☆LEIAM AS NOTAS FINAIS☆

Avisos: A história apresenta gatilhos familiares em torno de narcisismo e negligência parental. Além de conter assuntos envolvendo bullying. Caso se sinta desconfortável em ler algo que aborde esses assuntos, recomendo que não prossiga com a leitura, ok?

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Chapter fourteen.

V.

 
Gyeongju, 19 de março de 2017.

— Vocês são doidos?! — indagou Soomin, de forma exageradamente alta, entrando rapidamente no quarto do irmão mais velho, trancando a porta atrás de si — Vocês só podem querer morrer jovens — revirou os olhos, ainda encarando os dois adolescentes abraçados e completamente embolados um no outro.

Taehyung acordou assustado com a vibração sonora de sua irmã mais nova, olhando assustado para a garota que devolvia o mesmo olhar para si.

— Mas… Mas que diabos está acontecendo Kim Soomin? — perguntou confuso para a garota.

— Ah, nada. É só que meu irmão mais velho é um baita de um inconsequente que literalmente dormiu abraçado com um garoto que supostamente é seu melhor amigo, e veja o pior, ele fez isso tudo com a porta do quarto aberta! Olha Tae, eu não quero ser filha única para ter que lidar com a Omma sozinha não — falou sarcástica, ainda tendo um olhar confuso e sonolento do irmão — Imagina se Appai entra aqui para acordar vocês?! Ou pior, nossa mãe! Sorte sua que eu lhe conheço e sei que você ia fazer essa burrada durante a madrugada — se referiu ao garoto ainda estar totalmente embolado no corpo do mais novo, este que ainda dormia calmamente.

— Por favor, Soomin, menos — pediu, caindo novamente em sua cama.

— Levanta logo, Tae! Já são quase oito da manhã. Sabe que a Omma odeia quando acordamos muito tarde — disse e o mais velho rapidamente lembrou do dia em que havia arranjado uma grande confusão por não ter levantado cedo. Além de que, com certeza sua mãe iria crer veementemente que o mesmo dormiu tarde por ter passado a madrugada jogando ou conversando com o mais novo, o que ela iria interpretar como uma má influência para o mesmo. Assim como tudo que não girava ao seu redor e fazia o filho feliz. 

Parecia que a mulher odiava ver que, pela primeira vez depois de tempos, os filhos estavam verdadeiramente felizes.

— 'Tá, já vou indo — bocejou — Agora vaza do meu quarto que eu preciso me trocar — recebeu um aceno da garota, que logo deixou o cômodo e os dois adolescentes sozinhos mais uma vez.

Mesmo com pena, Taehyung acordou Jungkook de seu sono profundo, recebendo um resmungo como resposta para a ação repentina e tão incômoda para si.

— Eu quero dormir mais — manhou, virando para o lado oposto, ignorando completamente o namorado, este que sorria bobo ao ver sua atitude infantil.

— Temos que levantar — informou — Minha Omma logo virá aqui. Sem contar que você me prometeu um piquenique também.

O mais novo se deu por vencido, abrindo os olhos lentamente, dando de cara para o loiro que ainda esperava por alguma atitude sua.

— Só assim para você acordar — brincou, ao ver que o garoto só despertou ao ouvir que logo sua matriarca iria saber como os mesmos estavam caso demorassem muito mais tempo para levantar.

— Já estou indo — reclamou, sentando-se na cama em seguida.

— Agora sim você pode ter meu bom dia — zombou, roubando um selinho rápido do mais novo que sorriu genuinamente para si.

— Queria continuar na preguiça contigo — fez bico.

— Eu também queria — concordou — Mas tivemos sorte, esqueci completamente que minha Omma é surtada com os horários. Por sorte foi a Soomin que veio aqui me acordar.

— Pode ir para o banho primeiro então — disse, se jogando na cama de novo, acomodando-se novamente para aproveitar mais alguns minutos de sono afundado na cama macia e cheirosa do namorado.

— Eu estava pensando que poderíamos ir juntos… — sugeriu, vendo o mais velho erguer a cabeça rapidamente.

— Ah… Se for assim eu topo — respondeu sacana, vendo o namorado rir de sua infantilidade — Sabe como é, economizar água é importante não só para nós mas também para o planeta — brincou.

— Você é um bobo, Jeongguk — falou ainda com um sorriso largo estampando o rosto, puxando rapidamente o namorado em direção ao lavabo.

