Capítulo 3.
Luke
Hoje era dia do acampamento, estávamos todos ansiosos, Nathan principalmente, ele ficou a noite inteira no telefone falando comigo, pois não conseguia dormir de tanta ansiedade, não sabia o porquê, pois todos os anos fazíamos isso, este ano seria um pouco diferente, ia ter menos pessoas e não teria um adulto por perto, eles decidiram confiar em nós, para testar a nossa responsabilidade. Nathan, Hanna e Mizuki iam comigo, Hayley ia no carro da Kate, e Andrew ia com Daniel. Íamos acampar na cidade vizinha, numa clareira, que ficava há alguns metros de uma linda cachoeira, um ótimo lugar para explorar e descansar. Combinamos de ir depois da escola, assim dava para aproveitar mais.
Estacionei meu carro ao lado do de Kate, mas não avistei Hayley, estava apenas o carro dela ali. Nathan chacoalhou a mão em frente à minha cara, fazendo-me assustar e o encarar bravo.
— O que foi? — Saí do carro.
Ele saiu de dentro do veículo e veio em passos rápidos na minha direção.
— É que você está obcecado por ela — disse, indicando com a cabeça o carro dela. — Nem ouviu minha pergunta.
— Não estou obcecado! — Devolvi, irado.
— Então está ficando — ele deu um leve soco em meu ombro.
— Não, não estou.
— Tudo bem, mas qual é minha resposta?
— Que resposta? — Franzi o cenho.
— Isso que acabou de falar com certeza não é a resposta — falou vitorioso.
Soltei um suspiro pesado já perdendo minha paciência.
— O que você quer saber?! — Perguntei impaciente e comecei a caminhar para dentro da escola.
— Calma aí nervozinho, eu deveria estar bravo e não você, eu te fiz uma pergunta, você não ouviu porque estava distraído, agora acha que pode ficar bravo comigo? Não!
— Para de enrolar e fala logo! — Disparei irritado, quase o pegando pelo pescoço.
— Você pensa que seria uma boa convidar a Amy para ir acampar com a gente?
— Boa para quem? — Ri, vendo-o estreitar os olhos para mim irritado.
— Para mim, é claro, ou você já cansou de enrolar sua princesinha.
— Ela não é minha princesinha e não estou enrolando-a — aumentei os passos.
— Você percebeu que eu nem citei nomes? — Um sorriso debochado tomou conta da cara idiota dele. — Não importa, mas o que você acha?
— É claro que não Nathan, já estamos correndo perigo demais levando Hayley e Mizuki.
— Imaginei que diria isso — ele apertou os lábios e deu de ombros.
Entramos na nossa sala, Daniel estava sentado na última carteira, eu e Nathan sentamos próximo a ele, Kate estava sentada na primeira carteira como sempre, olhei para o resto da sala a procura de Hayley, pois ela também tinha essa aula conosco, mas não a encontrei. Mandei uma mensagem para Kate quando me sentei.
"Onde está ela? — L"
Meu celular apitou informando uma nova mensagem de Kate, fazendo alguns alunos me olharem e até o professor, que ficou me encarando, analisando o que eu iria fazer.
— Desculpe Sr. Smith, vou desligá-lo — Menti colocando o aparelho na mochila.
— Assim espero — Ele falou sério, voltando a escrever na lousa, voltei a pegar o Smartphone.
"Não te interessa — K"
Bufei irritado, Kate estava jogando comigo. Por Zeus!
"Vou te dar mais uma chance — L"
Assim que enviei, coloquei o celular em modo vibratório, para não ter mais problemas. Minhas mãos estavam coçando de tanta curiosidade, se ela não me falasse naquele momento eu iria até lá e a obrigaria a me falar, apelei para o sentimentalismo.
"Ela pode estar em perigo — L"
Ela não demorou para responder:
"Ela está bem, Anthony quer conversar com ela — K"
O quê? Apertei o celular e voltei a digitar freneticamente.
"Por que ele pediu para conversar com ela? — L"
Fiquei esperando-a responder, mas ao invés disso ela se levantou e se virou para mim.
— Eu não sei Luke! — Falou alto fazendo a sala toda nos encarar, nesse exato momento a porta estava aberta e Hayley parada olhando extasiada para nós.
— Algum problema Srta. Waldrich? — O senhor Smith perguntou.
— Está tudo bem — Kate respondeu. — Canes pigri vehementius latrant — Sorriu para mim, eu não entendia exatamente nada em latim.
