Anéis de saturno.

Chapter twenty. 

Anéis de saturno.

Gyeongju, 25 de março de 2017


Nada mais era igual a antes. Isso poderia ser algo bem visto pelas pessoas diante dos acontecimentos recentes na vida do Jovem Kim Taehyung, mas para o adolescente, tudo aquilo que lhe rondava estava pouco a pouco acabando consigo. Agora seus medos e inseguranças não se tratavam mais apenas das questões envolvendo Jeon Jungkook ou das fofocas postadas no famoso blog de V; agora o garoto deveria lidar com a pior parte: 

Seus pais. 

"Prima di te ero solo un pazzo, ora lascia che ti racconti

Oggi mi sento benedetto e non trovo niente da aggiungere

Questa città si affaccerà quando ci vedrà giungere."

(Antes de você, eu era só um maluco, agora vou dizer

Hoje me sinto abençoado e não encontro nada a acrescentar

Esta cidade vai olhar quando ver a gente chegar.)

No dia anterior, seu mundo havia se desmoronado ainda mais assim que a mãe havia descoberto sobre seu amor encoberto por Jungkook. Gritos e mais gritos se fizeram presente na casa dos Kim's, e o pior em toda essa situação, era de que Taehyung não conseguia arranjar coragem e atitude para refutá-los.

— Não vai descer? — indagou Soomin ao ver o irmão mais velho ainda na cama. Já era quase meio dia e o garoto ainda continuava na mesma. A mais nova rapidamente se preocupou ao ver que o irmão nem havia ousado a destrancar a porta de seu quarto; sabia que aquilo era medo, mas sabia que mais perigoso do que as palavras de seus pais, era a mente de Taehyung. Sabia que o mais velho era alguém consciente de suas ações, mas naquela altura do campeonato, onde tudo de ruim estava acontecendo com o mesmo, Kim Soomin não ousou brincar com a sorte.

— Não pretendo — confessou — A gente sabe que se eu fizer isso a briga vai voltar mais uma vez… Quero poupar minha cabeça dessa vez.

— E não vai comer? — perguntou mais uma vez, tentando puxar assunto com o loiro.

— Não sinto fome, Soo — respondeu a mais baixa, que rapidamente murchou de tristeza — Eu só quero ficar aqui deitado ou fazendo minhas coisas. Preciso do meu tempo também.

— Nem pense em ficar sem comer, irei trazer o almoço para você. Depois disso pode fazer o que quiser — rebateu — Se quer ficar trancado aqui, tudo bem. Mas não faça besteiras, Tae. Não jogue fora as promessas que me fez. 

— Fique tranquila, não farei nada. Eu só preciso do meu espaço. Eu só preciso pensar em mim uma única vez, Soo — pediu.

— Tudo bem, mas qualquer coisa é só me chamar que eu venho até aqui — respondeu com um sorriso mínimo. O clima em sua casa estava péssimo, mas pelo menos tinha seu irmão ao lado. Estava odiando ver o mesmo daquela maneira tão moribunda, afinal, Taehyung não era assim. Taehyung era um ser cheio de luz, Taehyung era o sol que iluminava a vida de todos aqueles que se importavam consigo.

— Obrigada, pestinha — devolveu o sorriso, logo vendo a irmã se retirar do quarto e ele mais uma vez se encontrar sozinho no cômodo.

Achava engraçado como um dia aquele quarto havia sido uma das coisas mais importantes e preciosas de sua vida. Era ali onde chorava e se sentia acolhido pelas paredes em tons claros. Agora, achava o mesmo extremamente deprimente e vazio. Seu quarto o sufocava, assim como sua casa, escola, pais e mente. Várias coisas lhe sufocavam, mas o pior em tudo isso, era de que sabia que era medroso o suficiente para rebater cada uma dessas coisas.

"Cammino per la mia città ed il vento soffia forte

Mi son lasciato tutto indietro e il Sole all'orizzonte

Vedo le case da lontano, hanno chiuso le porte

Ma per fortuna ho la sua mano e le sue guance rosse."

(Caminho pela minha cidade e o vento sopra forte

Deixei tudo para trás e o Sol no horizonte

Vejo as casas de longe, fecharam as portas

Mas felizmente tenho sua mão e suas bochechas coradas.)

