Capitolo due
"O homem que a dor não educou será sempre uma criança"
Havia algo de muito estranho na voz de Flora naquela manhã, ela não me olhou nos olhos, e parecia inquieta.
— O que ele te fez? — perguntei enquanto aceitava o café que ela me oferecia — e não minta para mim mãe.
Ela se sobressaltou com a minha voz chamando-a assim, eu também fiquei surpreso com a naturalidade que as palavras saíram, mas não voltei atrás.
— Diga-me, o que ele te fez, e eu juro que vou mata-lo desta vez. — minha voz sumiu na garganta, eu poderia mesmo matar meu pai sem pensar duas vezes.
— Não filho, não aconteceu nada, eu estou bem é só um pouco de dor de cabeça. — ela se apressou em me acalmar forçando um sorriso no rosto triste.
— Mãe eu já vi esse filme antes, e sei como ele acaba você precisa confiar em mim, se ele te machucar você tem que me contar, promete para mim que ficará atenta e vai confiar em mim para protegê-las?
— Você é só um menino querido, não deve se preocupar tanto — ela passou a mão pelo meu rosto e beijou minha testa — se cuida lá hoje, olha só o seu rosto, não gosto dessas lutas meu filho, não quero que se destrua assim, ele não merece.
— Lo so mamma, mas você devia ver o outro cara — respondi como se pudesse justificar os hematomas por todo o meu rosto. — além disso, é melhor eu extravasar no ringue, mãe. — beijei seu rosto e ela sorriu para mim.
— Obrigada, eu sei que não foi fácil para você me chamar de mãe, ma sono molto felice per questo figlio.
— Desculpa por não dizer antes mãe, me promete que vai se cuidar, per favore!
— Si, Io prometo. Possa La Vergine Proteggerti Figlio Mio — ela beijou-me na testa me abençoando para o dia que viria. — agora vá! Seu pai te espera no escritório, Enzo, por favor, não o enfrente, va benne?
— Si, Non preoccuparti, só me promete que vai fazer um daqueles chás milagrosos quando eu voltar, ok?
— Ok Tesoro, agora vá, não o deixe esperando, ele vai se enfurecer.
Não me importava muito deixar meu pai furioso, a não ser pelo fato de que nem sempre eu era o alvo de sua fúria, e algo me dizia que ele esta machucando ela — eu juro por mim que ele pagará se a ferir como fez com a minha mãe. — rosnei enquanto descia as escadas em direção ao escritório.
***
Meu pai estava com os olhos voltados para algo em sua mesa e um copo de brandy em sua mão, era cedo demais, e isso dizia muito a respeito do seu humor.
— Suas irmãs vão para um colégio interno no próximo ano, as coisas estão ficando difíceis em Vennidit e é melhor que elas estejam seguras.
— Por que vai mandá-las para longe? Não vejo razão para tirar elas de perto da família, sempre protegemos os nossos.
— Você não decide isso, e se realmente se preocupa com elas, as convença ir sem problemas, vai melhor assim.
Eu queria ser contra, mas manter as meninas longe dele parecia ser a melhor coisa que podia acontecer com elas, e talvez explicasse a tristeza no olhar de Flora.
— Olhe só para você, seu estado está deplorável, até quando vai se comportar como um moleque? Lembre-se de que o nome desta família esta em jogo hoje, e se me envergonhar estará traindo o sangue do seu avô também.
— Não se preocupe, não faço isso por você, então não falharei. — respondi ríspido e me virei para sair deixando-o carrancudo atrás de mim.
***
O espaço escolhido para a cerimonia era uma antiga vinícola da família Rizzo, um enorme galpão abaixo do nível do solo que antes estava cheio de barris e garrafas de vinho, agora estava cheio de mesas e cadeiras. Dois ringues foram montados para os testes físicos, que na realidade nada mais era do que ser surrado por um monte de homens feitos com muito músculo e nenhum coração. De alguma forma eu desejava essa parte do ritual de iniciação.
Uma grande mesa em forma de U estava no meio do salão, e no centro dela estava sentado Marcello Venni, O patriarca da família Sorrentino ao lado esquerdo, e na outra ponta, estava Giacomo Rizzo.
Os outros anciãos e membros das comissões que não estavam acompanhando seus filhos estavam sentados conforme a sua importância hierárquica dentro das famílias.
Meu pai estava ao meu lado, forçando uma expressão de orgulho por seu filho que se tornaria homem feito diante das famílias.
