C A P Í T U L O 58

     Tudo parece oco ao seu redor. A luz do dia, a noite. Dias passou-se sem dúvidas. Vozes vinham e iam até que, no meio da madrugada, os belos olhos abrem-se, sensíveis.

      Um gemido manhoso deixa o corpo da Ômega. Sua cabeça estava doendo e seus olhos lacrimejaram antes de ajustar-se ao ambiente. Ela pousou a mão sobre sua barriga, sentindo-a mais dura que o normal. Seu coração acelera e seu corpo esfria, nervosa.

     Mas tudo some.

     Um toque firme em seu ombro chama sua atenção, acalmando seu corpo. É ele.

     Frio e inabalável. Os olhos quase brancos destacam na escuridão expressando o quão frios como o gelo são. Nenhuma emoção e muito menos empatia é vista. Ele apenas está lá naquele escuro, poderoso, dominante e firme com seu toque nos pulsos da mulher em sua cama. 

      Ele afasta-se, silencioso. Nhycall não vê para onde ele vai. Seu corpo está dormente devido ao cansaço massivo. Seus olhos lacrimejam facilmente com o esforço de manter-los aberto até o momento de Drogo voltar.

     O homem senta-se na cama, levanta o tronco da Ômega e apoia suas costas em seu peito. A lhycan sente o calor daquela massa muscular a envolver sem preocupações. Ela sente o conforto da segurança que ele exala, calmo, perigoso, contudo, territorial. Seu aperto é tão sensível quanto possessivo.

      É assim, acolhendo-a em seu corpo, que o Supremo passa uma taça de água sobre ela, levando a boca. Todo o corpo da Ômega reage quando ela toca o objeto, porém não tem forças para segurá-lo. Ela apenas orienta e sente-se acolhida com aquele gesto.

      Ninguém jamais ajudou-a com algo.

      E mais! Ninguém jamais acolheu-a dessa forma.

      Drogo cheira seus cabelos cacheados e negros. O cheiro natural e sensual do corpo da Ômega com certeza é satisfatório. Sem dúvidas, gostoso. Tão delicada e linda bebendo a água ao seu ritmo e tão sensível aos seus movimentos que poderia ficar desta forma e ele não reclamaria.

     Por quê Nhycall não poderia simplesmente ficar aleijada durante a gravidez?

     Basta deslocar um osso apropriado na coluna lhycan e o ser não consegue completar uma transformação ou andar. Ela sente a perna, mas fica tão pesada que mal consegue movimentar-se. Nhshley, sua Lhuna, deve saber desse osso. Mas seria uma boa ideia deslocar os de Nhycall?

       Evitaria muito estresse se ela simplesmente ficasse na cama…

A grávidez é de extremo risco… — A voz grave de dominância sussurra próximo ao seu ouvido e Nhycall reage com o corpo arrepiado. Drogo tira a taça de sua boca e a Ômega pousa a mão sobre a barriga dura. — Você não perdeu nenhum, mas quero-a de repouso nessa cama até que eu decida que está em condições de andar.

— E s-se…

— Sem "e se". — Interrompe-a. — Vai ficar nesta cama, quieta e calma, despreocupada e dependente. Andará apenas para suas necessidades cotidianas. Fui claro?

       Nhycall não responde. Sua respiração eleva-se assim como a dominância no ambiente. O Supremo deseja uma resposta. Então ela diz:

S-Sim.

      Drogo então, aos poucos, sai de trás de Nhycall e permite a mulher deitar na cama, aconchegada. O Supremo a cobre até os seios com o cobertor e observa seu rosto apreensivo. Ela, de fato, não confia nele como seu homem e pai de seus filhotes.

      E isso não está nas mãos dele. Contudo, não permitirá que ela perca seus primogênitos. Há corações gêmeos em seu útero e um deles é de um Titã dominante cuja incompatibilidade com a Ômega tornar a grávidez de extremo perigo. Ele não irá perder esse bebê!

