ATO III: CAPÍTULO VINTE E CINCO
Beauchamp não tinha mudado nada. Ele usava óculos sem hastes, uma camisa branca lisa cm as mangas enroladas e uma gravata azul escura em seu colarinho. Ele até mesmo tinha o mesmo guarda-chuva pendurado em seu antebraço bronzeado.
Ele separou-se de nosso abraço e me segurou pelos ombros. "Louis!" Seus olhos gentis brilharam. "Veja só você. Todo crescido e com o papel principal. Estou tão orgulhoso de você."
Um calor subiu até minhas bochechas. Elogios vindos de Beauchamp eram como receber a luz de cem sóis.
"Não acredito que você está aqui, senhor! Eu não fazia ideia de que seria você. Eu teria vindo ontem e lhe dado uma recepção apropriada!"
Sua longa e elegante mão acariciou minha nuca. "Por favor, agora somos colegas. Chame-me de Alex."
"Alex." Disse, sentindo o sabor da palavra em minha língua.
Mesmo que fossemos colegas eu ainda me sentia como aquele garoto no publico o assistindo dançar pela primeira vez. Eu estava tão admirado por ele agora quanto estava naquela época. Ele era tudo que eu quero ser. Não era apenas seu sucesso que eu queria, mas sua conduta. Sua humildade. Sua graciosidade. Eu amava o jeito como ele se movimentava pelo mundo, com seu pragmatismo inflexível de um cientista, mas devoto à sua arte como um poeta. Eu tinha outros homens como exemples de vida, mas Alex era o pai de minhas mais profundas ambições.
Bailarinos se amontoaram ao seu redor. Zayn vigorosamente lhe deu um aperto de mãos. Eleanor lhe fez uma reverencia. Gigi ficou em seu e cruzou seus braços. Ele sempre desdenhou de seu talento quando ela era mais nova, o que ela ainda resentia.
Alex olhou para o fundo da sala, onde estava Harry, que estava encostado no espelho.
Isso parecia certo. Talvez fosse o universo trazendo nós três para perto um do outro para curar o passado. Éramos todos iguais agora. Tínhamos todos alcançado o que tínhamos mirado em alcançar. Eu não sentia que tinha de competir com Harry pela atenção de Alex, agora eu queria dividi-la. Queria que nós três trabalhássemos juntos e inspirássemos uns aos outros.
Com uma mão atrás de suas costas, Alex lentamente se aproximava.
"Olá, Harry."
Ele não abraçou Harry, mas se aproximou e o deu um beijo na bochecha.
Eu estava comovido pelo gesto, assim como estavam todos os outros membros da companhia que os olhavam com respeito. Cá estavam duas lendas, cada um o maior dançarino de suas gerações, unindo forças pela primeira vez em suas carreiras. Alex olhava para Harry como se ele fosse seu filho. Era tão claro para mim o amor paternal que Alex sentia por ele. Harry teve dificuldades para encontrar seu caminho como bailarino e Beauchamp fez o que fazia de melhor, ele o mostrou o caminho e o guiou por ele.
"Senti sua falta."
Harry colocou seu cabelo atrás da orelha.
"Bem? Você sentiu minha falta?"
"Senti saudades, Alex."
"não, não, não. Você, meu garoto, deve me chamar de senhor." Ele estava brincando, é claro, mas nem sempre era fácil se ter certeza sobre isso. Seus traços refinados de aristocrata mudavam levemente, demarcada por linhas de décadas interpretando uma multidão de personagens.
A pedido de Liam, bailarinos começaram a seguir ao auditório.
Aproximei-me de Harry e Alex. "Devemos?"
Alex trocou olhares com Kenneth. "Seu tutor principal, Joni, creio eu, ira começar a trabalhar com vocês e o resto do elenco no auditório. Eu trabalharei com Harry no estúdio hoje."
Ele cutucou Harry fortemente nas costas com a ponta de seu guarda-chuva e o mandou ficar em sua posição na barra.
Merda, pensei. Harry não era mais o garoto que Alex se lembrava do RBS. Ele o partiria em dois por causa disso. Kenneth, Liam e eu prendemos nossos fôlegos e esperamos peno inevitável banho de sangue.
A reação de Harry deixou todos nós embasbacados.
Ele obedeceu.
Eu estava preocupado que Harry tratasse Alex como tratava Maurice. Eu não poderia estar mais errado. Harry obedientemente se posicionou na barra e esperou pacientemente pelas próximas instruções.
