Capítulo 3
Eram aproximadamente nove horas da noite quando eu e meu pai fomos para o bosque. Antes de fazermos uma caçada, nós montamos estratégias para pegar um mortal, eu sou ótima em escalar árvores, já meu pai é um expert em camuflagem. Nós não ficamos tão próximos, mas quando sentimos cheiro de sangue, usamos nossa supervelocidade e, em um piscar de olhos, estamos atacando um mortal. O bosque não é tão movimentado à noite, mas eu e meu pai conseguimos matar dois ou três mortais, o que é suficiente para as próximas semanas.
Uma fria brisa assopra meu cabelo negro, mas não estou com frio, já que estou usando uma roupa de couro preto, que é perfeita para as caçadas. Meu cabelo está preso com um rabo-de-cavalo e tenho uma adaga escondida na minha manga. Eu e meu pai estamos caminhando lentamente, para não fazermos barulho. Meu pai está vestindo uma camiseta preta, uma calça da mesma cor e um casaco marrom. Ele também tem uma adaga, só que está escondida no bolso interior do casaco.
-Você entendeu o esquema, Katherine? -ele pergunta e eu assenti. -Se afaste por uns cem metros e suba em uma árvore... Qualquer problema na hora do ataque, crave a adaga no pescoço do mortal, não vou demorar muito para te ajudar.
-Tudo bem, papai... -me afasto, mas escuto meu pai me chamar.
-Katherine?
-Sim? -me viro para ele.
-Boa sorte.
-Pra você também.
Ando pela floresta, mas em um piscar de olhos (literalmente, já que eu usei supervelocidade) estou em cima de uma árvore. Me posiciono em um forte galho, me encosto no tronco e espero minha primeira vítima aparecer. Fecho meus olhos por um momento e aqueles flashbacks voltam novamente: agora eu e uma pessoa (a mesma do meu outro flashback) estamos encostadas em um carro e conversamos animadamente. Essa pessoa pega na minha mão e eu sorrio. Estranho... Vejo apenas o meu rosto e a mão da pessoa segurando a minha, não vejo o rosto dela... Obviamente, é um rapaz, mas... Quem é?
Volto à vida real, mas da pior maneira possível. Me desequilibro e caio de uma altura de oito metros. Bato meu rosto no solo e gemo de dor. A adaga escondida também cai, por sorte, não perfura o meu braço, mas fica a alguns metros longe de mim. De repente, escuto uma voz masculina. A voz da minha vítima.
-Olá? Quem está aqui?
-Droga... -sussurro, me arrasto para pegar a adaga e me escondo atrás de um arbusto.
Olho para trás e vejo um homem parado, olhando para algum lugar, espero que não seja para mim. Toco no meu braço direito, sinto uma dor imensa e mordo meu lábio para não gemer muito alto. Alguns segundos depois, o homem desiste e vai embora. Me levanto, me encosto novamente no tronco da árvore e me contorço de dor. Ando lentamente para a trilha, abaixo a cabeça, sinto um arrepio passar pela minha espinha e, quando levanto a cabeça, levo um susto. Meu pai está na minha frente e sua cara não é das melhores. Ele segura fortemente no meu braço direito e eu me seguro para não chorar.
-Onde é que você estava, Katherine? -ele diz, com muita raiva.
-Eu... Eu estava encima de uma árvore e pronta para atacar até que... Eu me desequilibrei e caí da árvore. -toco no meu braço direito e falo com uma voz embargada. -Meu braço está doendo muito...
-Depois nós resolvemos o problema com o seu braço, Katherine. -ele fala, nem um pouco se importando com o meu braço. -Como você pôde cair de uma árvore? Já fizemos inúmeros exercícios para o seu equilíbrio e acontece isso?!
-Me desculpa, pai, eu sei que eu errei... -digo, chorando por causa da dor.
-Engole esse choro! -meu pai ordena e eu tento controlar meu choro. Meu pai passa as mãos nos cabelos e fala. -Foi por causa do seu erro que a nossa primeira vítima conseguiu escapar! Você é uma inútil mesmo, Katherine!
Ao ouvir essas duras palavras, tenho ainda mais vontade de chorar, mas como meu pai detesta lágrimas, eu tenho que me controlar. Alguns minutos depois, quando estou mais calma, um vento assopra meu cabelo, meu pai se aproxima de mim e sussurra no meu ouvido.
-Eu estou muito decepcio...
