XX
•pov rosa•
10/07/2022
Gina encarava o celular sem parar, parece que esperava uma mensagem. Ela está assim desde que dormimos juntas pela primeira vez. Tentei ignorar, mas era quase impossível, ela não era a pessoa mais discreta.
- Esperando uma mensagem?
Ela se assustou e quase derrubou o café gelado que segurava.
- Não, estou jogando hay day.
- Você sabe que não podemos trocar mensagens com ninguém.
- Não estou, Rose. Confia em mim.
Apenas resmunguei em resposta. Gina deitou a cabeça no meu ombro e abriu o jogo de fazenda.
- Gosto quando fica brava, é atraente.
- Não estou brava.
- Está sim, me dá tesão.
- Você fala como um homem hétero.
- Você quer ver o hétero?
Revirei os olhos.
- Volte a dormir, Linetti.
- Você vem junto?
Terminei de tomar o meu chá e a segui. Deitamos viradas uma para a outra.
- O que acha de cachorros? - perguntou Gina.
- Maneiro.
- Teremos um.
- Qual será o nome dele?
- Eu quero um labrador, o nome você escolhe.
- Arlo. - respondi.
- Maneiro.
Eu ri dela me copiando.
- Você pensa em casar? - perguntou Gina.
- Não, acho ultrapassado. E você?
- Concordo, muito 1950.
Eu ri da sua especificidade.
- Gosto da sua risada. - elogiu Gina.
- Eu gosto de você.
- Achei que me suportasse.
- Isso também.
Seus olhos brilhavam mesmo sem luminosidade.
- Gosto de você - ela respondeu. - Espero sair daqui contigo.
- Espero estar viva para sair daqui com você.
- Vai estar.
Um silêncio confortável se instaurou entre nós.
- Você mandou mensagem para alguém desde que saímos de Nova Iorque?
- Não.
- Gina...
- Como se você não tivesse mandado.
- Eu não mandei, Gines. Pra quem você mandou?
- Por que está me acusando?
Ela levantou abruptamente.
- Não estou, só quero entender.
- Entender o quê?
- O que está esperando?
- Um milagre, Rosa.
- Ninguém vai nos ajudar.
- Eu sou famosa e rica, é claro que vão.
O silêncio voltou.
- Quem?
Ela não respondeu.
- Gina, quem?
- Ninguém. Só uma sugestão.
Uma sensação estranha se apossou de mim. Ela estava mentindo e ambas sabíamos disso, mas preferimos ignorar. Voltei a ficar em silêncio, Gina se movia na cama, inquieta.
- Você dormiu?
- Não. - respondi.
- Você podia me convidar para um encontro.
- Você quer ir em um encontro comigo?
- Tenho que checar a minha agenda... - joguei um travesseiro nela. Gina gargalhou. - Vou me arrumar, se prepare pra ser surpreendida.
•pov gina•
Me vesti com a melhor roupa que trouxe. Reusei muitas roupas durante esse tempo, mas essa é a primeira vez que uso essa. Trouxe especialmente para sair com Rosa. Era um vestido lápis azul escuro, com decote em V. Ficava perfeito no meu corpo, na verdade, tudo fica. Passei uma camada leve de maquiagem e sai do banheiro.
Rosa estava sentada na cama, vestia um vestido preto e sua jaqueta de couro por cima. Seu cabelo estava solto e seus cachos caíam na frente do seu olho esquerdo. Eu prometi surpreendê-la, mas quem estava surpresa era eu. Rosa é a mulher mais bonita que já vi. Ela estava limpando sua faca, eu fui encostar na cômoda e acabei derrubando o vaso de plástico.
Rosa olhou para mim, seus olhos brilharam. Eu sorri.
- Você tá linda.
- Ah, isso? - apontei pra minha roupa. - É só uma roupa velha - Uma mentira. - Comprei no shopping. - Outra mentira, foi feita por uma estilista francesa. Rosa percebeu, mas não disse nada.
- Vamos?
Ela ergueu a mão, eu a segurei sorrindo. Dessa vez, ela acatou a minha sugestão do disfarce, óculos escuros e plumagem. Nós parecíamos mupets felizes. Eu não conseguia parar de encará-la, ela notou.
- O quê?
- Tô encantada.
Ela jogou a cabeça pro lado mantendo o contato visual.
- Você é maravilhosa.
Eu sorri. Chegamos em uma lanchonete. Rosa me olhou surpresa. Eu havia escolhido podrão como nosso prato principal.
- Você me comprou um no nosso primeiro dia.
- É, eu lembro.
Um meio sorriso surgiu em seus lábios.
- Vamos?
Eu peguei em sua mão e a guiei para o restaurante. Para a nossa sorte, o lugar era meio iluminado, limpo e bem arrumado, chegava a ser romântico. Nada parecido com o restaurante que fomos em Detroit.
- Julguei mal por fora. - disse Rosa.
- Igual fez comigo. - brinquei.
- Sinto muito por isso - ela quase engasgou, não estava acostumada a se desculpar. Eu partilhava do sentimento.
- Tudo bem. Você pode me recompensar mais tarde. - lancei um olhar malicioso, fazendo-a rir.
Pedimos nossos lanches.
- Podemos tirar os disfarces? Essas penas estão me incomodando.
Ela puxava o cachecol, eu ri e assenti. Deixamos os óculos na mesa e os cachecóis no banco ao lado. Estávamos sentadas em uma cabine, então tínhamos privacidade.
- Agora que estamos namorando, preciso saber mais sobre você.
Os olhos de Rosa quase saíram para fora.
- Estamos namorando?
Eu assenti.
- Não.
- Sim.
- Não.
- Cala a boca.
- Vem calar.
Ela apoiou os cotovelos na mesa e me olhou de forma provocadora. Respirei fundo para não me jogar na mesa e virar o prato principal.
- O que quer saber? - disse sorrindo ao perceber que me desestabilizou.
- Sobre seu passado. Quais foram os seus sonhos?
- Por quê? O que vai mudar se você souber o meu passado?
- Talvez eu possa te conhecer melhor.
Ela mordeu o lábio inferior, pensativa.
- Como estamos juntas e não vamos a lugar algum, vou te contar.
"Por enquanto", pensei.
- Já fiz balé, ginástica artística, estudei em colégio religioso e outras coisas.
- Uau. Nunca imaginaria nada disso. Isso explica a sua elasticidade.
Ela riu.
- É. E você?
- Comecei a fazer aula de teatro aos 12 anos, eu sempre me achei diferente dos outros. Como se só vivesse com um holofote me iluminando.
Ela me olhava como se eu fosse o ser humano mais fascinante do mundo.
- Talvez seja narcisismo, mas eu preciso da atenção dos outros. Preciso que falem de mim. Preciso dos paparazzis me perseguindo. De alguma forma preciso ser o centro do universo - foi a primeira vez que confessava isso em voz alta. Fiquei surpresa. Rosa apenas assentiu, esperando eu terminar minha fala. - Eu preciso me sentir especial.
Abaixei a cabeça, segurei as lágrimas com toda a força que possuía em meu ser. Rosa tocou na minha mão.
- Você é especial, e nesse momento, é o centro do meu universo.
Eu a olhei, uma lágrima escorreu pela minha bochecha.
- Você é o meu sol, Gina.
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