Volume 2 - Capítulo 6.1

 - Esqueça o convite do torneio de Uahmyr. Essa saga já acabou. O que temos que nos concentrar agora é na delação de Patrick Gray.

- Mesmo, Sarah? As brigas pelo convite são perfeitas para intercepção do departamento. E elas irão continuar até março, quando o prazo para a inscrição acabar.

- Mas elas não são confiáveis. Principalmente pela razão fundamental de que nunca ficamos sabendo o momento exato em que elas ocorrem.

Balancei os ombros numa forma de questionamento.

- Ué... Agora nós sabíamos.

- Sabíamos, é?

Eu e Sarah estávamos no shopping novo que tinha aberto no centro. Lá tinha uma franquia do Boutique Lily's, que ela gostava. O shopping ficava perto do prédio do DCAE, pelo menos de carro, e por isso vejo que ia acabar sendo uma espécie de ponto de encontro do departamento nos próximos dias.

Era segunda-feira. Fazia frio, estava tudo escuro e chovia fino. Era um dia depois da reunião combinada de Wilkinson e Walter Gunman, o deputado do PSP. Aparentemente Gray estava certo. A reunião tinha sim acontecido e Verde tinha se intrometido nela de alguma maneira para tomar o convite, ou pelo menos tentar. Houve conflito, conforme o previsto.

Gray só tinha informado uma pequena coisa errada: o local. Esperamos no endereço que ele falou até cerca de três horas para não acontecer nada, e então fomos embora parte frustrados e parte com uma ideia de "eu sabia": eu, Joey e Crane. Foi uma tarde de domingo inteira desperdiçada.

Contudo naquela manhã a polícia convencional descobriu os corpos. Ewalyn tinha ido para lá para nos relatar sobre a parte da perícia que os humanos comuns não percebem. Ela disse que provavelmente tinha sido um puta arremesso de botão ou algo dessa espécie.

Outro acontecimento menor que Gray havia nos informado erroneamente era a pessoa. Esperava-se o mais conhecido deputado Spencer Flemming ao invés do candidato Walter Gunman – o Pollo – que foi quem apareceu na cena ao invés do primeiro.

- Gray deve ter recebido uma informação desatualizada... – Disse eu à Sarah – A fonte dele ainda está presa.

- Você disse que tinha entrado em contato com Gray hoje? O que ele disse?

- Ele e o rato vão aparecer hoje à tarde na central para se esclarecer.

Sarah terminou sua ínfima refeição à là Boutique e enxugou os lábios com os guardanapos. Eu já havia terminado.

- Que bom que você não está suspeitando fervorosamente dele. O fato de você ainda insistir na veracidade parcial da delação dele já significa alguma coisa.

Não haveria por que mentir. Apenas isso. Se Gray mentir, o acordo vai pro saco.

- Já eu... – Desconversou Sarah – Estou mais interessada no que ele tem a dizer sobre Silverbay. Os cargos obtidos via PSP são algo que me intriga.

- Agora que Gunman está morto o DCAE vai assumir o caso, certo? Será mais fácil investigar se há alguma relação.

- Não sei... Prevejo que Phillip e sua turma irão dificultar para que nós não peguemos o caso.

- Bem... Ewalyn está fazendo o possível para que fique bem claro que se trata de um caso paranormal.

- É...

Sarah ficou aérea por um instante.

- Então... O que vai acontecer agora? – Disse eu me levantando e olhando para o relógio – Já são quase sete e meia.

- Naturalmente temos que enviar uma equipe para verificar a outra pista que Gray nos forneceu: Flinn Parker. Como hoje é dia de trabalho, acredito que ele estará no DEA. Então vamos começar investigando a casa dele, tenente Dotson.

- Tenente Dotson? "Eu" vou investigar?

- Preciso que esse trabalho seja feito da forma correta. Não esqueça que o agente Parker agora faz parte da operação Cata-Luxo. Sei que os departamentos têm desavenças, mas não quero incentivar ainda mais essas impressões de... "incompatibilidade" desnecessariamente.

- Ora, então não mande ninguém para a casa dele. – Me apoiei casualmente no encosto da cadeira.

- "Desnecessariamente", eu disse. Mas isso é deveras necessário. Ainda mais hoje: um dia após a morte de Gunman. Precisamos ter certeza do envolvimento do novo agente do DEA com Verde para que cheguemos a algum lugar. Se nossas suspeitas estiverem corretas é preciso assumir que Flinn Parker seja paranormal, então terá ainda mais meios de identificar uma revista em seu aposento. Seja bastante cauteloso.

- ...

Sarah também se levantou.

- Falando nisso... Como está a senhora Dotson?

- Estamos bem...

- Hum. ...

Houve uma quietude constrangedora.

- Eu pensei em enviar você e huh... "Lowe", para revistar o domicílio de Parker, se não se importar.

- Er.. Ok. Mas... Não é Ewalyn quem está cuidando da perícia paranormal na cena do crime?

- Converse com Meyers para ele tomar o lugar dela. Ele está na sala de tiro. Bem... De manhã é só isso que preciso dos agentes. De tarde vamos falar com Gray. Eu também vou estar por aqui.

- Certo, Sarah.

Ela caminhou uns passos mais adiante, em direção à escada rolante.

- Tenente Dotson...

- Sim?

Sarah se virou para mim e então virou para o outro novamente.

- Er... Não. Nada. Tenha cuidado.

O que foi aquilo?

Esperei instantes e então fui até o banheiro. Mais para não ter que ir embora com Sarah do que porque precisasse. Não tenho nada contra minha chefe, mas se é para ficar andando lado a lado apenas por acompanhar e sem dizer nada...