Senti inveja dos outros garotos que estavam realmente amparados por seus pais, que diziam palavras de força e incentivo aos ouvidos de seus filhos.
A iniciação acontecia em três níveis, o primeiro deles é a lealdade, até onde você é capaz de ir pela família? Morrer pelo sangue pode ser mais fácil do que matar por ele, principalmente quando tem que tirar a vida de alguém conhecido, alguém que jamais fez mal a você, e que nunca pensou estar na lista negra da máfia.
E esse era o meu alvo, Juno era dependente químico, e suas transações por drogas estavam afetando a todos na família, mas não foi por esta razão que ele morreria hoje. Não era por roubar uma das maiores famílias de Vennidit, mas por tomar algo que não era dele para tomar, ele abusou sexualmente de uma jovem quando estava sob os efeitos da droga, e essa era sua sentença de morte. A máfia é assim, o código de lealdade raramente corresponde ao código moral.
E depois de conhecer a razão pela qual ele estaria na mira da minha arma, eu pensei em minhas irmãs, e foi fácil tomar a decisão.
— Enzo Grazzo, qual a sua sentença? — perguntou Marcello Venni com sua voz firme e rouca.
Caminhei até a mesa com passos firmes, não era o meu primeiro assassinato, meu pai já me obrigara a puxar o gatilho por bem menos. Escolhi a arma que me seria dada como premio ao final da iniciação, uma SIG Sauer P226, testei o peso da arma na minha mão e olhei para o homem, ainda encapuzado na cadeira à minha frente. Mandei que tirasse o capuz, eu precisava olhar em seus olhos antes de proferir a sua sentença.
— Juno, eu sou o seu juiz, sou o júri e o executor da sua alma, você falhou com sangue, envergonhou a sua família e me irritou ao tocar em uma mulher que não era sua. E tomo agora a sua vingança em minhas mãos. — apenas dois tiros um entre os olhos e o outro no meio do peito.
Eu era frio, e isso assustava até os mais experientes. Coloquei a arma em seu lugar de origem, sem limpar o sangue das mãos voltei ao meu lugar ao lado do meu pai, o sorriso nos lábios dele me fez querer descarregar o restante das balas do pente em seu peito.
— Você é um monstro, apenas aceite o seu sangue ruim — zombou sem se virar para mim.
Giácomo Rizzo me olhava de forma diferente naquela manhã, e não gostei da compaixão expressa em seus olhos, eu não precisava da pena de ninguém. Eles não fizeram nada por minha mãe, então eu não precisava deles agora.
O Velho Sorrentino chamou meu nome, e deu-me um envelope e nele estava escrito 5 números que eu deveria decorar e depois queimar sobre a chama diante de todos.
No papel timbrado com a insígnia dos Titolare di Segretti trazia os números 031185, eu jamais esqueceria esse número.
Eu iria ser tentado e não de uma forma gentil a contar o conteúdo do envelope, e durante um tempo eu deveria resistir a todo o tipo de tortura que eles, os carrascos, desejassem. Eu tinha o poder de fazer parar, Domenico sabia disso, seu lábio estava em uma linha reta e firme, fiquei tentado a gritar feito uma garotinha ao primeiro soco, mas eu honraria o nome do meu avô, mas também por que estava muito furioso e precisava daquilo para controlar o monstro dentro de mim.
Memorizei os números, vendo minha família em cada um deles, eu resistiria por elas. Por Serena, por Valeire e por Flora, honraria a memória do meu avô e da minha mãe. Concentrei-me na dor, ela era bem-vinda, eu precisava dela. Eu ria enquanto era torturado, eu zombava do carrasco, cuspia meu sangue aos seus pés quando ele perguntava uma e outra vez o que tinha no envelope. Senti mais de um osso se partir, meus dedos das mãos estavam dilacerados, um dente voou quando o grandão desferiu um soco certeiro. Eu estava quase em meu limite, mas aguentaria muito mais o quanto fosse necessário para fazer o meu maldito ponto. No momento em que Giacomo Rizzo ergueu a mão, foi seu filho Virgílio quem me amparou, meu pai torceu o nariz e virou as costas.
Enquanto era verificado pelo médico, eu esperei ser chamado para a última parte do ritual, e esse era o mais importante de todos, eu não teria um representante lá dentro, meu avô estava morto e era meu direito recusar o meu pai. De qualquer forma ele não fazia questão de entrar e eu não o queria perto de mim.
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