Hayato Hiroko - 04/02/2019

Bati a porta de meu armário após ter pego todos os livros que precisaria para o próximo período. Soltei um suspiro, fechando os olhos para tentar me acalmar. Eu nunca gostei da escola, ainda mais no primeiro dia. Podia ouvir cada conversa retardada que se passava naquele bendito corredor, e isso estava me deixando louca.

—Está tudo bem, mana? — Nao perguntou, fechando o armário ao lado do meu e me encarando com um olhar um tanto preocupado.

—Eu estou na escola, então a resposta é um grande "não" — Respondi, apoiando minhas costas no armário.

—Não é tão ruim assim — Indagou, colocando os livros debaixo de seu braço —Eu estou indo para a minha aula. Não quero me atrasar no primeiro dia. Sugiro que faça o mesmo — Ele começou a se afastar, mas parou, aparentemente pensando em alguma coisa —Viva uma vida normal. Você não precisa ficar escondida em casa o tempo inteiro.

"Viva uma vida normal", ele acaba de me dizer. Encarei ele enquanto se afastava, até que desapareceu na multidão. Não tendo mais muito o que fazer além de apreciar aquela bela cacofonia que estava naquele maldito corredor, resolvi ir para a sala. Foram alguns passos na direção contrária a que meu irmão, Nao, seguiu. Usando a destra, empurrei a porta dos alunos para o lado, produzindo aquele clássico som. Para a maioria das pessoas, é algo irrelevante, mas acaba sendo bem irritante quando se tem uma audição como a minha. Desde o início das férias, eu havia podido ficar na minha, no silêncio. Agora teria que me acostumar novamente com aqueles barulhos, as conversas paralelas, e ainda fingir que não ouvia nada. "Obrigada, Nao. Definitivamente, não era tão ruim.", pensei, sarcasticamente, enquanto olhava para a sala vazia. A professora — uma mulher em seus vinte e nove, com cabelos negros e lisos de médio comprimento, cujo nome era Akiyama Nanako. Ela era professora de japonês desde o primeiro ano — levantou seu olhar do que estava fazendo para olhar para mim, me direcionando um rápido sorriso. Não correspondi, apenas olhando pela sala para tentar encontrar um lugar que me agradasse. Não havia ninguém na sala. Ninguém, exceto ele. Ishikawa Kazuharu. O conheci ano passado. Ele tinha dezesseis anos, uma altura mediana e cabelos de coloração escura, os quais  sempre mantinha despenteados. Seus olhos possuíam uma coloração de vinho, e pareciam nunca ter uma expressão definida. Ano passado, havia sido representante de classe. Eu não me importava com aquilo nem um pouco, era apenas perda de tempo para mim, mas ouvia os colegas de classe comentando sobre o bom trabalho dele. Eu o encarei por alguns instantes. Kazuharu estava parado ao lado da mesa da professora, encarando o livro didático de japonês que envolvia com a manual destra. Estranhamente, enquanto o encarava, ele levantou o olhar e começou a procurar pela sala. Disfarcei, já que não estava com a mínima vontade de uma interação, com ninguém. Apenas queria me sentar em algum lugar calmo e esperar que a aula começasse. Consegui um lugar ao lado da janela, onde olhar para o que havia do outro lado podia ajudar a me distrair do que acontecia. A aula começou uns dez minutos depois, e Kazuharu se direcionou até a carteira do meio, da fileira do meio. Foram cinquenta minutos de aula antes que aquele maldito alarme soasse, quase me fazendo pular pela janela com o susto. Enquanto as pessoas se levantavam para o tempo livre, a senhora Akiyama pediu para que os alunos esperassem, já que havia um comunicado.

