Sashay Away *Trixie*

Entrei na workroom.
-Este não é o set de Maury Pouich?
Caminhei em direção as queens, conversei com elas até o meu olhar cruzar o de Katya. Meu corpo tremeu, ela parecia surpresa, eu estou surpresa.
Me aproximei dela escondendo meus sentimentos. Ela me puxou para um canto.
-Eu senti saudade.
O QUE EU FAÇO?
-Eu também.
Senti meu rosto corar, ela sorriu e segurou em minha mão. Fudeu. Eu. Estou. Fudida. Inventei algo. Amnésia retrógrada? Sério? Preciso de um prêmio depois dessa.
Vi seus olhos se entristecerem, eu sinto muito meu amor, não tem outra saída. Fiquei ao seu lado o tempo todo, ela pareceu constrangida ao ficar ao meu lado, mas ao mesmo tempo não se afastou.

*

Segundo dia, mais loucura por aí. Companhia de avião? Podia ser companhia cristã, seria melhor. Katya parecia nervosa antes de entrar no palco, eu a abracei.
-Vai dar tudo certo.
Ela sorriu e me abraçou.
-Obrigada Tracy.
-Denada Bárbara.
Ela arregalou os olhos.
-Como sabe o meu apelido?
Comecei a tremer de nervoso. F.U.D.E.U.
-Eu n_não sei.
Ela me encarou séria. Ela sabe a verdade. Preciso atuar melhor.
-Talvez a minha memória esteja voltando.
-Ou talvez ela nunca tenha ido embora. -E com esse sussuro ela subiu no palco.

*

Apesar de eu ser uma mentirosa, ela defendeu minha roupa.
-Pare de defender seu namorado. -Disse Ginger furiosa.
-O QUÊ? -As queens ficaram chocadas.
-O que foi Ginger? Está brava por ser velha e não conseguir um namorado? É por isso que você fez essa sociedade de velhas rabugentas que não aceitam o novo padrão de drag? -As palavras apenas saíram da minha boca, pode me atacar, mas não ataque a Katya.
Violet olhava para mim e depois olhava para Ginger, essa puta estava se divertindo. As outras queens apenas me encararam boquiabertas. Katya tentou esconder o sorriso, mas ele não foi disfarçado enquanto bebia.
-Trixie...
A "buzina" tocou. Hora de voltarmos ao palco.
-Katya, me desculpa, mas você está na eliminação.
Meu coração parou, senti meus olhos se encherem de lágrimas, meu estômago deu um nó. Não consegui encará-la durante a dublagem, não quero que ela vá antes de conversarmos melhor.
-Katya, shantay você fica.
Sorri igual uma louca e abracei a pessoa mais próxima a mim; Pearl. Ela se assustou mas retribuiu o abraço.
A loira viu o abraço, ela parou ao lado de Ginger e ficou me encarando com ódio.

*

-VOCÊ FICOU.
Eu a abracei. Ela ainda estava brava, mas não recusou meu abraço. Seus olhos me encaravam furiosos, seus braços se cruzaram, eu sabia o que vinha a seguir.
-Primeiro você mente pra mim e segundo você abraça outro?
-Na verdade é outra...
-Eu te odeio Brian.
Eu sorri. Ela se irritou mais e bateu no meu braço repetidamente.
-Ai. -Disse eu em meio a risos.
-Para de rir seu idiota.
Ela queria chorar, eu a abracei. Bárbara continuava me batendo, mas não me importei e a abracei mais forte.
-Eu te odeio.
-Eu sei.
-Por que você a abraçou?
-Eu estava feliz.
Soltei-a.
-Por quê?
-Você está aqui.
Ela sorriu.
-Sim, eu menti.
Os tapas voltaram, ela bateu em meu peito.
-Eu sabia seu idiota. Por que mentiu?
Encarei o chão, não consigo olhar em seu rosto sem esconder a culpa.
-Não sabia o que dizer/fazer.
Ela bateu mais uma vez em mim e logo em seguida me abraçou.
-Eu te odeio muito.
-Eu te amo.
Mesmo estando escostada em meu peito eu vi seu sorriso e isso fez o meu dia.