— E você Srta. Edwards... Está atrasada! — ele a encarou furioso.
— Desculpa, eu não estava bem — Hayley falou de cabeça baixa.
— Precisa ir embora ou ir à enfermaria? — Ele mudou a feição rapidamente, encarando-a preocupado, e eu também... seria culpa da marca?
— Não, já passou — ela sentou-se próxima de Kate e analisou o rosto da amiga, antes de olhar para trás e me encarar curiosa.
Daniel e Nathan me fuzilaram com o olhar. Dei de ombros e comecei a copiar a matéria, tentando decifrar pelo cheiro o que Hayley estava sentindo, se de fato ela estava mal mesmo.
Por Zeus! Qual era o problema deles?
No término do primeiro turno, fui em direção ao refeitório me encontrar com os meninos.
— Luke? — A voz familiar de Set fez meu corpo vibrar.
— O que foi? — Franzi as sobrancelhas, o que ele queria comigo?
— Não quero te incomodar... É que vi Hayley conversando com Anthony mais cedo.
Franzi minhas sobrancelhas ainda mais, o que ele tinha a ver com isso?
— E o que tem isso?
— Eu soube do ataque contra ela e que ele ajudou você.
— Como sabe disso? — Questionei, aproximando-me dois passos.
— Não importa — ele rebateu com desdém, como sempre, por isso que eu não gostava dele, na verdade, eu não gostava de um terço das pessoas que eu conhecia.
— É claro que importa — aproximei mais, encarando-o nos olhos.
— Depois dele falar com ela, ele foi falar com a Brooke e o Dylan, e eles pareciam estar muito interessados no que Anthony falava.
— E qual é a importância disso, onde você quer chegar?
— Você é idiota ou o quê? — Perguntou, testando minha paciência, logo naquele fatídico dia que eu estava soltando fogo pelos olhos.
— O que você tem a ver com isso? — Estressei-me deixando que minha voz subisse algumas oitavas.
— Você sabe muito bem o que eu tenho a ver — sua voz era suave, porém, vi que ele queria me tirar do sério.
Nathan e Daniel surgiram atrás de mim.
— Ei, o que está acontecendo? — Daniel se pôs entre nós.
— Eu vim dar um aviso para seu amigo, mas ele é um idiota mal-agradecido — Set respondeu saindo dali em passos rápidos.
— O que está acontecendo? — Nathan segurou meu ombro, com força suficiente para eu ver aquilo como uma agressão e tentar me defender.
— Ele veio me atormentar com uma conversinha idiota.
— Não me referia a isso — Falou preocupado.
— Nós conseguimos sentir seu cheiro do refeitório — Daniel disse e Nathan concordou com a cabeça.
— O que teria acontecido se não tivéssemos chegado? — Nathan perguntou seriamente.
— Como assim? Estão ficando loucos? Acredita que eu me transformaria aqui? Na escola?
— Se você ficasse muito irritado? Sim — Daniel cerrou os dentes me encarando firmemente nos olhos. — Você precisa se concentrar mais, está se deixando levar por coisas simples demais.
Levei a mão ao cabelo bagunçando o mesmo e soltando um suspiro cansado, eles tinham razão, andava muito irritado, por coisas fúteis.
— O que ele te falou? — Indagou Nathan.
— Sobre Anthony ter conversado com Hayley antes da aula.
— E isso te deixou irritado? — Indagou Daniel desta vez.
— Não! — Respondi alto e num tom bravo.
— Posso ver que não — Daniel zombou, irônico.
— Luke você vai enlouquecer se não tirar essa garota da cabeça — Nathan me analisou. Ele era o que mais estava preocupado sobre aquilo tudo, ele pressentia que iria dar merda.
— E o que foi aquilo com a Kate na sala? — Daniel se encostou na parede, seu uniforme e seu cabelo estavam perfeitamente arrumados, assim como tudo na vida dele era e, isso me irritava.
— Eu perguntei sobre Hayley... ela me contou que Anthony pediu para falar com ela — eu estava com as mãos fechadas em punho, respirando pesadamente. Nathan elevou uma sobrancelha para mim enquanto Dan apenas rolou os olhos como se eu estivesse fazendo drama.
— Vamos comer, antes que termine o horário do lanche — Daniel tocou meu ombro e começou a andar, Nathan se apressou em o seguir.
