Trinta e Sete
Eu sei que estou em dívida com vocês e peço desculpas por isso. Mas agora estou de férias e pretendo terminar o livro o mais breve possível. Não colocarei datas de postagem para não ter pressão, mas todos os dias escreverei Homens que Imploram, e assim que os capítulos estiverem prontos, vou postar.
Alexia acordou sentindo a luz do sol em seu rosto. Espreguiçou-se e percebeu que estava sozinha na cama. Ao fundo, ouvia vozes distantes de crianças. Então se recordou dos acontecimentos da noite anterior e, com os olhos ainda entreabertos a se acostumarem com a claridade, sorriu. Não era um sonho. Ainda podia sentir o perfume de Miguel no travesseiro. Ele e Lira haviam realmente adiantado a viagem de volta para vê-la. Eles eram o que ela tinha de mais precioso e não podia negar.
Sentou-se com cuidado, sentindo seu corpo dolorido pelo cansaço da viagem e do pouco espaço que tivera para dormir. Lembrou-se do pedido de Clarinha e por um momento sentiu pena pelo que havia acontecido com a pequena. Sabia que ela precisaria de um tempo para assimilar o que havia acontecido, mas estava feliz por saber que a menina estaria rodeada de amor e nunca ficaria sozinha. Antes de levantar-se, a morena pegou seu celular na mesa de cabeceira e conferiu as horas. Dez horas e quinze minutos. Assustou-se ao ver o quanto tinha dormido e imaginou como estaria o namorado.
Depois de escovar os dentes, foi até a sala, resolvida a pedir desculpas por ter dormido tanto. As vozes infantis iam aumentando à medida que Alexia se aproximava do ambiente. Também era capaz de distinguir a voz de Miguel. Mas nada a havia preparado para a cena que viu. Sentado no chão, o moçambicano deixava Lira e Clara o "arrumarem". Akili estava auxiliando a melhor amiga, pegando o que ela pedia e que estava dentro da mochila. A morena ficou encostada na parede da sala, observando a interação entre o namorado e as crianças, seu coração a esquentar e desejar, mais que tudo, que fossem de fato uma família.
— Não é assim, Clara, a vovó ensinou que para fazer o turbante tem que enrolar duas vezes, não é, papai? — Lira ralhou com a amiga, que tentava amarrar o tecido na cabeça do novo tio, sem sucesso.
— É sim, minha menina. — Miguel se segurava para não rir, e Alexia, que continuava observando a cena
a distancia, gargalhou.
Os quatro presentes na sala se viraram na direção dela, admirados por vê-la acordada. Lirhandzo foi a primeira a reagir, deixando seus apetrechos no chão e correndo até a mãe.
— Mamãe! — A menina abraçou Alexia, como se não tivessem se visto no dia anterior. — O papai não me deixou te acordar, ele disse que tinha que te deixar dormir porque estava cansada. — Atropelou-se.
Clara também se levantou para conversar com a morena, não queria ser deixada de lado. Miguel e Akili continuaram sentados, deixando as meninas dominarem a conversa. De relance, desligando-se por um instante do amontoado de informações passado por Clarinha e Lira, Alexia olhou para o namorado, grata por seu cuidado. Ele falava sério quando disse que queria cuidar dela e isso enchia seu coração de ternura.
— ... aí o tio Miguel deixou a Lira entregar os presentes e a gente estava arrumando ele. A Lira disse que eu estava fazendo o turbante errado, mas eu gosto de fazer do meu jeito. — Clara completou, e a mais velha voltou a prestar atenção na conversa.
Era impressionante como aquelas duas meninas já mostravam tamanha personalidade mesmo com tão pouca idade. Clara já mostrava seu jeito excêntrico e único de ser, Lirhandzo tinha fortes convicções e espírito de liderança. Alexia soube que seriam mulheres muito especiais e teve certeza que queria muito ver aquilo acontecer. Ver sua menina crescer, participar da criação dela, incentivar. E queria o mesmo para Clara e Akili.
— Mas ele está lindo. — A morena disse com um sorriso irônico.