*

Acordei com um pressentimento ruim, o que acontecerá hoje? Desci correndo do quarto, engoli o meu café da manhã. Brian sentou em minha mesa.
-Pra que essa pressa?
-D_desafio. -Falei com a boca cheia.
Ele riu muito. Engoli a comida.
-Qual a graça?
-Não tem desafio, vamos descansar hoje.
Eu o encarei e taquei pão em sua cara.
-Para com isso.
-Por que não me avisou antes?
-Por que eu deveria?
-Se fuder.
Ele riu e pegou em minha mão. Olhei em seus olhos e voltei a sentir que ele é meu.
-Vamos fazer algo.
-Tipo?
Dei um gole no meu energético.
-Podemos sair?
-Só pro restaurante da esquina.
Ele bufou.
-E se ficarmos aqui?
-Vamos comer?
Neguei com a cabeça.
-Não seu idiota. Vamos ficar no hotel.
-No seu quarto?
-Não sei.
-Eu gosto de quartos.
Eu ri, subimos pro meu quarto. A única exigência era deixar a porta aberta e assim fizemos.
Conversamos durante horas. As queens passavam pela porta do meu quarto e nós encaravam.
-Você foi muito corajoso em ler a Ginger.
-Você acha?
Ele assentiu.
-Me dá um beijo.
Ele se inclinou e eu o beijei. Todas as minhas inseguranças sumiram, eu perdi o fôlego, mas nós não paramos. Eu segurei em sua cintura e ele segurou em minha nuca.
-Que bonito.
Nos separamos imediatamente. Ginger aplaudiu e desencostou da porta.
-Isso não é proibido?
Eu encarei Brian, ele começou a rir, não me controlei e cai no riso. Ginger não entendeu de imediato.
-Eu não sou velha.
Paramos de rir aos poucos.
-Você irá para casa o mais cedo possível Trixie. Eu estou arrependido de ter ajudado nesse relacionamento.
Ele saiu bravo.
-Que grosso.
Nós voltamos a rir.

*

As peças foram um desastre e mais uma vez eu fui salva. Apenas salva. Estou com medo, não me sinto 100% aqui. Penso muito no Miguel, ele deve estar maltratando minha mãe, ela não merece isso.
Me lembrei do meu objetivo; ganhar 100 mil dólares e pagar a senhora. Respirei fundo e encarei o banco onde eu me sentava. A madeira era confortável e o visual é simples.
Não percebi que eu chorava. As lágrimas apenas caíam sem rumo algum.
Senti um perfume conhecido, essa pessoa me abraçou forte e me fez cafuné.
-Vai ficar tudo bem.
Me permiti desabafar.
-Eu estou com medo Brian. Não estou indo bem nessa competição e Miguel ainda está a solta. Eu não sei o que fazer.
Ele me abraçou.
-Não precisa ficar com medo. Estou aqui por você.
Eu deitei em seu colo, ele me fez cafuné.
-Eu te amo Brian. -Consegui dizer sem gaguejar.
Ele sorriu.
-Eu te amo Brian.

*

-Trixie Mattel, sinto muito mas você está na eliminação.
Fiquei surda por alguns segundos, o sangue subiu aos ouvidos. Encarei Pearl, eu a amo mas devo mandá-la para casa.
Dei tudo de mim naquela dublagem, pensei em tudo que me faz bem; ser drag, Brian, estar nesse reality, Brian, coisas rosa, já disse Brian?
Quando Ru disse aquelas palavras meu coração parou. Eu não consegui acreditar. Apenas agradeci e sai. Katya não me encarou, ela apenas encarou o chão e começou a chorar.
Eu errei, eu fudi tudo. Desperdicei uma grande oportunidade por estar com medo de falhar.

