Anjo mais velho - Songfic
AVISO: Essa fanfic aborda problemas de saúde mental e contém morte do personagem, se isso for um gatilho não leia. Coloque sua saúde mental em primeiro lugar.
AVISO ²: As informações sobre o estado e o diagnóstico do Ian na história são ficcionais e portanto não devem ser levadas a sério.
NOTA DA AUTORA: Essa história uma Songfic baseada na música Anjo mais velho do Teatro Mágico. Ela é um universo alternativo da 4a temporada, onde a volta do Ian depois do exército foi diferente.
O dia mente a cor da noite
E o diamante a cor dos olhos
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente
…
Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete, a cena se inverte
Enchendo a minh'alma daquilo que outrora eu
Deixei de acreditar
Era estranho para Mickey Milkovich estar correndo na direção da casa dos Gallaghers como se sua vida dependesse disso. O estranho é que ele sentia que realmente dependia. Desde a notícia de que Ian estava voltando para a casa Mickey estava literalmente contando os dias.
Ele não tinha detalhes do porquê Ian estava voltando – O ruivo falava sobre o maldito exército desde que era um magrelo catarrento jogando na liga infantil de beisebol – mas qualquer que fosse o motivo Mickey decidiu que era bom o suficiente. Ele se recusou a pensar nas coisas ruins que podiam ter acontecido, que Ian podia ter se ferido em algum país do oriente médio, lutando por um governo que estava pouco se fodendo para ruivos pobres do Southside de Chicago.
Quando bateu na porta da casa de Ian, sentindo seu coração acelerar e uma estranha vontade de vomitar, Mickey não pode deixar de pensar o quanto isso se parecia com o dia em que Ian bateu à sua porta parecendo igualmente desesperado. Parecia certo que as coisas tivessem se invertido.
Parecia certo ele vir atrás do Gallagher agora. Porque aquele ditado estúpido de "Você não percebe o que você tem até perder" estava fazendo sentido pra caralho nos últimos meses.
Não foi Ian quem abriu a porta, no entanto, foi Lip. Ele encarou Mickey por um momento antes de sair da casa e fechar a porta atrás de si.
— Ele chegou? – O tom de Mick era um pouco ansioso demais, fazendo-o soar como um maldito adolescente e ele se chutou um pouco por isso.
— O que você está fazendo aqui, Milkovich? – As palavras de Lip eram duras, mas o loiro parecia mais cansado que bravo.
— O que você acha que eu estou fazendo aqui? Mandy contou que o Firecrotch ia voltar hoje. – Mickey bufou antes de perguntar outra vez – Ele já chegou?
— Sim.
— Posso vê-lo?
— Não
— Foda-se, Lip – Mickey começou, mas foi interrompido quando Lip o empurrou com força fazendo-o cair de costas no chão.
— Não, foda-se você – O loiro parecia zangado – Ele teria ficado se você tivesse pedido. Ele não teria ido para a porra do exército e ele não teria... Ele não teria... – O loiro sufocou um grito de raiva antes de acertar um chute na perna de Mickey.
— O que aconteceu? – Uma sensação desagradável tomou conta do estômago de Mickey. Quando o outro não respondeu ele insistiu – Que porra aconteceu?
A porta se abriu outra vez e dessa vez Fiona saiu parecendo ainda mais irritada que Lip.
— Por que vocês dois estão gritando? É quase meia-noite, as crianças estão tentando dormir. – Os olhos da mulher se estreitaram ao notar Mick – O que você está fazendo aqui?
— Procurando Ian – Ele respondeu ao mesmo tempo em que Lip dizia "Indo embora".
— Ele deve alguma coisa a você? – A mulher cruzou os braços – Porque eu não tenho tempo para ser estorquida por sua família nazista.
— Nós somos... Amigos – A palavra era estranha na boca de Mickey, mas não era mentira também, porque Ian era a única pessoa que ele já tinha considerado um amigo de verdade. O rapaz ouviu Lip bufar, mas ignorou – Eu quero falar com ele.
— Ian não está aqui – Fiona disse cansada.
— Não minta pra mim, Lip já confirmou que ele voltou.
— Ele voltou – Fiona suspirou – Mas está no hospital. Ala psiquiátrica.