Miguel estava com o turbante meio colocado na cabeça, colares e pulseiras que Lira havia ganhado e uma capulana amarrada na cintura. Era possível ver também a tentativa fracassada de colocarem blush nele, as bochechas quase em tom vermelho. A filha havia dito que também tinha maquiagem de homem, mas não tinha certeza das proporções.
— O Akili foi meu assistente, mamãe. — A menina mais nova comentou, pegando em uma das mãos de Alexia e a levando para o centro da sala, onde estava o pai e o novo primo.
— Lexa, você vai deixar a gente te arrumar também? — Clarinha perguntou empolgada e a mais velha teve que pedir socorro ao namorado com o olhar.
— Isso, mãe! Vai ficar muito legal! — Lira corroborou, animada com a sugestão da amiga.
Miguel riu e se levantou, livrando-se do tecido da cabeça, mas continuando com a capulana amarrada na cintura.
— Meninas, a Lexi acabou de acordar, vamos dar um tempo para ela, tudo bem? Ela precisa tomar o café primeiro. Arrumem uma à outra, por enquanto. — Ele disse, mas viu como as duas se entreolhavam antes de se virarem para Akili, que parecia não entender o que elas queriam.
O moçambicano, aproveitando a distração das pequenas, foi até a namorada e a guiou até a cozinha. A morena entrelaçou sua mão à dele, seu cansaço sendo esquecido por alguns instantes, substituído por uma sensação de lar que já lhe era comum. Não disseram nada até que ela se sentou à mesa. Não precisavam dizer. O silêncio não era desconfortável entre eles. Já se conheciam o suficiente para se comunicarem com o olhar, e esses expressavam sentimentos profundos demais para serem ditos com palavras.
— Obrigada por cuidar de tudo. — Ela agradeceu, assim que ele lhe entregou a xícara de café e deixou o bolo em cima da mesa.
— Eu disse que cuidaria, assim como você cuidou de mim lá em Moçambique. — Miguel respondeu, sentando-se na frente dela.
— Você está lindo todo maquiado e com a capulana amarrada. — Alexia disse, prendendo os lábios com os dentes para não deixar escapar sua gargalhada.
— E você ama me ver nessas situações, né? — Ele provocou, sem importar-se realmente em ser visto daquele modo.
Alexia parou de rir por um momento e só o encarou, enquanto bebericava o café. Sabia que os dias anteriores haviam sido turbulentos, muitas coisas aconteceram em pouco tempo, e que demoraria um tempo para que tudo se estabilizasse, mas estava feliz como nunca havia estado. Ele era tão diferente de todos os outros que havia namorado, tão único, e talvez era por isso que seu coração o amava tanto, de um jeito que nunca havia amado, não era só paixão ou empolgação momentânea.
— Vai ficar me encarando e admirando minha beleza? — Miguel disse depois de um tempo, percebendo que a namorada não dizia nada em resposta.
— Eu te amo. — Ela disse por fim.
Ele já devia estar acostumado com o jeito espontâneo da morena, com suas declarações de amor. Mas a cada vez que ouvia aquelas palavras, seu coração se remexia em seu interior e a certeza de que a queria em sua vida para sempre só crescia.
— Eu também te amo. — Ele falou, esgueirando-se para acariciar o rosto dela. — Mas quero que deixe as meninas te arrumarem também, não é justo que só eu tenha que passar por isso. — Brincou e ela riu.
— Mugui! — Ralhou, mas conservava um sorriso emocionado. — Obrigada por cuidar das crianças por mim, eu pensei que tinha mais forças para aguentar, mas meu corpo não me obedeceu.
— Sei que estava cansada, não precisa se desculpar por isso. E não foi trabalho nenhum, já estou acostumado com a energia da Lira e é bom treinar para quando forem nossos outros filhos. — Alexia, que estava com o bolo a meio caminho da boca, parou quando o ouviu, deixando-o outra vez no prato.
— Nossos? Não, Mugui, nosso. Só mais um. — Miguel, que estava esperando ela mudar de assunto ou se esquivar, sorriu satisfeito ao ver que ela entrava no assunto e fazia seus próprios planos.
— Não dois? — Ele provocou outra vez.
— Só mais um. — Sentenciou ela, voltando a comer.