Fiquei por uns minutos encarando o relógio antigo na parede marrom a minha frente, o som que o ponteiro maior fazia ecoava alto em minha mente, alto demais, fazendo-me ficar parado ali o olhando fixamente, parecendo que havia sido hipnotizado pelo som do tic, tac.
— Luke? — Nathan chamou. — Você vem?
Eles pararam e ficaram me encarando, mas não foi isso que me fez sair do transe, e sim uma voz doce feminina que se fez presente no corredor, Hayley conversava animadamente com Hanna.
Elas se aproximaram e Hanna me olhou curiosa, com certeza sentiu meu cheiro lupino mais forte que o normal.
— Tudo bem? — Ela me estudou. — Por que você está parado aqui e aqueles idiotas lá? — Apontou.
— Ouvi isso — Nathan informou alto.
— Luke? — Ela repetiu.
—Tá! Está tudo bem — sussurrei mais calmo naquele momento.
— Acho melhor irmos comer, o horário está passando — Hayley elevou os olhos minimamente em minha direção e, isso fez meu coração se contrair de uma forma que ele nunca fizera antes, eu precisava falar com ela e conversar sobre algumas coisas.
— Ok, vamos — meus lábios se repuxaram num sorriso automático para ela, e Hanna nos encarou com um sorriso bobo.
Estava parado em frente ao meu carro com Hanna, esperando Mizuki e Nathan.
— Posso te fazer uma pergunta? — Hanna quebrou o silêncio.
— Não — respondi rápido e sorri logo em seguida pela cara brava que ela fez.
— Vou perguntar assim mesmo — Deu-me um leve empurrão, claro que ela ia perguntar, quando ela levava um não a sério? Ainda mais sendo curiosa do jeito que era.
— Claro que vai — apoiei uma mão no carro para não perder o equilíbrio.
— Você não sente nada pela Hayley mesmo? — Ela arqueou uma sobrancelha e deu um sorriso besta. — Tipo, aquilo tudo para o senhor White era mentira mesmo?
— Que pergunta é essa? — Fingi-me de desentendido, pois ela era muito sagaz, mas eu queria a importunar.
— É sério Luke, para mim você está mentindo quando diz que só é amigo dela — ela bufou me encarando irritada.
— Mas é a verdade, somos apenas amigos — senti um ardor em meu braço pelo tapa que ela me deu.
— Mas você gosta dela mais do que isso, eu sei.
— Hm — elevei as sobrancelhas.
— Hm o quê? Era para você ter concordado.
— Ok — murmurei sem ânimo.
— Para de ser chato e admite logo que gosta dela — sua voz soou terrivelmente irritante, mas sua feição mudou drasticamente quando ela baixou os olhos e começou a brincar com a manga de sua blusa. — Ela está sofrendo com isso Luke.
A olhei assustado, definitivamente aquilo me pegou de surpresa.
— Sofrendo? — Perguntei curioso.
— É, ela contou para nós sobre vocês.
— Nós quem? — Questionei envergonhado.
— A nós meninas, idiota. Ela falou sobre seus beijos e que sente falta deles.
— Então ela está sofrendo à toa, tem um monte de menino aí para ela beijar — não acredito que disse aquilo. Isso Luke, mostra o idiota insensível que habita em você!
— Imbecil! Estou falando sério.
— Vemos-nos diariamente e, para de me chamar de idiota, o único aqui que pode ser chamado de idiota é o Nathan e apenas por mim.
Ela revirou os olhos e passou as mãos pelo rosto.
— Ela realmente está gostando de você, e você afastando ela só está piorando as coisas.
— Eu vou contar para ela sobre a Matriz — desviei meus olhos, Hanna era muito astuta, não podia baixar minha guarda com ela. — Não quero que ela saiba de muita coisa por enquanto, e bom... Tá cheio de caçadores por aí, tem aquela marca no pulso dela... A bruxa que te enfeitiçou.
— Eu sei — seu sorriso triste me deu um arrepio, eu odiava vê-la triste. — Gabriel disse que o pen-drive que Andrew descriptografou não tinha nada, apenas pesquisas científicas — bufou irritada.
— Ele pediu isso para o Andrew? — Questionei surpreso, há uns dois meses ele havia dado uma bronca na gente, por ficarmos mexendo a onde não fomos chamados e, deixou bem claro que contaria para os pais de todo mundo caso não obedecermos.
— Sim, algum amigo dele havia conseguido o pen-drive.
— Então ele pede para gente ficar fora, mas ele com os amigos pode bancar os heróis.
