2. SHERA LEVON
Estou diante de uma capela.
Ela é simples, mas de longe linda.
Feita de pedra, decorada naturalmente com trepadeiras e pequenas flores amarelas e brancas.
Hoje vou me casar.
Estou tão feliz que não consigo parar de sorrir.
A porta da igreja abre, lá dentro todos os convidados me encaram.
São poucos. Andersen, meu noivo, pediu que fosse uma cerimônia modesta, com apenas as pessoas mais íntimas, apesar de podermos bancar uma festa milionária.
Meu vestido branco tem minúsculos cristais no busto e é liso na saia, meu cabelo longo e platinado está preso num coque baixo e no topo da minha cabeça está uma tiara de diamantes.
A igreja está decorada com orquídeas brancas e rosas.
Na porta meu tio de consideração pega no meu braço.
- Você está fantástica!- sussurra.
Minha felicidade triplica, posso ver nos olhos de Chris o quanto ele está feliz por mim.
- Seu pai estaria orgulhoso.
A menção do meu pai me faz querer chorar. Mas seguro a emoção e entro na igreja.
Andersen está no altar de terno branco. Lindo.
Mediano, ombros largos, cabelos liso e loiros curtos, queixo quadrado, olhos pequenos verdes, boca pequena rosada, nariz largo e a base do rosto reta .
Meu amor. Em breve meu marido.
Isso tudo parece um conto de fadas.
Sustento seu olhar até o altar.
- Cuide bem da minha garota.
Pede Chris ao me entregar a Andersen.
- Farei isso a todo instante.- garante.
Chris beija meu rosto e sai.
Andersen e eu ficamos na frente do padre.
- Senhoras e senhores, é com grande alegria que estamos aqui reunidos. O amor entre esse casal nos trouxe aqui. O amor entre esse casal os levará até a felicidade plena. Apesar das dificuldades que virão, o amor vencerá...
Enquanto o padre fala. A felicidade me domina.
Conheci Andersen em uma exposição de uma das galerias de artes dos meus pais.
Ele me pediu pra que eu lhe dissesse algo sobre um quadro pintado por Theobaldo Dantas.
Eu expliquei. Ele ficou me encarando a conversa toda e no final me deu um beijo.
Cinco meses depois estamos aqui.
Chris disse que era loucura quando anunciamos o casamento, mas não desisti. No fim ele cedeu, dizendo que se eu estava feliz ele também estava.
Chris sempre teve esse sentimento paterno comigo.
Ele era irmão de consideração do meu pai.
Meus pais morreram em um acidente aéreo quando eu tinha treze anos, desde então, Chris foi meu tutor até eu completar a maior idade e tomar posse da minha herança deixada por meus pais.
Odeio o número treze até hoje.
Depois da cerimônia seguimos para o salão de festas.
- Você está inesquecível.- Andersen fala no salão perto do meu ouvido.
Me arrepio de felicidade.
- Inesquecível é?
Andersen sorri.
Eu amo tanto, tanto esse sorriso.
Faria de tudo, todos os dias, só pra causar esse sorriso.
- Sim. Porque é assim que você é Shera, inesquecível.
Sinto meu rosto corar.
Andersen percebe e me beija.
Meu príncipe.
Dançamos tanto que meus pés começaram a doer.
Em algum momento um primo meu me chama pra dançar.
Gregory, é o único primo próximo, portanto foi o único primo convidado.
- Você está um espetáculo.
- Obrigada. Vejo que você veio sem companhia.
Todas as vezes que eu encontro com Greg, ele tem uma namorada diferente. Se é que eu posso chamar de namorada.
- Minha carreira é solo gata.
Greg é bonito. Mediano, corpo malhado, pele bronzeada, cabelo baixo estilo militar, olhos claros e um fino bigode.
- Troxe um presentinho pra você.
- O que é?
- Você vai adorar passar a lua de mel em Curaçao, com tudo pago.
Meu rosto se ilumina.
- Sério?
Greg é rico, ele fez furtuna sozinho. Na adolescência ele se rebelou contra seus pais porque eles queriam brigar na justiça para tirar minha herança. Então, Greg pediu pra ser deserdado e saiu de casa. Eu o ajudei por uns seis meses, mas ele não permitiu mais que isso. Tempos depois voltou e me contou que ganhava a vida roubando só que um tipo de roubo mais sofisticado, nas palavras dele.