Eles começaram a conversar sobre o que tinham que fazer, planos para o dia e o mês que se acercava. A sincronia que emanava deles era quase surreal, o quanto se entendiam e torciam um pelo outro, mesmo em pequenas coisas.
— Você vai ver a padaria hoje? — Alexia perguntou depois de um tempo.
— Sim, Pedro mandou mensagem hoje cedo, disse que já está quase pronta a reforma. — Contou ele.
— Amanhã finalizo o projeto do banner de entrada e os panfletos, tenho que ir à gráfica para encomendar o que ainda falta. — Comentou a morena.
— Então temos que aproveitar nossa manhã juntos, porque pressinto que as próximas semanas serão corridas. — Miguel constatou, e ela assentiu.
Ele estava certo. Depois de passarem a manhã com as crianças, os dois souberam que precisavam voltar à rotina normal. Alexia ainda passou aquele dia em casa com o sobrinho, a concunhada e a filha. Clara chorava algumas vezes ao lembrar-se do pai, e era bonito ver como Lira e Akili estavam dispostos a ajudar a amiga a suportar aquela dor. A união entre eles era algo que a morena admirava muito. Mesmo com pouco tempo de convívio, eles se tratavam como se tivessem passado toda a vida juntos. Queria que os adultos fossem como as crianças, que demonstrassem o que sentiam em ações, que não demorassem tanto a demonstrar seus sentimentos, e que tivessem o coração puro e aberto. Por um momento, desejou que aquelas crianças não conhecessem mais da maldade do mundo, elas não mereciam.
Miguel foi até seu estabelecimento sozinho naquela tarde, com o carro emprestado de Alice. Lembrou-se da oferta de Pedro e pensou que era hora de aceitar. Precisaria de uma nova moto ou carro para deslocar-se entre a padaria e a casa da namorada, já que passava mais tempo lá do que em sua própria casa. Quando chegou ao local, ficou impressionado com as mudanças que foram feitas durante o mês que estivera fora. O exterior estava pintado em verde claro e branco, a fachada antiga havia sido substituída por uma nova, que apenas esperava o banner com o nome da padaria para ser colocado ali. Mas o que mais o deixou surpreso foi ver a mudança no interior. O piso fora trocado, as paredes pintadas em tons claros, o forro consertado, mesas trocadas por novas, mais sofisticadas.
Dois ou três pedreiros ainda trabalhavam no local. Faltavam alguns detalhes para terminarem, como a pintura da cozinha e os novos equipamentos. O moçambicano imaginou quanto fora gastado naquela reforma e quanto tempo demoraria para pagá-la, mas logo espantou seus pensamentos. Ele conseguiria, com a ajuda de Alexia e sua família, sabia que conseguiria. Em seu interior, deu graças por ter a morena em sua vida. Sem ela, tudo aquilo não passaria de um sonho distante. Lembrou-se da empolgação com que ela fazia tudo para ajudá-lo e pensou em modos de retribuir, fazer o mesmo por ela, ajudá-la a realizar seus próprios sonhos.
A casa continuava sem reforma, já não sabia quanto tempo viveria ali. Era muito pequena para comportar uma família, e já que era certo o quanto queria aquela brasileira de olhos verdes em sua vida, precisava pensar que logo aquele lugar já não seria suficiente para ele e sua família. Essa palavra tocava o interior do moçambicano. Naqueles últimos meses ela havia recebido um novo significado para ele, e sabia que havia encontrado seu lar no Brasil, depois de tantos anos a cuidar sozinho de tudo. Como a reforma estava a todo vapor e a casa estava cheia de poeira, decidiu que deixaria Lira ficar na casa da namorada até o término dos trabalhos ali. E ele próprio pouco tempo passaria ali.
Depois de conferir os trabalhos, foi até a empresa de Pedro, onde seus funcionários estavam trabalhando durante a reforma da padaria. Na cantina da empresa, tudo estava em ordem e ele se comprometeu a voltar a trabalhar logo no dia seguinte.
Alexia ainda tinha até o fim de semana sem voltar a trabalhar na escola. Mas isso não significava que estava com tempo ocioso. Logo na primeira tarde, encarregou-se de terminar o projeto gráfico da padaria do namorado e resolver as questões pendentes. Também tinha que organizar a rotina e cuidar de Lira durante o período que a garotinha passava ali. Nos dias seguintes, praticamente só via Miguel durante a noite, mas os poucos momentos que tinham juntos já superavam todos os outros em que seu coração ardia de saudades.
