8 Anos
— Se adaptou bem na casa dessa família?
— Na verdade sim, nos primeiros meses eu brinquei muito. O dono da casa, seu Carlos trabalhou como pedreiro a vida toda, a esposa Giseli era cozinheira, fez comida para pessoas muito importantes, eles chegaram na cidade quando ela estava no comecinho, então ajudaram em muitas construções.
— E os filhos deles?
— A filha mais velha trabalhava na prefeitura, era secretaria do prefeito, e o filho era um dos melhores vendedores de uma loja de materiais de construção, ele é do tipo que até no domingo não conseguia ficar parado então sempre tinha sobras de tijolos ou até isopor no quintal. Eu montava minha casinha em algum canto e brincava, eles sempre tiveram cachorros, então aproveitava bastante.
— E a escola?
— Me colocaram em uma escola particular, na época se chamava Paraiso da Educação, hoje ela não existe mais. Os filhos do seu Carlos foram muito bons comigo. O filho, João Carlos já tinha três filhos, todos fora do casamento e moravam com as mães. A filha, Fernanda, não tinha filhos, ela era um pouco mais arisca. A mãe me levava para a escola de bicicleta que eles me deram e depois, tio Carlinhos, era assim que chamavam o João Carlos: Carlinhos, ele me buscava de carro.
— Sua mãe reagiu bem a isso?
— Acredito que não, não sei. Porém um tempo depois, ela quis voltar para Goiânia.
— E quanto a você?
— Antes dela decidir voltar, eu fui batizada na Igreja Católica, tia Fernanda era catequista e tinha muitas amizades com as pessoas da Igreja, participava de muitas coisas, então ela o tio Carlinhos foram meus padrinhos.
— Você gostou?
— Do que me lembro sim! Me deram um vestido branco, um sapatinho rosa e fizeram penteados bonito nos meus cachos, tenho até foto desse dia.
— E quanto sua volta para Goiânia!?
— Não fui.
— Por que?
— Eu tinha um teto, roupas e calçados bons, estava na escola e saudável. Minha mãe ia voltar sem saber quando ia conseguir emprego, teria que ir atrás de uma casa alugar e eu era apenas uma criança que estava muito bem onde estava.
— Como seus padrinhos fizeram para isso acontecer?
— Tiveram uma conversa séria com minha mãe e ela cedeu minha guarda para eles.
— Te adotaram!
— Quase isso, eles tinham minha guarda provisória, não foi uma adoção legal. Ela voltou para Goiânia e eu fiquei no Mato Grosso.
— Você chorou?
— Não me lembro.
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