, a mando de Agnes, passou a frequentar mais aulas de etiqueta para portar melhor como uma princesa. A preceptora queria tirar de uma vez por todas a ideia de Milana se tornar uma guerreira.

Uma forte chuva assolou Dávia por três dias seguidos, fazendo os treinamentos da guarda e as visitas de outros reinos serem adiadas. Os funcionários do castelo não tinham mais nada para fazer a não ser lustrarem diariamente a prataria e prepararem a refeição para o rei e teus filhos.

Em uma tarde onde a chuva cessava aos poucos, Milana estava em frente à lareira mexendo nas pontas de teus longos cabelos quando ela sentiu uma presença estranha no ambiente. A princesa levantou a cabeça e viu uma pessoa usando uma capa escura junto com um capuz passar pelo salão.

— Adrian? -ela perguntou assustada e se levantou.

Ele parou de andar e virou para a irmã, que ficou aliviada.

— Para onde está indo?

— Eu vou para o vilarejo.

— Para o vilarejo?! -exclamou assustada e o príncipe fez um sinal para que ela falasse mais baixo. — O que você vai fazer o vilarejo? -sussurrou rapidamente.

— Cassius me informou que o vilarejo está um caos por conta da chuva. Vou aproveitar que nosso pai está dormindo e irei ver os plebeus.

— Os plebeus ou a plebeia?

Adrian suspirou, rendendo-se, e Milana se segurou para não dar um sorriso de orgulho.

— Preciso saber como ela está, se aquele homem não a perturbou novamente.

— Adrian, isso é loucura. Primeiro que a chuva pode voltar a qualquer momento, segundo que a Assembleia não vai gostar nada se descobrir que você está... apaixonado por uma plebeia que você só viu uma vez.

— Eu não estou apaixonado, estou preocupado. Não se preocupe comigo, está bem? Voltarei logo, antes mesmo de nosso pai acordar.

Antes que Milana pudesse impedir a saída do irmão, Adrian andou rapidamente e saiu do castelo com teu cavalo sem que ninguém percebesse. Pela janela, a princesa o viu se distanciar do castelo e disse para si mesma.

— Que nossa mãe o proteja, meu irmão.

***

Pouco tempo depois, Adrian chegou ao vilarejo e se chocou com o lamaçal que dominava o local. Diversos plebeus tentavam retirar a lama de teus estabelecimentos e tuas casas, sem sucesso. Alguns olhavam para a misteriosa pessoa encapuzada, que amarrou o cavalo em um lugar seguro.

Ao perceber que os moradores estavam assustados com tua presença por conta do capuz, Adrian o retirou da cabeça e revelou tua identidade. Os plebeus ficaram boquiabertos ao verem o príncipe de Dávia novamente na aldeia e fizeram uma reverência coletiva.

— Alteza, o que faz aqui? -um ancião perguntou surpreso.

— Eu soube da tragédia que assolou o vilarejo e vim prestar minha ajuda.

— Não será necessário, Alteza, certamente tua roupa ficará imunda.

— Não será um problema para mim.

Adrian deu um fraco sorriso para o ancião e o gesto foi retribuído. O príncipe retirou tua capa e foi ajudar os plebeus. De fato, tua roupa simples começou a ficar suja, mas ele não se importou com isso. Um tempo depois, viu de longe Elora retirar rapidamente a lama que estava em frente à tua casa. Tua pele reluzente como a chama de uma lareira chamava a atenção junto com teus olhos verdes.

Feliz ao vê-la, Adrian foi rapidamente em tua direção.

— Elora?

— Alteza. -ela fez uma reverência e lhe deu um sorriso.

— Dessa vez você acertou o pronome de tratamento.

— Finalmente... Fiquei surpresa com tua presença por aqui.

— Eu não podia ficar no castelo sabendo que meu povo está sofrendo.

— Uma atitude honrada de tua parte, porém teu pai não ficará incomodado?

— Na verdade, meu pai não sabe que estou aqui, somente minha irmã. Retornarei ao castelo assim que fizer minha parte.

Um trovão distante fez com que todos olhassem para o céu, que voltou a ficar com uma tonalidade escura de cinza.

— Aquele homem voltou a te perturbar? -Adrian mudou de assunto.