De repente, escutamos um barulho. Alguém está se aproximando. Meu pai pega minha adaga, me dá um leve empurrão e a entrega para mim. Meu braço ainda está doendo, mas isso não impede que meu pai garanta seu jantar.
-Dessa vez, ataque, Katherine... Não me decepcione.
Ele empurra novamente e eu ando lentamente pela trilha. Tenho certeza que meu pai está escondido no meio das árvores. Sinto que alguém está se aproximando. Um mortal. Instantes depois, eu encontro um jovem bêbado, cambaleando. Me aproximo, mas acabo pisando em algumas folhas, denunciando minha presença. O jovem olha para mim com um jeito malicioso, pego minha adaga discretamente e a seguro fortemente. Ele se aproxima e dou um passo para trás, estou com medo do que ele vai fazer.
-Olha... -ele diz, com uma voz arrastada, seu cheiro me causa ânsia. -A gatinha se perdeu? -tento me afastar, mas o bêbado segura meu pulso e faz o meu corpo ficar colado no dele. Agora meu medo está ainda maior. Tenho que atacá-lo. Agora. -Você quer... Que eu... Te ajude? -o bêbado passa sua língua pelo meu pescoço e tudo o que sinto é nojo.
Não penso duas vezes e cravo a adaga no ombro do bêbado. Ele urra de dor. Dou um chute na sua barriga, fazendo-o cair. Fico por cima dele, seguro fortemente seus pulsos, tiro a adaga e mordo seu pescoço. Sinto o gosto de seu sangue. Delicioso. Doce. Delicioso. O bêbado tentou gritar, mas foi inútil; eu venci. Olho em seu rosto sujo de terra, seguro em seu pescoço e escuto um leve 'clac!'. Eu quebrei o pescoço do bêbado. Agora sim eu estou aliviada. Mas meu pai não apareceu ainda. Onde será que ele está?
-Pai! Pai! Pai! -o chamo aos berros, ele aparece rapidamente no meio das árvores e olha para mim e para a minha vítima.
-Parabéns Katherine. -ele diz, sem nenhuma reação e se aproxima de mim.
-Eu consegui, papai. -digo, extremamente orgulhosa. -Eu consegui.
***
Alguns dias se passam. Eu continuo indo para o colégio mesmo com a minha desavença com a Chelsea, aliás nós não brigamos ou nos encaramos novamente, pra mim isso é ótimo. Ao contrário do namorado dela, que fica me seguindo para onde eu vou... Depois eu que fico atrás dele, não é?. Eu e meu pai não tocamos mais no assunto Chelsea, mas tenho a impressão de que ele está pensando em fazer alguma coisa para se vingar por mim. Eu tive outros flashbacks com aquela mesma pessoa... Com aquele rapaz, em um dos flashbacks o rapaz está se afastando de mim e eu o olhava com ódio... Que estranho, em alguns flashbacks eu e esse rapaz estamos em um clima agradável, mas em outros eu estou com muito ódio dele... Por que será? E quem é ele?
Em uma tarde, eu e Renna estamos sentadas no gramado do colégio, ao lado do campo de esportes. Olho para o céu, que está alaranjado e avermelhado. Daqui a pouco, é a hora da saída. Observo também Chelsea dançar com algumas amigas no campo, ela é uma líder de torcida. O namorado dela está participando de um jogo chamado futebol americano, algo bem comum no país... Ótimo, pelo menos ele não vai ficar me encarando o tempo todo.
-Que bom que você e a Chelsea não brigaram novamente, não é? -Renna comenta, me despertando dos meus pensamentos.
-Sim... Eu não fico no caminho dela e ela não fica no meu caminho, simples assim.
-Você não é normal, Kate. -fico assustada com o seu comentário. -Ninguém nunca enfrentou a patricinha desse colégio...
-Mas pra tudo tem uma primeira vez, não é? -Renna dá uma leve risada, concordando comigo, e eu retribuo o gesto.
De repente, a vários metros de mim, vejo um homem escondido atrás de uma árvore, bem perto do colégio. É o meu pai. Mas... O que ele está fazendo aqui?... Meus pêlos ficam arrepiados e olho fixamente para ele, que também me encara.
-Kate? Kate? Kate... -Renna balança a mão no meu rosto e eu volto à realidade. -Está tudo bem?
-Oh... Sim, eu só... -me levanto e limpo a sujeira que ficou na minha calça. -Eu vou ao banheiro.
-Ah tudo bem... Não demora, por favor.