Tua palavra, tua história
Tua verdade fazendo escola
E tua ausência fazendo silêncio em todo lugar
Mickey parou em frente ao hospital e mordeu o lábio inferior tentando decidir se valia ou não valia a pena entrar. Ele havia parado nesse exato ponto do caminho nos últimos cinco dias depois que descobriu que Ian estava internado na ala psiquiátrica em estado catatônico depois de uma missão que deu errado.
Hesitando a cada passo, o Milkovich finalmente atravessou a porta. Ele se perguntou se era essa a sensação que Sheila tinha quando tentava sair de casa.
O rapaz ficou parado na entrada e não se mexeu pelos próximos momentos, não até que uma enfermeira se aproximou com a cara fechada e disse para se afastar da porta porque estava atrapalhando a passagem das pessoas.
Uma outra enfermeira, essa mais velha que a primeira e mais simpática, pareceu perceber que Mickey estava perdido e teve pena do rapaz.
— Eu posso ajudar, rapaz?
— Eu... Hum... – O Milkovich não sabia o que dizer.
— Atendimento ou visitante? – Ela perguntou como se estivesse falando com uma criança. Em qualquer outro momento, Mickey ficaria ofendido, mas naquela hora se sentia agradecido.
— Visitante – O rapaz falou por fim – Ala psiquiátrica.
— Isso é do outro lado do prédio, querido, você pode entrar por ali – A mulher apontou para uma porta lateral. – Eles tem uma recepção própria – Quando Mickey apenas olhou para ela com uma expressão vazia, ela sorriu e colocou uma mão em seu ombro – Eu vou te mostrar.
A mulher o guiou pelo corredor que havia indicado e pouco depois chegaram a uma recepção menor que a principal. Uma jovem estava sentada mexendo no celular e parecendo entediada. Ela levantou os olhos da tela quando os dois chegaram mais perto. A enfermeira que o acompanhou deu um tapinha em seu ombro como despedida antes de se afastar.
— Em que posso ajudá-lo, senhor...? – Perguntou a jovem, os olhos de Mickey captaram a pequena placa na mesa com o nome Ava C. Ferrari escrito.
— Ian Gallagher – Mickey respondeu de pressa.
— Pois não, senhor Gallagher?
— Não – Mickey sacudiu a cabeça – Eu não sou Ian. Quero ver Ian. Meu nome é Mickey Milkovich.
A mulher se voltou para o computador pesquisando o nome de Ian e depois de alguns momentos encontrou.
— Sim, ele está liberado para receber visitas.
—Eu sei. – Mickey revirou os olhos, – É por isso que eu tô aqui.
A mulher fez um ruído descontente com o comentário antes de perguntar:
— Qual o grau de parentesco?
— Eu... Não sou um parente – Ava abriu a boca, provavelmente para dizer que ele não poderia visitar Ian se não fosse um parente, mas Mickey acrescentou – Sou o namorado dele.
A mulher olhou para ele, parecendo não acreditar em suas palavras. Não era difícil imaginar o porquê. Muitas pessoas tinham uma imagem formada de como eram os gays, mas Mickey ia contra todos os esteriótipos possíveis. Ele parecia mais o tipo que espancava homossexuais e de fato foi assim que seu pai o criou.
— Me desculpe, mas você não pode visitá-lo sem a permissão de um parente. Talvez se voltar amanhã com a irmã dele...
Mickey podia sentir seu temperamento começar ferver, mas ignorou a raiva e tentou parecer simpático. Ele não era bom nisso. Ian costumava dizer que quando ele se esforçava para sorrir ficava parecendo um psicopata.
— Você não pode abrir uma exceção? – Ele tentou – Já que estou aqui?
— Não, sinto muito – O tom de Ava desmentia suas palavras.
— Você não pode ligar para a irmã dele? Imagino que você tenha o número.
A mulher olhou para ele, com uma expressão calculada antes de concordar. Enquanto ela discava, no entanto, Mikhailo se arrependeu de ter sugerido isso, ele não acreditava que Fiona fosse permitir a visita.
— Fiona Gallagher? – A mulher esperou por uma resposta – Estou ligando da Ala psiquiátrica do General Hospital – Ela fez outra pausa. – Não. Seu irmão está bem. Tem um rapaz aqui que deseja vê-lo, ele disse que se chama Mikhailo Milkovich. – Uma expressão estranha cruzou seu rosto e Mickey teve certeza de que Fiona tinha negado o acesso, ficou surpreso quando Ava estendeu o telefone para ele. – Ela quer falar com você.