Taehyung continuou ali, na mesma posição que se encontrava desde o momento que havia aberto os olhos naquela manhã, aguardando a irmã mais nova com seu almoço. Não demorou muito tempo até que a mesma aparecesse na porta de seu quarto novamente, chegou até mesmo a se impressionar ao perceber que a mãe havia permitido a garota fazer tal coisa para lhe ajudar, afinal, para sua mãe e pai, o mesmo estava completamente morto. 

— É sério, Tae. — avisou mais uma vez — Qualquer coisa é só me chamar. 

— Ei, fique calma — pediu mais uma vez, já que a mesma aparentemente nunca largaria o hábito de ser extremamente preocupada com tudo, principalmente quando não haviam motivos para isso — Eu estou bem e ficarei bem. Não vai acontecer nada comigo, Soo. 

— Você sabe que não pode ficar trancado aqui até segunda, né? — indagou, ainda preocupada. 

— Eu vou descer mais tarde, só quero meu espaço agora. Nossos pais e eu precisamos do nosso tempo, ainda está muito recente. É óbvio que ninguém está pronto para conversar agora — rebateu, querendo voltar o mais rápido possível para sua cama. Não que não gostasse de sua irmã, mas a mesma não entendia todas as coisas que passavam por sua cabeça naquele momento, e esperava, do fundo de seu coração, que jamais entendesse. Precisava alinhar seus pensamentos, criar um rumo e um plano de fuga para toda aquela situação, assim como seus pais precisavam criar estratégias para, mais uma vez, acabar consigo apenas por palavras.

— Tudo bem então, Tae — suspirou, cansada de insistir — Mas saiba que estarei aqui para qualquer coisa, até mesmo para a menor que seja.

— E eu agradeço muito isso, Soo — respondeu — Você é uma ótima irmã, e eu jamais poderia pedir por uma outra. Mas agora eu realmente preciso do meu tempo e espaço.

— Eu entendo e irei respeitar — rebateu — Só não faça besteiras. 

— Pode deixar — deu um sorriso amarelo para tranquilizar a mesma, o que obviamente não funcionou nem um pouco. Mas logo a mais nova se retirou, deixando o irmão mais velho mais uma vez sozinho naquela imensidão. 

O tédio logo se fez presente no cômodo, mas não era como se o primogênito dos Kim se incomodasse com isso. Ao contrário, estava adorado tirar um tempo apenas para si mesmo. Escreveu, ouviu suas músicas favoritas, terminou de ler seu livro em andamento e agora terminava uma conversa com Sunmi, esta que lhe dava conselhos sobre o que poderia fazer diante a situação em que se encontrava. 

Chat on.

— Sabe que se acontecer mais alguma coisa pode vir para cá a hora que quiser.

— E pode trazer a Soomin também, mal posso imaginar como ela está depois disso tudo…

— Obrigada, Sun, mas não acho que seja uma atitude necessária.

— Eu cansei de me esconder pelos cantos apenas por medo do que pode acontecer. 

— Mais tarde eu irei ver como a situação está… Com toda certeza não estará nada boa, mas mesmo assim é algo necessário.

— Sinto tanto ódio de seus pais, Tae. Me desculpe por tais palavras, mas eles são completamente desestabilizados, negligentes e dissimulados.

— Eu não sei como você aguenta viver assim todos os dias.

— Você já é de maior, deveria sair daí o mais rápido possível. 

— Essa é a intenção. 

— Só espero que não demore muito.

— Não importa o tempo, mas não desista dessa vontade.

— Preserve sua saúde mental.

— Eu irei, Sun. Tudo dará certo uma hora. 

— Pelo menos é isso que eu espero que

aconteça…

"Lei mi ha raccolto da per terra coperto di spine

Coi morsi di mille serpenti, fermo per le spire

Non ha ascoltato quei bastardi e il loro maledire

Con uno sguardo mi ha convinto a prendere e partire."

(Ela me recolheu no chão coberto de espinhos

Com picadas de mil serpentes, imobilizado pelas espirais

Não deu ouvidos para esses bastardos e suas maldições

Com um olhar me convenceu a pegar e partir.)

