O dia estava lindo e ensolarado.
Com grande escárnio, como se me desafiasse
A derramar uma lágrima sequer.
E está tudo bem.

Quando observei a morte tirá-la de mim,
Lenta e sorrateira,
Não havia ar no mundo que eu pudesse
Forçar para dentro de meus pulmões
E está tudo bem.

Quando coisas assim acontecem,
E quando tudo o que tenho são lembranças,
Eu me afogo
Em um mar quase inconsciente, sufocante
E eu me forço a parar em uma freada brusca para não ser uma companhia constante.
E está tudo bem.

Pois é em meus sonhos onde a revejo,
Onde o desejo profundo de torná-la novamente real
É quase cruel e cegante.
Ainda assim, está tudo bem.

Porque eu sei que há beleza em tudo,
Nas flores, nas barracas de fim de semana
Na morte, no luto e na desistência.
Há beleza em tudo de formas diferentes.

E há beleza, também, em não estar tudo bem.

(Rabiscos sobre perder um amigo).

27/12/17.