Engolindo seco, o rapaz pegou o aparelho como se estivesse pegando uma granada prestes a explodir e levou ao ouvido.
— Fiona... – Ele começou, mas foi interrompido pela voz estridente da mulher.
— O que diabos você está fazendo, Milkovich? Por que você acharia que é uma boa ideia... Por que você está perseguindo meu irmão?
— Eu preciso vê-lo – Era um tom implorante que Mickey só tinha usado antes pronunciando aquele "não" tão ineficaz, meses atrás, quando Ian disse que estava partindo – Eu preciso vê-lo – Repetiu, tentando fazer Fiona ouvir a urgência em seu tom.
— Por quê? – A mulher perguntou e Mickey sentiu o estômago torcer com a ideia de dizer a verdade, o medo irracional de que seu pai fosse aparecer no momento em que pronunciasse as palavras. O medo que dizê-las em voz alta as tornassem reais... Mas já era real e evitar dizer as palavras já não funcionava como antes de Ian partir – Mickey? Você ainda está aí?
— Eu... – O rapaz gaguejou sentindo os olhos arderem – Eu o amo... Eu amo aquele filho da puta ruivo
Dizer essas palavras era mais libertador do que Mickey jamais tinha esperado. A moça da recepção estava olhando para ele com surpresa, certamente não esperando que toda a coisa de ser gay fosse verdade, ou que o cara com "Fuck u up" tatuado nos dedos estivesse prestes a chorar na sua frente.
— Merda – Amaldiçoou Fiona do outro lado da linha – Passa o telefone de volta para a recepcionista.
Mickey ficou tentado a perguntar se isso era um sim, mas apenas murmurou de acordo antes de devolver o telefone à Ava.
— Sim, – A mulher falou ao colocar o aparelho de volta ao ouvido. Ela acenou com a cabeça enquanto ouvia Fiona falar, como se tivesse esquecido que a Gallagher não podia vê-la. – Tudo bem – Ela concordou por fim – Tenha um bom dia, senhorita Gallagher. – Quando desligou o telefone, clicou em um botão sobre a mesa – Visitante para Ian Gallagher. Quarto 13B. – Ela anotou nome de Mickey em uma etiqueta e fez sinal para que ele se aproximasse – Sinto muito pelo seu namorado – Disse parecendo mais sincera dessa vez, enquanto colava o adesivo na jaqueta de Mickey. O rapaz não teve tempo de responder antes que um enfermeiro asiático e musculoso dobrasse o corredor. – Taryus vai acompanhar você.
Mickey concordou com a cabeça antes de seguir o homem pelo corredor. Os dois homens andaram em silêncio, passando pela porta com grades que dava acesso aos pacientes. Taryus conduziu Mickey através do salão comunitário e dos corredores, até parar na sala indicada.
— Por que ele está no quarto? – Perguntou o Milkovich preocupado – Ele não deveria estar no salão com os outros?
— Os barulhos do salão o incomodam – Taryus abriu a porta e Mickey pode ver Ian sentado imóvel em uma cadeira em frente a uma janela – Trocamos ele de quarto com a senhora Parker, assim pelo menos ele tem algo para o que olhar.
— Ele está...? – Mickey não sabia como formular a pergunta. Ele imaginava que "bem" não era a palavra adequada, já que o fato de estar ali dizia que Ian não estava bem.
— Ele ainda tem a capacidade de sustentação – O moreno olhou para Taryus como se estivesse falando grego e o último reformulou – Ele pode ficar em pé ou sentado, mas ele só faz os movimentos que o estimulamos a fazer. Ele não parece ter consciência do que acontece ao redor, não fala e não se mexe a não ser no caso de barulhos altos, nesse caso ele grita. Muito – Acrescentou tardiamente – Ele se debate também... Mas é o movimento é mais convulsivo que controlado.
As palavras de Taryus fizeram o estômago de Mickey se torcer ainda mais com a culpa. Ele se aproximou de Ian com cuidado entrando no campo de visão do rapaz.
