II
•pov rosa•
- Pode repetir o que você viu?
- Nada - disse a atriz com as mãos trêmulas. - Fui tomar um ar e quando cheguei o corpo estava lá.
- Ele tinha inimigos?
- É a primeira vez que o vejo e seu pescoço estava cortado. - disse aos prantos.
- Aqui - Amy entregou um copo d'água e me puxou de lado. - Não acho que ela saiba de muita coisa.
Suspirei.
- Nem eu.
- Eu achei que o tapa seria o momento mais memorável do Oscar.
- Pelo visto não.
- Vou voltar à cena do crime, ver se encontro mais alguma coisa.
Amy assentiu.
- Vou entrevistar mais celebridades.
- O último que fez isso acabou morto.
Amy me bateu. Sai da mansão e fui até o lado de fora, havia um belo jardim cercando a cena do crime. Como alguém pode matar em um cenário desses? Levantei a fita amarela e adentrei.
- Encontrou alguma coisa?
Jake estava apoiado encarando o banco.
- Eu juro que esse banco se mexeu.
- Você tá dormindo direito?
Ele balançou a cabeça negativamente.
- Digamos que morar com Amy foi uma ótima escolha.
Dei um hi-five.
- Algum sucesso com as entrevistas?
Neguei.
- Todos estão muito chocados.
- Depois da reação ao tapa, eu não esperava menos.
Eu ri.
- Hollywood é muito sensível a alguns temas e muito aberta a outros.
- Racistas, homofóbicos, misóginos e pedófilos podem ganhar, mas um homem não pode defender sua esposa? Me soa errado.
- E como.
Tentei olhar a cena como se fosse a primeira vez, procurando uma pista que deixei passar. A árvore ao lado do banco, o chão trincado, o som dos grilos, uma pena azul. Uma pena azul?
Eu a peguei com uma pinça.
- O que achou?
Mostrei a ele.
- Leve ao laboratório, preciso dos resultados imediatamente. - falei entregando ao estagiário, ele assentiu colocando a pena no saquinho.
- Um avestruz matou alguém no oscar, esse caso não poderia ficar melhor.
Eu ri.
- Eu tenho uma testemunha. - Amy disse pelo walkie-talkie.
- Estamos indo.
Entramos no salão e fomos direto ao banheiro feminino. Empurrei a porta, Jake nem se mexeu.
- Você sabe que pode entrar, né?
Ele me olhou.
- Eu te autorizo a entrar no banheiro feminino.
- Usarei esse passe com o maior respeito.
Revirei os olhos. A primeira pessoa que vi foi Amy, ela em frente a um espelho conversando com alguém. As paredes tamparam minha vista, então adentrei mais. Uma mulher branca com cabelo castanho claro estava sentada no mármore da pia. Seu vestido roxo estava encharcado, seu cabelo parecia um ninho de pássaros e sua maquiagem borrada. Havia uma mulher ao seu lado, ela segurava suas mãos, tentando consolá-la, mas ela não estava muito melhor.
Seu longo vestido verde combinava perfeitamente com suas madeixas ruivas. Só reparei em seus olhos azuis quando ela levantou a cabeça para nos olhar. Eles eram magnéticos. Finalmente entendi porque seus olhos eram fundamentais na sua atuação, eles reluziam a luz e transpareciam suas emoções. Eu poderia encará-la para sempre. Desviei o olhar, senti o peso da sua noite. Ficar trancada com sua assistente em um banheiro bem na noite da maior premiação do cinema.
Amy se virou ao perceber que chegamos.
- Essas são Olivia e...
- Gina - completou Jake. Quis esmurrá-lo. - Sou seu fã. Te amei em Duna.
- Obrigada. - disse Gina um pouco confusa.
- Qual das duas viu o corpo antes de chegarmos?
- Olivia.
Eu olhei novamente para a mulher. Seus olhos estavam vermelhos e inchados. Provavelmente nunca tinha visto um morto antes.
- Você se lembra o horário?
Olivia negou com um balançar de cabeça.
- Só me lembro de sair para tomar um ar e encontrar o cara que me entrevistou horas antes, morto.
- Como foi a entrevista? - perguntou Jake tentando soar profissional, mas no fundo estava tietando.
- Grosseiro. Ele nos agarrou pelo braço para chamar nossa atenção e fez perguntas desrespeitosas.
Eu abaixei a cabeça.
- Sinto muito por terem que passar por isso. - disse Amy.
- Obrigada.
- Vocês iam falar com a mídia sobre o comportamento dele?
- Sim, eu ia contatar seus superiores e informar sobre a sua conduta, infelizmente, não tive tempo. - a voz de Gina quase sumiu no fim da frase.
- Como você o encontrou? - perguntou Jake olhando para Olivia.
- Ele estava deitado no banco, a cabeça para trás, o corpo encolhido. Achei que estivesse passando mal, então fui tocá-lo para ver se estava bem. Ele não se mexeu, eu o chamei repetidas vezes e nada. Dei meia volta para olhá-lo por um ângulo diferente e foi aí que vi, seus olhos abertos sem vida e seu pescoço coberto de sangue.
Olivia começou a soluçar. Gina a abraçou também chorando.
- Acho que chega de perguntas por hoje. - sussurou Jake, eu concordei.
- Obrigada pela colaboração.
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