Gabriel, Nathan e James tinham complexo de heroísmo, estavam sempre se arriscando querendo salvar o mundo, James era o líder do quarteto de Gabriel e, os dois eram que nem carne e unha.
Hanna sorriu do nada me fazendo a encarar desentendido.
— Então você gosta dela, mas a única coisa que te impede é esses problemas todos?
Analisou-me com aquele típico olhar de vitória dela.
Então tive que admitir por fim, era difícil discutir com ela.
— É difícil Hanna, não sei direito o que sinto por ela — admiti por fim, esse assunto já estava me enlouquecendo, talvez eu devesse falar com Hanna sobre.
— Que bonitinho! — Falou com uma voz fininha e apertou minha bochecha, ato que eu odiava.
— Para com isso — tirei sua mão do meu rosto. — Às vezes eu penso que é só atração.
— Você lembra daquela história sobre o elo?
— Sim.
— Muitos falam ser mentira, mas meus pais falavam que era verdade, pois havia acontecido com eles — disse Hanna.
— É, eu lembro quando eles falaram isso para nós — sorri para ela.
Um arrepio gelado serpenteou por minha espinha ao chegar à conclusão de que o que vinha acontecendo comigo era parecido com o que meu tio sentiu, será que Hanna tinha razão? Encarei-a por alguns segundos e a vi sorrir para alguém atrás de mim.
Mizuki vinha cantando alguma música em coreano e Nathan fazia uma dancinha hilária, acompanhando-a.
— Então... Partiu acampamento! — Nathan ergueu o braço direito com o punho fechado, fazendo-nos rir.
Kate e Hayley também se aproximaram.
— Cadê o Daniel e o Andrew? — Mizuki perguntou ao notar a ausência deles.
— Vamos nos encontrar no caminho, ele foi pegar o trailer
— A gente segue você — Kate falou indo para seu carro. Segui ela.
— Kate? — Chamei-a, mas ela me ignorou.
Bati no vidro do carro, ela demorou para baixar o mesmo.
— Desculpa por hoje cedo, não devia ter falado com você daquela forma.
— Ainda não me convenceu — Retocou seu batom calmamente olhando no espelho retrovisor, o que não fazia muito sentido, ela sabia estar indo para o meio do mato?
— Por favor, eu fui rude com você, não vou me meter em sua vida, desculpa.
Ela guardou o batom e me encarou com os olhos cerrados.
— Vou pensar no seu caso — Falou com humor. Pelo menos ela não estava mais séria, acreditava que aquilo foi um progresso para minha redenção.
— Tudo bem — Crispei os lábios num sorriso forçado tentando minha absolvição.
Quase trombei em Hayley quando me virei abruptamente, a mesma sorriu para mim e entrou no carro da amiga.
Hayley
Entrei no carro de Kate e coloquei minha bolsa no banco de trás junto a dela. Ela batucava os dedos no volante esperando Luke se afastar.
— O que Luke quis dizer com aquilo? — Perguntei extremamente curiosa.
— Estava contando os segundos para saber qual seria seu maior recorde em esperar para fazer perguntas.
— O quê? — Ri.
— Hoje de manhã na sala, você demorou para perguntar por que eu gritei com Luke, mas agora você foi muito rápida.
— Não entendo — senti meu cenho franzir.
— Deixa para lá.
— Então o que ele quis dizer?
— Estou gostando da nova Hayley, sabia? Ela é mais brava, tem atitude — afirmou com a voz alegre e eu ri novamente.
— Para de me enrolar.
— Aí, viu só? — Ela riu. — Não é nada de mais, ele só queria que eu o desculpasse por ele ter praticamente mandado em mim, querendo saber sobre o que você foi falar com Anthony.
— Ele anda muito estranho ultimamente.
— Concordo.
Kate ligou o carro e seguiu Luke. Já estávamos na estrada há uma meia hora quando meu celular tocou, era Hanna.
— Oi, aconteceu algo?
— Liguei para avisar que vamos parar no posto de gasolina que fica há alguns metros, Mizuki precisa muito fazer xixi — Ela riu.
— Ok, vou avisar a Kate.
Ela desligou.
— Hanna mandou avisar que vamos fazer uma parada no posto de gasolina
— Já?
— Mizuki precisa ir ao banheiro.
