Capítulo IX
Mesmo após a saída brusca de Seungmin do jantar, ele ainda levou o mais novo para a biblioteca do castelo, local que rapidamente encheu os olhos do Yang do mais puro júbilo. Todos os exemplares disponíveis nas enormes prateleiras pareciam convidativos, mas um em específico capturou a atenção do mais novo, isto por não ter título, tampouco o nome do autor daquela obra, mas não ousou pegá-lo ao ver Seungmin pegá-lo para ler.
O local tinha uma boa iluminação, vários candelabros se espalhavam pela enorme sala, principalmente em pontos em que tinham algumas mesas e poltronas, que eram usados para uma leitura mais confortável. A biblioteca também era muito próxima do vasto jardim do castelo, então, se abrisse as janelas, poderia facilmente sentir um leve aroma adocicado das flores do lado de fora. Jeongin era uma pessoa que facilmente se impressionava, e sua estadia em Ziana havia o impressionado mais do que o comum, assim como o Kim já havia o impressionado em vários momentos também.
O Yang era uma pessoa muito regrada, mesmo que tivesse um espírito um tanto livre e brincalhão, mas, o Kim lhe parecia um verdadeiro exemplo do que um príncipe deveria ser. Para Jeongin, Seungmin seria um grande Rei no futuro e a Rainha que estivesse ao seu lado seria muito agraciada. De fato, também não faltavam pretendentes dispostas a isso, muitas conseguiam se igualar à postura do Kim, com certeza, Ziana teria ótimos monarcas no futuro.
Quando se pensava em futuro, Jeongin não sabia bem onde estaria, o que faria ou com quem se casaria. Ele iria apoiar o reinado de seu irmão mais velho, porém, a família que o Yang poderia criar no futuro seria vista como uma família secundária se comparada a família de Yunbin. Talvez, Jeongin somente pedisse para que uma propriedade fosse criada para si em alguma terra pertencente à Eura, então viveria lá da sua própria maneira.
Nos dias que se passaram, a presença de Jeongin na biblioteca ficou muito frequente. Sua rotina consistia em pela manhã passear pela cidade do Reino, sozinho ou com a companhia do Kim, durante a tarde suas aulas de piano com Seungmin e após o jantar, a biblioteca, onde ele ficava até o horário de dormir. O Yang percebeu também que poucas pessoas entravam na biblioteca, o que o fez pensar se aquele não seria um lugar específico para o próprio Seungmin, ou então os monarcas só não tinham tempo o suficiente para passarem na biblioteca.
O tempo em que ambos passavam naquele ambiente era muito silencioso, mas sabiam que tinham a companhia um do outro naquele lugar e isso, de certa forma, parecia fazer o ambiente ficar mais acolhedor e confortável. Muitas vezes escolhiam poltronas próximas um do outro para lerem, e se Jeongin estivesse lendo um livro que Seungmin já havia lido uma vez, acabavam por debater sobre aquilo por alguns instantes até voltarem para sua leitura. Parecia o suficiente para o Yang, ele estava mais do que feliz de encontrar alguém com gostos parecidos com os seus, sempre que tinha a oportunidade de dizer algo para o mais velho, sentia um calor acolhedor em seu peito e era como se o seu sorriso sempre estivesse presente em sua face quando se dirigia a ele.
Seungmin era alguém que de fato conseguia fazer Jeongin sentir coisas um tanto diferentes em si quando estavam juntos.
Em uma noite em que estavam daquela mesma forma, Seungmin resolveu dormir mais cedo, Jeongin não se importou tanto e voltou a procurar algum livro novo nas prateleiras. Passou seus dedos pelas lombadas dos livros, observando o bom acabamento das capas, até que viu um em específico largado em cima de uma das mesas. Jeongin se aproximou, percebendo ser aquele sem título algum, com a capa completamente lisa, já fazia um bom tempo que não via Seungmin lendo aquele, mostrando que poderia já ter terminado, então resolveu sentar-se em frente aquela mesa e começar sua leitura. Poderia debater sobre aquele livro depois com o Kim, como faziam com os outros.
Abrindo as primeiras páginas do livro, logo o Yang percebeu uma pequena nota em uma das páginas, parecendo uma dedicatória e ela era para Seungmin. E somente dentro do livro havia o título da obra: Flor Dourada.
Aquilo parecia que seria interessante, uma boa obra para distrair o Yang.
