Reporte de sessão VII - Parte I - Julgamento

— Ela deve ser executada. — Kovarimm disse, firme.

Várias pessoas se reuniam na estalagem, aquele lugar era o mais importante da cidade, e o anão parecia comandar as coisas ali. A mulher-dragão estava amarrada a um pilar de madeira. O grupo se espalhava pelas cadeiras, observando.

— Senhor Kovarimm, por favor, dê uma chance a ela. — Talanya não parecia ter esquecido a amizade de infância.

— Não preciso de uma ninguém falando por mim. — Enora parecia. — Acham que podem me matar? Todos vocês morrerão!

— Eu também acho que ela merece uma chance. — Bolton se levantou.

Earwen franziu o cenho e ficou girando uma faca na mesa, ele não era muito fã de execuções, mas aquela mulher não merecia pena. Diferente do resto do grupo, ele não estava acostumado com o Bolton, sua devoção ao deus do destino e da ressurreição, Thyatis. Mesmo assim, percebeu que o restante dos companheiros também não estava feliz com a ideia de poupar a prisioneira.

— Parem de me defender! Escória infeliz. Não preciso disso, vocês não são nada.

— Minha querida. — O pequeno cavaleiro se aproximou da mulher amarrada. — Se arrependa. Thyatis há de lhe dar uma segunda chance.

— Um deus fraco. Eu sirvo a Kallyadranoch!

— Pense bem, senhorita. Por que uma vida dessas? Tudo pode melhorar.

— Alguém cale a boca dele? — Enora que estava séria durante todo o julgamento, agora parecia realmente irritada.

— Eu entendo ela. — Najla sussurrou para Zanhsow, que sorriu.

— Senhorita, nós podemos salvá-la. — O halfling insistia.

— Por favor, me matem de uma vez... ele é insuportável...

Depois disso Bolton voltou a se sentar. Todos já sabiam que aquela mulher estava perdida, não havia mais bondade ali, e o pequeno cavaleiro começava a aceitar isso.

— Enora será queimada no centro da cidade. Está resolvido. — Kovarimm deu a palavra final.

Ela foi levada para a praça central e amarrada a um poste.

Entretanto, algo inesperado aconteceu. Uma criatura alada e negra surgiu no céu nublado, voando em direção ao povoado.

O pavor começou a tomar conta de todos, a população correu aterrorizada, e apenas Kovarimm conseguiu criar coragem o suficiente para permanecer na praça com o grupo, todos com um medo genuíno nos olhos.

A figura sombria pousou próximo a Enora e todos puderam ver que era uma abominação feita de escamas negras apodrecidas. Ela exalava uma aura de autoridade, de medo, e de morte. Avançou na direção da mulher-dragão que tinha os olhos marejados de medo.

Aron disparou uma flecha, Bolton gritou. Earwen se escondeu atrás de alguns barris. A criatura olhou para todos, até para o ladino, como se pudesse vê-lo por entre as lascas de madeira.

Ele se virou novamente para a clériga de Kallyadranoch, segurou-a pelo pescoço e o quebrou. Um movimento leve e simplório, que tirou a vida da mulher.

Feito isso, suas asas tomaram os céus novamente e ele se foi, deixando todos completamente atordoados.

— Estamos perdidos... perdidos. — Korvarimm seguiu em direção a estalagem, murmurando para si mesmo.

Os cinco companheiros permaneceram na praça, tentando colocar os pensamentos em ordem.

— Deveríamos queimá-la . — Bolton conseguiu dizer. — Lhe dar alguma paz.

Todos concordaram, mas perceberam que ninguém conseguia se aproximar do local. Era como se tivesse infestado por algo extremamente maligno, como se a criatura tivesse executado um ritual que era poderoso demais.

Algo muito errado tinha acontecido ali, e pelo que viram do anão taverneiro, coisas ainda piores poderiam acontecer por causa disso.

***

Mal havia passado o susto, o grupo seguia para a taverna, quando uma nova figura surgiu no horizonte

Ao menos não era nada macabro dessa vez.

Um jovem ruivo, incrivelmente belo e com sardas no rosto, exibindo uma enorme tatuagem no peito, se aproximou deles.

Halfling, orc, meio-elfo, mulher encapu... medusa?... Odeio informação desatualizada. De qualquer forma, são vocês. — Ele falava muito rápido.

Estendeu uma carta para Bolton enquanto os analisava.

A carta era de Mira e Meia-Noite, avisando que a lefou estava bem e que eles já haviam partido para Thanagard. A carta também sugeria que levassem o mensageiro com eles.