Eu o repreendi na mesma hora, só que ele me fez prometer que não contaria a ninguém.
- Sério. É um lugar incrível. Você merece. Aquele cara nem tanto.
- Greg!
Desde que viu Andersen, Greg não foi com a cara dele.
- Porque tanta cisma?
Ele dá de ombros.
- Ele é perfeito demais.
Franzo o cenho.
- Isso não é bom?
- Não. Caras perfeitos são uma cilada. São como uma miragem no deserto.
- E você não é?
- Shera, você sabe que detesto perfeição.
Dou uma gargalhada curta.
No final da festa começamos a nos despedir dos convidados.
Chris se aproxima.
- Bom agora você é uma Chapman.- ele nos abraça- É uma nova vida a partir de hoje. E espero,Andersen, que você não deixe esses olhinhos pararem de brilhar.
Chris sempre desconfiado.
- Sim chef!- Andersen brinca e bate continência.
Chris sai e meu noivo, quer dizer esposo, me ergue pela cintura e em seguida me beija.
- Vamos para nosso castelo, princesa.
Eu o abraço tão forte, no fundo sinto medo de que um dia isso acabe.
Não. Que besteira. Isso não vai acabar. É o meu conto de fadas, e estamos começando o felizes para sempre.
Decidimos viajar em lua de mel no dia seguinte, então fomos para um hotel.
Já no quarto, depois do banho, Andersen me mostra alguns papéis.
- É sério que vamos falar sobre isso agora?- sorrio.
- Sim. Amanhã bem cedo o advogado vem buscar. Não quero esquentar a cabeça com isso quando voltarmos da viagem.
-Hummmm- eu resmungo.
- Vamos você só precisa assinar.
Ele me convence.
Galerias de artes era só um hobby do meu pai. Ele era dono de uma grande transportadora, que acabou sendo passada a mim quando tive fiquei maior de idade.
Eu até que entendia de negócios, Chris me ensinou muita coisa usando o discurso de que eu é quem iria tomar de conta de tudo.
Mas Andersen é apaixonado por negócios, ele sabe muito mais que eu, e agora que somos um só, seria injusto não passar a presidência a ele.
Os papéis são pra isso. Continuo dona de toda a herança, inclusive da empresa, no entanto quem vai administrar é Andersen.
Pego a caneta que ele me dá.
- Não vai ler sra. Chapman?
Ele brinca.
Beijo seus lábios suavemente.
- Acredito em você.
Ele sorri e eu assino os papéis.
- Pronto.
Ele me abraça por trás.
- Agora vamos antecipar nossa lua de mel.
Meu coração acelera e sinto um calor subindo entre minhas pernas e se espalhando pelo meu corpo.
Como amo Andersen.
Cinco meses foi muito tempo até ser dele por completo.
Nos braços dele me sinto segura. Sinto que não vou mais sentir aquele medo devastador que sentia desde a morte dos meus pais. Nunca mais me sentirei sozinha mesmo estando acompanhada.
Amar é maravilhoso, se Gregory quer seguir carreira solo, não sabe o que está perdendo.
★
Acordo com o som constante do despertador.
Abro os olhos e pego meu celular. Não é o despertador é o toque de chamada.
- Alô...- digo meio grogue.
- Graças a Deus, Shera!- é a voz do Chris.- estou ligando a horas.
Me sento na cama.
- O quê foi?
- Você é quem vai me dizer. O advogado da empresa me ligou a uma hora dizendo que você vendeu sua parte na empresa. Todos os 65%.
Não entendo direito.
- O quê? Não. Eu estava dormindo Chris.
- Bom então alguém vendeu... Meu Deus...
Silêncio.
- Puta merda.- é a primeira vez que ouço Chris xingar.- Shera cadê Andersen?
Só então me toco que o lado onde meu marido dorme está vazio.
- Ãh, deve estar no banheiro.
Digo me levantando e vou até o banheiro.
Vazio.
- Amor...?- chamo caminhando até a sala.
- Só um instante Chris.- digo no celular, ele fala algo mais não entendo.