Enquanto esperava sua melhor amiga lhe responder, o adolescente mirou sua atenção para o teto de seu quarto, que já não era mais tão atraente quanto era tempos atrás. Ainda se impressionava com a imprevisibilidade do mundo, jamais acreditaria que tudo aquilo iria acontecer em sua vida em tão pouco tempo. 

Assim que sentiu seu aparelho celular vibrar, voltou mais uma vez sua atenção para a tela do mesmo, esperando visualizar uma nova mensagem de Sunmi, mas para sua surpresa, não era. Era uma nova mensagem de Jeon Jungkook. Na mesma hora cogitou que Sunmi ou Soomin havia aberto a boca para o moreno, mas a realidade era muitíssimo diferente. 

— Sun, juro que se você contou toda essa situação para o Jeon, eu ficarei muito chateado.

— Como é?

— Amigo, eu juro que não disse nada para ninguém. Sem contar que eu acabei de descobrir o que aconteceu entre você e seus pais agora mesmo.

— Se não foi você, só pode ter sido a Soomin.

— Não acredito que ela fez uma merda dessas.

— Ele havia pedido um tempo para mim e agora ele está mais uma vez envolvido em toda essa situação. 

— Mas o que houve para você achar isso?

— Ele acabou de me enviar mensagens, o que é totalmente estranho. Principalmente por ele ter me pedido um tempo ontem mesmo.

— As vezes será algo bom, Tae.

— Deixe ele ter o direito de falar também.

— Eu vou…

— Vamos ver o que isso trará. Só espero que não venham mais confusões e brigas. 

Chat off.

Chat on.

— E eu mais uma vez apareço aqui preocupado com você.

— Talvez você seja meu karma, mas não vou negar que o amo.

— Mas enfim… Como você está?

— Soube que seus pais descobriram sobre o que tínhamos.

— E nossa, como falar no passado ainda dói…

— Ah, Jeongguk…

— Está tudo "bem".

— Na medida do possível, é claro.

— E sim, falar no passado ainda me dói. E muito. 

— Não queria que tudo o que vivemos se tornassem apenas boas lembranças. 

— Espero que esse "bem" seja verdadeiro.

— Não quero ficar ainda mais preocupado com a situação. 

— Você não precisa se preocupar.

— Ademais, peço perdão pela Soomin ter lhe incomodado com toda essa história. 

— Não foi ela…

— Mas…

— Como você descobriu? 

— Sua mãe…

— Digamos que ela fez um escândalo na igreja.

— E acabou enfiando a minha mãe no meio disso tudo…

— Meu Deus!

— Que vergonha!

— Peço perdão por toda a dor de cabeça sempre acabo causando em você.

"Che questo è un viaggio che nessuno prima d'ora ha fatto

Alice, le sue meraviglie e il Cappellaio Matto

Cammineremo per 'sta strada e non sarò mai stanco

Fino a che il tempo porterà sui tuoi capelli il bianco."

(Esta é uma viagem que ninguém havia feito antes

Alice, suas maravilhas e o Chapeleiro Maluco

Caminharemos por esta estrada e nunca vou me cansar

Até que o tempo deixe seus cabelos brancos.)

— Eu me preocupo porque me importo e amo você.

— Já falei que meu amor não é de uma semana, muito menos de um mês. Meu amor vai durar até… Até eu não sei, mas sei que não é algo passageiro. 

— Ah, Jungkook…

— Volte para mim.

— Eu posso fazer diferente dessa vez, ou melhor, eu quero fazer diferente. 

— Eu quero te fazer feliz por toda vida, meu amor.

— Você é minha lua e eu seu sol. Não deixe nossas memórias tão lindas cair no esquecimento. 

— Saturno as guardará.

— Seremos como o sol e a lua, não tenho certeza se estaremos juntos para sempre, mas se não, saturno guardará nossas lembranças com ele até nós voltarmos. 

— Não diga essas coisas…

— Me dói demais.

— Também me dói, Tae.

— Mas tudo é tão instável e incerto…

— Eu não irei te pressionar nem insistir como as últimas vezes, mas dessa vez, a única coisa que lhe peço é para que me encontre na festa beneficente da escola. 

— Se você ainda me quer, me encontre lá dia três.

— Eu não posso te prometer nada, Tae.

— Mas irei pensar.

— Não precisa me confirmar. 

