Capitolo cinque


"Quando a vidame desafia eu dobro a aposta"

Não havia ninguém que eu quisesse dar adeus, não havia ninguém para chorar por mim. Não tenho amigos que valha uma lágrima, não há família ou um amor que me prenda. Tudo o que eu tenho é a minha moto e a estrada à minha frente.

Não fiz uma rota, não tenho um mapa, não tenho um destino, mas sei que o que eu não procuro vai me encontrar. Sou atraído por ela, ela reconhece meu cheiro, chama por mim, ou melhor, grita o meu nome. Desafia-me noite após noite, e me recuso a fugir, então vou de encontro a ela, embaixo de cada ponte, nos porões, nos cassinos e ringues clandestinos em qualquer beco ou esgoto onde os ratos se escondem. É lá que estarei, é onde podem me encontrar, morto ou vivo.

A paisagem já não me atrai o cheiro do mar nas encostas rochosas da Ligúria, já não chamava mais a minha atenção como antes. Eu só vejo o asfalto, o vento gelado que passa por mim enquanto eu o corto com minha GSX de 1000CC, ela pede por velocidade e eu a dou, o tempo passa como um borrão enquanto o motor canta uma sinfonia para mim.

Chegando perto de Gênova, paro uma única vez na baia di Paraggi na Ligúria, um lugar que minha mãe falava em suas histórias de ninar. Era o único lugar da terra em que ela se lembrava de ter sido feliz, o único momento em seus olhos brilhava era quando falava da baia di Paraggi. Esse lugar me faz sentir dor, por isso não me estendi na visita, eu precisava extravasar e não poderia manchar o santuário dela.

Pilotava por horas, não pensava em comer, não sentia sede. Parece que estava dormente, como uma máquina bem lubrificada que não tinha necessidade de manutenção, pelo menos não ainda, não até a próxima parada. As ruas de Barcelona.

Uma corrida que valia mais pela adrenalina do que pela grana, não que eu precisasse do dinheiro, mais ainda assim é sempre bom ganhar.

Uma estrada cheia de curvas e paredões rochosos de um lado e do outro o mar se chocando contra as pedras pontiagudas como se quisesse chamar a nossa atenção para a sua fúria. O meu momento aconteceria no túnel onde eu poderia, por alguns segundos, ter esperanças, esperança de que existe em algum lugar algo de bom.

Como sempre a violência me segue, e desta vez ela tem nome e um rosto, pelo menos por enquanto. A concentração acontecia embaixo de um viaduto, um lugar escuro e nada convidativo ou seguro se você for uma pessoa de bem, ou que tenha pelo que viver. As apostas estavam em 7 por 1, eu ouvi dizer que a estrela da noite era uma garota, não é difícil ouvir segredos quando se sabe o que perguntar, e conhecer segredos é algo que não posso evitar, está impresso em mim desde antes de eu nascer.

A corrida acontecia em três fases, na primeira vence quem frear mais perto da encosta, o trecho íngreme não facilitava muito, mas só de não ter chuva já podia ser considerado um dia a mais na terra. A segunda fase era pura velocidade através do asfalto, ganha o mais rápido, a coisa esquenta na terceira fase, ela acontece no túnel, e perde quem desviar primeiro. Até hoje não fui derrotado.

Após me registrar e garantir minha aposta, em mim mesmo é claro, fiz a volta até a largada, contei o número de participantes e as motos que disputariam a corrida, nada digno de muita atenção, motos muito caras, mas de pouca velocidade de torque. E os pilotos? Pavoneavam-se demais, e nesse meio quanto mais falante e orgulhoso de si mesmo mais feio é o tombo, e maior é a dificuldade para arrancá-los do asfalto depois. O ronco de uma Ducati cantou em meus ouvidos, e eu tirei o capacete para poder ver e ouvir melhor, uma bela maquina de 1000 cc. Vermelha, totalmente caracterizada, parou do meu lado.

O piloto não olhou em minha direção, mas prestei toda a minha atenção nas curvas das duas, da moto, e da máquina que a pilotava. As pernas mais deliciosas que já tinha posto os meus olhos, e olha que ela estava iluminada apenas por lanternas e faróis.

