Million Reasons

 Coloquei minha cabeça no travesseiro e respirei fundo. Essa seria uma noite das longas.

As pessoas costumam atribuir termino de relacionamento a fracasso. Sabe, eu não me sinto fracassada. Pelo contrário, não tenho muito do que reclamar. Certo, isso foi um pouco hipócrita, é obvio que eu tenho coisas das quais reclamar, mas não é como se eu achasse isso certo, não é porque algo deu errado que eu tenho que apontar todos os erros que eu vivi no tempo que estava com uma pessoa.

Isso se chamar cuspir no prato que comeu.

Eu não quero fazer isso, nem posso.

Me revirei na cama e encarei o teto, aquilo ia ser mesmo uma noite das longas. Me lembrei das vezes que ele dizia que me amava, parece idiota e mesmo depois de tudo o que eu falei em cima, preciso comentar que; talvez ele não amasse tanto assim. Quando estamos com alguém não amamos exatamente a pessoa, e sim os momentos que tivemos com ela, as coisas gostosas que abraçam o nosso dia a dia por causa daquela pessoa, e eu posso estar falando besteira mas era isso que eu amava nele.

Fechei os olhos e me lembrei da minha primeira vez, que por acaso tinha sido com ele... As coisas mudam não é mesmo.

"Ele me abraçou por trás enquanto eu mexia no celular, me lembro que um dos meus amigos estava presente. Eu sorri boba, gostava de toda ação que ele tinha comigo, até quando tocava nos meus dedos eu sentia um choque atravessando meu corpo.

– Eu estou me apaixonando por você. – Ouvi sua voz perto da minha orelha e meu corpo se arrepiou.

Me arrepiei ainda mais por saber daquilo. Era tudo o que eu queria, ele apaixonado por mim. Eu já era completamente apaixonada por ele, saber que ele se sentia da mesma maneira, nem que fosse só um pouco, já fazia meus dias valerem a pena."

Abracei meu travesseiro nervosa. Não era possível, eu estava mesmo me lembrando daquelas coisas? Pensar naquilo só me faria mal, eu sabia disso, lembranças boas são legais, mas com elas também vinham as lembranças ruins. Existiam mil motivos para que eu não ficasse com ele. O próprio já tinha me dado muitos para que eu o deixasse, para que eu fosse embora daquele show que era estar apaixonada.

Eu não segui nenhum de seus motivos, nem acreditei em nenhuma das razões. Se eu precisasse correr por uma longa estrada, ou escalar montanhas, só para encontrar uma razão que fosse para ficar do lado dele eu ficaria, e eu tinha. Meus sentimentos eram a razão para ficar, mas mesmo assim, eu tinha mil razões para ir embora.

"Estávamos deitados em sua cama. Meu pai nem sonhava que eu estava ali, mas tudo bem. Eu estava de costas para ele, mas ele me abraçava, a famosa posição de conchinha. Só Deus sabe como meu coração estava batendo forte naquele momento.

– Eu te amo. – Quis me virar e ver seu rosto quando ele disse aquilo. Tive vontade de chorar de alegria quando ouvi tais palavras, afinal era tudo o que eu mais quis ouvir da boca dele."

Passei a mão no rosto e percebi que estava molhado. Pois é, eu estava chorando. Passei a mão no meu pescoço como se pudesse aliviar o nó de choro que se formava ali, e respirei fundo, não dava para fazer um escândalo chorando, meu pai iria acabar ouvindo e me perguntaria o motivo. Meu pai sabia que eu estava de coração partido, mas não dava para acreditar que ele reagir muito bem ao me ver chorando porque meu namoro não deu certo. Namoro que ele não aprovava, para completar.

"Parecia que meu mundo ia desabar. Ele tinha terminado tudo era isso? Encarei o teto frustrada, desesperada. Estava sozinha em casa, e podia jurar que ia me afogar nas minhas próprias lágrimas a qualquer momento. Peguei o colar que ele tinha me dado, aquilo era um símbolo nosso, e já que ele não gostava de alianças, eu não ia reclamar se ele tivesse me dado um pedaço de papel com o nome dele e dito que andar com aquilo era o sinal de estarmos juntos.