Fizeram suas higienes rapidamente para que não se atrasassem ainda mais naquela manhã, logo, os garotos desceram e deram de cara com a mãe de Taehyung, esta que ainda não estava nem um pouco alegre por Jeon ainda residir em sua casa.

— Omma, Jungkook e eu podemos ir em um dos parques do observatório? — indagou retraído para a mais velha — Vamos fazer um piquenique com as meninas — mentiu.

— Leve sua irmã — falou de forma grosseira, coisa que assustou Jeongguk, já que não estava nem um pouco habituado com pessoas feito a mãe do jovem Kim.

— Mas… — tentou rebater, mas o olhar mortal que a mais velha dava para si lhe deixava com as pernas tremendo de tanto nervosismo certas vezes.

— Nada de "mas" — disse — Ou você vai com sua irmã, ou vai continuar em casa. Acha justo você sair enquanto sua irmã fica em casa? Isso não é atitude de uma boa pessoa, Kim Taehyung. Seja mais humano.

Ao ouvir tais palavras sendo proferidas, o mais novo olhou extremamente incrédulo para a mãe de seu amado, prestes a rebater a mulher mais velha caso Taehyung não tivesse segurado sua mão, olhando reconfortante para o garoto, em sinal de que estava tudo bem e não precisava arranjar brigas.

— Nós podemos ir com a Soomin então — concordou — A Chung está ansiosa para conhecer a Soomin mesmo.

— Custou ser uma boa pessoa, Taehyung? — sorriu maldosa para o filho, quase como se soubesse quais eram os verdadeiros planos do mesmo.

O garoto nada disse, apenas subiu novamente, sendo acompanhado por Jeon que ainda estava impressionado com a cena estúpida que havia presenciado. Enquanto o mais velho falava para a irmã se arrumar, Jungkook pensava mais e mais nas coisas que rondavam a vida de seu namorado. Se impressionava quando via que o poço de podridão era ainda mais fundo do que havia imaginado em primeiro momento.

Mesmo reflexivo, decidiu deixar os pensamentos de lado, logo saindo com os irmãos Kim's em direção à sua casa, que estava cheia de alegria e luz, coisa que era totalmente diferente na casa de seu amado. Ao que sua mãe ouvia músicas animadas durante a faxina de final de semana, a mãe de Taehyung não esboçava expressão alguma enquanto fazia a mesma coisa. Em sua casa, todas as janelas estavam abertas; transmitindo calmaria, luz e paz, coisa que não sentiu um segundo sequer na casa do mais velho. Tendo apenas medo de ser descoberto ou medo das atitudes impulsivas de sua sogra.

— Omma! — falou o garoto, quando viu a mãe com seu cachorrinho nos braços enquanto dançava uma música romântica com o mesmo, coisa que fez os adolescentes rirem com gosto por conta da fofura estampada na face do cachorro, este que não entendia nada que estava acontecendo durante os rodopios que a mulher mais velha dava consigo no colo.

— Está tudo bem, meu filho? — sorriu e abraçou o filho, este que sentiu falta dos toques repleto de carinho da mãe enquanto passou sua breve estadia na casa dos Kim que tinha, inevitavelmente, um ar pesado e drástico demais para si.

— Tudo sim — devolveu o sorriso — Nós só vamos fazer um piquenique em algum dos campos envolta do observatório. Eu iria levar o Tannie para brincar com a Soomin, mas vejo que ele está sendo um belo cavalheiro com a senhora — disse brincalhão, vendo o cão aninhado no colo de sua mãe.

— Leve ele, filho — respondeu, entregando o filhote para o adolescente — Sabe que ele adora crianças e vai fazer bem a ele; tem tempo que ele não corre por aí, se divertindo como um cachorro deveria fazer diariamente … — disse a mulher, lembrando-se da época que seu falecido marido levava Yeontan para correr pelas ruas movimentadas de Busan.

— Já tem mais de um ano — concordou o garoto, cabisbaixo, e naquele momento os irmãos Kim's apenas observavam a cena de longe, não querendo ser invasivos com algo que não sabiam do que se tratava e que parecia extremamente delicado e pessoal.