Kate seguiu os carros a frente até o estacionamento do posto de gasolina, Mizuki desceu apressada indo ao fundo do estabelecimento com Hanna andando a passos rápidos atrás de si, os três meninos foram até a loja de conveniência, não vi Luke.
— Não vai descer? — Abri a porta.
— Não, vou ficar aqui, este lugar está muito quente.
— Ok, já volto.
Dei a volta pela frente do carro indo na mesma direção das meninas.
— Hayley? — Luke me chamou ao sair de seu carro.
Aproximei-me dele.
— O que foi?
— Eu não quero me intrometer em sua vida, mas queria saber o que Anthony falou para você.
Uau, como ele era direto!
Senti um sorriso bobo e involuntário se formar em meus lábios, mas fiz de tudo para escondê-lo.
— Ah! Por quê?
— Ah! — Ele passou a mão pelas mechas de seu cabelo pensativo, aquilo foi estupendamente sexy, tive que me segurar para não ir eu mesmo ficar afagando seu cabelo macio. Ele vestia uma camiseta preta com corte em V, que ficava extremamente justa em seu corpo, e usava uma bermuda de moletom, estava vestido de forma casual bastante atrativa para mim. Não sei quando comecei a reparar muito nessas coisas, mas fiquei extremamente envergonhada por estar analisando demais suas roupas, porque fui pega no flagra, ele me olhou e franziu o cenho dando risada em seguida.
Com certeza eu estava vermelha. Desviei o olhar e ele parou de rir, certamente percebeu pelo cheiro que eu estava envergonhada.
— Então não vai me contar? — Repetiu com um sorriso de canto, colocou sua mão em minha cintura, fazendo-me corar ainda mais, poderia jurar que ele fez isso para dar mais ênfase à situação anterior, deixando-me ainda mais sem graça, pois assim conseguiria sua resposta.
— O que está rolando aqui? — Hanna perguntou com um sorriso malicioso.
— Hum! Penso que estamos atrapalhando — Mizuki me encarou sem reação e puxou a amiga em direção à loja. Eu sabia que ela sentia algo por Luke e eu me martirizava por isso, mas era óbvio que ele não sentia nada por ela.
— Eu preciso ir ao banheiro — Caminhei para longe dele.
— Não vai me responder? — Perguntou com certa manha, franzi as sobrancelhas, o que ele estava tentando fazer?
Após terminar de fazer o que fôra fazer ali, hesitei em destrancar a porta da cabine, mas me obriguei a fazer isso, não podia ficar ali para sempre.
Luke estava parado a poucos metros dali, encostado na parede do fundo da loja, com os braços cruzados me olhando apreensivo, caminhei em direção a ele, mas logo segui em direção ao estacionamento, ele sorriu cético quando passei por ele.
— Oi para você também? — Brincou quando passei ele rapidamente fingindo que não o via, sua mão pegou em meu braço me fazendo parar.
— Não vai usar o banheiro? — Mudei de assunto arrumando meu cabelo que o vento insistia em bagunçar.
— Não, estava te esperando desde que entrou lá.
— Então me seguiu?
— Esse lugar é perigoso — Inclinou-se para perto de mim, pondo uma mecha de cabelo no lugar.
— Então, por que não acompanhou as meninas? — Indaguei.
Ele balançou a cabeça.
— Hanna sabe se defender — disse simples.
— Ok — Apenas dei de ombros e voltei a caminhar.
Hanna sabe se defender!
— Por que está me tratando assim? — Perguntou triste, fazendo meu coração se apertar e eu me estremecer.
— Assim como? — Parei no lugar.
— Desse jeito — fez uma pausa e completou em seguida. — Ignorando minhas perguntas.
— Não estou te ignorando — respondi.
— Então por que não me contou sobre a conversa com Anthony?
Deus! Ele era insistente!
— Não foi nada demais Luke, ele só queria saber se a Brooke havia mexido comigo de novo... ele só está preocupado — emitiu um suspiro irritado. — O que foi?
— Nada, vamos? — Aproximou-se e indicou que eu fosse à frente.
Caminhei rápido até o carro de Kate, enquanto Hanna, Nathan e Mizuki faziam piadinhas inapropriadas sobre mim e Luke estarmos sozinhos no banheiro. Ele mandou os amigos calarem a boca e entrou em seu carro, fiz o mesmo em seguida, entrando no carro de Kate.
Após uma hora e meia de viagem chegamos ao nosso destino, a estrada de terra fazia uma poeira enorme e Kate praguejou dizendo que teria que lavar o carro novamente depois que voltarmos.