Vou até a sacada.
-Amor?
Ninguém.
- Ele não está aqui.
- Shera, a mala. Vê se a mala tá aí.
Verifico.
Não está.
Minhas pernas começam a ficar fracas.
- Não, Chris não está...
-Porra...
- Chris o que está acontecendo?
Estou nervosa. Não consigo pensar. Cadê Andersen?
- Calma Shera, estarei aí rapidinho.
Ele desliga.
Ando pelo quarto pra vê se encontro algum bilhete.
Nada.
Pego o celular com as mãos suadas.
Dígito o número de Andersen.
Caixa postal.
Caixa postal.
Caixa postal.
Calma Shera, calma. Deve haver uma explicação.
Vai ver ele decidiu fazer alguma surpresa pra mim.
Andersen adora fazer essas coisas.
Que nem na vez que marcamos de nos encontrar pra jantar, quando cheguei no restaurante ele não estava, fiquei com tanto medo de que ele estivesse desistido de nós.
Então ele apareceu no palco do restaurante e cantou uma música linda pra mim.
Foi mágico!
Saí do quarto e pego o elevador, no hall caminho até a recepcionista.
- Olá sra. Chapman, já vai?
- Ãh, não. Escuta você viu meu esposo?
A jovem faz uma cara de confusa.
- Ele foi embora mais cedo.
Seguro no balcão com firmeza.
- Embora? C-como embora?
A jovem me encara. Só então ela e eu percebemos que estou de camisola.
Não me dou o direito de corar.
- Ele estava com uma mala e deixou as despesas pagas. Disse que tinha um assunto a tratar e que vocês se encontrariam depois.
Eu sabia que era mentira. Não nos encontrariamos.
Sigo em direção ao elevador, recepcionista fala algo mas meu cérebro não processa.
O que está acontecendo?
Por quê Andersen não me falou dessa emergência?
Porque ele não atende minhas ligações?
No quarto eu verifico de novo se ele deixou algum bilhete ou algum recado no celular.
Nada.
De repente o meu cérebro traz a memória a noite passada.
Eu assinando os papéis.
"Você não vai ler?"
Sinto um gosto amargo na boca.
Não. Não pode ser.
Não.
Pego o celular outra vez e ligo pro meu gerente do banco.
- Bom dia Shera!
- Bom dia Sr. Dkson...
- Como foi o casamento?
Ignoro a pergunta
- Sr. Dkson, eu gostaria de saber o saldo da minha conta por gentileza.
Ele fica em silêncio.
- Claro só um minuto.
Ouço um ruído. O homem fala com alguém.
A ansiedade está me matando.
- Shera?
- Sim?
- Seu saldo é zero...
Sinto uma pontada no peito.
Não...
- Como assim zero?
- Minha secretária afirma que você ligou mais cedo e transferiu todo o valor para uma conta na Suíça.
Quase caio.
- Suíça? Como? - passo a mão no rosto- Não dá pra saber que conta é essa?
Silêncio. Ouço ele digitando algo num teclado.
- Ah, sim...a conta está no nome do seu esposo, Andersen Chapman.
Desligo o celular.
O medo me domina.
Ele me deu um golpe?
Andersen, o homem que eu amo me roubou?
O homem que casou comigo ontem?
Alguém bate na porta.
Deve ser ele, sim, meu amor voltou pra explicar a brincadeira.
Abro a porta e meu coração pesa.
- Você está bem?- pergunta meu tio.
Ele entra acompanhado do meu advogado.
- Não estou entendendo nada .
Ele me encara.
- Shera você assinou alguma coisa esses dias?
- Sim, ontem. Andersen me deu uns documentos pra eu assinar.
Ele faz uma careta.
- V-você leu esses documentos?
Sinto as lágrimas brotarem.
- Não tio...
Chris e meu advogado se olham.
- Não, não- balanço a cabeça sem acreditar- deve ter alguma explicação.
As ações foram vendidas.
O dinheiro na minha conta é transferido.
Andersen some.
Sinto o quarto rodar.
- Querida, Andersen aplicou um golpe, ele roubou você. Você está falida.
Meu coração pesa, então tudo fica um borrão.
Eu desmaio.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top