"Tire as roupas." Disse Alex;
"O que?" Harry ficou pálido.
"Fique só de cueca, querido." Ele sorriu e colocou uma mão na coxa de Harry. "Quero ver como você ficou."
Ele congelou cor um segundo antes de obedecer.
Alex o rodeava, examinando cada centímetro de seu corpo.
"Um passarinho me disse que você tem sido difícil, Harry. É verdade?"
"Não." Respondeu fracamente.
"Não mais, agora que estou aqui. Você vai ser bom para mim, não vai?"
"Sim, senhor."
Eu estava embasbacado assistindo Harry se submeter a um coreografo, como assistir a um cavalo selvagem ser domado. Alex tinha um toque mágico. Em sua presença, Harry voltava a ser um garoto inocente na época de escola. Eu estava encantado que Harry quisesse impressionar seu velho professor e encantado enquanto Alex afetuosamente o disciplinava.
Corri rapidamente até Harry e o dei um beijo na bochecha. "Até mais tarde."
"Até." Ele disse, como se não estivesse lá, observando sua imagem no espelho.
"Eu venho te buscas quando terminar aqui. A gente pode caminhar até minha casa, jantar no caminho-"
Alex apontou seu guarda-chuva para nós e apertou seus olhos. "Espere, um minuto... Vocês são um casal?"
Inclinei minha cabeça um pouco e enrolei um braço na cintura de Harry. Nosso relacionamento ainda era tão novo que parecia ser um grande paço falar disse abertamente.
"Que adorável." Ele sorriu. "Siegfried e Von Rothbart apaixonados!"
Ele apontou se guarda-chuva para o peito de Harry. "Espero que ele cuide de você, Louis."
"Ele cuida." Ri, dando em Harry um ultimo beijo nos lábios.
"Estou felicíssimo por vocês." Alex se aproximou de Harry e corrigiu sua postura, falando com sua imagem no espelho. "Harry, você deve me contar tudo sobre esse novo romance. Estou morrendo para me atualizar em tudo."
Caminhei até a porta e deixei Harry com seus exercícios de barra. Alex estava ao seu lado, batendo seu guarda-chuva no chão para manter a contage0m. Um, dois, três, quatro. Um, dois, três, quatro...
Finalmente os pedaços de minha vida estavam se juntando. Harry e eu estávamos juntos, tínhamos deixado essa fase de rivalidade por causa de Beauchamp no passado e nosso ídolo agora era nosso coreografo! Eu apenas tinha de resolver o pequeno problema onde meus amigos me odiavam até a alma.
No caminho ao auditório vi o topete loiro de Niall. Fizemos contato visual, mas ele rapidamente desviou o olhar e virou no corredor fingindo que não tinha me visto. O segui. Eu posso não ser capaz de arrumar as coisas com Zayn, mas Niall era de muito boa índole para continuar irritado comigo.
"Oh, oi, Louis. Desculpe, é que estou meio atrasado."
"Isso só vai levar um segundo."
Ele batia os dedos em sua cintura impacientemente.
"Me desculpa sobre a intervenção."
"Bem, é algo importante você admitir que estivesse errado."
"Eu não disse que estava errado." Abri minha bolsa de academia e tirei as anotações do libreto de Harry.
Niall me olhou desacreditado. "Eu não acredito nisso!"
"Eu não estou pedindo que faça essas mudanças. Só leia. Dê uma chance a ele." As paginas tinham se dobrado e amassado dentro da bolça. As alisei em minha perna. "Por favor."
"Não, Harry não deveria tentar me rebaixar em minha posição."
"Não faça por Harry. Faça por mim."
Niall rolou os olhos, mas pegou os papeis. "Eu não entendo o que ele tem sobre você. Espero que saiba o que está fazendo. Não quero te ver se queimando."
"Não se preocupe, todos os meus problemas com Harry estão resolvidos. As coisas nunca estiveram melhores."
Niall não parecia convencido. Ele olhava as anotações de Harry. "Você sabe, você é quem me deve um favor, não ao contrário."
Olhei meu relógio. Estava atrasado para o ensaio. Apressadamente, abracei Niall e corri pelo corredor. "Eu te pago uma pint. Duas pints!" Falei por cima do ombro. "Mil vezes obrigado!"