A floresta era imensa e estupendamente linda, Kate estacionou o carro perto dos outros. O vento soprava calmo e estava um clima agradável ali, nem frio, nem calor demais, o sol brilhava acima de nós, deixando o dia ainda mais bonito, Mizuki começou a vasculhar o local toda sorridente, puxei Kate até a beirada da margem do lago que tinha lá, avistamos alguns pescadores há inúmeros metros, mal dava para enxergá-los direito.
— Meninas! — Hanna chamou. — Vem, vamos dar uma volta, para vocês conhecerem o lugar.
Mizuki correu até ela, eu e Kate seguimos em passos rápidos até o grupo que nos esperava no começo de uma trilha, chegamos perto deles e avistei uma placa amarela escrito em cor preta "Não saiam da trilha", o aviso me fez ter calafrios. A trilha começava clara, mas já há alguns metros podia ver que ela ia se escurecendo e aparentava ter bem mais árvores depois, Kate estava atrás de mim e não parava de reclamar dos mosquitos.
— Eu avisei para a Barbie que ela não ia gostar do lugar — Daniel sorriu ladino.
Kate o encarou com seus lindos olhos verdes.
— Alguém dirigiu a palavra a você? — Perguntou pensativa. — Eu já fui escoteira.
— Uma vez só e seus pais tiveram que ir te buscar no meio das férias — Daniel zombou rindo em seguida.
— Alguém te perguntou algo? — Kate elevou os olhos para cima com a mão no queixo. — Julgo que não — disse divertida.
Luke e Nathan riram do amigo, Andrew andava disperso com fones de ouvido, Mizuki e Hanna não paravam de conversar e riam quase todo momento, a floresta a nossa volta era bem fechada, fizemos uns vinte minutos de caminhada e nessa hora a trilha se tornou um caminho largo de terra, a grama só chegava na beirada, não precisávamos mais andar em fila, as árvores eram enormes e pareciam que não tinham fim, os pássaros cantavam alegremente, era um clima tão gostoso e o lugar parecia ficar cada momento mais bonito.
— Gente eu tô com fome — Hanna fez uma careta.
— Hanna você sempre está com fome — Mizuki revirou os olhos e pulou alguns galhos secos.
— Acho melhor voltarmos para comermos algo e, depois que descansarmos um pouco vamos para a cachoeira — Daniel apontou para o caminho a direita que parecia ser uma descida, na entrada dele havia outra placa indicando a cachoeira há alguns metros dali.
Kate saiu na frente e Daniel a acompanhou rindo pelo jeito que ela saiu se abanando devido aos mosquitos.
— Tente não passar tanto perfume da próxima vez, seu cheiro doce atrai ainda mais eles — Daniel explicou para ela.
Kate revirou o olho e ignorou-o, era engraçado ver os dois discutindo, eles formavam um belo casal.
— Gostou do lugar? — Luke perguntou me assustando. — Calma — Jogou as mãos para o ar em rendição.
— Desculpa, eu estava distraída... Gostei, é muito bonito.
Ele me encarou de uma forma estranha, parecia querer falar algo, mas desistiu em seguida, apontou para que eu fosse à frente, ficando por último na fila, pois naquele momento a trilha voltara a ficar mais estreita.
Voltamos para onde os carros estavam, Daniel e os meninos começaram a tirar as coisas do trailer, arrumaram as mesas em frente ao mesmo, enquanto nós meninas fazíamos o lanche, já que ninguém estava com tanta fome assim para fazer um banquete com comidas saudáveis. Luke puxou o toldo da frente do Trailer, mas o sol já estava baixando e não precisaríamos muito dele, Mizuki era a mais animada, não parava um segundo sequer de falar, Andrew, por outro lado, era mais quieto, quase não falava e quando falava era só com os meninos, não dava muita atenção para nós meninas.
— Esse lanche vai me engordar uns cinco quilos por apenas olhar para ele — Kate reclamou.
— Então não coma — Daniel disse travesso. — Depois não vá ficar histérica quando seu biquíni ficar pequeno em seu corpo — Ele elevou a sobrancelha com um sorriso ladino, fazendo Kate revirar os olhos e lhe mostrar a língua.
— Parem de reclamar! E comam logo, está muito bom — Mizuki tomou um gole do suco de pêssego. — Não vejo a hora da gente ir para a cachoeira — resmungou animada.
