OITO

Emily estava inerte enquanto enxugava os pratos após o desjejum. Seus pensamentos eram únicos na situação a qual se encontrava. Depois de ver Ian, na noite anterior, ponderou muito e chegou numa conclusão. Ela ajudaria Madeline a conquistá-lo e então ele próprio desistiria daquele arranjo. Era o certo a se fazer.

Ela seria livre e Ian não precisaria conviver com uma mulher a qual não amava. Ela fechou os olhos e sentiu um amargor na boca. Ainda estava incrédula sobre Ian ser tão romântico. Mas, é claro, suas palavras de amor foram destinadas a uma só mulher. Processava sua ideia quando ouviu:

— Srta. Brown, você levará o desjejum do sr. Turner esta manhã — a ordem veio da governanta.

Emily piscou algumas vezes sem saber exato como proceder. O raciocínio se perdeu por uns instantes.

— Eu...eu? — Ela engoliu em seco.

— Exato, senhorita. Prepare o desjejum. — Exigiu a governanta.

Emily achava que depois de toda a situação da noite anterior e ver como Ian estava furioso, ele a evitaria. Contudo, quem poderia entender a mente daquele turrão?

Ela obedeceu e começou a organizar todas as coisas para Ian. Não havia conversado com o Madeline ainda sobre a noite anterior e esperava não precisar encontrá-la.

Já estava quase à frente da porta do quarto de Ian quando apareceu Madeline, que detinha um olhar curioso no rosto e uma interrogação também.

— Emily, você sumiu ontem a noite. Fiquei à espera de sua presença para me contar como ocorreu tudo.

A jovem prendeu os lábios e engoliu em seco. O que falaria? "Seu amado é meu noivo e agora temos um sério problema? Ah, claro, o problema sou eu que impeço amor dos outros". Aquele pensamento doeu em Emily. Outra vez. Mais uma vez ela era uma pedra de tropeço para um casal que se amava. E o pior é que dessa vez estava mais envolvida do que gostaria.

— Os planos não ocorreram como o esperado, senhora — ela começou. — O sr. Turner teve uma crise de tosse e precisei socorrê-lo, depois achei apropriado deixá-lo descansar somente. — Como de costume dobrou a verdade, omitindo os reais fatos.

— Oh, que tristeza! Desde nossa última conversa não fui vê-lo. — A mulher estava magoada, era a verdade. — Mas onde está o livro?

— Eu deixei em cima de uma mesinha no quarto. Acabei esquecendo — respondeu desconfiada.

— E você está indo levar o café da manhã dele? — Madeline crispou os olhos para Emily.

— A sra. Montclair que solicitou. Só cumpro ordens, senhora. — Naquele momento se colocou na total posição de uma criada.

— Isso é bom. Ele pode ganhar sua confiança. Vamos, eu tenho um plano. — Madeline se colocou ao lado da jovem e sorriu.

Ao perceber a aproximação da patroa, Emily crispou os olhos. O que aquela mulher tinha em mente? Que não fosse algo somente para piorar a situação. Mas, de certa forma, gostaria de ver como era a reação de Ian ao olhar para seu grande amor.

As duas seguiram em frente e entraram no aposento de enfermo, que estava sentado sobre a cama com a expressão um pouco melhor do que na noite anterior. Emily, com melhor precisão, pôde reparar nos hematomas no rosto dele e se sentiu pior. Ela não gostaria que algo daquela gravidade houvesse ocorrido. E, para sua surpresa, o olhar de Ian encontrou primeiro os seus e segurou nela antes que pudesse se atentar a qualquer outra coisa.

— Evan...

Madeline prosseguiria, mas recebeu um olhar duro por parte do homem e consertou o termo. Aquele nome afetou um tanto Emily, afinal, ele era o homem das cartas. Aquelas belas cartas de amor.

— Ian, como se sente esta manhã? — Madeline se aproximou dele, ficando em pé na beirada da cama.

— Sinto-me bem. Obrigado, sra. Wood! — Ele foi seco nas palavras e Madeline sentiu isso. — Sua hospedagem e cuidados tem sido primorosos. Anseio para recuperação completa a fim de poder partir — declarou as últimas palavras, olhando para Emily.

Por certo, ele acrescentaria que levaria uma criada com ele. Porém, segurou a língua.

— Compreendo — Madeline expressou. — Mas não devemos querer apressar o tempo. Deve se recuperar bem. A srta. Brown trouxe o seu desjejum.

Madeline apontou para a criada, que se aproximou com a cabeça mais baixa a fim de não se comprometer com a mulher. Ela nem poderia desconfiar do arranjo que havia entre ela e o enfermo. Misericórdia! Seu noivo! Aquilo era uma tremenda loucura.

— Sr. Turner, seu café da manhã. — Emily se aproximou e não o olhou nos olhos, apenas colocou a bandeja em cima da mesinha ao lado da cama.

Ian assistia toda aquela atitude de Emily e, de certa forma, se surpreendia o quanto ela poderia se passar por alguém tão obediente, o que na sua essência era o oposto. A srta. Brown quando levantou olhar se deparou com os do noivo. Ela inspirou profundamente e virou, porém, deu de frente com Madeline. Ela tinha um livro na mão.