— Vai fazer bem para ele — falou, secando as lágrimas teimosas que insistiam em escorrer por sua face — Você já está se curando, agora só falta o nosso lindo Tannie — disse brincalhona, mas Jungkook sabia que sua mãe apenas queria esconder toda sua tristeza por trás de um sorriso largo, costume que com certeza o mesmo herdou da mulher.

— Você também precisa se curar — rebateu o mais novo.

— Eu estou tentando, meu amor — disse a mulher, acariciando a face do filho sempre tão preocupado em ajudar as pessoas — Mas se preocupe com você agora. Está no ápice da vida e eu não quero vê-lo por aí triste por conta de lembranças ruins, pois, com toda certeza, seu pai gostaria que lembrássemos dele apenas com amor e carinho, apreciando os bons momentos que tivemos em família.

— Eu estou bem, mãe — falou — Bem até demais, coisa que eu nunca imaginei que voltaria a ficar… — sorriu bobo, virando-se para o namorado brevemente — Tenho algo para te contar — chamou Taehyung para seu lado, este que olhou assustado e envergonhado por saber do que se tratava.

— Olá, meu bem — a mulher rapidamente cumprimentou o loiro, este que até então estava praticamente escondido com sua irmã atrás de um arbusto, fazendo com que a mais velha não conseguisse vê-lo.

— Eu estou namorando o Taehyung — soltou tudo de uma vez, não tendo medo da reação da mãe, mas sim das milhares de coisas que passariam pela cabeça da mesma a partir daquele momento. Principalmente por saber que a família de Taehyung era extremamente homofóbica e conservadora, o que facilmente acabaria com o psicológico de Jungkook que ainda estava abalado pela perda recente do pai.

— Isso é bom, meu filho — sorriu para os adolescentes — Vocês formam um casal lindo.

— Obrigada, senhora Jeon — respondeu o loiro, que ainda estava tímido.

— Não tem o que agradecer, meu querido — falou sorridente — Você devolveu o brilho verdadeiro do olhar do meu Jeongguk. Para mim, isso não tem preço.

— O Jungkook fez o mesmo por mim — olhou bobo para o namorado.

— Agora vão — disse a mulher, praticamente expulsando os adolescentes entre risos genuínos — Sua irmã está com uma cara péssima enquanto vocês estão nessa.

— Obrigada por entender meus sinais, senhora Jeon! — exclamou a garota mais nova, arrancando um olhar incrédulo de Taehyung e Jungkook — A senhora não tem ideia de como esses dois são puro grude.

— Eu imagino, pequena — concordou risonha ao ver a indignação da menina — Mas veja pelo lado bom, hoje o Tannie irá lhe fazer companhia.

— Por que a senhora acha que eu aceitei sair com eles hoje? — disse sacana, vendo a mais velha olhar para si com um carinho fora do normal. Coisa que aqueceu o coração dos dois irmãos, estes que queriam que a mãe fosse igual a mulher.

Será que um dia ainda teremos isso? Pensou a mais nova, olhando para o irmão de forma esperançosa, este que sabia decifrar muito bem o que a irmã estava refletindo. O mais velho nada disse, apenas fez um sinal negativo e triste para a garota, coisa que, instintivamente, ela já sabia.

×××

Pouco tempo depois, os adolescentes chegaram em um dos campos presentes ao redor do observatório, este que ainda estava relativamente deserto por conta da neve.

Soomin brincava com Yeontan enquanto o casal se divertia vendo a cena de longe. Soomin pulava na neve enquanto o animal lhe seguia, pulando em suas pernas por puro divertimento.

— Você está bem? — indagou Taehyung, percebendo que o namorado estava retraído desde o breve encontro com a mãe.

— Estou sim — sorriu amarelo — É só que eu fico feliz em ver o Tannie assim.

— Assim como? — indagou confuso.

— Feliz — disse simplista — Sabe, meu pai morreu faz um ano, por isso viemos para cá — completou — Ele morou aqui durante toda vida antes de se mudar para Busan, e ah… Minha mãe e eu queríamos ficar um pouco mais próximos da memória dele; ele sempre falava como aqui era incrível. Não podemos deixar a oportunidade passar quando ela recebeu uma proposta de emprego para cá. — respirou fundo, enquanto olhava para baixo — Confesso que quando cheguei, fiquei bastante receoso, principalmente por achar que eu devia algo à lembrança de meu pai. Vai entender minha cabeça; mas eu achava que deveria aproveitar o resquício de minha adolescência o máximo aqui, porém eu estava tão quebrado que achava que isso seria uma missão impossível — recordou-se de quando chegou na pacata cidade, vendo como tudo era tão diferente e, até então, vazio para si — Isso pelo menos até conhecer você. Seu sorriso quadrado encheu meu céu novamente de estrelas, estas que eu nunca imaginaria que iriam me escolher para se residir, já que são tão perfeitas e únicas.

