XV

08/06/2022

•pov rosa•

1300 km depois chegamos à Alabama, estado conhecido pelo incesto. Dessa vez, foi Gina quem dirigiu, eu dormi a viagem inteira. Passamos a noite e madrugada inteiras na estrada, chegamos 7h. Não havia nenhum hotel ou Airbnb disponíveis, então ficamos no carro, Gina insistiu em dormir no banco da frente, ela disse algo sobre o conforto, mas acho que ela quis ficar ao meu lado. Eu não mudei de lugar enquanto ela dormia.

Desativei o modo avião, a enxurrada de notificações quase fez o meu celular travar. Eu ignorei todas, ativei meu 4G e reservei outro Airbnb, o bom desse app é que ninguém pergunta nada. Um casal vai hospedar duas assasinas sem saber. Esse apartamento é um pouco maior e mais arrumado, além de ser mais barato. Depois de duas horas, fiquei entediada, a entrada só é às 14h, vou ter que esperar mais cinco horas.

Gina resmungou ao meu lado, eu a olhei, ela parecia perturbada, como se algo a incomodasse, talvez fosse dormir no carro, talvez fosse algo mais profundo. Quis tocar em sua pele, mas me contive, não quero bancar a estranha. Ela respirava pesado, como se estivesse com medo.

- Por favor, não. - sussurava.

Ela estava tendo um pesadelo. Eu a observei preocupada.

- Sai daqui Ricky.

Ricky, o seu ex agente, aquele que ela matou. Será que ela sonha com todos os que assasinou? Não tem um dia em que eu não revivo o que aconteceu no precinto em um sonho. Toda manhã eu acordo pertubada, depois um questionamento surge: por que Gina não se entregou depois do nosso final de semana?

De um jeito ou outro, ela teve o tempo comigo, então, porque ainda continua aqui? Ela disse que queria paz, será que desistiu? Ela se mexeu novamente, dessa mais inquieta, no impulso, eu toquei seu rosto e murmurei:

- Estou aqui, tá tudo bem.

Ela emitiu sons inaudíveis e se aconchegou abraçando minha mão. Suas mãos estão quentes e suadas devido ao calor do carro, deixei o ar no mínimo para economizar gasolina, afinal vamos passar horas aqui dentro. Tentei me soltar dela, mas Gina segurou a minha mão mais forte e ainda deitou no meu ombro.

- Gina. - sussurei.

♤♡◇♧

Acordei em um pulo com o celular tocando, jurei que tinha colocado no modo avião de novo.

"Vanessa?"

- Sim?

"Caso queira estamos dispostos a liberar as chaves uma hora mais cedo".

- Quero sim.

"Ótimo, nos vemos então".

- Até mais.

Desliguei e voltei no modo avião. Gina me olhava, os olhos quase fechados se acostumando a claridade.

- Vamos uma hora antes - olhei o relógio. - Daqui a uma hora na verdade.

- Podemos comer antes?

Eu assenti. Passei no drive-thru do burguer king, pedimos dois combos e um balde de batatas para a viagem. Pagamos tudo no dinheiro, quanto menos usarmos cartão, mais difícil será nos rastrear.

- Estou entediada - Gina comentou. - Podemos brincar de "eu nunca?".

Dei de ombros.

- Eu começo. Eu nunca transei em um estacionamento.

- Já começa assim? - ela assente. - Entendi.

Nenhuma de nós baixou um dedo.

- Nunca transei em um carro.

Ela abaixou um dedo, eu a olhei esperando a história.

- Era uma limosine.

- Com quem?

- Não te interessa.

Senti uma pontada de ciúmes, mas relevei.

- Eu nunca transei em um sofá.

- Peraí, você transou em uma limosine, mas nunca em um sofá?

Ela assentiu.

- Gina Linetti, você é mesmo uma mulher surpreendente.

Ela corou, mas disfarçou bebendo seu refrigerante. Apenas percebi porque reparo muito nela.

- Eu nunca transei em um lugar público.

Ela abaixou o dedo.

- Espera, você não respondeu a outra.

Abaixei o dedo, claro que já transei num sofá.

- Na limosine? - perguntei.

- Em uma festa, no banheiro.

- Você é mais interessante do que eu pensava.

Ela levou a mão ao peito, ofendida.

- É claro que sou interessante, como ousar duvidar disso?

- Nunca duvidei, só estou surpresa com o quanto.

Ela deu de ombros como se estivesse acostumada a receber elogios o tempo todo e essa é a verdade, ela é constantemente banhada por palavras de afirmação. Não é a toa que seu ego é tão inflado, mas não ligo, gosto da sua confiança extra.

Terminamos de comer e já fomos ao Airbnb, o casal dono nos olhou de cima a baixo.

- Vocês são um casal?

- Não - apressei em dizer, Alabama é famoso por muitas coisas e uma delas é a forma como trata pessoas lgbtqia+. - Nós somos irmãs. - eles se olharam entre si. Certo, aqui é Alabama, ser parente não significa nada. - Estamos noivas de dois homens.

O homem se deu por convencido, a mulher revezava seu olhar entre nós.

- Garota, você precisa ver a minha aliança, infelizmente, a nossa família tem uma doença muito rara e somos alérgicos há prata, ouro, aço... Você deve imaginar como a nossa vida é.

A mulher se solidarizou com a nossa dor falsa. Ela nos entregou a chave.

- Qualquer coisa nos liguem.

Agradecemos e entramos no apê. Joguei a mala em um canto e as sacolas de mercado no outro, Gina começou a arrumar suas coisas. Havia uma cama de casal e um sofá-cama na sala. Droga, vou ter que continuar divindo a cama com ela.

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