☪ Jade ☪
Não deixe o que você não pode fazer afastá-lo do que você pode.
Provérbio africano
No castelo todos os cômodos e corredores são frequentados, exceto o jardim elevado e o corredor que dá até ele.
Há quatro gerações atrás o Jardim elevado foi um presente do rei a sua única filha Vasti, o Jardim levava seu nome. Logo depois Vasti tornou-se rainha sem rei. Naquela época mulheres podiam governar de forma absoluta. Era esperado que a rainha se casasse e constituísse uma família para dar continuidade a linhagem real, no entanto os anos se passaram e Vasti não casou, apesar de sua beleza, sequer se interessavam por ela, alguns diziam que era devido a sua arrogância, outros tinham um certo medo de seu temperamento explosivo, o fato é que o tempo estava passando e nada de casamento real. Vasti passava dias e dias reclusa em seu jardim e foi num desses dias que ela se jogou do alto de lá, como afirmou o guarda e sua dama de companhia. Ninguém sabe até hoje o real motivo, muitos dizem que a solidão envenenou sua mente levando-a a cometer tal ato.
Assim, seu primo assumiu o trono e decretou que nenhuma mulher jamais reinaria sob Trivena sozinha e que para assumir o trono o herdeiro teria que está casado primeiro. Tem sido assim desde então.
Atravesso o arco que dá acesso ao jardim com um medo gelado na nuca.
A aparência é decrépita, o mato tomou conta do lugar e cresceu desordenadamente, há pedaços de um balanço de madeira, uma fonte seca no centro, mesas e bancos de madeira ou pedra estão deteriorados pelo tempo. Nem parece que esse local faz parte do nosso suntuoso castelo.
Procuro uma área sem muitas árvores ao redor e sento na grama rasteira.
Olho fixamente para o nada. Não sei por onde começar ou o que fazer.
Está bem, talvez se eu deva fazer como o Mestre Rasuk me ensinou para despertar o poder do fogo.
Mas aí que está o problema. Quando o mestre Rasuk me ensinava, usava as técnicas do despertar das chamas e eu nem sei que tipo de poder eu possuo.
Mas não vou desistir.
Respiro fundo e concentrada coloco minhas mãos em frente da outra, como se estivesse segurando uma caixa invisível permitindo a energia fluir por entre meus dedos, novamente surge as faíscas como raios. Aumento a distância entre mãos e consequentemente os raios aumentam. Sinto-me mais viva do que nunca, as batidas do meu coração aceleram.
Ouço um farfalhar de folhas e paro abruptamente olhando em direção do som, meu coração bate tão alto que chega a doer os ouvidos tamanho é o medo de ser descoberta, do meio do mato sai um pequeno coelho, meus ombros relaxam.
Suspiro aliviada.
Repentinamente sinto o impulso de fazer algo esquisito, é como se eu soubesse o que fazer mas não lembrava como, estendo a mão para o coelho e do seu lado surge um semelhante, com o mesmo pêlo marrom no corpo que vai escurecendo nas patas e região do fucinho e de olhos azuis idênticos ao real, sim porque o animal que eu criei é uma ilusão.
Me espanto quando eu mesma chego a essa conclusão fazendo o bichinho desaparecer completamente, assustando o pequeno visitante que adentra no arbusto.
Ilusão. Ilusão? Eu criei uma ilusão? Não é possível, sou uma filha de Focus, como posso criar ilusões, fazer objetos flutuarem e criar raios?
Curiosa busco fazer outra ilusão, dessa vez observo atentamente uma flor alaranjada de pétalas pontudas e teço uma perfeitamente idêntica, não dá pra saber qual delas é mera imaginação.
Sorrio. Que loucura, que fantástico!
Eu posso criar coisas apenas olhando pra elas! Eu tenho o poder da magia!
Espera aí! Magia? Isso faz de mim uma filha de Magi?
Como assim?
Uma certa desconfiança cresce em meu peito. Mas antes que eu possa dar vazão a isso ouço outro barulho e sei que não é um coelho porque são sons de passos seguidos de vozes.
Sem pensar abaixo-me entre o mato alto, pedindo aos céus para não ser vista.
—Você entende o que estou lhe pedindo, Daren?—ouço e rapidamente sei que é a voz da minha mãe.
—Sim mãe.- Daren responde rapidamente.
—Este povo é a escória desse reino, não consigo mais andar pelas ruas infestada dessa gente de pele escura e pra piorar estão aqui no palácio!— a voz da rainha é de puro nojo.
— Que petulância desse povo! Não sei como meu pai sustenta isso, devíamos acabar com isso logo, mãe.— o sentimento do meu irmão na é diferente.
— Sim, querido. Mas antes você precisa tornar-se rei e, só então, exterminará essa raça imunda.
Ouço a risada maléfica de Daren.
— Exterminarei não só os terrenos como toda raça impura que existir.
Arregalo os olhos de surpresa. Exterminar? Que ódio é esse?
Eu sei que mamãe e Daren nunca se agradaram com os terrenos, mas odiá-los dessa maneira? Que horror!
O que será de Trivena quando meu irmão mais velho for coroado?
Eliminar os impuros também. Alguma coisa me incomoda profundamente nessa frase.

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