Me levantei ainda chorando, eu era muito forte pra maior parte das pessoas, mas eu sempre chorava quando ficava sozinha em casa. Me ajoelhei no chão, estava gelado mas eu aceitei mesmo assim.

– Deus... Eu não sou exatamente a maior crente que o Senhor vai ouvir, mas eu só queria implorar por um sinal de que tudo isso não é errado, porque eu estou tão cansada de quebrar a cara que quando vejo um amor eu me jogo, mesmo todos eles parecendo fundos demais e mesmo eu me afogando sempre. Só quero uma razão para continuar."

Foi isso que eu pensei naquele dia. Foi isso o que eu orei aquele dia, mas... Talvez eu fosse cega demais para ver os sinais. Eu tinha cem milhões de razões para me afastar. Mas eu só precisava de uma para continuar, e quando ele me mandava mensagem, quando nos beijávamos de novo, eu sentia que tinha essa razão.

Minha cabeça doía só de pensar nessas coisas. Eu olhei pela janela como se isso fosse ajudar, mas eu não sabia o que buscar, encarava o nada. Minha respiração parecia estar indo embora e eu nem me dava conta disso.

Peguei o celular e abri o contato dele. Me lembrei que da última vez que brigamos eu disse que voltaria para ele mais uma vez, e que seria a última. Tentaria mais uma vez, mas na verdade só buscava uma razão para continuar ali. Relacionamentos não são para dar dor de cabeça, séries e livros se encarregam disso muito bem. Eu lembro de implorar nas mensagens que ele me desse uma razão para voltar, eu queria que ele me dissesse algo verdadeiro, não importa o que fosse.

De qualquer maneira, eu só queria uma razão para continuar.

Bloqueei o celular e encarei o colar na cabeceira da minha cama. Era o nosso colar. Ele queria de volta, mas, eu não seria capaz de entregar isso de volta pra ele, era uma das boas lembranças. Se alguém me ferisse nesse momento me fazendo sangrar igual idiota, eu nem perceberia. Particularmente, apesar de querer ter um fim de relacionamento maduro eu queria mandar uma mensagem perguntando se ele não podia me dar o que eu precisava, o que era carinho. Mesmo negando pra mim mesma meu maior defeito, era ser uma pessoa carente.

"– Seja mais adulta da próxima vez."

Coloquei meu travesseiro no lugar e voltei a me enrolar nas cobertas tentando achar o sono. Por mais que eu o amasse, um dia eu não sentiria mais falta. Sabe, tenho que confessar que, apesar de carente eu também sempre fui muito orgulhosa, e não fazia parte de mim voltar e dizer que ele podia me dar apenas uma razão para ficar e tudo ficaria bem novamente.

Porque não ficaria.

Então, desbloqueei o celular e exclui o contato dele. Não é que eu não quisesse mais, ou sentisse raiva, é porque eu precisava de um tempo para me recuperar, quando um relacionamento chega ao fim, a gente precisa respirar fundo. Era aquilo que eu estava fazendo.

No fim, eu simplesmente me ajoelhei na cama, virada para a janela e peguei o cordão que uma vez foi nosso. Juntei minhas mãos e fiz a minha última oração que o incluía.

– Pai. Perdoe meu coração nervoso, não é certo. Agradeço por todos os momentos bons que passei ao lado dele. Sei que não posso cuspir nas coisas boas como se eu não tivesse gostado, porque estaria mentindo. Quero agradecer até mesmo pelos momentos ruins, eles servem de experiência para futuros envolvimentos, bem futuros porque agora eu só quero me curar. Desejo coisas boas para ele porque quero que ele vença na vida, não quero mágoa nenhuma. Que ele realize todos seus sonhos. Amém.

Voltei a me deitar e encarei o teto novamente, dessa vez com um sorriso pequeno no rosto. Devolvi o colar pra minha cabeceira e me enrolei nas cobertas para cair no sono. Seja qual for a razão, dentre as mil que apareceram agora, eu estava bem comigo mesma e não precisava voltar com ninguém pra isso.

Porque relacionamentos são para serem bons, e se não forem, é porque alguma coisa estava errada, mas tudo bem, tudo serve de experiência, e eu já tinha aprendido a minha lição dessa vez.  

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top