Fiz um sinal tocando minha testa com dois dedos, ela não olhou. Eu disse "oi," ela não respondeu, talvez se ela tiver sorte, eu a console após da derrota no final da corrida.

A corrida estava prestes a começar, as motos roncavam em antecipação, os pilotos balançavam o pescoço de um lado a outro como se necessitassem ajustar o ângulo, ou apenas garantir que suas cabeças estavam bem firmes em seu lugar. Eu sorri para a garota do meu lado, ela respondeu mostrando-me o dedo do meio. Foi meio sexy e eu sorri. Minha garota cantou quando acelerei, a fumaça dos pneus no asfalto me diziam que ela estava pronta.

E foi dada a largada, garotas seminuas sacudiram as suas bandeiras como se estivessem em uma arena, e touros bravos estivessem prontos a se lançarem sobre elas, e elas gostariam disso, com certeza. Um trecho de 800 metros que termina na beira do precipício onde o menor estrago é um banho de mar. Como sempre acontecia antes de qualquer corrida, o rosto da minha mãe morta no Hall logo abaixo da escada era a minha injeção de adrenalina, depois disso eu não via mais nada, era apenas a máquina e eu, e era ela quem ditava as regras, meus pés e mãos obedeciam.

— Idiota suicida — ouvi uma voz feminina em algum lugar, eu abri os olhos e ela estava saindo com a sua moto sem olhar para trás — Eu havia ganhado mais uma. — Não havia tomado conhecimento de quão perto eu estava de voar para o precipício sem nenhum paraquedas.

Ainda faltavam às duas fases seguintes, e uma das garotas que ficavam por ali na esperança de conseguir sexo, drogas ou quem sabe às duas coisas, me entregou uma cerveja, eu agradeci como ela esperava, com um beijo que provavelmente a deixaria excitada por dias.

Rocco Cassetti, era o líder de uma gang de motoqueiros, traficava de drogas, roubava de carro e também é o responsável pelas mais loucas e intensas corridas de moto e carro, também conhecido como rachas. Rocco é um bandido a ser considerado, ele tem um grande número de associados, ou melhor, paus-mandado. Cruzar o caminho dele é arriscado se você não for à prova de balas.

E sem querer eu cruzei...

Rocco me olhava desconfiado, no submundo do crime e da máfia, não é difícil reconhecer o poder em alguém. Ele sabia que eu não era alguém com quem ele poderia baixar a guarda, mas se eu morresse na pista não seria problema dele não é mesmo? Ele chamou alguns garotos, que não deviam ter mais do que dezessete anos e cochichou algo para eles. Meu instinto gritou — problemas a vista — mas nada que eu não pudesse lidar.

Nunca havia me distraído em uma corrida, nunca nada havia chamado a minha atenção, mas aquela garota fez de propósito, ela tirou a porra do capacete, ela tinha o cabelo curto, 'piercing' no nariz e na sobrancelha, mas ela mostrou a língua — Cazzo, ela mostrou a língua, e uma esfera de metal brilhou na ponta dela, meu pau inchou e eu quis sugar aquela joia, e num segundo de distração ela chutou a minha roda ao passar por mim, tive trabalho para me manter em cima da moto. Então... Eu perdi, por míseros segundos eu perdi a segunda rodada, e eu não me lembro da última vez que algo assim aconteceu. Eu quase podia ouvir a gargalhada rouca e desengonçada do Fabrízio Sorrentino, o figlio di puttana riria até do inferno se tivesse conhecimento da humilhação que eu tinha acabado de sofrer.

Não é sexismo, não sou machista garanto, mas isso não me impediu de me sentir um merda por perder para uma garota, e não era qualquer garota, era uma pequena minion, que segundo dizem, era extremamente fucking crazy, estilo bad-girl. Pessoas assim, ou tem uma boa razão para lutar, ou nenhum motivo para viver, mas minha experiência me diz que existe sempre uma história fodida por trás de pessoas assim. Embora eu não estivesse a fim de ser a porra do herói de ninguém, eu acabei sendo jogado na merda que envolvia a garota e ainda nem a conhecia.

         Ela me cumprimentou com dois dedos na testa, como eu havia feito no início, e tive que rir, ela era foda. Havia algo nessa garota que gritava problemas, mas como eu disse, problemas chamam por mim como uma maldição e eu sou herdeiro dela.

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