— Só prometa refletir sobre tudo isso com calma e com a mente aberta.

— Tudo bem, eu irei.

— Agora vá descansar, tenho certeza de que sua mente está uma bagunça depois de tudo isso acontecer em tão pouco tempo.

— Não precisa se preocupar comigo. Eu ficarei bem. 

— Agora vou resolver toda essa idiotice que minha mãe criou. 

— Eu te amo, Jeon Jungkook. 

— Fique bem.

— Eu também te amo, Kim Taehyung. 

— E evite criar mais confusão, caso contrário eu terei que aparecer aí para lhe salvar.

— Sem ofensas, Jeongguk…

— Mas eu não preciso de nenhum herói para me salvar. 

— Eu sou o próprio herói da minha história.

— Uau.

— Estou admirado com você.

— Me sinto orgulhoso de ver quem você está se tornando aos poucos. 

"Che mi è rimasto un foglio in mano e mezza sigaretta

Restiamo un po' di tempo ancora, tanto non c'è fretta

Che c'ho una frase scritta in testa, ma non l'ho mai detta

Perché la vita senza te non può essere perfetta."

(Ainda tenho uma folha de papel na mão e meio cigarro

A gente fica mais um tempo, não tenho pressa

Tenho uma frase formulada na minha cabeça, mas nunca foi dita

Pois a vida sem você, não pode ser perfeita.)

— Eu também me sinto assim.

— Obrigado por contribuir para que esse feito tenha acontecido. 

— Eu não fiz nada.

— Você é o único responsável por sua mudança. 

Chat off.

Assim que finalizou sua conversa com o mais novo, Taehyung largou seu almoço na mesinha de cabeceira e prontamente desceu as escadas de sua casa, com sangue nos olhos e completamente enfurecido por sua mãe, mais uma vez, falar o que não devia. 

Não irá mais aguentar tudo calado como sempre fez.

Não seria mais o garotinho perfeito de seus pais.

— Que diabos aconteceu com a mente da senhora para arranjar um escândalo completamente desnecessário na igreja?! — indagou, ao ver a mãe sentada no sofá enquanto assistia algo que Taehyung não se deu ao trabalho de descobrir — Sinceramente, mamãe, eu esperava qualquer coisa da senhora, mas importunar pessoas que não tem nada haver com isso? É sério? 

— Você não sabe o que está falando, Kim Taehyung — rebateu a mais velha — Minha nossa senhora, esse garoto realmente acabou com você. Nunca imaginei que minha família seria destruída por um… Por um, marginal. Meu filho se tornou a pior coisa do mundo, minha filha uma abusada, e de brinde meu casamento ainda está indo rumo ao abismo por conta dessa palhaçada inteira. Me pergunto em que parte eu errei na criação de vocês. 

"Quindi Marlena torna a casa

Che il freddo qua si fa sentire

Quindi Marlena torna a casa

Che non voglio più aspettare

Quindi Marlena torna a casa

Che il freddo qua si fa sentire

Quindi Marlena torna a casa

Che ho paura di sparire."

(Então, Marlena, volte para casa

Pois aqui está fazendo frio

Então, Marlena, volte para casa

Pois não quero mais esperar

Então, Marlena, volte para casa

Pois aqui está fazendo frio

Então, Marlena, volte para casa

Pois tenho medo de desaparecer.)

— Ele nem ninguém tem culpa de todas as merdas que acontecem dentro dessa casa, mãe. Os únicos responsáveis por todas essas "desgraças", são vocês mesmos — rebateu aos berros — O Jungkook não tem culpa da minha sexualidade, afinal, eu sempre fui assim. Sempre fui assim e sempre vivi com medo de você e do papai. O Jungkook não tem culpa pela Soomin ter virado uma suposta "abusada". Kim Soomin é apenas uma criança que entendeu que não deve fazer tudo que você e o papai diz apenas por serem pais dela. Ela aprendeu que deve viver a vida com calma e a respeitar sua própria idade, sem querer crescer antes do tempo apenas para satisfazer as vontades da senhora. O Jungkook não tem culpa se o casamento da senhora está ruim. O seu casamento sempre foi uma merda, mamãe. Vocês não se importam um com o outro a anos, então não venha tentar jogar a culpa em uma pessoa que apareceu tem meses! A única coisa que Jeon Jungkook fez, foi transformar a vida de Soomin e a minha em algo maravilhoso. Vivemos a vida toda fingindo ser quem não éramos, e o Jungkook foi o único disposto a ver nossa verdadeira face. Ele nos ouviu quando ninguém ousava tenta isso. Ele nos entendeu e acolheu. O Jungkook foi mais nossa família do que você e o papai foram durante toda nossa vida. E quer que eu lhe diga o motivo disso ser tão incômodo para a senhora? — debochou — É que a senhora odeia saber que Soomin e eu estamos vivendo felizes enquanto você se acaba com sua própria mente. É desesperador, né? Eu sei. Mas você mesma que se enfiou nessa. 

