A BOINA ROUBADA | James & Janet Paton
Minha mãe, Janet Jardine Rogerson, era uma mulher pequena, alegre, cheia de espírito, paciente e heróica que, por cerca de quarenta e três anos, criou e manteve uma vida tão saudável, independente, temente a Deus e auto-suficiente para sua família de cinco filhos e seis filhas, que me constrange, quando olho para trás agora em luz de tudo o que tenho visto e conhecido de outras pessoas muito diferentes, a quase venerar sua memória.
Ela [quando jovem], com bom humor e feliz disposição, alegrava, como companhia, a morada tranquila de certo tio-avô (ou bisavô) e tia-avó, familiarmente nomeados em todo o bairro de Dalswinton de os "Velhos Adão e Eva". A casa deles ficava nos arredores do pântano, e a vida da jovem provavelmente não tinha muita diversão.
Mas uma coisa chamou sua atenção.
Ela havia notado que um jovem fabricante de meias do "Brig End", James Paton, filho de William e Janet, tinha o hábito de mover-se sorrateiramente para a floresta silenciosa, sozinho, com um livro na mão, dia após dia, em determinadas horas, como se para estudo e meditação particulares.
Foi uma curiosidade muito justificável que levou o jovem e radiante coração da menina a contemplá-lo lendo devotamente e ouvi-lo recitando reverentemente (embora ela não soubesse até então, eram os "Sonetos do Evangelho" do Rev. Ralph Erskine, que ele recitaria de cor sessenta anos depois, enquanto estava deitado em seu leito de morte); e, finalmente, essa curiosidade transformou-se em um respeito santo quando ela o viu deixar de lado sua grande boina escocesa, ajoelhar-se sob as asas de uma árvore e derramar toda a sua alma em orações diárias a Deus.
Até o momento, eles nunca haviam se falado. Qual disposição a moveu, digam-me os amantes — foi toda a devoção ou um toque de amor inconsciente que nutria em relação ao jovem absorto de cabelos loiros? Ou houve um golpe daquela travessura, daquela provocação, que tantas vezes abre a porta para o passo mais sério de todas as nossas vidas? De qualquer maneira, um dia ela adentrou silenciosamente, roubou a boina e pendurou-a em um galho próximo, enquanto o transe de devoção o deixava alheio a todo seu redor; então, de um esconderijo seguro, ela assistiu e desfrutou da perplexidade dele em procurar e encontrar a boina.
Num segundo dia isso foi repetido; mas [aquele homem], em sua manifesta perturbação mental e longa reflexão com a boina na mão, como se quase alarmado, pareceu tocar outro acorde no coração dela — aquele acorde de compaixão que muitas vezes é o prelúdio do amor, a mais fina compaixão que lamenta ferirmos algo mais nobre ou mais terno que nós mesmos.
No dia seguinte, quando ele chegou ao seu lugar habitual de oração, um pequeno cartão estava pregado contra a árvore, exatamente onde ele se ajoelhava, e com as seguintes palavras:
"Aquela que roubou tua boina tem vergonha do que fez; ela tem grande respeito por ti e pede que ores por ela para que se torne uma cristã tão boa quanto tu és".
Perscrutando aquela escrita, James esqueceu Ralph Erskine por um dia; pegando o cartão e imaginando quem seria a escritora, ele ofendia a si mesmo por sua estupidez, por não suspeitar que alguém tivesse descoberto seu esconderijo e retirado sua boina ao invés de se perguntar se os anjos haviam estado lá durante sua oração — quando, de repente, erguendo os olhos, viu na frente da velha cabana de Adão, através de uma lacuna entre as árvores, a passagem de outro tipo de anjo, balançando um balde de leite na mão e cantando alegremente alguns trechos da velha canção escocesa.
Ele sabia, naquele momento, por um instinto divino, tão infalível quanto qualquer voz que já viera à qualquer profeta da antiguidade, que ela era a visita angelical que o havia espiado em seu esconderijo — aquela sobrinha de rosto brilhante e esperta dos velhos Adão e Eva, com quem ele nunca havia falado, mas cujos louvores ele ouvia com frequência, ao dizerem e cantarolarem: "Pequenina Jen".
Receio que ele tenha orado "por ela" em mais de um sentido naquela tarde; de qualquer forma, mais do que uma boina escocesa foi roubada de maneira muito eficaz; um coração bom e verdadeiro foi ali concedido, e a confiança nunca foi lamentada por nenhum dos lados, e nunca foi traída.
Muitas e muitas vezes, nas horas amáveis e belas da maré de outono de suas longas vidas, eu ouvia meu querido pai provocar "Jen" sobre suas intenções de donzela no roubo daquela boina; e, muitas vezes, com a sagacidade de mãe, ouvia sua resposta feliz, que, se os motivos dele em ir àquele lugar fossem total e exclusivamente piedosos, ele provavelmente teria ido para o outro lado da floresta. Ora, aqueles homens que rondavam o jardim do Éden corriam o risco de encontrar, num sonoro dia, com uma filha de Eva!
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Extraído e Traduzido de Paton, John (1889). John G. Paton, Missionary to the New Hebrides: an autobiography
COLOQUEI UMA IMAGEM MERAMENTE ILUSTRATIVA PARA VOCÊS ENTENDEREM COMO É A BOINA ESCOCESA 😂
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