Capitulo 21

| PASSADO |

Cheguei até você sem esperanças

Você me deu mais do que uma mão para segurar

Você me pegou antes de eu atingir o chão

Me diga que estou segura, você me tem agora

Você pegaria a direção se eu perdesse o controle?

Se eu estou deitada aqui

Você me levará para casa?

Você cuidaria de uma alma quebrada?

Você irá me abraçar agora?

Você me levará para casa?

Jess Glynne | Take Me Home

Any Gabrielly

Abraçava Josh com força e não queria soltar ele.

Respirava aquele seu perfume que me acalmava de tão marcante que era dele e só desejei naquele momento viver ali para sempre.

— Respira, tá? — escutei sua voz em um sussurro enquanto sua mão alisava minhas costas.

Quando meu choro resolveu cessar, — porque já não tinha mais forças para aquilo —, Josh buscou um copo de água e me entregou pedindo para beber com calma.

Tomei aquilo com minhas mãos tremendo e notei seu olhar preocupado sobre mim.

— Any, realmente não quero te forçar a nada. — abaixei o copo. — Se não se quiser contar…

— Mas preciso. — digo com a voz fraca interrompendo ele. — Isso está me sufocando Joshua, desmaiei o Alex por conta disso. — fechei os olhos respirando fundo.

Fiquei encarando minhas unhas por alguns segundos e pensei por onde começar tudo, o que realmente era difícil…

— Quando eu era criança, era muito desastrada. — início encarando minhas mãos. — E como consequência disso, sempre que quebrava alguma coisa minha mãe gritava e depois me batia. Meu pai vivia fora por conta do trabalho, ele era caminhoneiro. — passei a mão no rosto. — Havia completado 13 anos quando ele foi demitido do trabalho. Nesse dia ele chegou em casa bêbado e me bateu dizendo que a culpa era minha. — respirei fundo.

— Depois desse dia nada foi mais o mesmo. Meu pai virou uma pessoa super violenta comigo e minha mãe não fazia nada, apenas assistia. — comecei a apertar minhas mãos.

— Não faz isso. — senti suas mãos sobre as minhas e relaxei elas novamente.

— Eles me tiraram da escola, me tiraram porque se eu aparecesse em um local com todos aqueles hematomas no corpo eles seriam presos na hora. — fiquei encarando nossas mãos. — Havia um porão na casa, e meu pai fez daquele lugar um local de tortura. — sua mão apertou a minha. — Nunca fazia nada, mas sempre que ele estava estressado me levava lá pra baixo e me torturava de todas as formas possíveis. — fechei os olhos para não lembrar disso.

— Quando completei quinze anos ele me obrigou a tocar nele, a deixá-lo excitado… aquilo foi nojento. — digo me segurando para não voltar a chorar. — Depois disso tudo começou a piorar ainda mais, ele levava homens lá em casa, e todos que queriam me tocar ele deixava…

— Eles abusaram sexualmente de você? — respirei fundo.

— Passavam a mão em mim, mas meu pai não deixava eles irem além disso porque eu era o "brinquedinho" dele. — passei a mão no rosto novamente.

— Tentou fugir? — assenti.

— Duas vezes. — digo me lembrando do dia. — Com 16 anos fugi pela janela do quarto e fui até a polícia.

— O que aconteceu? — comecei a negar com a cabeça.

— Meu pai pensou em tudo. — fechei os olhos com força. — Os policiais não me escutaram, me disseram que haviam recebido uma denúncia minha onde eu havia fugido de uma clínica… — sua mão pressionou a minha levemente. — Meu pai me buscou alegando me levar de volta, mas voltei para casa e ele me bateu antes de me torturar. — minha voz saiu séria.

— Na segunda vez fugi pela porta da frente e tinha em mente que não deveria confiar em ninguém, então apenas corri. Porém a mando do meu pai, os Tigers me encontraram e me levaram à força de volta. Também foi nesse dia que ele abusou de mim pela primeira vez. — travei meu maxilar. — Depois disso apanhei e achei que iria morrer. — criei coragem para encarar o loiro.