— Ian? – Mickey chamou baixinho, enquanto se abaixava para que seus olhos ficassem no mesmo nível dos do ruivo. Não houve nenhuma reação e apesar de todos os avisos do enfermeiro, o Milkovich sentiu seu coração afundar ainda mais, pois de alguma forma ele tinha uma pequena esperança de que Ian o reconhecesse.
O enfermeiro permaneceu parado na porta e não deu nenhuma indicação de que fosse sair. Talvez Mickey tivesse brigado com o rapaz se a ocasião fosse outra, mas dessa vez ele não se importou. Na verdade era um pouco reconfortante saber que se algo acontecesse, teria alguém por perto para cuidar do ruivo.
— Ei, Ian – O Milkovich tentou outra vez, olhando nos olhos desfocados do rapaz. – Sou eu, o Mickey. E-eu... Eu não sei se você ainda está aí... Se você ainda está me ouvindo... – Ele estendeu a mão para tocar na de Ian, mas antes lançou um olhar a Taryus, o rapaz deu um pequeno aceno de cabeça como garantia de que Ian não ia surtar se ele o tocasse. Segurando a mão do ruivo, Mikhailo continuou – Eu espero que você esteja me ouvindo, eu sinto muito por não pedir para você ficar... – Ele sentiu os olhos arderem e sua voz embargar. – Você foi um idiota por ir pra porra do exército – Um riso seco escapou de seus lábios – Mas eu fui ainda mais por não impedir. Ian?
Os olhos de Ian permaneceram inexpressivos, e Mickey, mais do que nunca, sentiu que estava se afogando. Ele se levantou e saiu do quarto sem mesmo lançar um último olhar ao ruivo. Ele jurou a si mesmo que nunca voltaria.
Metade de mim
Agora é assim
De um lado a poesia, o verbo, a saudade
Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim
Demorou apenas três dias para que Mickey quebrasse a promessa que fez a si mesmo. Ian já havia sido transferido para um sanatório dessa vez. A recepcionista da Elísios Sanatorium, uma mulher de meia idade chamada Sue Kattar, assim como Ava, ela fez a checagem com Fiona para saber se ele tinha permissão para ver Ian e a Gallagher apenas confirmou dessa vez, sem pedir para falar com o rapaz.
Ele conseguiu ficar um pouco mais dessa vez, conversando com Ian como se fossem os velhos tempos, contando histórias e fazendo piadas obscenas. Por alguns momentos ele até pode fingir que estavam no terreno baldio em que se encontravam ou no velho campo de beisebol, mas então seus olhos encontraram os vazios de Ian e a necessidade de chorar e gritar o quanto isso era injusto o fez correr para fora da sala uma segunda vez.
E pela segunda vez ele prometeu não voltar
E pela segunda vez quebrou a promessa, cinco dias depois.
Assim Mickey caiu em uma rotina de visitar Ian, fugir quando sentia que estava prestes a quebrar, prometer não voltar nunca mais e quebrar a promessa em menos de uma semana.
Mais de um ano se passou nessa rotina e no próximo Mickey apenas se conformou com o fato de que nunca seria capaz de cumprir a promessa de não voltar. Então ele passou a visitar Ian uma vez a cada dois dias. E por mais triste que fosse se permitiu acostumar com o novo Ian.
O máximo que ele ficou longe de Ian depois disso foi quando seu pai descobriu sobre sua sexualidade encontrando as revistas pornôs masculinas em seu quarto.
Ele poderia ter facilmente atribuído as revistas à Mandy – Ele tinha emprestado algumas dela de qualquer maneira – Mas quando a foto de Ian caiu de uma das revistas e Terry começou a dizer uma porção de coisas ofensivas sobre o ruivo, Mickey se viu gritando na cara de seu pai e alto o suficiente para o bairro ouvir que ele era gay e que adorava ser fodido.
A única coisa que impediu que seu pai o matasse foi a chegada de seu irmão Iggy. Terry foi levado de volta para a prisão por violar a condicional e Mickey para o hospital com várias costelas, um braço e o nariz quebrados, o rosto totalmente inchado e uma Concussão grave.
Os médicos queriam mantê-lo no hospital por pelo menos uma semana. O Milkovich saiu depois de quatro dias e o único motivo de ficar tanto tempo foi Iggy prometendo quebrar a perna dele se ele não ficasse na cama.