Quando cheguei ao auditório, as garotas estavam sentadas com as pernas cruzadas no palco, costurando faixas a suas sapatilhas de ponta. Eleanor era terrível nisso e ficava se furando o tempo todo com a agulha. Ela estava chupando o sangue de seu dedão. Os dedos ágeis de Gigi trabalhavam rápido, a agulha e linha voando através do tecido com a velocidade uma maquina de costurar. Ela estava furiosa, mas pela primeira vez não era culpa minha ou de Harry. Ela estava falando o rival de Alex.
"Ele é misógino." Gigi murmurava para Eleanor e Zayn, que estava se alongando ao lado delas. "Ele trata todos os caras com favoritismo e trata todas as garotas como merda."
"Com inveja?" Falei, jogando minha bolsa no palco. Eu seu que não estávamos bem, mas eu não conseguia evitar provoca-la.
"Eu não estava falando com você, traidor! E você só tá feliz por ser um dos favoritos dele!"
Zayn abraçou sua namorada pelas costas e descansou seu queixo no ombro dela. "eu não sou um dos favoritos dele e gosto dele."
"Eu também." Eleanor disse, cortando a linha com seus dentes. "Ele é sexy e rico e está se divorciando da rainha do gelo, Irina. Você acha que ele me namoraria?"
"Eca!" Gigi reclamou. "Ele é velho. E não, eu ouvi falar que ele mora no armário. Ele faz bailarinos de apoio chuparem ele em troca de atos solos."
Gigi era tão invejosa. Apenas por Alex não ser caloroso com ela não significava que ela tinha de espalhar boatos maldosos.
"Ele não é assim!" Gritei. "Para de propagar mentiras que você escutou dos seus amigos esnobes de paris. Mesmo que ele seja gay ele não é obrigado a se assumir. É diferente pra pessoas da geração dele."
"Eu não me importo se ele é assumido ou não. Ele não deveria ter favoritismos e usar as companhias para as quais trabalha como seus bordéis privativos."
"Ele nunca faria isso!" Falei em sua cara.
Ela jogou suas sapatilhas no chão. "Ele não só faria como já fez!"
Não era necessário dizer que o ensaio não correu bem. Eu tive dificuldades em fingir que estava loucamente apaixonado por Gigi em um dia bom. Durante as vezes em que a erguia eu lutei contra a vontade de jogá-la pelo palco e eu tinha certeza de que ela tentou chutar minha cabeça durante o adagio.
Fiquei aliviado quando chegou a hora de trabalhar em meu solo. Essa era minha primeira vez trabalhando nele desde que Harry e eu fizemos amor. Eu o entendia agora. Eu me sentia tão próximo dele agora que sua coreografia já não me era mais estranha. Eu me sentia como ele. Seu corpo sobre o meu, dentro de mim. Eu não estava no humor para um solo, mas era como se estivéssemos dançando juntos. Eu sabia que esse era seu jeito de se comunicar. Ele não estava tentando me controlar. Isso era uma carta de amor, era como ele se comunicava e como mostrava que se importava.
Aquilo me fez sentir sua falta.
Nós estávamos separados por apenas algumas horas, mas pareciam anos. Assim que o ensaio acabou eu corri até o estúdio para busca-lo para que então pudéssemos ir para casa juntos. Não podia esperar para falarmos sobre nosso dia. Eu queria escutar tudo sobre seu ensaio com Alex e conta-lo tudo sobre Niall ter concordado em considerar suas anotações.
A porta do estúdio estava fechada. Fiquei na ponta de mus pés e dei uma olhada pela pequena janela quadrada para ver um pouco do que ele dançava.
Meu coração parou.
Harry estava deitado no chão, suas bermudas e camisa ensopadas em suor, sua pele branca como porcelana.
Ale estava andando ao seu lado.
Atravessei a porta e fiquei lá, horrorizado. "Harry! O que aconteceu? Você tá bem?"
Alex veio apressado até mim. "Oh, Louis! Graças a deus você está aqui! Eu estava prestes a gritar por Liam!"
Harry estava tão pálido que eu poderia jurar que ele estivesse morto. Me ajoelhei ao seu lado. Ele não olhava para mim.
"O que aconteceu?"
Alex me empurrou para o lado. "Ele esta tendo problemas com seu joelho." Disse entre fôlegos, passando uma mão entre seus cabelos prateados. "ele não conseguiu terminar seu solo uma vez, mas se negar a fazer uma pausa."