— Ele me torturou por duas horas seguidas e fiquei inconsciente depois disso. Quando acordei estava amarrada em uma cadeira e ele em pé na minha frente. Suas únicas palavras foram, "se tentar fugir de novo e eu te achar, não irá sofrer só na minha mão, e sim nas mãos dos Tigers". Depois disso, nunca mais tentei fugir. — minha voz voltou a falhar. — Não importava o que eu fizesse, ia viver em um tormento sem fim. — voltei a chorar.

— Eu sinto muito por isso. — ele me abraçou. — Sinto muito mesmo. — me apertou fraco.

Naquele momento foi como se tivesse tirado um peso das minhas costas. Meu corpo ainda estava trêmulo, meu coração disparado e ainda estava com dificuldade de respirar, mas no meio de tudo isso, me sentia aliviada. Aliviada por contar, por saber que nunca mais vou ver eles e por me sentir realmente protegida com Josh por perto.

— Me responde uma coisa. — se separou após eu voltar a me acalmar. — Sabe quando Ryan ficou interessado em você?

— Acho que desde o dia que ele me encontrou. — digo voltando a beber água. — Meus pais já haviam pedido dinheiro e drogas para vocês. — Josh arregalou os olhos. — Mas quitaram a dívida e pararam. Foi depois disso que criaram uma dívida enorme com os Tigers.

— Ryan não é de deixar acumular, se ele fez isso é porque realmente te queria. — encarei Josh que parecia irritado.

— Meu pai não queria me entregar, disse que se fosse preciso matava eles, mas Ryan sabia do meu aniversário, e na noite que completei 18 ele invadiu a casa e matou meus pais. — suspirei. — Ver aquela ambulância colocando dois corpos velados ali dentro me fez ficar aliviada, mas eu sabia que se continuasse ali poderia parar nas mãos de Ryan. — encarei o copo de água. — Então finalmente consegui fugir, e foram três dias para me afastar daquele bairro. — dei mais um gole na água. — Desde então tive que me virar na rua. — olhei ele.

— Então é por isso que não gosta quando tocam em você? — assenti.

— É como se minha mente estivesse bloqueada em um único lugar. Quando sinto uma mão em mim só imagino alguém querendo me fazer mal e me esquivo. Só que naquele momento do Alex eu estava lembrando de algo, e quando sua mão tocou meu braço eu automaticamente me virei dando um soco nele. — Josh tirou o copo da minha mão e segurou elas.

— Seu medo de escadas e elevador tem a ver com isso? — assenti.

— Meu porão era uma escadaria enorme, às vezes quando lutava para descer ele me empurrava. — suspirei. — E os lugares fechados, era porque minha mãe me colocava de castigo dentro de uma caixa minúscula e trancava com cadeado. Aquilo me deixava com falta de ar e tinha crises ali dentro, quando me dava conta a caixa já estava aberta e eu havia acabado de acordar de um desmaio.

— A sorte dos seus pais é estarem mortos, porque se dependesse de mim eu pegava os dois e faria eles sofrerem dez vezes mais. — vi seu maxilar travar e alisei sua mão com o polegar.

— Só quero esquecer tudo isso. — digo baixo.

— Me deixa cuidar de você? — encarei seus olhos confusa.

— Mas você já cuida. — forcei um sorriso.

— Não, não assim. — tocou meu rosto. — Pra sempre? — mordi o lábio inferior sentindo meu coração disparar novamente.

— Ficaria mesmo com alguém que você talvez nunca possa tocar? — pergunto receosa.

— Bom, estou te tocando agora. — soltei uma risada fraca.

— Você entendeu Joshua. — segurou meu rosto com suas duas mãos.