Pedro e André estavam resolvendo as pendências sobre a guarda de Clara e outras questões legais a respeito da herança. Alice ainda trabalhava, mas já estava no sétimo mês de gravidez, então todos ao seu redor começaram a cobri-la de cuidados, temendo que algum deslize atrapalhasse o desenvolvimento dos bebês.
— Sério que vocês vão me tratar como uma inválida? — Irritou-se Alice, ao ser dispensada da cozinha pela quinta vez consecutiva.
Era domingo e as três irmãs resolveram reunirem-se para um almoço em família, o primeiro depois da viagem de Alexia. E isso incluía Miguel e Lira, que já eram parte essencial da vida da Ribeiro caçula. Pedro e André tentavam, sem muito sucesso, na varanda lateral à cozinha, acender a churrasqueira nova que haviam comprado naquela semana. Miguel, olhando pela porta, ria do esforço dos cunhados, mas estava ocupado terminando de decorar o bolo que seria servido como sobremesa. As crianças estavam na sala, mas de tempos em tempos invadiam a cozinha em busca de algum petisco que pudesse aplacar a fome que sentiam.
— Lice, não estamos te tratando como inválida, mas não vamos te deixar ajudar a assar a carne. — Alessandra falou, a voz com um quê de autoridade.
— Sério isso? Eu estou grávida, não inválida. — Bufou a irmã do meio, ainda em pé perto da porta, olhando para o trabalho fracassado do marido e cunhado. — E eles vão demorar uma eternidade para assar. — Referiu-se à falta de jeito dos gêmeos para monitorar a churrasqueira.
Alexia riu do drama da irmã e se aproximou dela, sorrindo.
— Já viu o tanto de gente que tem aqui nessa cozinha? Ela não comporta todo mundo. — E sussurrando, prosseguiu: — Além disso, você está parecendo um balão prestes a explodir, imagina se essas crianças caem aqui no meio da cozinha depois que sua barriga estourar?
As duas nem se deram conta da presença de Akili, que havia retornado à cozinha em busca de algo que pudesse comer. O menino assustou-se com a fala da tia sobre a barriga de Alice explodir e arregalou os olhinhos cinzentos. Com temor, aproximou-se das duas tias e disse:
— A barriga da tia Lice vai estourar e os bebês vão voar? — Alessandra, que estava perto do fogão, virou-se na direção dos três e começou a rir.
Pedro e André também não contiveram as risadas. Apenas as duas Ribeiro mais novas ficaram sem reação e se entreolharam, percebendo a esperteza do garotinho em ouvir conversas, mesmo que sussurradas.
A do meio fulminou a irmã com o olhar, enquanto Alexia pensava em algo para dizer e não assustar ainda mais o sobrinho.
— Não, meu amor, eu só estava brincando. A barriga dela não vai explodir. Os bebês vão nascer no hospital. — Emendou a mais nova, e isso pareceu o suficiente para o garotinho, que as deixou ali e foi até a mãe, pedindo salgadinho para comer.
Depois de entrarem em um consenso sobre o que a do meio podia fazer, decidiram que ela iria ajudar a cortar os legumes, estando sentada. Enquanto isso, eles conversavam sobre o que havia ocorrido na semana, os planos para os bebês que deveriam chegar no mês seguinte e o que pretendiam fazer no último mês do ano. Com algum esforço, os gêmeos conseguiram terminar de assar a carne, Alexia e Alessandra terminaram o almoço e Miguel, a sobremesa. Já se passava das duas horas da tarde quando tudo finalmente estava pronto. Como era domingo e o último dia de férias da caçula, reinava naquele ambiente a letargia típica dos almoços em família nos fins de semana.
Com tudo pronto, sentaram-se à mesa e enquanto se serviam, mais assuntos surgiam e, como todas as outras vezes, as vozes das duas irmãs mais novas se sobrepunham às outras, com intervenções ocasionais de André, que era o mais falante entre os homens. As crianças estavam na mesa separada, conversando seus próprios assuntos.
