Minha vida sempre foi um emaranhado de alegrias e tristezas. Em sua maioria alegrias. Quando olho pra trás vejo meu pai presente, protetor e amoroso. Vejo as rugas de sorriso em volta de seus olhos ambarinos, e vejo o sorriso orgulhoso a cada vitória conquistada por mim.

Na grande tela da minha vida, naquela janela por onde observo meu passado, vejo a camaradagem de uma melhor amiga atrevida e fútil, de um namorado dedicado e tenaz, de um grupo de amigos unidos e de uma vida cheia de sorrisos, festas e planos para um futuro que não é mais meu.

No agora me sobraram os retalhos. Uma teia fina de eventos do último dia da minha vida como eu a conhecia. Um espectro fraco, cheio de coisas que eram importantes pra mim, mas pouco valorizadas, e que agora eu talvez não considere mais tão importantes assim.

No agora, quando vejo tudo com mais clareza, percebo que aquela ignorância era uma benção, mas não posso mais voltar a ver o mundo daquele jeito. Não quando respiro presa dentro deste corpo e espírito quebrados. Não quando percebo o olhar verde vivo que me observa com preocupação em meio a multidão, e faz meu coração acelerar quando eu achava que ele não era mais capaz de tal proeza.