— Quero que você confie em mim. — disse olhando nos meus olhos. — Quero que quando você me olhe nos olhos realmente se sinta segura, que esqueça o mundo a sua volta e de algo que já te fez mal. — contrai meus lábios. — Realmente só quero te proteger Gabrielly, e te tocando ou não, meu sentimento por você será o mesmo. — sorri deixando uma lágrima escorrer e puxei ele para um abraço.

— Já confio em você. — digo no abraço. — Me sinto segura só de sentir seu cheiro e saber que está perto. — ele riu fraco. — Você já me ajudou muito, inclusive a subir escadas.

— Pode confessar, você me imaginava sem camisa, não é? — ri alto me separando e bati em seu braço.

— Você é um idiota. — riu. — Mas sim, realmente te imaginei sem camisa. — digo sem graça e ele sorri de canto.

— Te garanto que ao vivo e a cores vai ser melhor. — neguei revirando os olhos.

— Joshua, você realmente tem que parar com isso. — digo vendo ele ir até os armários.

— Por quê? — pegou dois pratos. — Isso te faz rir. — se aproximou. — Gosto de ouvir sua risada.

— Para de me deixar com vergonha. — cobri o rosto escutando sua risada.

Josh cortou dois pedaços de bolo e me deu um pedaço. Levei aquilo na minha boca e meus olhos cresceram de tão bom que aquilo estava.

— Meu Deus. — digo de boca cheia. — Quer casar comigo? — Josh deu risada se sentando no banco.

— Nós já estamos noivos. — piscou me fazendo rir. — Mas eu aceito viu. — rimos.

Comi aquele bolo com toda a vontade do mundo querendo me esquecer do resto. Não sei se era por eu estar desejando muito aquilo, mas parecia o melhor bolo que já comi na minha vida.

Terminamos de comer e já eram quase cinco da manhã. Josh e eu arrumamos as coisas e deixamos a cozinha apagando as luzes.

— Boa noite Gabrielly. — disse parando na porta do meu quarto.

— Boa noite Kyle. — me deu um beijo na testa e eu sorri.

Entrei no quarto e segui até o banheiro para tomar um banho rápido e escovar os dentes.

Coloquei meu pijama e assim que olhei aquela cama senti um arrepio percorrer o meu corpo...

Peguei meu celular e liguei a lanterna deixando o quarto.

Subi as escadas e assim que cheguei no final fui em direção ao quarto de Josh.

Dei três batidas ali e assim que a porta abriu perdi os sentidos.

Josh estava sem camisa, uma toalha enrolada na cintura e uma escova de dentes na boca. Seus cabelos ainda pingavam um pouco e eu encarei descaradamente aquele abdômen bem definido e todo tatuado.

— Gostoso, não é? Eu sei. — fui tirada do meu pequeno transe com ele falando com a escova na boca. — Entra aí. — Josh sumiu da minha vista e eu entrei fechando a porta.

Escutei ele sair do banheiro e vi de relance ele entrando em outro lugar. Cruzei os braços me aproximando de sua cama e me sentei ali.

— Precisa de alguma coisa? — gritou.

— Queria saber se posso dormir com você? — digo alto e não obtenho resposta. — Josh? — me virei vendo ele me encarar já vestido.

— Do nada? — dei risada.

— Não vou conseguir dormir lá sozinha, ainda mais agora que tive que relembrar tudo aquilo para te contar. — assentiu vindo na minha direção.

— Se for te deixar mais tranquila. — sorri vendo ele puxar as cobertas. — Pode ficar a vontade. — me enfiei debaixo daquelas cobertas e escutei ele ligar o ar.

— Obrigada. — me virei vendo ele apagar as luzes do quarto.

Josh se deitou ali e eu fechei os olhos ainda sorrindo. É impressionante como tudo tem exatamente o cheiro dele.

Tenho nem palavras para esse cap...

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Vejo vocês em breve. Votem e comentem 🤍

Xoxo - Sun

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