Logo, os adultos começaram a questionar sobre os nomes indefinidos dos filhos de Pedro. Sim, Alice já estava no sétimo mês de gravidez e ainda não havia escolhido os nomes para os filhos. Ou melhor, as crianças ainda não tinham chegado a um consenso que pudesse ser utilizado por ela. Mas, em todo caso, já estava com alguns nomes em mente caso os três falhassem na escolha.
— Ei, até hoje seus filhos são anônimos? — Alexia perguntou à irmã, enquanto sorvia um gole do vinho.
— Meus ajudantes estão fracos, não veio nenhum nome utilizável até agora. — Brincou a do meio, olhando para a mesa das crianças.
Clara prestou atenção à conversa e teve uma ideia. Isabela, esse era o nome de sua mãe. Com sua perda recente, ela começou a refletir em sua curta vida e na falta que sentiria do pai. Percebeu também que era a única entre os amigos que não tinha alguém para chamar de mãe, já que até mesmo Lira havia escolhido Alexia como mãe. Lembrou-se de quando era bem pequena e sua mãe biológica a levava para o trabalho na casa de quem se tornou seu pai. Quase não se lembrava de seus traços, mas tinha uma vaga recordação das vezes em que ela cantava alguma canção de ninar quando não estava tão cansada depois de um dia de trabalho.
— Lica, eu sei que nome eu quero dar para a minha menina. — Clara falou e todos riram.
— O bom é que seus filhos já vão ter guardiões. — André brincou.
— Qual nome, Clara? — A irmã do meio perguntou, curiosa.
— Isabela. Era o nome da minha mãe. E como eu não tenho mãe, nem pai, seria legal colocar o nome dela para eu lembrar, né?
Alessandra sentiu seu coração encolher-se com a fala da pequena. Queria apagar todas as dúvidas que ela tinha e assumir aquele papel da vida dela, mas entendia que não poderia simplesmente falar sobre isso e pedir para que ela a chamasse de mãe. Porém, esperava, sinceramente, que a garotinha não se sentisse sozinha em seu novo lar, desamparada. Daria sua própria vida pela dela.
Todos na mesa sentiram o peso das palavras da pequena. Ela queria algo a que se agarrar, e aquela era sua oportunidade de homenagear a mãe que cedo demais havia falecido por complicações no parto. Alice não se aguentou e puxou a menina para um abraço, depositando um terno beijo no topo de sua cabeça.
— Claro, princesa, seu desejo é uma ordem. — A do meio falou, emocionada pelo pedido da garotinha.
Lirhandzo e Akili também saíram da mesa reservada a eles e se aproximaram dos adultos. A moçambicana sentou-se no colo de Alexia, enquanto o menino ficou ao lado do pai.
A caçula das Ribeiro pensou, por alguns instantes, se Lira também tinha o desejo de homenagear a mãe com o nome escolhido, principalmente depois de ver a amiga fazer isso. Ela abraçou a pequena e sussurrou:
— Você quer colocar o nome da sua mãe também?
A menina negou com a cabeça. Para ela, sua mãe era Alexia, a única figura materna que se lembrava. Apesar de não nutrir mágoa pela mãe biológica, principalmente depois da conversa que tivera com o pai sobre o que acontecera quando era bem pequena, Lira não via Nilai como sua mãe biológica. Sua situação era diferente da de Clara.
A garotinha espanhola estava órfã e passava por um momento de assimilação muito complicado, apesar de saber que tinha dois irmãos que a amavam. O conceito de família começava a mudar para ela, e ter algo sobre sua mãe biológica a deixava mais tranquila, mais pertencente ao meio. Já Lirhandzo havia escolhido uma mãe em seu coração e tinha o pai que sempre estivera ao seu lado, por isso não via motivos de repetir o pedido da amiga.
— Você é minha mãe, não pode colocar seu nome na bebê. — Explicou a menina.
Alexia sentiu seu coração esquentar-se com aquela fala. Era algo muito maior que laços de sangue e ela sabia disso. Eram mãe e filha, independente de fatores biológicos. A morena não teria ciúmes caso a pequena decidisse colocar o nome da mãe biológica na filha de Alice, mas não conseguiu conter o sorriso orgulhoso ao ver como ela estava convicta em sua escolha.