— Cale a boca agora, Kim Taehyung! — repreendeu, partindo para cima do filho.

— Vai fazer o que dessa vez? Me bater? — rebateu — Não me importo. Cansei de ser seu fantoche e cansei de ver a senhora fazendo o mesmo com a minha irmã.

"E il cielo piano piano qua diventa trasparente

Il Sole illumina le debolezze della gente

Una lacrima salata bagna la mia guancia mentre

Lei con la mano mi accarezza in viso dolcemente."

(E o céu lentamente se torna límpido

O Sol ilumina as fraquezas das pessoas

Uma lágrima salgada molha minha bochecha enquanto

Ela com a mão acaricia meu rosto suavemente.)

— Filho — respirou fundo, afastando sua mão do rosto do garoto docemente — Não diga baboseiras. Eu sou sua mãe e sei o que é necessário para você e para sua irmã. Esse garoto só nos trouxe problemas, Tae. Esqueça-o, vai ser a melhor coisa para nós. 

— Não, vai ser a melhor coisa para você e para seu preconceito. Eu não vou abrir mão da minha felicidade mais uma vez por sua causa, mãe. Já deu para mim. Eu não quero mais ser seu garotinho perfeito e amedrontado, este que não sabe nada sobre a vida e que sempre corre para seus braços por isso. 

— Você não é assim, Taehyung. Palavras não me confirmam nada — falou grossa, praticamente rosnando de ódio — Você sempre vai ser o que era; este garotinho.

— Eu não preciso provar nada para você — falou no mesmo tom — Mas saiba que so fim deste ano, eu estarei indo embora desta casa. E pode ter absoluta certeza que a Soomin não vai ficar aqui.

— Você se acha muito corajoso, né? — riu com escárnio — Se acha que beijar outro viadinho lhe torna um rebelde, está muito enganado, Kim Taehyung. Para mim, você não passa de uma criança idiota que não sabe o que faz e fala. Eu deveria ter lhe dado uma bela de uma surra quando era criança, só assim não me traria tanto desgosto na altura do campeonato. Vamos ver se você é tão corajoso como diz. 

— Você precisa se tratar… — falou horrorizado — Você nunca foi e nunca vai ser uma boa mãe se não procurar uma ajuda psicológica. 

— O único que precisa de tratamento psicológico aqui é você e sua irmã — rebateu raivosa — Além de não saberem o que dizem, os dois se transformaram em uma completa vergonha para a família. Se quiserem sumir, o problema é exclusivamente de vocês!

— Por que é assim… — suspirou cansado — Sabe qual é a maior tristeza da minha vida e da de Soomin? Ver todos ao nosso redor sendo acolhidos pelos pais enquanto a gente não tem o mínimo de afeto de você e do papai. Isso sim é triste, mãe. Agora, compare isso com sua tristeza. Compare ter a recusa de seus próprios pais com a de um filho gay.

— Ainda bem que sabe disso — ditou grosseiramente — Você deixou de ser meu filho a partir do momento que virou minha maior vergonha. Eu me recuso a ter um filho assim. Eu me recuso a acreditar que gerei você.

— Você é totalmente instável — riu sem gosto — Mas se para a senhora é dessa forma, tudo bem. Eu não irei me humilhar por sua atenção e por seu amor. A vida já é cruel demais para buscarmos ainda mais tristeza. Eu serei feliz sozinho, não preciso do seu amor raso.

"Col sangue sulle mani scalerò tutte le vette

Voglio arrivare dove l'occhio umano si interrompe

Per imparare a perdonare tutte le mie colpe

Perché anche gli angeli a volte han paura della morte."