Estava precisando de um cigarro então peguei o elevador até o estacionamento. Meu carro estava na frente então planejei tomar a saída de pedestre até lá e fumar enquanto fazia o percurso. Depois disso peguei o bom e velho Utopia e voltei para o DCAE.

Não foi preciso subir até o terceiro andar para encontrar Joey. Após estacionar o carro no pátio eu já o avistei vindo na minha direção.

- Bom dia, tenente! Como...

Ele ia dizer uma coisa, mas interrompi acidentalmente:

- ...Ah, que bom que está aqui. Já entre no carro. Vamos sair.

- Hã?

- Sarah quer que vamos er... Eu te explico no caminho.

Ele abriu a porta e entrou. Eu imitei o movimento.

- Que visual diferente, tenente. O que aconteceu?

- Nada...

- Parece que está aparando o bigode de propósito ao invés de deixar crescer por deixar crescer. Quanto amadurecimento!

- ...

- E que belas costeletas também. Andou medindo se estão simétricas? Queria fazer uma razão áurea de proporção?

- Cale a boca.

Puxei o cinto e dei a partida.

Após minutos Joey estava a par da situação. Estávamos indo até o parque do coqueiro, uma pracinha sem nome no meio de High Cheawuld Garden. Era onde Ewalyn estava. Eu ia deixar o Joey lá para substituí-la e levá-la para revirar o apartamento de Flinn Parker. Poderia muito bem ter trazido o próprio Joey ao invés de Ewalyn, mas Sarah tinha dito para fazer assim, então...

- Ewalyn, huh?

Joey colocou as mãos atrás da cabeça da forma folgada como fazia. Estava sem o cinto a viagem toda.

- Como é que se diz mesmo? "Eu sou casado, Joey... Não tem nada do que você está pensando..."

- Cale a boca.

- Não era você que dizia para não se relacionar entre os membros do DCAE?

- ...

Era verdade. Eu tinha dito isso não somente a ele, mas também a todos meus subordinados. Agentes paranormais se relacionando é a pior coisa possível. No mundo em que estamos acontece de tudo: agentes são separados por causa do trabalho, agentes morrem em serviço, agentes são descobertos mantendo relações com o tráfico, agentes são descobertos mantendo carne humana na geladeira. Agentes são amigos hoje e inimigos amanhã. E considerando que lutamos com laia como traficantes e mafiosos, agentes num romance trabalhando juntos dão ótimos reféns. Não tinha nada a dizer a Joey nesse quesito.

- Estou brincando, tenente. Se isso quer dizer alguma coisa quer dizer que você melhorou, sabe? E no mais... Eu também mantenho contato com mulheres por aí, não?

- ...

- Nenhuma delas tem relação com o DCAE, entretanto...

Tamborilei no meu banco com a esquerda.

- Se não me engano você tinha dito... Estava com uma Brigitte ou algo assim?

- Desatualizado de novo, tenente. Depois dela teve mais duas. Meg e Vanessa. E aliás eu já tinha te dito isso.

- Era aquela que estava andando com você no outro dia?

- Não. Aquela era a...

Joey fez cara de esforço... Depois de uns instantes se lembrou:

- Bel!

- Bel? Isso é abreviação para que? Isabella?

- Eu sei lá!

- Você é um porco, sabia disso?

Joey virou o rosto para a janela e ficou quieto por um instante.

- Mas o caso de vocês... Ainda é algo que está em segredo, não?

- É... Acho que sim. – Respondi sisudamente.

Joey me olhou de relance e então disfarçou.

- E como a senhora Dotson está reagindo a isso tudo?

"Senhora Dotson..." Segunda vez que escutava aquele termo naquela manhã.

- Ela... Bem... Para falar a verdade não estava dando certo. Então estou tentando sabe... Mas tem aquele lance do advogado e tal, então... Sabe...

- Hm... Entendi...

Havíamos chegado ao parque. Ainda bem. Falar sobre aquela espécie de coisa não me fazia bem. Ewalyn reconheceu a viatura e veio até nossa janela. Ela vestia uma peça social preta e estava com os cabelos soltos. Desta vez estavam pouco mais curtos que o normal. Talvez também um pouco mais escuros?

Tinha tanta gente ali que nem dava para estacionar direito. Um bando de policiais do departamento do Hank, mais alguns médicos... Um ou outro curioso... Mas os curiosos estavam sendo mantidos atrás da linha amarela.

- Oi. – Disse Ewalyn. Fiz um aceno com a cabeça apenas. Como Joey tinha apontado... Nosso negócio ainda era um segredo. Pelo menos ainda não queria sair revelando a torto e a direito para todo mundo do DCAE ou de outros departamentos.

Saímos do carro os dois.

- Como anda por aí?

- Tem algumas evidências... Praticamente só um botão de camisa que estava afundado naquela cratera no chão. Mas fora isso... Parece que os autores limparam tudo após acontecer.

Olhei ao arredor. Gunman estava caído no centro de onde aquele aglomerado de pessoas trabalhava e a cratera que Ewalyn mencionou estava um pouco atrás, se olhado de direção paralela à da rua. Havia outra pequena cratera na calçada logo ao nosso lado. Parecia também ter sido recém-formada. O que indicava que houve pelo menos uma luta decente.

- Os autores limparam tudo, hã? – Cocei a costeleta – Quer dizer que provavelmente são bons no que fazem.

- Isso é ruim. – Completou Joey.

- É... Joey: você assume. Como eu disse... Eu e Ewalyn vamos ver o que achamos lá no... – Evitei completar a frase mencionando o nome. Havia muitos ouvidos por ali. – Bem, entre no carro, Ewalyn. Te explico no caminho.

Foi uma troca rápida.Saímos, nos falamos e já entramos no carro de novo. Estava a manhã todaentrando e saindo daquele carro.

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