i fell in love again
Às vezes, Seonghwa odiava ser escritor.
Claro que haviam luxos em saber usar as palavras do jeito certo e conseguir expressar-se melhor com elas. Contudo, ele também sabia que seu lado escritor jamais ficava satisfeito quando o assunto era descrever coisas, então ele praticava.
Escolhia objetos, pessoas, lugares e momentos para descrever nos melhores detalhes, buscando a perfeição em forma de escrita.
Sua obsessão no momento? Kim Hongjoong.
Hongjoong e seus cabelos recém-descoloridos que agora pareciam brancos como a neve que caía e encobria as ruas frias de Seoul durante o inverno, casualmente cegando qualquer um que focasse demais em sua direção enquanto houvesse uma fonte de luz.
O Kim não se importava. Era algo quase que natural que Seonghwa acabasse obcecado por sua escrita, sempre procurando onde melhorar e como tornar suas palavras mais suaves, acolhedoras.
Em momentos de estresse como esse, o platinado sabia que o outro precisava de espaço. Um espaço que ele não queria ter, porque Hongjoong sempre foi sua melhor distração para seus problemas e sempre soube como lidar com suas pequenas crises existenciais.
Naquele sábado à noite, em particular, Seonghwa se deu ao luxo, mais uma vez, de ceder à sua obsessão e fazer o que fazia de melhor como escritor: observar.
Seu primeiro objeto de observação foi a sala de estar que era dividida com a cozinha por uma ilha no meio do cômodo, sem paredes restritivas.
Quando ele e Hongjoong decidiram que estudariam na mesma universidade, a primeira coisa que fizeram foi procurar por um lugar bom, barato e que fosse confortável o suficiente para os dois viverem sem grandes problemas. Claro que na época eles ainda não eram um casal, mas não havia problema nenhum em dividir o único quarto e os afazeres da casa.
A sala era decorada aqui e ali com quadros dos momentos em que Hongjoong se sentia entediado demais para ficar parado, mas sem inspiração para compor durante suas folgas do estágio em uma empresa de entretenimento.
O único sofá já estava gasto pelos quase dois anos de uso, comprado logo após a graduação pela junção do primeiro salário oficial de cada um depois de receberem os diplomas. Seonghwa já havia perdido as contas de quantas vezes dormiu no móvel depois de alguma briga besta entre os dois, apenas para acordar na manhã seguinte com o namorado deitado sobre seu peito, ambos debaixo do cobertor que deveria ficar na cama.
A mesa de centro de vidro só tinha como enfeites alguns lápis de desenho e um porta canetas com material de desenho em tecido, ambos de uso de Hongjoong quando este se sentia criativo o suficiente para rabiscar em alguma de suas camisas ou jaquetas velhas.
Dois puffs, um azul e um verde, ficavam encostados no canto do cômodo, usados apenas quando alguns de seus amigos faziam uma visita. Seonghwa sempre agradecia silenciosamente pelo chão ser porcelanato e não taco, que era horrível de limpar quando Hongjoong respingava tinta sem querer.
Dividindo a cozinha e a sala, uma pequena ilha com armário estava encostada à mesa de jantar, com lugar apenas para 4 pessoas. Os dois raramente comiam à mesa, preferindo sentar no chão da sala e usar a mesa de centro para comer. Um hábito de quando eram crianças e não podiam sentar com os adultos.
Atrás do balcão, e fazendo uso da cozinha, estava o verdadeiro objeto de interesse de Seonghwa.
Hongjoong tinha uma bandana prendendo os cabelos platinados longe de seus olhos, que lacrimejavam levemente por causa da cebola sobre a tábua de cortar legumes. Suas bochechas estavam levemente coradas pelo uso do fogão, onde uma panela borbulhava incessantemente, obrigando o Kim a correr com seus afazeres antes que a comida cozinhasse demais.
O platinado usava uma regata personalizada, cheia de palavras aleatórias em línguas que o Kim gostaria de aprender, flores aqui e ali, borboletas e até mesmo pequenas estrelas se destacavam no tecido preto.
Seonghwa sabia que o rapaz usava uma bermuda laranja, que ele mesmo já sabia estar velha demais para continuar indo e vindo da lavanderia, mas Hongjoong sempre insistia que era um bom pijama. Obviamente, o Park nunca conseguia jogar a peça fora.
E então Seonghwa focou em sua parte favorita do namorado. O rosto.
Porque o escritor podia jurar que não havia pessoa mais linda no mundo do que aquele homem em sua cozinha.
Os olhos de um marrom chocolate podiam ser acolhedores ao mesmo tempo em que emanavam poder, liderança. Era como tentar acariciar um tigre, sem saber se ele aceitaria de bom grado ou tentaria morder sua mão. Hongjoong era um mistério.
Logo depois vinha o nariz levemente empinado, fino, bem desenhado no rosto alongado e de pele clara. O Park nunca entendeu como o namorado podia ter uma pele tão boa quando praticamente vivia de café, energético e macarrão instantâneo quase a semana toda.
E então vinham os lábios, um tanto ressecados pelo tempo frio do inverno e a falta de cuidado do rapaz em passar um protetor labial de vez em quando, mesmo quando Seonghwa insistia.
Eram finos na parte de cima e sutilmente cheios na parte de baixo, expondo perfeitamente os dentes brancos de Hongjoong quando ele sorria. Os mesmos lábios que sorriam de forma maligna quando o homem planejava alguma brincadeira, ou que iluminavam seu rosto como o sol quando ele não continha sua felicidade.
Também eram os mesmos lábios que Seonghwa gostava de beijar até sentir que estavam levemente inchados, avermelhados pelo momento em que se deixavam levar e quase perdiam o controle, não que fosse algo ruim.
–Seonghwa? Seonghwa! – o Park sentiu um beliscão em sua bochecha, apenas para levantar o olhar e encarar um Hongjoong risonho o observando, em pé ao lado do sofá – Você vem jantar, ou não? – não foi preciso perguntar uma segunda vez. O moreno já estava em pé, as mãos na cintura de seu namorado e o puxando para perto, um beijo casto em seus lábios apenas para sentir a macies da qual ele sentia tanta falta, apesar de terem se beijado incontáveis vezes naquela mesma tarde.
–Eu amo você – murmurou o escritor, apenas para ouvir um riso baixo contra seu pescoço.
–Qual a ocasião para me dizer isso? – brincou Hongjoong, sentindo Seonghwa afundar o rosto em sua clavícula.
–Nenhuma. Eu só amo você – nenhum dos dois disse mais nada por alguns minutos, apenas deixando que o momento de silêncio confortável se estendesse mais um pouco.
Eles tinham a vida toda para dividir mais dessas pequenas memórias, de qualquer forma.
A vida toda juntos.
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