— Meus pêsames, Jeongguk — disse o loiro, abraçando o namorado de lado — Eu mal poderia imaginar.

— O Tannie sofreu demais com a falta — falou — Por isso é tão bom ver ele assim. Ele só saia para correr com meu Appa, e quando ele se foi, Yeontan ficou em um estado inerte, assim como minha mãe e eu.

— Por isso você sempre diz que eu te salvei… — refletiu sobre todas as vezes que ouviu o garoto dizer que ele era sua salvação.

— Exatamente — concordou — Tenho medo de perder as pessoas e da própria morte. Atualmente é algo que eu venho trabalhando comigo mesmo, mas às vezes acabo tendo crises por conta da tanatofobia, como aconteceu naquela madrugada.

— Eu não irei sumir, Jeongguk — falou para o namorado — Só irei lhe deixar caso você me peça isso.

— Você sabe que não irei pedir isso — rebateu.

— A vida é instável, os dias são instáveis, as horas são instáveis, os minutos são instáveis e os segundos também. Nunca saberemos o que irá acontecer no futuro, nos dias, nas horas, nos minutos e nos segundos. É por isso que eu tento viver ao teu lado como se fosse o último dia, pois talvez seja — falou — Eu não tenho como saber se em algum momento você verá que eu não sou quem você tanto imagina.

— Pare com isso — disse — Você não é uma pessoa ruim. É apenas como eu; tem medo de ser abandonado ou esquecido.

— Pode ser… — concordou, mesmo sabendo que não era bem isso que rondava e atormentava tanto sua mente e sua vida.

— Nós já aproveitamos muito — falou o mais jovem — E pode ficar tranquilo, eu sempre serei seu — puxou o garoto, caindo sobre a toalha estendida no chão — Eu te amo para sempre, Tae.

— Você é meu garoto de ouro, Jeongguk — sorriu doce.

— Gosto mais de garoto estelar — segredou — Mas esse também está bom.

— Queria ficar contigo o dia inteirinho — fez bico.

— Podemos ver algum filme se você quiser — sugeriu, mesmo sabendo que para isso acontecer, teria que se desgastar um pouco mais psicologicamente por ter de ficar na residência dos Kim.

— Não precisa, amor — falou — Eu percebi que você se sentiu extremamente desconfortável e mal lá em casa.

— Não é isso… É só que seus pais me assustam. Não consigo respirar sem sentir medo do que pode acontecer — disse — Perdão por estar dizendo isso, Tae.

— Você não precisa ir se não se sentir à vontade, Jeongguk — respondeu, acariciando o rosto do mais jovem.

— Eu não ligo se isso significar que eu posso passar mais algumas horas do teu lado — rebateu, aninhando-se no peito de Taehyung.

— Mas eu me importo de você se sentir desconfortável — disse sério.

— É sério, amor, não ligo de dormir lá de novo — falou — Você já me trás todo o conforto necessário.

— Podemos começar uma maratona da Marvel — sugeriu o loiro, coisa que fez o mais novo ficar ainda mais empolgado por ser um fã nato do universo de heróis.

— Finalmente você vai se entregar ao maravilhoso mundo da Marvel! — exasperou animado.

— Se entregar é uma palavra muito complexa, eu diria que "dar uma chance" — explicou risonho — Sabe que eu sempre serei da DC.

— Você tem um péssimo gosto, isso sim — revirou os olhos em puro deboche.

— E você um sem personalidade — provocou.

— Você vai ver o sem personalidade — ditou risonho, indo para cima do garoto e logo começando uma série de cócegas que faziam o mais velho rir de forma absurda e esganiçada.

Quando a guerra pelo domínio das cócegas se encerrou, os dois adolescentes, juntamente da pequena Kim e do cão Yeontan, finalmente fizeram a refeição que até então, deveria ser o plano inicial do passeio.