— E ainda não escolheu o nome para a menina que vai nascer? — A Ribeiro caçula tornou a perguntar.
— Escolhi. Jade. Igual a arara do Rio, o filme.
Alice gargalhou ao ouvir a explicação da escolha, e os outros não puderam conter a risada. Pedro protestou:
— Gostei do nome, mas imagina quando minha filha crescer e descobrir que o nome dela é por causa de uma arara?
— Mas é uma arara bonita, tio Pedro. — Lirhandzo se defendeu.
— Eu aceito. Pode ser Jade. — Alice concordou e a menina responsável pela escolha sorriu orgulhosa.
— Viu, Clarinha? Minha menina se chama Jade e a sua é Isabela. — A mais nova desceu do colo de Alexia e puxou a amiga para a mesa onde estavam anteriormente, já que haviam resolvido o assunto.
— Amo que elas tratam minhas filhas como se fossem bonecas. — A esposa de Pedro comentou, mas estava tranquila.
Sabia que seus bebês teriam tanto amor quanto as outras crianças da família. Por um momento, ela refletiu como tudo havia mudado em tão pouco tempo. Em sete meses, a família havia ido de cinco integrantes para nove, ou melhor, com os bebês que nasceriam, para doze. Ainda assim, estava muito feliz com aquele aumento e com a união que havia entre eles.
— Ei, meu filho ainda não disse o nome do menino, ele tem o direito de fazer isso, né? — André comentou e todos se viraram para os dois.
Akili ficou um tanto tímido ao ver que todos o esperavam, mas o pai o incentivou a dizer o que queria.
— Arthur. — Esse era o nome escolhido por ele.
— Gostei do nome, mas por quê? — Alice perguntou, e Alessandra olhou para o marido, tentando segurar o riso.
André havia viciado o filho no desenho antigo de Arthur, um porco-da-terra que ensinava as crianças a lidarem com problemas na infância. Akili estava tão aficionado naquele seriado, que aquele era o nome escolhido por ele.
— O desenho, Arthur. — O loiro explicou, e Akili assentiu, concordando com o pai.
— Ou seja, meus filhos vão ter nomes de personagens de desenhos infantis. Bela história para contar para eles. — Pedro resmungou outra vez e Miguel riu.
— Panda, não fica assim, eu gostei dos nomes. Pelo menos não é Raposo nem power ranger vermelho. — Alice consolou o marido e todos riram. — Então, recapitulando: Isabela, Jade e Arthur. Esses são os nomes das crianças, está decidido.
— Admiro sua tranquilidade em esperar sete meses para decidir o nome dos bebês, eu já teria escolhido no mesmo dia em que soubesse que estava grávida. — Alexia comentou, e Miguel, por alguns instantes, imaginou como seria quando a família deles crescesse por fim.
— Não dependia de mim. Eles pediram. — A do meio apontou para as crianças, que já conversavam sobre outros assuntos, ignorando a presença dos adultos.
Logo, o tema da conversa mudou e falaram sobre tantas outras coisas. O fim da gravidez de Alice, o retorno de Alexia à escola no dia seguinte, a inauguração da padaria de Miguel, no fim de semana seguinte, tantas coisas que ainda tinham por vir. Mesmo com a morte recente do pai dos gêmeos e Clarinha, era evidente como aquela união entre eles ajudava a curar as recentes feridas, a cicatrizá-las aos poucos.
A caçula das Ribeiro não imaginava que naquele ano tanto aconteceria. Que se veria como mãe de uma garotinha de nove anos, que encontraria o verdadeiro amor em si mesma e que amaria alguém como nunca havia feito antes. De um modo totalmente único. Olhou para o namorado, imaginando o que mais a vida reservaria para os dois, mas tinha a certeza que estava na direção certa, com as pessoas certas.
Diz se o Miguel não é a coisa mais fofa desse mundo? O que acharam do capítulo? Gostaram da escolha de nomes? Próximo capítulo, mais emoções. Falta bem pouquinho para acabar, perseverem comigo nessa encantadora história de amor.
Volto em breve, alecrins!
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