"Eu consigo passar por isso. Eu sou perfeito. Sou o melhor. Sou o melhor bailarino do mundo, sou o maior bailarino vivo..." ele murmurava, seus olhos passando entre nós, sem focar em nada. Ele se arrastou até sua bolsa no canto da sala e pegou seus remédios para dor. Engoliu duas pílulas sem agua. Eu me perguntava quantas ele já tinha tomado.
Ele tentou ficar de pé. Primeiro ficou de joelhos e então lentamente de pé. Ele caiu para frente. Alex correu e o pegou em seus braços.
"Eu não preciso de ajuda! Eu consigo ficar de pé sozinho!"
Ele estava completamente transtornado, pior do que estava com Maurice> Só que ele não estava brigando com Alex, ele estava brigando consigo. Ele estava se partindo em pedaços ao tentar provar seu ponto. Eu nunca vi um bailarino jovem desafiar o legado de um bailarino aposentado. Mas parece que Harry estava fazendo exatamente isso.
"Harry, já é tarde e você precisa descansar. Vamos pra casa." Comecei a recolher suas coisas.
"Ouça o Louis." Alex disse. "Ele está certo. Você está muito fraco."
"Não. Eu sou forte." Harry disse baixinho, se abraçando. "Sou forte."
Ele começou a dançar seu solo com uma moleza. As pílulas devem ter feito efeito, mas seu corpo estava quebrado. Era como assistir um cadáver na agua flutuando na correnteza.
Ele não iria parar, então o peguei e balancei. "Chega!"
"Sai!" ele gritou de volta e me empurrou.
Joguei sua bolsa no chão. "Você vai se matar só pra provar seu ponto?"
"Não venha me dar lição de moral sobre algo que você não entende!"
"Você tá certo, eu não entendo isso!" Gritei, chacoalhando meus braços. "Por favor, me explique como é que destruindo seu próprio corpo te faz o melhor bailarino do mundo!"
Harry me olhou e eu agarrei seu punho.
O que eu realmente queria dizer era: você precisa ser o maior bailarino do mundo? Já não é o suficiente que você seja o melhor para mim? Por que eu não sou o suficiente? Por que eu nunca fui suficiente para você?
Alex se pois entre nós e me guiou até a porta. "Vá, Louis. Não há nada que possa fazer. Vou me assegurar de que ele não se machuque."
Eu queria jogar ele sobre meu ombro e arrastar ele pra fora de lá, mas eu sabia que Alex estava certo. Harry era teimoso e nunca daria o braço a torcer. A gente só tinha de esperar até que ele enxergasse a razão ou se cansasse ou máximo.
Dei-lhe um ultimo olhar de suplica. "Vou ficar nos degraus da entrada te esperando." Falei finalmente derrotado.
Harry não me respondeu. Estava se movimentando novamente, seus olhos desesperadamente fixos no espelho, em cada passo desastrado, cada giro incompleto.
Por mais que ele odiasse admitir, ele precisava de mim. Ele tinha tomado seus remédios para dor, o que significava que não poderia tomar remédios para dormir e precisava desesperadamente descansar. Eu vou cuidar dele.
Engoli metade de uma carteira de cigarros nos degraus da Opera House, obsessivamente olhando para meu relógio. A chuva da tarde tinha dado lugar a uma expeça neblina. A cidade ao meu redor estava reduzida a luzes piscando e imagens sem forma. Prédios e carros pareciam navios perdidos no mar.
A porta abriu atrás de mim. Arrumei minha postura.
Era Jeffrey. Ele e algumas de suas amigas, colegas bailarinos de apoio, passaram pela porta. Todos vestiam roupas de frio coloridas e conversavam animadamente sobre irem para uma boate, Jeffrey tagarelando sobre seu cansaço com a imagem gay. Eu não acho que ele estava cansado disso. Eu acho que ele pensa que odiar as coisas o faz soar sofisticado.
Ele me viu e então saiu de sua postura.
"Hey, você ainda esta com as minhas coisas."
"Eu sei, desculpa. Eu levo a caixa na sua casa."
As garotas já estavam na rua chamando um taxi e chamando Jeffrey para se juntar a elas.
Ele não tinha terminado comigo ainda. Cruzou seus braços e arqueou uma sobrancelha. "O que você tá fazendo aqui fora?"
"Esperando por Harry. Ele está no ensaio."
"Hum, tá não. Eu o vi saindo pelos fundos." Inclinou a cabeça. "Acho que ele te deu um bolo. Odeio ter que dizer isso, mas... EU TE AVISEI."