Tudo corria bem, todos se divertiam e conversavam alegremente sobre assuntos aleatórios, isso até que o aparelho celular do Kim mais velho começasse a tocar, anunciando na tela que sua mãe estava ligando para si. A mulher disse, em poucas palavras, que os filhos deveriam estar em casa em breve, caso contrário, a mesma, sem pensar duas vezes, iria atrás dos mesmos e não permitiria mais tais saídas.

O caminho de volta não foi demorado, já que tudo era incrivelmente perto na cidade. Taehyung entrou primeiro, perguntando rapidamente à mãe se o Jeon poderia dormir novamente na casa. A mulher se revoltou, revirando os olhos e resmungando audível para o filho, porém permitiu se isso fizesse com o que o mesmo se calasse e parasse de lhe perturbar.

— Vai querer ficar conosco, Soo? — indagou o Jeon — Nós vamos assistir Marvel — disse sorridente, enquanto Taehyung desconectava o videogame da televisão de seu quarto.

— E servir de vela para vocês mais uma vez? — zombou — Nem morta.

— Eu sei que você se divertiu hoje — rebateu o loiro — Não adianta mentir.

— Realmente me diverti, mas foi graças ao Tannie, não à vocês — debochou.

— Você é igual seu irmão — disse o mais novo, risonho, porém sendo ignorado pelos irmãos que apenas olharam de forma incrédula para si.

— Podem ficar tranquilos; irei ler lá na sala enquanto distraio a Omma — anunciou, antes mesmo que os adolescentes fizessem o pedido esperado pela jovem Kim — Vocês me devem várias — brincou.

— Obrigada, querida irmãzinha — debochou, porém extremamente alegre por estar construindo uma relação de cumplicidade com a irmã mais nova — Pode pegar o livro que quiser daqui.

— Bem que dizem que o amor muda tudo — disse risonha, já que o irmão nunca deixou que a mesma pegasse qualquer um de seus livros.

— Se eu fosse você pegava logo antes que ele mude de ideia — falou Jungkook, recebendo um aceno positivo do loiro, fazendo com que a garota rapidamente puxasse a cadeira da escrivaninha do irmão, logo se sentando de frente para a estante repleta de livros do irmão mais velho.

— Qualquer um mesmo? — indagou, com os olhos brilhando enquanto observava os livros que Taehyung sequer deixava a menina chegar perto.

— Sim, só peço que tenha cuidado — confirmou — Sabe que alguns foram extremamente caros e eu não quero que eles estraguem.

— Tudo bem — respondeu animada enquanto mexia entre as lombadas dos calhamaços.

Ali a garota encontrou de tudo; iam desde cartas a alguns cadernos antigos da escola. Nada muito interessante para a menina, isso pelo menos até a mesma ver uma espécie de livro, com capa de couro e extremamente surrado, como se houvesse passado por milhares de mãos desde sua montagem. Amando a literatura clássica, a jovem Kim rapidamente tomou o livro da prateleira, abrindo o mesmo e se dando de cara com a caligrafia do irmão. Ficou confusa, principalmente por saber que os diários de seu irmão jamais ficariam naquele lugar. Folheou agilmente, lendo coisas insignificantes como "entregar trabalho de história sobre a pré-história na próxima quarta", enquanto lia as pequenas anotações presentes naquele livro, viu que se tratava de, provavelmente, uma agenda do ano anterior, já que a maioria das páginas marcava o ano de 2016 nelas. Não continha nada muito interessante para si, apenas avisos, textos e alguns resumos de aula; isso até seu olhar bater em uma anotação extremamente estranha que martelou seu cérebro por conta da gigantesca curiosidade.

O texto em específico estava completamente em inglês, idioma que a garota jamais conseguiu entender, e aquilo fez aumentar ainda mais sua bisbilhotice.

— Tae — chamou o irmão — O que é isso? — virou o caderno de brochura para o irmão e o mesmo rapidamente se alarmou.

— Me dê isso, Kim Soomin — ditou sério, querendo tomar o livro das mãos da irmã mais nova.

Não, deixa eu ver! — falou sapeca, enquanto procurava a página que tanto lhe intrigou a primeiro instante — My name is victory, but I just want to be called V — disse confusa e enrolada com as palavras.

Jeon, que até então estava distraído lendo os quadrinhos de Taehyung, rapidamente virou sua atenção para a garota, intercalando com o namorado que lhe olhava, claramente, assustado.

— O que é isso? — perguntou a menina mais uma vez.