*

Sang esmurrou minha porta. Ele gritava e ameaçava derrubar a mesma, eu não liguei, apenas virei de lado na cama. Eu saí de RuPaul, joguei a minha grande chance fora.
O pior de tudo; não conseguirei pagar Maria, ela pagou tudo no hospital e eu queria retribuir esse favor.
-TRIXIE CARALHO ABRE ESSA MERDA.
Reconheci a voz. Ele continuava batendo na porta.
-VÁ EMBORA BIANCA. -Gritei de volta.
-PARECE QUE ALGUÉM ESTÁ VIVO.
A porta abriu e Bianca sentou na beirada da minha cama.
-Mas o quê...
-Grampo de cabelo. -Disse ele me mostrando o objeto- Você nunca sabe quando pode precisar. Você desistiu da vida só por que saiu de RuPaul?
Eu assenti. Ele revirou os olhos e respondeu delicadamente:
-Para de ser covarde. RuPaul ajuda sim, mas é você quem constrói sua carreira fora do reality. Existe vida pós RuPaul.
Eu ri. Sim, ele está certo.
-Katya ficou lá.
-Bom pra ele.
-Ele vai sair com a coroa e ainda vai me odiar.
Os olhos de Bianca observaram cada movimento meu.
-Por que te odiar?
-Ginger me odeia...
-Não precisa dizer duas vezes. -Ele suspirou- Olha, a Katya ama você, ela não vai te odiar por causa de uma queen qualquer.
-Tem razão.
-Essa queens de hoje são tão dramáticas. Esse é o seu momento, quer surtar?
Eu ri e neguei com a cabeça.
-Já surtei.
Ele riu.
-Eu não quero que Brian surte, às vezes ele não controla muito bem as emoções.
-Ele vai superar.
Suspirei não muito convencido com a resposta. E se ele não superar? E se ele tentar..., não, Brian nunca faria isso.

*

A manhã seguinte foi entediante. Acordei e fiquei jogando. Até o jogo me aborrece. Desliguei o console e tentei dormir. Flashback:
-Agora sorria.
Eu forcei um sorriso. Ele caminhou até mim e levantou o canto dos meus lábios, me fazendo rir.
-Perfeito.
Ele se afastou e andou em círculos, provavelmente procurando um ângulo pra foto.
-Mor.
Eu sorri e ouvi o barrulho do celular. A foto foi tirada. Eu andei até o loiro saltitante.
-Quero ver.
Ele me mostrou, até que não ficou ruim.
-Agora uma nossa. -Ele olhou ao redor -Ei moça.
A mulher se aproximou.
-Pode tirar uma foto nossa? -Ela assentiu- Nós vamos andar na faixa de pedestre de mãos dadas, aí você tira, ok?
-Ok.
Ela sorriu. E assim fizemos, agradecemos pela foto e sentamos no banco mais próximo.
-Eu sou muito sortudo.
-Por quê?
-Eu tenho você.
Eu sorri e o beijei. Realidade.
Acordei com a cabeça latejando, procurei por remédio mas não achei.
-Olá Brian, parece que voltou.
Miguel parou na minha frente. Eu vou vomitar! Meu estômago embrulhou enquanto meu padastro me puxava pela cintura.
Fiquei muito próximo, senti seu hálito de cerveja com cigarro e vomitei nele. Me senti melhor, mas ele não parecia bem. Me afastei rapidamente.
-Brian...
-Você mereceu.
Seus olhos brilharam de raiva, eu tenho que correr. Corri até o banheiro e me tranquei no mesmo.
-Você sente saudade de transar comigo.
Quase vomitei de novo. Preferi o ignorar, escovei meus dentes e me sentei no chão.
-Eu sinto saudade de transar contigo.
-Vá embora seu ridículo.
-Eu amava te ver com medo.
Minha náusea voltou. Tentei ignorá-lo, mas ele batia repetidamente no banheiro.
-Ei. O que faz aqui? -Disse Adore.
Adore? O que tá acontecendo?
-Quem é você?
-Uma drag queen e você vai sair daqui.
Ouvi Miguel a xingando. Mas Adore xinga muito mais. A porta bateu.
-Pode sair.
Eu destranquei a porta e me deparei com Adore loira.
-RuPaul não conseguiu te ligar, então ela me ligou. Você vai voltar pra competição.
Arregalei os olhos ficando boquiaberto. Fiquei tonto.

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