— Eu também, mas penso que perdemos muito tempo caminhando, já vai escurecer — Hanna tirou uma mecha do cabelo castanho do rosto.
— Hanna tem razão — Observou Nathan — O sol já está se pondo.
— Ah! — Mizuki fez um bico, deprimida.
— Vamos deixar para amanhã — Daniel se espreguiçou esbarrando a mão em Kate propositalmente. — Teremos o dia todo amanhã — Ele brincou fazendo Kate revirar os olhos, não sabia se eu fora a única, mas senti algo malicioso presente na sua última frase.
Luke, eu e Andrew apenas comíamos em silêncio vendo os cinco conversando, Nathan foi o primeiro a terminar de comer e, se jogou em uma cadeira de praia na sombra de uma árvore. O celular de Mizuki tocou e, ela se apressou em atender, caminhou para longe de nós, era a mãe dela, Kate e Daniel continuaram trocando farpas, aqueles dois não tinham nada resolvido.
— Pessoal! — Ela voltou correndo e aos gritos para nós. — A gente precisa ir embora!
— O quê?! — Nathan franziu o cenho, na verdade, todos fizemos isso.
— Minha mãe ligou — ela falou com dificuldade. — Alison está morta.
O quê?! Senti meu corpo amolecer.
— O quê? — Hanna e Kate falaram ao mesmo tempo.
Morta? Como assim Alison estava morta?
— O que aconteceu com ela? — Kate se levantou.
— Minha mãe disse que ela foi baleada...
Hanna a interrompeu.
— Como ela morreu, onde ela estava? — Hanna caminhou até Mizuki.
— Não sei, a ligação estava ruim, minha mãe estava muito preocupada, só me contou isso e me pediu para voltar agora para casa.
Mizuki estava desesperada, e ela nem sabia a verdade sobre seus amigos. Poucos minutos depois por votos da maioria estávamos na estrada, Kate estava em silêncio, as mãos apertando fortemente o volante, eu não tinha vontade de falar nada, sentia-me exausta, mal conhecia Alison, ela não era uma boa pessoa, mas também não desejava a morte dela.
Naquela noite eu mal consegui dormir, não conseguia tirar Alison da cabeça, a ideia de que ela estava morta me assombrou o tempo inteiro. Sobressaltei-me na cama quando vi uma silhueta no escuro vindo na minha direção, Luke limpou a garganta antes de acender a luz do abajur, seus olhos estavam escuros e eles me encaravam por debaixo dos cílios longos.
— Não consegue dormir? — Sua voz soou serena demais, quase não acreditei ser ele ali, ele sentou na beirada da cama e suspirou profundamente. — Não queria encher sua cabeça com mais coisas, mas eu... — Sua voz sumiu e ele piscou apreensivo. — Eu passei o dia todo pensando em como te falar isso.
Encarei-o assustada, seu semblante estava muito preocupado, o que mais de errado poderia acontecer?
— Thomas White é o nosso Conselheiro, ele pediu para a Matriz um ritual de passagem — pigarreou e fixou os olhos em mim, pondo uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, esse foi o gesto mais carinhoso que ele fizera até aquele momento, ele demonstrava carinho por mim, mas sempre do jeito frio dele, tentei me manter calma, mas foi impossível, meu coração saltitou eufórico me fazendo sentir borboletas no estômago.
— Ritual de passagem? — Repeti tombando a cabeça para o lado, sentindo seu polegar acariciar minha bochecha, ele soltou um riso nasalado, mas logo sua feição fechou e ele puxou a mão para si, como se lembrasse o porquê de ter ido até ali no meio da noite.
— Sim, o ritual de passagem marca o início da verdadeira vida lupina de um lobo — pousou a mão com força na minha coxa por cima do edredom. — Quem já nasce pertencente a uma alcateia esse ritual só serve como uma celebração, mas para quem entra de fora é mais que isso, é o dia da sua transição da vida humana para a lupina, quando ocorre a mordida — sua mão se aproximou da minha e a acariciou gentilmente.
— Há quanto tempo você está aqui no meu quarto? — A mudança de assunto fez ele franzir o cenho confuso.
Ele ponderou com a cabeça baixa, mexendo se inquieto na cama, era estranho o ver daquele jeito, calmo demais, quieto demais... Esse não era ele.
