— Como foi depois que se adaptou?

— Divertido, por incrível que pareça, me dava bem com as meninas populares da sala, com os meninos. Era escolhida rapidamente nas aulas de educação física por ser mais esportiva.

— E enquanto suas notas?

— Não muito boas.

— Dificuldades ou seu lado bagunceiro falava mais alto?

— No começo, a segunda opção.

— Como a Fernanda reagiu?

— Me mudou de turno.

— Resolveu?

— Sim, porém um pouco dessa situação era para chamar a atenção dela. A mesma não estava indo em reuniões da escola, entrega de boletinhos, o tempo comigo era muito curto. Eu estudava de manhã, passei para a turma de tarde. O bom era que as duas turmas eram unidas, rolava muitas fofocas. No entanto essa troca proporcionou efeitos positivos, mesmo demorando um pouco para me adaptar à nova rotina.

— E as amizades?

— As garotas eram mais estudiosas, escutavam músicas internacionais, eram atualizadas sobre o mundo dos famosos e comecei a me interessar por esses assuntos também. De cera forma, comecei a descobrir o mundo.

— Elas te aceitaram bem?

— Até que sim. Passei a prestar mais atenção nas aulas, uma ajudava a outra. Aliás, uma dessas novas amizades, Sabrina, era apaixonada por livros e através dela comecei a ler também.

— Qual foi seu primeiro livro?

— O caçador de pipas.

— Logo esse?

— Pois é, e nunca mais me esqueci da história, até esqueci de devolver esse livro para ela. Depois, Rick Riordan.

— Fernanda deve ter ficado contente com essa mudança.

— Não sei dizer. Nessa época eu já ficava em casa sozinha de manhã e a deixava limpa, de tarde estava na escola, depois esperava ela chegar para fazer o jantar, lavava a louça e ia fazer minhas tarefas, cada uma ia para lado.

— Não conversavam como foi o dia de vocês?

— Ás vezes, quando ela estava mais irritada não conversávamos. Outros dias mais tranquilos, o jantar era diferente ou ficávamos vendo televisão juntas.

— Nessa fase que alguém da família ficou internado, não foi?

— Sim, a gripe suína estava descontrolada nesse período e o vô Carlos ficou noventa dias na UTI da capital.

— Deve ter sido um choque para você

— Eu não entendia direito o que estava acontecendo, mas ele fazia muita falta em casa. Uma semana ficava a mãe no hospital, na outra tio Carlinhos, ficava essa troca e eu ia junto de companhia nas trocas.

— Ele se recuperou?

— Sim, ainda bem. Ele voltou para casa, contratamos uma enfermeira para ficar com ele em casa até ficar cem por cento. Também ajudei no que podia, passava creme das pernas, ficava deitada com ele.

— Seu avô era um homem forte.

— Ah com certeza, o pilar da família, nada derrubava ele.

— E como foi o retorno da rotina após esse acontecimento?

— A enfermeira foi embora depois que ele se recuperou. Ocorreu as eleições de prefeito e como minha mãe era cargo de confiança do que saiu, ela e a equipe saiu junto, ou foram rebaixados. O pessoal da igreja organizou uma viagem de trinta dias pelos lugares santos no exterior e ela foi junto. Quando voltou, adotou outra menina.

— O que achou disso?

— No começo legal, até eu ficar de lado.