— Vi esse exemplar na mesa aqui talvez fosse bom ouvir algo. — Medeline estendeu para Emily e antes de soltar apertou de leve a mão da criada, passando sua mensagem sobre a continuidade do plano traçado no dia anterior.

O coração de Emily palpitou. Ela não queria ficar ali, mas também precisava unir os dois para seguir sua vida. Era a oportunidade que não podia desperdiçar.

— A criada lerá um pouco. Creio que o fará bem, se me derem licença. — Madeline inclinou a cabeça e partiu satisfeita.

Emily permaneceu parada como estava, de costa para Ian, mas respirou fundo. Ela era corajosa e faria aquilo. Ao se virar para ele, perguntou:

— Deseja que eu leia?

— Por que não? Esse silêncio constante é capaz de me matar — ele disse tomando um pouco de café.

Ela pegou um assento e ficou próximo a cama, folheou o livro e começou a recitar. Aqueles versos eram bonitos sobre a esperança, a doçura e começaram a trazer algumas memórias adormecidas para Ian.

Era uma casa na árvore, sentados na varanda comendo biscoitos e tomando leite, umas palavras de amor e um verso específico.

A distância entre Nós
Não é de Milha ou Mar
O Desejo é que mede
O Equador não pode Mensurar

Não, aquilo não era possível!

— Por que está lendo isso, Emily? — a voz grave dele a interrompeu, tirando a jovem de um tupor romântico causado pelas estrofes.

— O quê? — Ela piscou rápido. — Como?

— Eu não quero ouvir mais nada. O que faz com esse livro? — Ian estava ficando alterado.

— Só são versos! — ela alegou.

Emily estava confusa. Não seria aquele livro o responsável por ajudá-lo a lembrar do antigo amor? Por que reagia de modo tão bruto? Não havia restado nenhum pingo do "Evan" naquele homem. E, afinal, por que Madeline o chamava assim? Eram questionamentos demais sem respostas.

— Guarde-os para si! — Sua palavra foi rude.

A jovem fechou o livro com força e o som ecoou por todo o quarto. Ela apertou os dentes e crispou os olhos para ele.

— Sr. Turner, me permita dizer o quanto é um dos seres humanos mais desagradáveis! Pelos céus! Nem a sensibilidade para ouvir uma poesia? Passou na fila dos que comem jiló todos os dias?

Ian não queria relembrar de nada. Não desejava ouvir nada que despertasse o passado. E soube que aquilo havia sido invenção de Madeline.

— Lembro de ter declarado que sua opinião sobre mim não me é de grande valia.

Emily ferveu ao ver tamanha prepotência por parte de Ian, aquele era ele de verdade: seco, estupido e grosseiro.

— Por certo, não pretendo ter nenhuma. Afinal, selvagens não são dignos de opiniões.

Ian Turner pode sentir o sangue correr mais rápido nas veias. Aquela menina era a dona de todas as suas afeições odiosas. Sem dúvida, nunca se irritou tanto desde que a conheceu.

— Não me afronte! Já tenho tolerado por muitos dias suas loucuras.

— Loucuras? — Emily se levantou abruptamente. — Está me chamando de doida?

— Decerto, chamá-la assim seria uma ofensa aos que padecem realmente nessa condição — ele pronunciou com ousadia e colocou a xícara que segurava na bandeja.

Emily tinha a respiração ofegante. Aquele homem era o pior de todo o mundo!

— Um real cavalheiro não ofenderia uma dama com tamanha ofensa! — Ela bateu as mãos ao lado do corpo.

— Uma real dama não agiria por impulso e colocaria a vida de outros em perigo. Não deseje ser o que não é!

Basta! Aquilo era a maior de todas as grosserias. Nunca poderia se casar com aquele homem! Jamais! Ela odiava Ian Turner e seu sentimentos acerca dele nunca seriam suavizados! Ela preparava-se para responder, porém a porta do quarto abriu. E os dois se calaram, ficando sob a cobertura de silêncio traiçoeiro.

— Sr. Turner vim para ajudá-lo com o banho. — A voz que ressoou no quarto era familiar a Emily.

Ian apenas assentiu e o jovem entrou, Emily se virou para sair e se deparou com Peter.

— Srta. Brown, que prazer revê-la — Peter deu largo sorriso.

— Sr. Morris! — Emily fez uma leve reverência.

Da cama, Ian notou o olhar saltitante do rapaz para Emily e, naquele instante, sentiu a irritação aflorar mais do que já estava. Que era aquele? E para inflamar ainda mais a condição iracunda de Ian, o jovem se aproximou da moça.

— O que há? — Ian indagou com a voz imperiosa.

— Nada, senhor! — Peter riu para Emily mais uma vez e se afastou.

O que aquele infeliz falava a sua noiva? Ian ponderou que a situação de Emily naquela casa pudesse ser pior do que pensava. Eles deveriam partir sem demora. Quando deu por si a porta do quarto se fechou. Ela havia partido.

🍁

Meu coração anseia pelos dias em que esses dois descobrirão o amor!

Havia me comprometido a postar na segunda e não esqueci, mas como tivemos uma semana com três capítulos pude me dar uma breve folga.

Logo teremos mais!

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