      Ele acaricia a pele perfeita de sua Ômega. Mas em nenhum momento demonstra qualquer sentimentos e, muito menos emoção, seja ela amor, raiva ou preocupação. Direto, firme e insensível ele afirma um fato inegável;

Se seu corpo aborta-los, você morre.

      É um aviso.

      Ele não irá permitir que o Titã em seu ventre venha a falecer. Seu instinto torna-se assassino apenas nessa possibilidade e não esconderá de Nhycall. A Ômega morrerá se esse bebê vir a falecer, independente de ser ou não sua culpa.

       Ela deve entender o perigo que a cerca constantemente vindo dele. Apenas isso e nada mais. Ela pode deixar de amá-lo em seguida e não importa. O Alpha matará pela grávidez.

      E como um exemplar pai, ele alimenta seus herdeiros a partir de sua Ômega.

       Nhshley relembrando de seu companheiro. Fhęnrz, de fato, é um Bhetta. Vem de um dos mais nobres clãs lhycans. Descendente de poder e dominância, mas sempre mantendo o olhar debochado.

       Ele é traiçoeiro, ardiloso e manhoso. Sabe como agir, independente das bobagens que fale. Ele, entre todos, é o mais apto a tarefas arriscadas e silenciosas. Como Bhetta, ele iria liderar o grupo.

        Tendo sua mulher grávida e segura no palácio, ele age com extrema destreza nas selvagens florestas de Hyfhyttus.

Anjos gostam de altitude. Quanto maior a elevação, melhor será para esconderem-se. — O lobo relembra as palavras de Rômulo enquanto mostrava-o o mapa do território.

      Nada pode voar para sempre.

— Usam as nuvens como cobertura para que não o vejamos enquanto eles nos observam. — Fhęnrz sorri, malicioso. O olhar de trapaceiro e experiente em armadilhas é tudo que Rômulo precisa. — Mas não podem aproximar-se muito ou serão detectados e, até mesmo, atingindo.

— Você realmente não presta. — Rômulo comenta ao encarar seu irmão. Fhęnrz consegue a prática enquanto seu irmão, os detalhes.

       Se um lobo tivesse feições humanas, as da fera argilosa pela floresta seria aos de um perfeito debochado por trás do poder de um Supremo. A pelagem marrom facilita a mesclagem do lobo com o tronco das árvores e, até mesmo, do chão. Ele anda rápido, passando cada obstáculo a sua frente com perfeição.

       O som da floresta é único e excitante. Seu instinto predatório é único quando observa a clareira a sua frente. Um alce lanudo vermelho. Um tipo único, existente apenas nas terras de Hyfhyttus e modificado pela mutação do lugar. Quatro metros de altura. Chifres perigosos e um temperamento único. É um macho que lidera o grupo, claramente evitando as árvores.

     Fhęnrz camufla-se próximo no chão, próxima às raízes. Seu olhar atento escolhe os alvos. Ele varia entre os mais lentos, fracos, doentes e idosos. É quando os animais começam a correr. Uma debandada assustada com a fera amarela que surge assustando-os. É seu irmão.

     A velocidade do mais rápido dos Bhettas é a distração perfeita para empurra-los agressivamente até Rômulo e Arthur que os molda e impede a fuga. Só havia um lugar para onde ir e Fhęnrz estava esperando. Todos caem na caçada, seguindo os animais.

     E sem notar o perigo, todos passam por Fhęnrz. Mas os últimos não tiveram tanta sorte. A fera ruge e ataca um idoso e ele lento, abocanhando a garganta. A fera muda de forma de lobo até uma besta felpuda e se prende no pescoço. No mesmo momento, o caçula joga seu corpo com força nas pernas no alce e Arthur pula no quadril opostos. O animal cai no chão.