Antes mesmo de ir para casa, o rapaz foi para o Elísios. Sue olhou chocada para seu rosto que ainda estava coberto por hematomas.
— Eu estava me perguntando porque você ainda não tinha vindo essa semana – A mulher comentou – Mas seu rosto explica muita coisa. Você está bem garoto?
— Sim – Foi a resposta lacônica do rapaz enquanto pegava o passe de visitante.
Quando viu Ian, ele se desculpou profusamente por não ter vindo nos dias anteriores, embora soubesse que isso não tinha feito diferença para o rapaz. Então ele contou tudo o que tinha acontecido com seu pai, rindo enquanto descrevia as expressões de seu Terry enquanto ele falava sobre sua vida sexual.
— Sabe... Você estava certo – Mickey comentou quando o horário de visita já chegava ao fim – Eu sou gay e eu te amo... – Uma lágrima escapou de seu olho, a primeira que ele derramava na frente de Ian – Eu devia ter dito isso antes... Eu te amo Gallagher.
Mikhailo se levantou ainda segurando a mão do ruivo e beijou gentilmente seus cabelos. Quando soltou a mão de Ian se surpreendeu a ver que os dedos do rapaz estavam envolvendo sua mão também. A surpresa foi ainda maior quando os dedos dele realmente se moveram, apertando o membro um pouco mais.
Mickey olhou para o rosto de Ian surpreso, os olhos do rapaz ainda estavam fora de foco, mas havia uma lágrima correndo por seu rosto também.
— Eu vou voltar – Ele prometeu levando a mão de Ian aos lábios e beijando os nós de seus dedos. – Eu sempre vou voltar. Enquanto eu respirar vou estar com você, Firecrotch.
E ao contrário da promessa que fazia ao fugir, Mickey sabia que essa era uma promessa que podia cumprir.
E o fim é belo, incerto, depende de como você vê
O novo, o credo, a fé que você deposita em você e só
Os médicos ficaram surpresos ao ver que Ian tinha retomado parte da consciência, mesmo que fosse apenas um pequeno movimento e pequenas expressões de emoções como a capacidade de derramar lágrimas e, com o passar dos meses, um pequeno movimento nos lábios que podia ser interpretado como um sorriso. Ainda era uma dura verdade que Ian nunca estaria recuperado, mas não deixava de ser impressionante o efeito benéfico das visitas de Mickey.
O Milkovich continuou a visitar e a conversar com Ian como havia prometido. Ele até conseguiu um emprego no sanatório como zelador e, mesmo não sendo o tipo de pessoa que fica feliz em ter um trabalho regular, gostava de poder ver Ian todos os dias.
Nos vinte anos que se seguiram, Mickey visitou Ian religiosamente todos os dias. Ele ainda sentia seu coração se encher de esperança a cada pequeno movimento do ruivo, embora a melhora nunca tenha passado de um leve aumento na sua expressão de um sorriso.
E então Mikhailo Milkovich morreu.
Ele estava indo para a casa depois de se despedir de Ian, quando o tiroteio começou. Não houve nem mesmo tempo de pensar em se esconder antes que uma bala o atingisse nas costas e outra no pescoço.
Seu penúltimo pensamento foi, que era muito irônico que ele tivesse sobrevivido por anos no Southside como um bandido, para morrer no Westside trabalhando honestamente.
Seu último pensamento foi Ian.
Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você
Só enquanto eu respirar
Quando souberam da notícia da morte de Mickey, os médicos e enfermeiros do Elísios esperaram preocupados pelo momento em que Ian Gallagher percebesse que seu visitante regular não voltaria mais e regredisse ao estado inicial.
Isso não aconteceu, no entanto.
Ao contrário, parecia que Ian estava mais feliz que nunca.
Os médicos não entendiam o motivo do sorriso quase permanente que enfeitava o rosto do ruivo todos os dias.
Mas isso era porque, ao contrário de Ian, eles não podiam ver a forma um tanto translúcida de Mickey Milkovich sempre presente no quarto.
Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você
Além de quando eu respirar.
NOTAS FINAIS:
Espero que tenham gostado da história, sei que parece que só escrevo tragédia...
E provavelmente é isso mesmo 🤔
Mas tô pensando em algumas histórias mais lights. Só falta o ânimo pra escrever.
É isso
Até o próximo capítulo 🤟🌈
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