—Alunos, como hoje é o primeiro dia, considero adequado avisá-los sobre isso — Ela começou, vasculhando sobre o ficheiro que tinha sobre sua mesa —A escola irá realizar alguns pequenos concursos para eleger os líderes dos clubes de kendo, literatura clássica e cultura. Isso é feito para dar a chance para os primeiranistas precisam para poderem se enturmar, mas também para divertir o restante dos alunos nesse primeiro semestre — Senhora Akiyama fez uma pequena pausa, como que esperando ou pensando em alguma coisa —Alguém gostaria de falar?

Um pequeno grupo, composto de algo por volta de doze alunos, levantou suas mãos, esperando permissão para retirar suas dúvidas.

—Dois últimos avisos  — Ela tomou a palavra após ouvir e responder as perguntas dos alunos que levantaram suas mãos —Já que esse ano será bem corrido, o diretor enfatizou a necessidade de escolhermos um representante de classe, para que este possa entrar em contato com o conselho estudantil. E, com relação ao conselho, há duas vagas, já que aqueles que ocupavam estas vagas se formaram ano passado. Haverá uma votação mais tarde, e vocês devem escolher quem será o representante de classe de vocês. Lembrem-se de votar pensando em capacidade, não em amizade. Àqueles que desejarem se candidatar ao conselho, haverá uma votação na próxima semana. Como já são do segundo ano, já podem participar — Ela terminou seus avisos com um "era só isso", antes de liberar os alunos.

Peguei minhas coisas e as enfiei dentro da bolsa, pendurando esta em meu ombro direito enquanto me levantava. Ao sair da sala, acho que vi Kazuharu indo conversar com a professora. Depois do ótimo trabalho dele no ano passado, acho que boa parte da turma vai votar nele. Considerando que ele foi falar novamente com a professora, acho que ele também ira tentar se candidatar ao conselho. Nunca vou entender esses humanos, que podem simplesmente levar uma vida comum, mas escolhem assumir tantas responsabilidades. Como eu já havia dito, era tempo livre. Estranhamente, não haviam alunos nos corredores quando saímos. Foi como uma espécie de rebanho em estouro. Assim que saímos, cada uma das portas das demais salas foram se abrindo, liberando uma torrente de estudantes, que inundaram o corredor. Conversando, brincando, rindo. Eu fiquei ali, parada, perdida devido aos meus sentidos aguçados serem perturbados por tudo aquilo. Juro que comecei a sentir minhas orelhas mudarem e minhas unhas crescerem. Precisava sair dali logo, ou teríamos assassinatos no primeiro dia. Senti um peso sobre meu ombro, vindo de trás. Olhei nessa direção, confusa, com um olhar furioso. Era Nao. Ele fez sinal para que eu o seguisse. Seguimos pelo corredor, na direção contrária a enxurrada de alunos, indo até as escadas. Nos próximos minutos, eu estava sentada em um banco que havia na cobertura do prédio. Nao me deu um dos sanduíches de carne— imagino que saibam de qual carne se trata— que ele havia trazido. Enquanto comia, consegui me acalmar um pouco.

—É, está ruim mesmo— Ele comentou, sarcasticamente.

—Jura? — Respondi, amassando o papel que envolvia o sanduíche que acabara de acabar —Eu preciso me acostumar com todos esses barulhos de novo. É coisa de louco, como você consegue?

—Me irrita bastante, mas é só não pular na garganta da pessoa mais próxima a você — Ele respondeu, dando um sorriso sarcástico enquanto se levantava. 

Faltavam alguns minutos para o fim do tempo livre e para o começo da próxima aula. Nao começou a se direcionar até as escadas. Nesse momento, um raio de luz do sol passou por ali, ofuscando um pouco as nossas visões. Enquanto o sol se afastava, olhei para ele. Nao estava de costas, com uma das manuais acima de suas sobrancelhas para poder enxergar melhor. O vento balançou meus cabelos. Eu senti um aperto no coração, e, naquele momento, eu não pude entender do que se tratava. Mas acho que aquela foi uma das últimas vezes que vi meu irmão.

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