— É um diário antigo meu — desconversou, e Jungkook sabia que aquilo era uma mentira. Conhecia Taehyung suficientemente bem para saber quando o mais velho mentia ou omitia algo para as pessoas — Esse texto foi da época que eu estava tentando descobrir quem é o Gossip Boy. Besteira isso aí, mas sabe que eu odeio que leia as minhas coisas.

— Por qual motivo está em inglês? — Jungkook perguntou e olhou sério para o namorado, este que engoliu em seco automaticamente.

— Estava treinando a escrita — respondeu, sorrindo amarelo.

— Credo, até parece que queria esconder algo de alguém — falou a garota, fechando o livro de jogando em cima da escrivaninha do mesmo — Vou querer esse aqui — virou novamente para a estante e arrancou de lá uma edição ilustrada e colecionável de Harry Potter.

— Então vaza logo — pediu — Jungkook e eu queremos assistir o filme.

O mais novo nada disse, apenas se despediu rapidamente da garota e voltou sua atenção para o teto, que parecia muito mais interessante do que encarar o namorado naquele momento.

Não que desconfiasse do namorado, já que havia perguntado ao loiro uma vez sobre a questão, mas ao mesmo tempo não conseguia deixar de ficar pensativo sobre a situação.

— Até que o primeiro vingador parece ser bom — puxou assunto, não tendo retorno do moreno — Bem que você falou que é um dos seus favoritos — falou, se deitando ao lado do namorado, que claramente estava no mundo da lua.

— É um dos melhores mesmo — disse atônito, abraçando o jovem Kim sem jeito.

— Vou dar play então! — ditou, se aconchegando no abraço vazio e frio do mais novo.

Durante o filme, Jungkook não conseguiu prender sua atenção um momento sequer nas cenas tão adoradas por si. Estava com a cabeça fixa demais no que a jovem Kim havia lido em voz alta.

Poderia ser besteira de sua parte? Sim.

Mas o garoto não conseguia deixar tais coisas de lado. Assim como pensava que poderia ser um grandioso equívoco de sua parte, refletiu sobre como todos que Taehyung sempre comentava vagamente, apareciam em algum momento no blog do gossip boy.

Sabia que não conseguiria ficar ao lado do loiro por muito mais tempo sem indagar algo, então decidiu que seria a hora de ir para casa. Tanto por não querer fragilizar o mais velho, quanto porque preferia manter sua sanidade mental diante da situação. Não queria se martirizar ainda mais sobre aquele maldito blog, sobre o tal Gossip Boy, ou melhor, sobre quem era o rosto por trás de V, o garoto do blog.

— Vou ter que ir para casa, Tae — mentiu, pegando seu celular e fingindo responder uma mensagem — Minha Omma acabou de pedir uma ajuda com a faxina lá em casa.

— Ela ainda não acabou? — indagou confuso, pois a mulher estava fazendo tal coisa pela manhã.

— Aparentemente não — sorriu amarelo — Prometo que nos veremos na aula amanhã.

— Tudo bem, amor — respondeu, sorridente, indo para cima do namorado, lhe roubando um beijo que foi correspondido pelo mais novo, mas que logo foi cortado com desânimo.

— Eu te amo, Taehyung — falou, quase como se estivesse dizendo aquilo para provar algo para si mesmo. Amava Taehyung, e apenas Taehyung residia dentro daquele ser.

— Eu também te amo, meu menino de ouro — beijou novamente o rapaz antes do mesmo partir rumo a sua residência.

Chegando lá, nem mesmo a animação de sua mãe conseguiu lhe contagiar, apenas subiu para o quarto, afundando a face no travesseiro enquanto rondava mil e uma coisas em sua mente.

— Taehyung nunca faria isso comigo… — pensou em voz alta — Mas ele sabia do Jimin e no mesmo dia ele apareceu no blog — refletiu, virando-se para cima, admirando o teto branco coberto por estrelas que o mesmo havia colado assim que chegara na cidade — Ele não pode ser o Gossip Boy.

O que Jeon não sabia, era que, infelizmente, Taehyung era um livro; um livro que não queria e nem pretendia ser lido por completo. Ele queria se esconder, e se por trás dessa carapuça tivesse algo a mais, Jungkook só descobriria se fosse ainda mais além.

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• Já irei postar o spoiller do próximo capítulo no grupo de leitores♡

Até a próxima :)