— Felizmente não, graças à Vossa Alteza. No entanto, estou tendo que trabalhar o dobro para poder pagar pelas compras de alimentos.

— Onde você trabalha?

— Na loja de tecidos do sr. Eliseu, o ancião que veio falar com Vossa Alteza.

— Ele me pareceu um senhor muito simpático.

— E ele é, me ajudou muito quando minha família morreu de febre tifoide. -Adrian estreitou o olhar surpreso e Elora disse envergonhada. — Desculpe-me, eu não deveria estar falando de tragédias com Vossa Alteza.

— Não se preocupe, todos nós possuímos tragédias em nossas vidas.

De repente, a chuva voltou novamente, fazendo os plebeus irem rapidamente se proteger. Adrian e Elora ficaram em frente à casa dela e o príncipe viu de longe o teu cavalo assustado, mas que estava em um lugar seco.

— Vossa Alteza não poderá voltar agora, é muito perigoso.

— Eu sei disso, mas onde eu poderia ficar?

— Bom... Se não for muita audácia, Vossa Alteza poderá ficar em minha casa. Não possui o luxo do castelo, mas pelo menos poderá ficar em segurança.

— Fico grato com tua ajuda, Elora.

— Uma troca de favores.

Adrian e Elora sorriram um para o outro e entraram na casa dela. Havia uma pequena cozinha com utensílios simples e metálicos e uma mesa com quatro cadeiras, e um quarto do mesmo tamanho que possuía uma cama não muito grande e um armário onde estava as poucas roupas de Elora.

— Eu tomo banho na parte de trás da casa.

— Eu já ia perguntar isso. De fato, é uma casa pequena, mas estaremos seguros.

Elora assentiu com a cabeça e, no fundo, ficou feliz por Adrian estar em tua casa, visto que ela não recebia alguém há muito tempo. As horas se passaram e a chuva estava cada vez mais intensa. Extremamente preocupada, Milana andava de um lado para o outro em frente a grande janela do salão principal.

— Por Deus, Adrian... Onde você está?

— Milana! -o rei apareceu junto com Cassius e Agnes e a princesa parou de andar. — Você viu o teu irmão?

— É... Eu... Eu não o vi, meu pai.

— Não minta para mim. -ele pediu com um tom autoritário, que a fez engolir seco.

— Mas é a verdade, eu não sei onde ele está.

— Estamos há um longo tempo procurando o teu irmão. -Cassius disse com um tom preocupado.

— Procuraram no quarto dele? Na sala de espadas? Ou ainda na cozinha? -ela perguntou, tentando disfarçar o teu nervosismo.

— Procuramos no castelo inteiro, estamos desesperados. -Agnes falou.

— Milana. -Otto se aproximou da filha e teus olhos cinzas pediam súplica pela verdade. — O futuro rei de Dávia está desaparecido e o reino está sendo devastado por essa terrível chuva, me diga onde o teu irmão está.

Completamente rendida, Milana deu um longo suspiro e confessou.

— Ele está no vilarejo.

Os três ficaram boquiabertos e Otto perguntou ainda mais preocupado.

— E o que ele foi fazer no vilarejo?

— Ele aproveitou que a chuva estava parando e decidiu ajudar os plebeus, mas se eu soubesse que o tempo iria piorar, eu não teria deixado ele sair do castelo.

Otto passou a mão no rosto de um jeito tenso. Teu filho estava em um lugar totalmente fora de tua realidade e isso o desesperava muito. Agnes se aproximou de Milana e disse.

— Apesar do nosso desespero, não teria como você saber que a chuva iria voltar... E agora? O que faremos?

— Podemos esperar a chuva parar novamente e eu e meus guardas irmos até o vilarejo.

— Mas e se não parar, Cassius? -Otto indagou. — E se alguma pessoa mal-intencionada raptar o meu filho?

— Majestade, por favor, se acalme. -a preceptora aconselhou. — Teu filho é um rapaz esperto e saberá se defender.

— Disso eu tenho certeza, meu pai.

Milana deu um sorriso reconfortante para o pai, que apenas negou com a cabeça e disse para Agnes.

— Avise as cozinheiras que não irei jantar, perdi a fome.

O rei se retirou totalmente desolado e tua filha e os preceptores ficaram observando a tua saída.