Eu sorrio para Renna e me afasto. Olho para trás para ver se alguém está me seguindo e me aproximo da árvore em que meu pai está encostado. Ao me ver, ele arqueia as sobrancelhas e põe as mãos nos bolsos da calça.
-O... O que o senhor está fazendo aqui? -pergunto, extremamente nervosa.
-Eu não posso visitar minha amada filha?
-Eu te conheço, papai... Você não iria a um lugar cheio de mortais à toa.
-Bem... Isso é verdade... Estou aqui para conversar com a mortal que discutiu com você dias atrás...
-A Chelsea?! -pergunto, assustada. -O que o senhor quer conversar com ela?
-Eu vou convidá-la para jantar comigo no casarão essa noite.
O que?! Meu pai vai convidar a garota que eu mais detesto no colégio para jantar na minha casa? Não... Isso não está certo... Eu pensei que minha mãe era a única mulher que ele amava.
-Papai, eu não estou acreditando nisso...
-Pois acredite, Katherine.
-Eu achava que o senhor era fiel à minha mãe...
-E eu sou! Eu vou chamar aquela mortal para jantar porque eu tenho outros planos com ela.
Meu pai me olha de um jeito malicioso. Só depois de alguns segundos, percebo sua verdadeira intenção. Não sei porquê, mas uma lágrima escorre no meu rosto.
-Você vai matá-la... Essa noite.
-Exatamente... Não está feliz com isso?
-Sim, sim, eu estou, só que... Você pensou nisso tão de repente, eu...
-Katherine, faz dias que estou arquitetando esse plano, não contei nada porque eu queria fazer... Uma surpresa.
-É um ótimo plano, papai... Mas como vai convidar Chelsea para jantar?
-Preciso ficar à sós com ela... -olho para trás e percebo que Chelsea pára de dançar e se afasta de suas amigas.
-Agora é a hora perfeita, papai, Chelsea está sozinha... É aquela mortal loira que está usando um vestido laranja. -aponto para onde ela está.
-Ótimo... Me espere aqui, vou convidá-la para jantar e daqui a pouco eu volto.
Me encosto na árvore, meu pai se afasta e vai, discretamente, atrás de Chelsea. Não sei porquê estou me sentindo tão culpada, suja, arrependida... Eu quero que Chelsea pague pelo o que me fez, mas... Não sei... Todos vão desconfiar de mim se ela aparecer morta na floresta, sendo que não sou eu que vai matá-la. O namorado dela vai me perseguir ainda mais e eu não quero isso... É tarde demais para se arrepender, Katherine Jacks, tarde demais.
Alguns minutos depois, meu pai aparece com um sorriso vitorioso. Ou ele a matou no vestiário ou ele conseguiu convidá-la para jantar. Acho que a segunda opção é mais provável.
-Eu consegui, Katherine, aquela mortal vai jantar em nossa casa.
-Foi tão fácil assim?
-Foi só falar que eu morava em uma mansão que aquela mortal se animou... Tão ingênua...
-Que horas o jantar vai começar?
-Eu vou pegá-la às oito e meia, então o jantar irá começar às nove.
-E onde eu vou ficar enquanto vocês jantam?
-Você pode ficar no seu quarto ou escondida na cozinha... Assim você pode ver o momento que eu vou atacar aquela mortal.
-Tudo bem... -sussurro e abaixo meu rosto. Meu pai põe o dedo indicador no meu queixo e o levanta.
-Você não está arrependida... Não é, Katherine?
-Não, claro que não, estou feliz porque aquela mortal vai sofrer as consequências.
-Ótimo... Agora eu tenho que ir, eu vou... Comprar algumas comidas de mortais, já que não estamos acostumados à cozinhar para os nossos inimigos.
-Tudo bem... Até mais.
-Até mais, Katherine.
Meu pai se afasta e enquanto volto para onde Renna está, eu penso no que ele vai fazer. Apesar de ter dito que estou feliz com isso, bem no fundo do meu coração eu sei que isso é um erro, sei que tudo isso é uma futilidade, mas... Eu sou uma vampira e os vampiros têm que eliminar seus inimigos. Mesmo que seja uma futilidade... Os mortais têm que sofrer as consequências.
***
Oie pessoinhas! Vocês estão felizes ou tristes com o plano de Paul? Parece que a Kate não está tão animada assim, não é? Obrigada por lerem esse capítulo e espero que gostem do próximo, que está lotado de emoções! Beijinhos!
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