— Já faz um bom tempo, você foi dormir cedo hoje — a sombra de um sorriso passou rapidamente por seu rosto, mas ele manteve os olhos firmes em mim. — Eu pensei que iria te encontrar acordada como sempre — um sorriso malicioso brincou em seus lábios. — Mas você estava dormindo ou tentando... Então fiquei ali sentado na sua cadeira dura — seus olhos brilharam em diversão, mas foi por pouco tempo também.
— O que tem mesmo a Matriz? — Questionei curiosa.
— Thomas acabou descobrindo sobre nosso segredo, e ele teve que pedir um ritual de passagem para a Matriz, antes que alguém fosse até ela e, nós sofrêssemos uma punição severa — explicou sobre o ombro vendo minha confusão, limpou a garganta para voltar a falar. — Esse ritual de passagem seria para você.
Para mim?! Meu corpo tencionou e eu puxei minhas pernas dobrando-as em frente ao peito.
— Seria?
— Sim, seria — sua voz falhou, mas ele chacoalhou a cabeça se martirizando. — Eu havia combinado com o senhor White que faríamos esse ritual e que você concordava, porque a gente se... — A frase morreu em sua boca.
Eu o encarei pasma.
— Você o quê?! — Indaguei aturdida, quando tudo isso havia acontecido?
— Eu sei... Desculpa! — Ele se levantou. — Não daríamos certo.
Pisquei confusa, sobre o que exatamente ele estava falando?
— Como assim, Luke? O que você quer dizer? — Minha voz soou entoada demais, ele crispou os lábios numa resposta muda. — Por que não daríamos certo? — Engoli nervosamente, coloquei-me de pé também, ficando a poucos passos dele.
— Não seríamos um bom casal, como eles pensam que seríamos — seu tom de voz era culpado e fez meu estômago revirar. — Nós nunca daremos certo, nosso relacionamento vai ter que começar pelo fim.
Encolhi-me automaticamente com suas palavras amargas, por que ele estava daquela forma? Chacoalhei a cabeça desacreditada, os olhos dele estavam negros, sérios como eles jamais estiveram.
Uma lágrima desobediente desceu por meu rosto, notei ele engolir em seco e travar o maxilar, eu não queria ser fraca daquele jeito, mas infelizmente eu era.
— Hayley eu não queria te machucar, mas não tinha como isso funcionar, você é uma humana, teria que largar muita coisa da sua vida para viver isso. Você viveria uma vida com medo de caçadores, bruxos e vampiros tentando te matar.
— E qual é a diferença? Eu já estou à mercê de tudo isso, Luke — eu gaguejei, um nó enorme se formou em minha garganta, mas eu me segurei para não chorar na frente dele. — Você nem ao menos perguntou minha opinião, decidiu por si só — as palavras pareciam ter o pegado em cheio.
— Você não sabe onde estaria se metendo Hayley — ele informou quando captou meu olhar raivoso. — Essa vida é muito perigosa, você viu o que aconteceu com Noah.
— Eu vi, mas você deveria me dar o benefício da escolha — eu não tinha a intenção, mas praticamente cuspi as palavras na cara dele.
— Você não sabe o que está dizendo! — Sua voz era baixa, mas dava para ver sua irritação. — Por que você se permitiria viver uma vida assim?
Eu o encarei surpreendida, sério que ele estava me questionando aquilo?!
— Por quê? — Repeti com a voz trêmula, meus olhos marejaram vendo o olhar frio dele para cima de mim. Como ele poderia ser tão frio até esse ponto?
— Eu sei que rolou algumas coisas entre nós, mas não foi nada sério Hayley — ele fechou as mãos em punho. — Não era para isso te machucar, eu não queria que fosse assim.
— Vai embora! — disse com a voz mais irritada do que pretendia, ele elevou uma sobrancelha ligeiramente me examinando. — Você não me ouviu?! Quero que saia daqui agora! — Ri com desprezo me virando de costa para ele.
Não o vi sair, apenas escutei o som da porta de vidro sendo fechada. Joguei-me no chão ao lado da minha cama e me encostei na parede fria, apaguei a luz do abajur e me permiti chorar de verdade, meu corpo tremia em irritação e meu estômago se revirou num calafrio agoniante.
Por que ele fez isso?
Olá Lobinhas e Lobinhos!
Espero que tenham gostado e me desculpem caso haja algum erro!
Deixem seus comentários para eu saber o que estão achando, aceito criticas, ideias, qualquer coisa que for para melhorar o enredo ou a escrita da história...beijos e até o próximo capítulo :)
Aguardem os próximos capítulos!
Carpe Omnium!
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