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Jeongin adentrou o salão de música do castelo, já encontrando a figura do Kim sentado em frente ao piano, parecia distraído, segurando algumas partituras em sua mão e com a testa levemente franzida, como se estivesse se esforçando para entender alguma coisa após todas as aulas que já havia tido, aparentando uma grande dificuldade.
O Yang se sentou ao lado do mais velho em silêncio, finalmente chamando a atenção dele.
— Boa tarde, Jeongin! — Cumprimentou, parecendo animado. — Eu estava tentando ler esta partitura, mas me parece muito complicada…
— Você está lendo a errada, não está? Essa é a música que eu toquei no baile, é um pouco complicada para você tentar aprender agora.
Seungmin pareceu envergonhado e deixou aquelas partituras de lado, coçando sua nuca devagar.
— Eu acho que confundi as partituras e peguei as erradas. — Disse, em tom baixo.
— Está tudo bem, eu trouxe as certas. — Jeongin respondeu. — Vamos começar, me atrasei hoje então perdemos um bom tempo da aula.
Apesar de ter dito aquilo, Jeongin ficou um tanto aéreo durante a aula. Já fazia dois dias que havia pegado aquele livro na biblioteca e começado a ler, havia até mesmo levado aquele livro para seu quarto, a fim de lê-lo quando estivesse sem nada para fazer em seus aposentos. Então, lendo daquela forma tão assídua, ele já estava acabando aquela obra e perguntas começaram a rondar sua mente.
Aquela era claramente uma obra de romance, onde o casal era um belo Príncipe Herdeiro e um jovem Marquês que estava com o prestígio de sua família em declínio após o falecimento dos pais desse jovem. Aquela era um tipo de obra que ele nunca havia visto, nunca havia chegado em suas mãos ou na biblioteca do seu castelo em Eura e aquilo, de alguma forma, abriu seus olhos para algumas dúvidas que ele tinha em mente, principalmente a respeito de Kim Seungmin.
— Jeongin, você está bem?
O Kim perguntou, já fazia um tempo em que o mais novo estava completamente quieto, não guiava o mais velho ou sequer prestava atenção no que ele estava fazendo, mas sua voz acordou o Yang, que deu um sorriso amarelado em resposta.
— Sim, eu estou bem, só um pouco cansado.
— Não dormiu bem? — Jeongin assentiu com sua cabeça. — Então podemos encerrar a aula aqui, vá descansar um pouco.
— Alteza, sei que já fiz essa pergunta, mas terei que repeti-la. — Começou, sem olhar o rosto do Kim. — Talvez agora você possa estar mais interessado nisso, mas inicialmente, esse não foi o seu objetivo começando suas aulas comigo. As aulas, realmente eram porque você queria ser meu amigo?
— Eu já falei para você… Eu só queria me aproximar.
— Para ser meu amigo?
— Por qual outro motivo eu me aproximaria, Alteza?
Jeongin não respondeu imediatamente, como se estivesse escolhendo suas palavras para aquilo.
— Me desculpe, é porque ultimamente algumas dúvidas foram plantadas em minha mente. — Jeongin tirou o livro, que trouxe em meio às várias partituras e o ofereceu para Seungmin, que assim que viu aquela obra na mão do mais novo, empalideceu. — Eu li este livro e acabei pensando em algumas coisas, sinto muito.
— Quando você…
— Você deve tê-lo esquecido na biblioteca quando foi dormir, acreditei que já tinha terminado após tanto tempo lendo então o peguei. Mas acredito que seja algo muito pessoal para você.
Honestamente, lendo aquela obra, um estranho sentimento inundou o mais novo ao perceber algumas coisas nela que o ligava à realidade. O Príncipe, para ele, poderia se assemelhar a Seungmin, que inclusive teve uma dedicatória para si no livro, e o Marquês que passava por uma situação complicada com sua família parecia se assemelhar bastante a Jisung. Ele não sabia se aquilo estava correto, mas aquele pensamento o deixou ainda mais pensativo.
— Eu fui descuidado… — Seungmin disse, pegando o livro. — Por favor, eu peço para que não fale sobre isso com outra pessoa, está bem? Eu imploro para que não chegue aos meus pais. Também espero que você não acabe se sentindo desconfortável ao meu lado, eu prometo que nunca tive nenhum pensamento promíscuo com você, ou qualquer coisa do tipo.