Eu não tinha saco para sua inveja e necessidades agora. "Para de ficar tentando fazer drama!"
Ele empinou seu nariz e fungou. "Certo, não acredite em mim. Pode ficar sentado aqui fora até amanhecer que eu não ligo."
Ele foi embora com suas amigas, a essência de seu perfume pairando no ar quando viraram a esquina.
Esperei por mais meia hora e ainda não tinha tido nenhum sinal de Harry. O liguei. Nada. O mandei mensagem. Nada.
As grandes portas se abriram novamente. Era Alex e estava sozinho.
"Onde está Harry?" perguntei.
Alex sentou no degrau ao meu lado e colocou sua maleta no degrau abaixo. "Ele foi embora uma hora atrás. Não tome como algo pessoal, Louis. Ele estava muito decepcionado com seu desempenho hoje."
Era pessoal. Harry e eu éramos uma equipe. Ele precisava de mim. Eu precisava dele. Tínhamos nos tornado próximos. Eu não entendia por que ele queria ficar longe. Eu queria estar com ele o tempo todo.
Eu me sentia tão baixo que afundei nos degraus de concreto.
Alex tirou seu casaco e o colocou sobre meus ombros. Apontou com seu queixo ao meu cigarro. "Posso pegar um?"
Estendi-lhe um cigarro e o acendi enquanto o mesmo pendia entre seus lábios. "Não sabia que fumava."
"Não fumo. Não oficialmente. Informalmente: uma carteira por dia."
Deixei-me sorrir um pouco. "Eu também."
"Há quanto tempo você e Harry estão juntos, se não se importa em responder."
"É recente. Muito recente. Simplesmente aconteceu. Mas não é o que parece para mim. Eu me importo com ele desde que o conheço."
Surpreendia-me o quão fácil era conversar com ele. Normalmente eu ficava muito nervoso de falar uma simples frase perto dele.
"Eu vejo como se importa com ele."
Joguei meu cigarro e observei as fagulhas vermelhas caindo pelos degraus. "Não acho que ele sinta o mesmo por mim."
"Ele deveria. Você é um belo jovem rapaz."
"Não sou tão bem sucedido quanto ele. Vocês dois estão no mesmo nível de profissionalismo. Vocês entendem um ao outro. Hoje me senti como um estrangeiro."
Alex se apoiou sobre seu cotovelo e exalou fumaça ao céu escuro. "Pare com isso. Você é muito bem realizado, Louis. Na verdade acho que tenho mais em comum com você do que com Harry."
"Sério?"
"Você é um realista. Você entende que dançar é algo sobre o corpo. Músculos e ossos. Atletismo e técnica. Harry é um sonhador. Muito agarrado na estória, nos personagens, suas emoções. As exigências que ele faz com seu corpo são insanas. Ele se nega a aceitar suas próprias limitações."
Isso que eu amava mais na dança de Harry. Ela parecia sem limites. Não era deste mundo. Era uma visão do paraíso.
Alex colocou a mão no bolso de minha camisa e puxou outro cigarro. Era meu último. "Sabe do que eu mais me lembro de você, Louis?"
Meus olhos se abriram. "O que?"
"Como você chorou no dia em que levei Harry para Kiev."
Minha cabeça caiu entre meus joelhos e eu grunhi. "Aquilo foi tão vergonhoso."
"Foi mesmo, querido! Eu nunca v um aluno chorar por mim daquele jeito. EU fiquei emocionado."
Ele me estendeu o cigarro e dei um trago.
"Eu me arrependo." Ele disse. "Eu deveria ter te levado comigo para Kiev. Você teria sido um companheiro muito melhor. Harry é mal humorado."
O devolvi o cigarro. "Então por que o escolheu?"
Seus olhos escuros perdidos atrás da fumaça. "Pelo mesmo motivo que você está sentado aqui, nessa escadaria. Pelo mesmo motivo Sergei o chamou para juntar-se ao Bolshoi. Pelo mesmo motivo que Kenneth o deixa se safar de tudo. Ele é um belo monstro, não é?"
Eu ri. "Com certeza."
Seu carro parou na calçada.
O devolvi seu casaco .
"Pode ficar. Você precisa mais do que eu."
"Obrigado." Falei e ele começou a descer a escada. "Estou feliz que esteja aqui, Alex."
"Eu também."
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