     Quanto maior a perda de sangue, mais fraco ele fica. O cervo é escandaloso e grita alto. Seus ecos são ouvidos perfeitamente por mais de uma criatura. Todos sabem o que está acontecendo. Minutos de agonia e sofrimento até tudo parar. O animal foi morto e os Bhettas tem uma refeição farta e apenas deles.

     Fhęnr olha para o céu, com sua boca cheia de sangue. Ele cai no chão retornando a forma de um lobo e uiva. O som é ato, único e poderoso. Nhshley ouviu-o, ficou tentado a responder, contudo não o fez. Todos ouviram, incluindo o Alpha.

     Drogo estava na sacada do quarto, pensativo enquanto Nhycall mantinha-se escondida em seus aposentos. Ele encarava o horizonte quando escutou seu Bhetta. Logo depois, seus Bhettas. Todos estavam uivando e mostrando sua conquista. A caça é deles e como tal, reivindicam seu prêmio em um aviso de perigo.

      Está feito…

       A lhycan rosna em desgosto. De fato, está odiando essa caminhada seguindo seu Alpha. Está perdendo a paciência e, com ela, seus instintos.

       Falta pouco para ela sair perambulando sem sua alcateia e esconder-se em algum lugar seguro, com boa caça e água. É tudo que ela precisa para viver. Qual a droga do problema de ficar andando, andando e nunca chegar a esse maldito reino.

       E para sua surpresa, nem tão surpresa, Dylan para de caminhar. O homem se vira e ancara a mulher emburrada da alcateia. Ella apenas cruza os braços insatisfeita e se afasta quando ele se aproxima.

      Está frustrada e nervosa. Completamente insatisfeita com seu companheiro e seu primeiro instinto é afastar-se.

     Se um homem não deixa uma mulher satisfeita, por que continuar? Oras! Dylan está saindo um péssimo companheiro ultimamente e Ella não nem um pouquinho confiante. Daquele lugar ela não sai!

     Ele que leve sua alcateia pro fim do mundo. Mas daquela região ela não sai!

     Ela mostra isso ao rosnar, insatisfeita. Com tal ato, todos de afastam dela. A dominância de seu Alpha prova a tensão no ar e a lhycan nem percebe alguns dos homens preparando-se no rochedo ao lado.

     Ela apenas nota onde está com o som de pedras caindo. Eles estavam escalando apesar da unidade da cachoeira.

     Era só o que faltava! De maneira alguma ela irá escalar esse lugar. Está cansada, irritada, com fome e com sono. O sol nasceu faz algumas horas e ela não sabe o que é fechar os olhos!

     Mas ao olhar de volta ao seu amado, ela surpreende-se com sua aproximação. Ele está tão próximo que seu corpo agarra o dela num abraço íntimo. Nem mesmo isso a comove! Ela rosna e fica rígida em seu aperto.

     Mas o carinho único de seus dedos em seus cabelos, a sensação de proteção e cuidado a faz relaxar. É isso que ela quer; conforto.

Obrigado. — Dylan afasta-se para olhar os olhos de sua amada. É quando ela nota os sentimentos expostos. Eles chegaram!

      O Alpha dá as costas e encara sua amada por cima dos ombros. Ella sorri e, em um impulso, pulou sobre ele e prende suas pernas na cintura robusta de Dylan. Os ombros largos e os músculos dá-lhe confiança e o homem não se move até que sua companheira esteja firme em suas costas.

      Somente então ele pula, avançando sobre a rocha e escala. Não importa a altura e o quão escorregadia elas são, pois as garras seguram seu peso e o da mulher em suas costas. Com destreza, ele sobe, escala e pula.

     Ele só para quando vê uma abertura. Uma caverna que leva a imensidão de um lugar perigoso. Ele permite que sua amada desça de suas costas e orienta-a com os braços na sua frente.

     O escuro traz alívio aos seus olhos sensíveis conforme ajustam-se. No início, é húmida. O som de gotas de água ecoa pelos túneis similar aos de um vespeiro. Mas um entre eles destacam-se. É familiar e levemente ameaçante. Um chocalho…

     Um bote!