— Cassius, eu gostaria de ir ao vilarejo e ajudar a procurar o meu irmão.

— Por Deus, Milana, você quer que o teu pai morra de desgosto? -Agnes interveio chocada.

— Agnes tem razão. Com o desaparecimento de Adrian, o melhor seria você ficar no castelo.

— Mas eu quero ajudar.

— Você já ajudou informando onde o teu irmão está. Agora só nos resta esperar esse temporal passar.

***

Na casa de Elora

A jovem estava ensinando Adrian a cortar alguns legumes para fazerem uma sopa, já que o tempo estava esfriando por conta da chuva.

— Lembre-se que as fatias não podem ser muito grossas ou muito finas, senão a sopa ficará horrível.

— Não é tão difícil quanto eu pensava. A realeza não tem a necessidade de ficar na cozinha, mas acho muito interessante a arte de cozinhar.

— Isso é verdade. Vossa Alteza está indo muito bem.

— Me chame de Adrian, por favor.

Ele sorriu de forma singela para Elora, que apenas abaixou a cabeça timidamente e observou o príncipe cortar cuidadosamente cenouras e batatas.

— Você nasceu em Dávia? -ele perguntou.

— Não, nasci em uma pequena aldeia no reino de Olympa.

— Há quanto tempo está aqui?

— Poucos anos, na verdade. Porém lembro que, no dia que cheguei, o reino estava em festa, pois era teu aniversário e de tua irmã.

— É uma grande coincidência. Está gostando daqui?

— Sim, é um reino muito hospitaleiro.

Adrian notou o tom triste que Elora utilizou e parou o que estava fazendo.

— Porém você sente falta do teu verdadeiro lar.

— Não é só isso. Sinto falta principalmente dos meus pais e de minha irmã mais velha.

— Eu entendo a tua dor, mas você não está mais sozinha, Elora.

O príncipe se aproximou sutilmente da plebeia, que prendeu o fôlego por poucos segundos e por fim disse.

— Você não deveria se preocupar tanto comigo, eu sou apenas uma plebeia.

— Você é moradora do reino que vou governar futuramente. Meu pai sempre prezou pelos governantes que conhecem e entendem o teu povo.

— Nota-se a realeza de Dávia tem uma filosofia dos demais reinos. Mas como é ser um príncipe?

— Difícil. -os dois deram uma leve risada e Adrian continuou. — Muitas responsabilidades, mas que acabam sendo gratificantes pois sempre foi o meu destino.

— Sem contar os protocolos que devem ser seguidos.

— Essa é a parte que eu menos gosto. Alguns protocolos eu acho... sem nexo algum, prezam pela desigualdade e eu não acho isso justo.

— Porém teu pai não pode contornar essa situação?

— Infelizmente não. Apesar de ele ser rei, algumas coisas são de responsabilidade da própria Assembleia de Dávia.

— Que lástima. -ela falou com um tom melancólico. — Porém, tenho certeza de que assim que você assumir o cargo de rei, tudo será diferente.

— Assim espero.

Os dois terminaram de fazer a sopa e a saborearam enquanto conversavam sobre assuntos aleatórios. Assim que a chuva cessou novamente, Adrian decidiu que era hora de partir, pois sabia que todos no castelo estavam preocupados com ele.

Elora o acompanhou até o teu cavalo e disse quando ele subiu no animal.

— Foi honra ter o príncipe de Dávia em nosso vilarejo.

— Não foi nada, Elora... Fico grato pela tua hospitalidade.

A jovem deu um leve e tímido sorriso e ele continuou.

— Tentarei aparecer mais vezes, eu prometo.

— Estarei a tua espera.

Eles se despediram e Adrian foi em direção ao castelo. Elora, ainda perplexa com o tempo que ficou o príncipe, não via a hora de vê-lo novamente.

***

Oii pessoal, tudo bem com vocês? Gostaram do capítulo de hoje? Ele está longo para comemorar as mais de 200 visualizações de "Honra & Coragem". Muito obrigada por tudo, vocês são demais! Agora voltando para o capítulo, o que acharam dessa aproximação de Adrian e Elora? O que será que vai acontecer com o príncipe quando ele retornar ao castelo? Deem suas opiniões e obrigada por lerem esse capítulo ❤

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