(Com sangue nas mãos vou escalar todos os picos

Eu quero chegar onde o olho humano não alcança

Para aprender a perdoar todos os meus pecados

Pois até os anjos às vezes têm medo da morte.)

— Você sabe o que você faz. Só não venha correndo em minha direção igual um imbecil quando essa histórinha de amor adolescente não resultar em nada — falou, com ódio de seu próprio filho — Ninguém nunca vai se apaixonar por você, Taehyung. Você acabou de se transformar em um nada.

— Pode ficar despreocupada porque a última coisa que farei é correr em sua direção, e não importa sobre o que se trata. Prefiro ser meu próprio apoio do que ter você ao meu lado. Você não sabe o que quer, fica em cima do muro e não passa de uma mulher amargurada que não tem o amor de ninguém — respondeu, triste por saber que era uma verdade — E sobre eu ser tão decepcionante ao ponto de ninguém se apaixonar por mim, você não precisa me lembrar disso. Eu já tenho essa noção todos os dias da minha vida, você não precisa me lembrar. 

— Preciso, porque você nunca vai colocar na mente que não passa de um merdinha que destruiu a própria família. Francamente, Taehyung, eu esperava mais de você — debochou, tentando a todo custo humilhar ainda mais o filho.

— Você é bem contraditória, né? Diz que não esperava tal coisa vinda de mim e a minutos atrás me chamou de decepcionante. Se decida, mãe — debochou — Ou nem você mesma está se entendendo mais?

— Cale a boca e volte para seu quarto agora, Kim Taehyung — pediu de forma grosseira — Eu não quero ver a sua cara pelo resto do dia.

— Tudo bem, não será algo trabalhoso para mim. Afinal, olhar para você me causa asco — confessou, dando de costas em seguida e caminhando novamente para seu quarto. 

"Che mi è rimasto un foglio in mano e mezza sigaretta

Corriamo via da chi c'ha troppa sete di vendetta

Da questa Terra ferma perché ormai la sento stretta

Ieri ero quiete perché oggi sarò la tempesta."

*Ainda tenho uma folha de papel na mão e meio cigarro

Vamos fugir de quem tem muita sede de vingança

Desta Terra firme, pois agora eu a sinto sufocante

Ontem fiquei quieto, pois hoje serei a tempestade.)

Lidar com sua matriarca sempre seria uma tarefa extremamente exaustiva, e agora, Taehyung sentia-se muitíssimo leve por não ter mais tal tarefa como obrigação. 

Não se humilharia mais em troca de migalhas de afeto e atenção, não valia a pena. E se o mesmo era tão desprezível, como a mais velha fez questão de enfatizar diversas vezes, era melhor sumir daquela família e residência o mais rápido possível. Não iria se torturar mais uma vez ovino todas as baboseiras de sua mãe calado, dali em diante, Kim Taehyung não seria mais um garotinho amedrontado.

Assim como Saturno guardaria em seus anéis as boas lembranças do que viveu ao lado de Jungkook, Saturno também guardaria os poucos bons momentos que teve naquele quarto, naquela casa e naquela cidade. 

Não deixaria mais sua felicidade de lado, e se isso significasse deixar toda sua antiga vida para trás, o garoto com toda certeza faria isso sem pensar duas vezes. Não valia a pena se torturar e prosseguir ao lado de pessoas e coisas que jamais o fariam bem. Estava mais do que na hora de fazer suas próprias escolhas e vontades. Precisava quebrar a cara para aprender, chorar a cada tristeza, se alegrar a cada vitória. 

Kim Taehyung precisava apenas insistir nele mesmo. Mesmo que, em contrapartida, deixasse várias lembranças nos lindos anéis de saturno. 

(Ero in bilico tra l'essere vittima e essere giudice

Era un brivido che porta la luce dentro le tenebre

E ti libera da queste catene splendenti, lucide

Ed il dubbio mio, se fossero morti oppure rinascite.)

(Estava no equilíbrio entre ser vítima e ser juiz

Foi uma emoção que trouxe luz às trevas

E isso te libertou dessas correntes brilhantes

E tive dúvida, se estavam mortos ou renascidos.)


Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top