     Mas a cobra não tem tempo de picar a pele de Ella. Dylan é mais rápido ao pegá-la e jogar o animal na entrada.

Há um ninhos de serpentes venenosas no interior da caverna. — Isso explica o som que deixa Ella angustiada. — Uma ou outra chega a superfície. Mas fique tranquila, onde vamos ela não alcançam.

     E realmente não alcançam. A elevação é como um paraíso no meio do inferno de abismos estreitos, cobras, riachos e elevação perigosas. O escuro é perigoso e quase impossível passar se não ver através dele. Dylan conhecia a caverna e Ella percebeu quando chegaram ao que parece ser um oásis limitado pelo sol, bem ao fundo.

     Os lhycans chegavam de todas as partes entradas possíveis e traziam com eles, desde mantimentos, até comida. Lá estava a princesa, tomando sol, sentada, quieta e amamentando a menina.

Enquanto um bebê lhycan transforma-se antes do 1 ano de idade, um humano deve ter no mínimo 14 e 15 anos para tornar-se uma de nós. — Dylan disse em seu ouvido. Ella tinha 14 anos quando tornou-se uma deles… — É uma menina que será educada aos nossos costumes.

      O coração da Dylan aquece-se com a bebê. O instinto materno a faz sorrir gentilmente afetada. A humana mostra o quão ama sua filha que deve ter alguns meses de idade.

Por que não a transforma? — Pergunta Ella.

Se ela reencontrar honra em sua alma, conversarmos sobre isso. — Ella sente seu Alpha beijar o topo de sua cabeça. — Mas até lá, se quiser, aproxime-se dela. A convivência com a menina é mais do que aceitável.

     Não precisou de muito até a lhycan esgueirar-se até a mãe e sua bebê. Tão linda… loira como a mãe. Os olhos azulados e a pele branca, quase rosa e embrulhada em tecidos bem melhores do que a vestimenta da mãe. A bebê pertence a alcateia. Dylan pretende transformá-la no tempo adequado.

— É tão linda… — A linguagem humana torna-se estranha na boca de Ella. Quase saí com um sotaque que mostra a diferença da mudança da lhycan. A princesa sorri quando sua antiga dama senta ao seu lado. Nada mais importa exceto sua filha. — O pai é o seu avô ou irmão. Fiquei sabendo que colocou o sobrenome deles…

— Não o sobrenome deles. O meu! — Claramente a mulher mudou pela bebê. Olha para a criança com admiração e determinação. Contudo, um olhar de nojo e repulsa vem em seus olhos. — Ela é sangue puro da linhagem real. Pertence a mim e sobrenome algum deve prevalecer sobre o dela. Nenhum sobrenome é mais forte que o dela e, por tanto, não deve ser mudado para um mais fraco caso ela se case.

— Deseja que ela se case? — Ella averigua.

— Não. — Responde tristemente. — Apenas dor aguarda uma relação de homem e mulher. E se ela se casar, será submissa ao marido e ao nome dele. Mas ela não é. É uma princesa e superior a qualquer plebeu.

      Ella nota a princesa tensa. Algo, de fato mudou. A pequena menina é uma humana, gerada de um estupro entre sua mãe, tio e avô. Não sabe-se quem é seu pai, contudo, isso não nega o sangue puro que corre em suas veias. O sobrenome é mais forte que qualquer humano simplesmente e, por tanto, deve perecer inalterável. Uma decisão única e simplesmente, sagrada e única que faz a lhycan sorri. De fato, uma pequena princesa.

— E como ela se chama? — Pergunta, curiosa.

— Demarttel. Kathe Demarttel. — Derivado de Katherine, Kathe significa pura e casta. O nome perfeito a linda princesa! A pequena agita-se no colo da mãe. Deve sentir o que o futuro aguarda…

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