— Por que te levaríamos conosco? — O halfling perguntou.

Ah, isso? Eu pedi a eles. Bem, estou procurando alguém já faz alguns anos, e pelo que aprendi, andar com aventureiros é a melhor forma de percorrer o mundo.

— Primeiro; tem como falar mais devagar? Quase não dá para te entender. Segundo; o que a gente ganha com isso?

— Que pergunta idiota. — Ele começou a falar devagar, parecia orgulhoso e queria que todos entendessem exatamente o que diria. — Vocês terão um QAREEN no grupo, não precisarão conviver apenas com raças inferiores, como ele. — Apontou para Zanshow.

Sim, ele foi burro o suficiente para dizer algo dessa forma de um orc samurai.

E, obviamente, tomou um soco na cara que o jogou no chão e o fez cuspir sangue.

— Quem ser raça inferior agora? — O orc sorria, torcendo para o garoto continuar.

Ora seu...

— Woooww... vamos parar por aqui. — Earwen entrou no meio dos dois. — Péssima maneira de se juntar a um grupo, garoto. Devia aprender comigo, me juntei a eles ontem.

— E também não sabemos se você vale a pena. — Najla cruzou os braços.

O ladino levou uma mão a barriga e fez careta, como se tivesse levado uma facada bem no rim.

— Essa doeu.

O jovem ruivo suspirou.

— Tudo bem, meu nome é Kuoth, sou um feiticeiro. Tenho certeza que posso ajudá-los.

— Beeeeem melhor — disse Bolton, agora sorrindo. — Ótimo, vai ser bom ter você no time, Kuoth.... Agora.... — Ele se virou para o grupo. — Vamos voltar para Thanagard? Acho que não podemos fazer mais nada aqui.

Eles olharam para a cidade desolada, não sabiam o que poderia acontecer ali, mas não estavam ansiosos para descobrir.

Assim eles partiram de Hassembluff, agora eram seis.

***

A viagem durou três dias e, quando o grupo estava a poucas horas de chegar a seu destino, viram um comboio estranho vindo do caminho oposto. Uma carruagem luxuosa, levada por dois belos cavalos brancos, guiada por uma guerreira mascarada.

Três outras guerreiras, igualmente vestidas, mascaradas e armadas, acompanhavam o comboio. Tanto a carruagem quanto os uniformes das guerreiras ostentavam o símbolo do Deus-Sol, Azgher.

— Bom dia, senhoritas. — Bolton acenou de cima da loba, sorrindo.

Elas ignoraram.

— Estão vindo de Thanagard? Como estão as coisas lá?

Elas ignoraram.

— Isso é falta de educação, sabiam. — Dessa vez foi Najla.

Elas pararam.

— Minhas senhoritas, apenas gostaríamos de saber como está o dia de vocês. — Earwen tentou, com um sorriso no rosto.

— Saiam da frente. — Uma das guerreiras disse, de cara feia.

— O que está acontecendo aí? Por que paramos?

Uma voz veio de dentro da carruagem.

— Nada, meu senhor, apenas um grupo esfarrapado. Iremos continuar viagem.

E assim seguiram, deixando os aventureiros, intrigados, para trás.

Que vontade de explodi-las. — Kuoth cruzou os braços.

Earwen coçou a palma da mão, a vontade de roubar aquelas esnobes foi enorme.

Deixando a situação de lado, eles seguiram para a cidade. Atravessaram a ponte e foram para a taverna onde costumavam beber.

Lá os rumores borbulhavam e rapidamente o grupo ficou por dentro do que vinha acontecendo. O distrito sul estava sendo alvo de ataques de criaturas misteriosas, suas vítimas tinham o sangue drenado completamente, mas não parecia ser obra de vampiros, as marcas dos dentes formavam círculos na pele das pessoas, era alguma criatura animalesca.

Saindo de um assunto tenebroso para um mais leve, Reyny parecia ter assumido seu filho e agora Iville estava vivendo na mansão Erix com o bebê.

— Então o Reyny virou pai? Rá! — Earwen parecia feliz.

— Você conhece ele? — Bolton perguntou.

Estavam todos sentados numa mesa, bebendo.

— Sim, ele era um pentelho quando pequeno. Já nos divertimos juntos. — Ele pôs a caneca de cerveja na mesa. — Faz tempo que não venho a essa cidade, vou dar uma volta. Alguém mais?

Eu vou. — Kuoth se levantou e seguiu o ladino.

Uma decisão que os levaria a um encontro muitoimportante. 

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Então é isso, pessoal! Espero que tenham gostado do capítulo!

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