— Quando você dizia que era impossível que se casasse com quem amasse no futuro, era por causa disso?
— Hm. Eu sei que você não deve ver isso com bons olhos, todos não vêem isso com bons olhos, é por isso que deixei que meus pais cuidassem desse assunto, eu só… Só quero viver em paz, eu sei que não pode ser da maneira que desejo, mas posso pelo menos ler, não é?
Jeongin respirou fundo, finalmente olhando para o mais velho ao seu lado, seu semblante não parecia mais tão confiante quanto ele era acostumado, na verdade, Seungmin parecia um tanto assustado, quase como se realmente estivesse implorando para que o Yang deixasse aquilo permanecer em sigilo. Não tinha como prever as consequências futuras caso aquilo chegasse ao Rei, ou então ao próprio povo, ocorrências como aquela ir a público sempre tinha consequências desastrosas. Pessoas foram humilhadas publicamente, perderam prestígio e respeito, perderam seus empregos, muitas vezes perdiam suas próprias vidas. Jeongin entendia, sabia que o desespero que Seungmin estava sentindo era extremo.
— Não se preocupe, não irei contar a ninguém. — Garantiu, com um sentimento doloroso em seu peito ao ver os olhos um tanto avermelhados do Kim. — Eu nunca espalharia algo assim de alguém, Seungmin. Eu de certa forma consigo o entender…
Seungmin o encarou, espantado.
— Como assim?
— Diferente de meu irmão eu vivo de uma forma um pouco mais libertina. — O Yang desviou seus olhos do mais velho e encarou as teclas do instrumento à sua frente. — Conheço estabelecimentos novos e pessoas, me divirto mais do que um herdeiro do trono poderia. Com isso, já conheci muitas pessoas e me apaixonei. Já me apaixonei quando adolescente por uma jovem filha de um duque que passou uma temporada em meu castelo, e também já me apaixonei por um aluno da academia militar de Eura. Eu nunca consegui entender o porquê de me sentir dessa forma, então só seguia. Eu ignorei o fato de ter me apaixonado por esses jovens, porque eu sabia que se escondesse, no futuro, eu poderia me casar e me apaixonar por minha noiva, não é? Não era impossível, mas não podia esconder o fato de que já me apaixonei por esse guerreiro, e eu sabia que no futuro poderia acontecer de novo com outro homem.
Jeongin virou-se novamente para Seungmin, dando um sorriso fraco, mas sincero.
— Me desculpe por ter te pressionado com esse livro, eu só me senti um pouco mais feliz em ter a possibilidade de você me entender. Nossos casos podem ser um pouco diferentes, mas de certa forma, ainda tem um pouco de similaridades, não é? — Continuou, esperando uma resposta do Kim, que parecia mais surpreso ainda após ouvir o mais novo.
— Obrigado, Jeongin, eu fiquei assustado, mas agora me sinto mais aliviado. — Seungmin disse, finalmente com sua respiração regulada. — Você está certo, ainda temos um pouco de similaridades.
— Eu fico feliz em não estar sozinho agora e que alguém irá me entender, sem julgamentos ou pragas direcionadas a mim. — Exclamou, animado e com a emoção muito presente em seu tom. — Esconda esse livro melhor agora, teve sorte que fui eu quem encontrei desta vez.
Seungmin riu, concordando com a cabeça.
— Eu irei, vou deixar sempre sob minha supervisão em meu quarto, assim será melhor.
— Quem foi que escreveu este livro? — Perguntou, curioso. — Achei essa pessoa muito talentosa.
— O Marquês de Ilsan.
— Oh, então minhas intuições estavam certas. — Exclamou. — Você e o Marquês têm alguma coisa? É que não pude deixar de relacionar e achar muito parecido…
— Não! Claro que não! Somos amigos e nada mais! — Respondeu, imediatamente e com urgência exagerada, fazendo Jeongin rir da sua reação.
Aquela resposta, além de fazer o Yang rir, também desapareceu com algumas de suas preocupações.
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Voltaremos a ter agora uma visão do coitado do menino Hannie no próximo capítulo, lembrando que a fic tem uma base de vinte capítulos, mais ou menos, depende de como eu desenvolver o material que eu tenho no roteiro dessa fic.
Postando meio cedo hoje porque não sei se terei tempo mais tarde.
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